Era uma vez a pressão mediática…*
O percurso académico de José Sócrates. O bluff do computador Magalhães. Confrontos na Quinta da Fonte. Estes são alguns casos que marcaram a actualidade em Portugal. Em comum têm apenas o facto de não terem sido os jornalistas os primeiros a ‘chegar lá’. A subserviência em relação ao poder político, em regra muito grande, avoluma-se quando quem detém esse poder é o PS ou quando se trata das autonomias e sobretudo do poder autárquico. Neste último domínio, o das autarquias, mesmo casos tão graves quanto a revelação da presença de Legionella pneumophila em instalações desportivas na Póvoa do Varzim, instalações essas frequentadas por crianças, grávidas e onde decorreram provas desportivas, arrastou-se na blogosfera até se tornar finalmente notícia.
Mas esta amorfa mediocridade do jornalismo está longe de se restringir às áreas do poder político. Ler os recortes da censura depositados na Torre do Tombo permite perceber que, há 70 anos, em Portugal, se cortava ou adiava a publicação de qualquer notícia que referisse problemas entre os cidadãos ou o Estado com a Igreja Católica com o mesmo zelo com que agora se anula qualquer identificação de nacionalidade, pertença cultural ou étnica dos envolvidos em crimes ou acontecimentos menos abonatórios. Há 70 anos, o argumento do apaziguamento legitimou a censura do estado Novo. Hoje o mesmo argumento, agora ao serviço do multi-culturalismo, serve a auto-censura. Digamos apenas que nesta matéria se mudou menos do que aquilo que se diz. E na dúvida, agora tal como no passado, culpa-se o mensageiro: quando se classifica como “brutal” o directo televisivo do sequestro no BES e se questiona se aquilo deve ser mostrado está a transferir-se o ónus da brutalidade para o directo, retirando-o do sequestro em si mesmo e da operação policial que lhe pôs fim.
A tudo isto, que já de si é lastimável, junta-se a constatação de que se investiga muito pouco nos meios de comunicação tradicionais. Por exemplo, quantos dos jornalistas presentes na sessão de “lançamento mundial” do computador Magalhães apuraram o que era de facto português ou novo em tudo aquilo? Ou como se escolhera a empresa portuguesa que participa na construção do Magalhães? E ainda o que se entende por “apoios do Estado” a este projecto? Questões que começaram quase imediatamente a ser feitas e parcialmente respondidas na blogosfera.
E se por acaso ou masoquismo passarmos para domínios como a saúde o resultado é ainda mais negativo. Grossos volumes se podiam fazer a propósito das campanhas de marketing de laboratórios farmacêuticos que imediatamente se transformam em notícias aterrorizadoras sobre as doenças que vamos ter (ou as que já temos e não sabemos). A alimentação é outro campo em que os fabricantes dos mais diversos produtos se habituaram a contar com títulos que transcrevem automaticamente os textos das agências de comunicação. Ainda não há muito tempo as famílias portuguesas foram colocadas em estado de alerta porque o pequeno-almoço das suas crianças seria péssimo. E porquê? Porque as criancinhas não comiam “creme vegetal”, vulgo margarina, ao pequeno-almoço. Afinal tudo se resumia às conclusões dum estudo que fora patrocinado nem mais nem menos do que por uma empresa fabricante de margarinas e que naturalmente considerava alarmante que não se não comesse margarina ao pequeno-almoço!
A pressão mediática de que agora tanto se fala não corresponde na verdade a uma capacidade de investigação acrescida por parte dos jornalistas. Antes pelo contrário. O que temos sim é uma capacidade sempre renovada por parte de governos, empresas, instituições ou algumas pessoas de se pressionarem entre si usando para tal os media. Digamos que é uma estratégia princesa Diana: à noite, foge-se dos mesmos jornalistas a quem se telefonou, a meio da tarde, a contar aquilo que se quer que seja notícia no dia seguinte.
*PÚBLICO, 12 de Agosto
Os blogs sao igualmente maus. Dedicam-se ao maldizer para destruir. Como se pode ver pelos temas citados nesse texto.
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Aliás é ver a quantidade de pessoas que escreve em blogs e artigos de opiniao para jornais. As mesmas pessoas nao sao boas num lado e más noutro. Sao os mesmos.
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E na piscina quantos ficaram doentes? Estranho se ninguém ficou doente com a legionelose. Que legionela mais amiguita.
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Não queira ser do famoso “rebanho alimentado a palha” como certa pessoa tem a estupidez de chamar a quem tem outra opinião e que critica o excelso governo de Portugal!
http://aspirinab.com/valupi/e-o-rosas-senhores/
LOL
Ele há cada um 😉
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pensei que este pc era o zé magalhães
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A capacidade de análise crítica; será isso que falta aos portugueses?
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Os meus parabéns a Helena F. Matos!
Chamar os bois pelos nomes é algo pouco comum neste país, e V.Exª. fá-lo!
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Posso transcrever na íntegra?
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Parabéns pela posta! Excelente!
Já que está com as mãos na massa gostaria de ler em próximas postas, “A subserviência em relação ao poder político” em outros grupos profissionais “não jornalísticos”.
Por exemplo, todos sabemos que Polícia de trânsito e Políticos influentes são como Deus com os Anjos. Ficará por aí? e quanto a aplicação da Lei? Tribunais?
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Para a esquerdinha provinciana,
“nenhuma” mulher faz um aborto de ânimo leve.
“nenhum” marginal faz reféns de ânimo leve.
“nenhum” cigano arma e leva para um assalto, de ânimo leve, os filhos menores.
É só rir.
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Esqueci-me de adir “alegado”. Alegado marginal, alegado cigano, alegado aborto.
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Penso que o problema está em que cada vez há menos jornalistas nos jornais, há é estagiários a lutar pelo pão e esses sabem bem que a mão que o dá também o tira.
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Tudo isto è uma aldrabice pegada, feita com o dinheiro dos contribuintes e sem o minimo nexo do que anda a fazer o Socrates, para o que conta è ganhar eleições, mesmo com um pais de tisicos………..
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E depois existem os blogs, «territórios onde vivem o anonimato, a calúnia, a usurpação de autorias e a impunidade», como escreveu MST no Expresso. Contrapunha ele, certamente, o lamaçal blogosférico ao imaculado espaço mediático-jornanalístico.
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Apenas, um preciosismo para alguns, uma correção importante para outros: a Póvoa não é “do Varzim” mas sim “de Varzim”.
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Ao anónimo das 10:19:
A legionela não é amiguita – é potencialmente letal! – simplesmente temos um sistema imunitário. É por causa disso que nem todos os contactos com o HIV resultam em SIDA, nem todos os contactos com Mycobacterium tuberculosis resultam em tuberculose, etc., etc.. Faço-lhe um desenho?
Obrigado pela citação, Helena.
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A Legionela tanto não é “amiguita” que nas piscinas da Varzim morreu um professor de natação de repente com uma pneumonia esquisita e uma idosa aluna de hidroginastica e um deficiente estiveram às portas da morte nos hospitais do Porto.
O caso foi denunciado ao tribunal da Póvoa, que ouviu a dalegada de saúde e que arquivou o processo. Os procuradores não encontraram provas. Ou não encontraram interesse.
O Público (mas não o medíocre do Angelo Marques) que investigue, que investigue. A Helena F Marques que investige…
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Sinceramente passei por cá porque leio o Peliteiro. Não conheço a autora do texto, nem pessoalmente, nem pela sua escrita. Não acho que o texto seja particularmente brilhante, até porque tudo o referido já foi tratado noutras páginas. É um texto original e isso é que conta.
Não leio blogues, por natureza, embora escreva um. Não porque tenha algo contra os blogues. Também não tenho muito a favor deles. Escrevo um porque acho que a imprensa que fala da minha cidade é péssima, porque está controlada pelo respectivo poder autárquico. A minha cidade chama-se Póvoa de Varzim e não “Póvoa do Varzim”, como está escrito no texto em crise. Pode emendar, por favor? José Carlos de Vasconcelos não perdoaria.
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Muitos parabéns pelo seu artigo.
Depois de o ler apeteceu-me desabafar…
Sou uma entre as muitas pessoas que vê com mágoa e muita preocupação a crise social que se instalou com este governo, nas mais diversas áreas. Vejo com apreensão o futuro dos jovens e confirmo diariamente os erros tremendos que o governo fez nas várias áreas, entre elas a saúde e a educação. E também não consigo pactuar como o clima de permissividade e desculpabilização a que chegámos, por exemplo, de alunos a professores, o oportunismo e a falta de valores…Estou farta também de ver psicólogos a darem-se ares de bonzinhos e a subverterem os valores mais sagrados como são o respeito e a consideração pelos pais, professores e seus superiores…aqueles em que fui educada.
Esquecem-se dos traumas que causam a esses professores maltratados, aos filhos desses professores que também são meninos e meninas, e aos pais e mães desses professores maltratados? Quem é que fica com mais traumas?????? E esses alunos mal-educados, como serão quando forem adultos e pais?
Vão maltratar, bater, e procurar psicólogos para os continuarem a defender???
E acho que cada vez mais devemos ter coragem, dar a cara e escrever sobre o que vai mal. E é só olhar em volta! Calar, é, neste momento, pactuar!!!
Realmente, o exemplo deve vir de cima…e como não vem…o que podemos esperar? Vale tudo…
Concordo em absoluto consigo e só um cego é que não nota também o que se passa com a comunicação social….É só lembrarmo-nos do programa de Fátima Campos Ferreira, Prós e Contras – um triste exemplo…mas um exemplo óbvio do que é a manipulação da informação…
Já tudo é possível ver e ouvir em nome da mentira…
Permita-me mais este desabafo. Veja outro exemplo. A bandeira de Sócrates, as Novas Oportunidades. Oferecem-se diplomas de 9º e 12º ano a pessoas que mal sabem ler ou escrever, basta serem adultos, que mediante escreverem com muitos erros ortográficos a sua história de vida e fazerem um simples relato da sua experiência profissional ou doméstica, lhes são somadas e validadas competências (RVCC), obtendo diplomas como se de habilitações literárias e académicas se tratasse…E depois, segue-se a Faculdade, segundo me parece…Tudo pelas estatísticas!!!
Isto é um terrível exemplo para os jovens…pois se basta ler um rótulo, pôr uma máquina da roupa a trabalhar ou passar a ferro, dá competências e diplomas para quê estudar???
Nunca fui Salazarista, bem pelo contrário, mas não posso deixar de comparar esta pouca-vergonha dos nossos tempos com a atitude de Salazar, que mandou a afilhada repetir a 4ª classe por achar que não estava bem preparada…
Estamos a bater no fundo….É o “salve-se quem puder”! Vale tudo, saquear, sequestrar, matar. Não há moral, nem dignidade nem solidariedade…Imperam os oportunistas…
A pobreza chegou já à classe média…
Sócrates e o seu governo foram o pior que podia ter acontecido a este país!!! Regredimos tanto que prevejo o pior cenário para o futuro…
Leio o público, leio algumas crónicas, quando posso. Com algumas estou em desacordo, é evidente…
Continue, Helena, e escreva sobre o que está mal…Portugal precisa que se diga a verdade e os portugueses agradecem…
Um bem-haja!
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Não deixa de ser curioso que, havendo tanta gente com razões de queixa quanto ao copy&paste, e muito justificadamente, alguém se dê ao luxo de olimpicamente ignorar um pedido de autorização para transcrição integral de um texto. Fica para memória futura.
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Sr JPG, do comentário 21:
Transcrição integral de um texto, é plágio. As palavras do comentário anterior são totalmente minhas!
Mesmo não sabendo a quem o sr se refere, mas uma vez que o seu comentário vem a seguir ao meu, presumo que me é dirigido. Se o que eu disse lhe doeu, paciência, não lhe dá o direito de me atacar, mentindo!
Vejo que como não sou da sua cor política passou ao ataque, acusando-me de plagiar…Só para rir…
Extravasou a sua raiva dizendo que me dei ao luxo, passo a citar, “de olimpicamente ignorar um pedido de autorização para transcrição integral de um texto.”
Se é o que pensa, devia antes certificar-se e depois, só depois, dizê-lo! Fui eu que escrevi totalmente o texto, integralmente, embora longo e escreverei sempre que me apeteça…embora o sr não goste do que escrevo. Paciência, também eu não gosto de muita coisa!
E já agora, para que saiba, escrevi outro comentário! Eu, eu e só eu, também…tal como este e muitos outros mais…Os que me apetecerem, porque já vivi muito!!! E o que vejo é tão mau que não me consigo calar! E olhe que somos muitos a pensar como eu!
Espere pelas eleições e verá quantos descontentes!
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Mal entendido seu. Precipitação sua, digo-lhe eu, educadamente.
Nem sequer li o seu comentário (n.º 20). Referia-me ao meu próprio comentário (n.º 8), em que pedia autorização à autora do artigo publicado no jornal Público – reproduzido neste post – para transcrição integral no meu blog.
Só para rir, de facto, o seu comentário.
As melhoras.
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Resposta a JPG
Sou eu agora, educadamente que lhe peço desculpa pela forma como lhe respondi…Foi efectivamente um mal-entendido e ainda bem que o fiz rir,mesmo que à minha custa. Não é comum comentar aqui e não conhecia o seu blog. Confronto-me com comentários pouco simpáticos dos defensores do P.M.quando ataco o seu carácter e o seu desgoverno. Julguei ser mais um.
Compreendo a sua ironia, desejando-me as melhoras…
Bem, doente, doente, propriamente dito, não estou…mas para lá caminho, vendo tanto desvario `minha volta…
Visitei e seu Blog…Não sou fumadora, mas li atentamente os seus textos, que me agradaram bastante, tal como a escolha musical…
Por estranho que pareça, sou bem-humorada…e se quer saber, admirei-lhe o fair-play da resposta.
As minhas desculpas!
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