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Não é uma questão técnica

30 Dezembro, 2008

A questão não é técnica e não se resolve com uma palestra sobre medicamentos de venda livre e auto-medicação ou com sites com informação sobre a gripe. Da mesma forma que quem vai a um restaurante não vai lá para ouvir uma palestra sobre a fome na Etiópia ou sobre nutricionismo, quem vai a um hospital também não está interessado numa palestra sobre a diferença entre doenças causadas por vírus e doenças causadas por bactérias. Quem vai a um restaurante é porque quer comer. Quem vai a um hospital é porque quer ser tratado. As pessoas que querem aulas de biologia não vão ao hospital, vão à universidade.

Os restaurantes perceberam uma ideia básica que os responsáveis pelo SNS ainda não perceberam: as pessoas têm necessidades subjectivas. É por isso que os donos dos restaurantes não questionam os desejos dos seus clientes. Limitam-se a adaptar-se a eles. Os clientes de um restaurante podem lá ir mesmo que não tenham muita fome. Serão bem tratados à mesma. Os responsáveis pelo SNS não reconhecem às pessoas necessidades subjectivas. As pessoas apenas podem ter as necessidades definidas pelos serviços com base em critérios objectivos. Por isso os serviços não se dispõem a adaptar-se às preferências de quem na verdade lhes paga o salário. Para os responsáveis do SNS quem tem necessidades subjectivas tem é que deixar de as ter. Precisa de ser reeducado.

21 comentários leave one →
  1. 30 Dezembro, 2008 16:05

    Precisa de ser reeducado

    É evidente.
    Ainda hoje uma senhora no Correio da Manhã informa-nos “tossi e fiquei com uma pontada aqui nas costas e por isso vim ao Hospital”.
    Para estes sintomas até o Doutor João Miranda pode fazer diagnóstico.

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  2. 30 Dezembro, 2008 16:07

    Quando vou a um restaurante, não é para me satisfazer de necessidades subjectivas.
    Um bife é um bife, como diz o outro.

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  3. 30 Dezembro, 2008 16:12

    As fugas para a frente geram sempre momentos cómicos: seja porque se marra contra um poste, seja porque se cai no esgoto.

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  4. Estrangeiro permalink
    30 Dezembro, 2008 16:14

    A questão é que no restaurante somos clientes e, se não gostarmos da comida, podemos não voltar nunca mais; no Serviço Nacional de Saúde somos utentes, pelo que temos que comer, não bufar e voltar as vezes que for preciso!

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  5. caramelo permalink
    30 Dezembro, 2008 16:15

    E o JM que estava tão bem no post anterior… JM, se eu aparecer no restaurante com a “necessidade subjectiva” de apalpar a empregada, ou de lhe escarrar para a cara, eu tenho a certeza que o gerente não vai ser assim tão compreensivo. A questão é sempre técnica, seja no SNS, seja no Macdonalds: as pessoas vão a esses sítios para se servirem do que lá se pretende servir. Em qualquer desses sitios, os caprichos dos clientes têm limites.

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  6. 30 Dezembro, 2008 16:16

    JMiranda:

    Sendo Vocês mais especializados nesta matéria do que eu expliquem-me lá, se faz favor e se for possível, se as obras sempre adiadas embora em andamento e cujas entregas a empreiteiros foram por tantooo tempo tão escondidas e tanto foram adiadas, envoltas num mistério que desde o início me tem intrigado, e muito, na Aurélia de Sousa no Porto, ( Liceu, onde a perguntas inofensivas o arquitecto responsável de forma malcriada se recusou, em tempo, a responder a uma pergunta tão simples como: onde estão as placas identificativas dos empreiteiros? ), adiante, terá alguma coisa a ver com isto e a obra que era fantasma prontamente o deixou de ser.

    http://economia.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1354535&idCanal=57

    Obrigado.

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  7. Anónimo permalink
    30 Dezembro, 2008 16:36

    Ou ir ao serviço das traseiras, isto é, chegar às 13h ao restaurante para almoçar e ser atendido um mês depois. É o restaurante “Morto à Fome” do SNS.

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  8. 30 Dezembro, 2008 16:38

    Miranda,

    Não é líquido que a sociedade consiga pagar as necessidades subjectivas de saúde. Estás certo de que consegue? Com base em quê?

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  9. 30 Dezembro, 2008 16:41

    Ora bem, vendo o cardápio…. hoje está subjectivamente à apetecer-me uma Pneumonia à Gomes de Sá acompanhada com uma Sífilis Reserva 2005.

    As metáforas são muito úteis. Até servem para fazer graçolas.

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  10. 30 Dezembro, 2008 17:04

    Duas das questões que diferenciam a Saude dos outros ramos da economia são:

    1. O conceito de “necessidade”, que é algo dificil de definir. Trata-se do que o “utente” diz que precisa, do que o médico prescreve, do que os pagadores estão dispostos a pagar?
    De qualquer modo é um erro ver o hospital como uma peça única do sistema. é lógico que provavelmente houve maoir afluência “injustificaada” aos hospitais, mas era da obrigação do SNS providenciar alargamento dos horários dos cuidados de saúde primários para acorrer ao previsível aumento de percepção de necessidade de cuidados que se adivinhava. Foi o que aconteceu no Porto, onde o caos nos hospitais foi menor.

    2. O pagador dos cuidados e o beneficiário dos mesmo não é o mesmo, o que provoca um aumento na percepção de “necessidade” dos serviçosA regulação normal que acontece na economia (por exemplo no tal restaurante), através dos preços, não funciona na Saúde.

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  11. Carlos Duarte permalink
    30 Dezembro, 2008 17:06

    Caro JM,

    Vc. e mais 20 pessoas vão a um restaurante, às 20.00 de uma Sexta-Feira (ou às 12.00 de um Domingo) e sentam-se cada uma numa mesa e pedem um copo de água. Vai ver a velocidade com que sai “subjectivamente” pela porta fora…

    Como nas urgências não podem “objectivamente” mandar o pessoal para casa (e deviam poder!), o pessoal do copo de água que espere.

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  12. 30 Dezembro, 2008 17:21

    “Quem vai a um hospital é porque quer ser tratado.””as pessoas têm necessidades subjectivas”

    Ou seja os SU dos Hospitais têm de estar preparados para tratar uma borbulha, uma comichão atrás da orelha, pêlos encravados, um espirro ou um esbirro.

    Para isso alarguem-se as equipas médicas dos SU’s dos Hospitais, ponha-se de prevenção o cirurgião plástico para tratar as rugas,. E pague-se tudo isso. Para depois o JM vir falar do desperdício de recursos do SNS.

    O SNS não pode ser dimensionado para atender os picos maximos de doença, até porque eles não se conseguem prever ao dia. Caso contrário, na maior parte dos dias do ano, íamos ver médicos, enfermeiros e auxiliares de perna cruzada, à espera de doentes no SU. E aí, o JM teria razão para falar em desperdício de recursos.

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  13. caramelo permalink
    30 Dezembro, 2008 17:24

    Ó JM, eu adorava ir a um restaurante de que você fosse o proprietário. Quando é que abre?

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  14. agonia permalink
    30 Dezembro, 2008 17:40

    Exitem questões técnicas e razões de ordem subjectiva. Nem uma nem outras estão a ter resposta no SNS. A avaliação do SNS tem sido encoberta com estatísticas desactualizadas e as mentiras do costume. A verdade é que o Serviço Nacional de Saúde está pelas ruas da amargura. Atrás de nós, em toda a Europa, só a Roménia, a Bulgária, a Croácia, a Macedónia e a Letónia. À frente de nós, todo o resto. Brilhante!
    “A Health Consumer Power House, um “think tank” europeu, importante grupo de reflexão internacional e independente, anunciou a classificação do Serviço Nacional de Saúde português. Fez contas e comparou. Organização, listas de espera, comparticipações, actualização de medicamentos, informação aos doentes, tempo de sobrevivência ao diagnóstico dum cancro, qualidade hospitalar, despesas, resultados e aí está a nossa brilhante classificação, escarrapachada nos jornais de todo o mundo. Somos por enquanto os 26.º da Europa com os Países Baixos a ocupar claramente a primeira posição”.
    Agonia tanta albrabice e trafulhice encapotadas quando se fala no SNS, uma idéia fabulosa no verdadeiro sentido do termo. A verdade é que os tugas não têm estofo, nem os doentes nem a maioria dos profissionais para passar à prática, cada vez mais longe de ser concretizada.

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  15. 30 Dezembro, 2008 17:53

    “Atrás de nós, em toda a Europa, só a Roménia, a Bulgária, a Croácia, a Macedónia e a Letónia. À frente de nós, todo o resto. Brilhante!”

    Falemo então dos que estão à nossa frente e dos critérios subjectivos. Os sistemas de saúde francês e sueco são dos que funcionam melhor.

    Critériso subjectivos? aqui fica um exemplo. Em França e na Suécia a cirurgia de Cataratas só é comparticipada pelo estado se o paciente vir menos de 4/10 (40% de visão).

    Assim se explica que fazendo o SNS português mais cirurgias de cataratas/ano que o SNS sueco, a lista de espera em portugal seja muito maior. Como tão badalado foi há meses atrás.

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  16. 30 Dezembro, 2008 18:54

    Caramelo, o JM já tem um restaurante. É aqui.
    A ementa é subjectiva.
    E não enche barriga.

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  17. 30 Dezembro, 2008 19:24

    Claro que sim.
    O doente comum não tem a mínima ideia se os sintomas que o afligem são graves ou irrelevantes. A mais completa iliteracia da saúde da esmagadora maioria da população observa-se bem no balcão da farmácia.
    Aliás, ninguém é bom médico em doença própria – nem os melhores médicos.

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  18. a prima do picoiso permalink
    30 Dezembro, 2008 19:29

    Picoiso, a tua prima aqui está para te explicar que o JM serve apenas uma ementa que permite reflectir espaçadamente na miserável situação que a tua mente obscurecida pelo autocad ainda não conseguiu vislumbrar. Já não é pouco. Na família todos sabemos como és inteligente. Acabarás por te penitenciar.

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  19. Miguel Almeida permalink
    30 Dezembro, 2008 20:41

    CARO JM,

    MAS É EXACTAMENTE ISSO! GOSTAVA DE TER SIDO EU A ESCREVER ISTO..

    CUMPRIMENTOS,~
    MA

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  20. Pi-Erre permalink
    30 Dezembro, 2008 21:40

    “Ó JM, eu adorava ir a um restaurante de que você fosse o proprietário. Quando é que abre?”

    Já abriu, mas só serve comida virtual. É mais saudável.

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  21. ana permalink
    30 Dezembro, 2008 22:43

    O JM é tão engraçado..e, claro, nunca foi a uma urgência. Se tivesse ido, sabia muito bem que uma gripe é uma gripe é uma gripe….

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