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Sobre o Manifesto pela Despesa Pública I

1 Julho, 2009

Um grupo de 51 personalidades ligadas à esquerda e à extrema esquerda resolveu fazer aquilo a que chamam um Manifesto pelo Emprego. Ao que parece acreditam que “só com emprego se pode reconstruir a economia”. Atribuem a crise mundial às desigualdades, à especulação financeira, a mercados mal regulados e a escassa capacidade política. Mas depois dizem que a crise mundial é uma crise de contracção da procura, o que sugere que no tempo das desigualdades, da especulação financeira, os mercados mal regulados e da escassa capacidade política, a procura era elevada.

Para resolver o tal problema da contracção da procura propõem vigorosas medidas contraciclicas. Fazem-no com cerca de 9 meses de atraso em relação a Paul Krugmann, que o fez em Setembro passado, e fazem-no depois de todos os governos do mundo, incluindo o português, terem injectado quantidades colossais de dinheiro na economia (ainda não chega?). Note-se que a solução apresentada por estes 51 notáveis nada tem a ver com os factores que segundo eles causaram a crise. Eles não defendem a redução das desigualdades, nem o combate à especulação financeira, nem a regulação dos mercados nem o aumento da capacidade política. Defendem um vigoroso estímulo contraciclico, do qual os primeiros e principais beneficiários seriam, inevitavelmente, as grandes empresas de obras públicas, os especuladores financeiros e os tais políticos a quem se atribui falta de capacidade política. E quem pagaria essas obras públicas?

Não deixa de ser interessante que estes 51 notáveis considerem que projectos com “impactos favoráveis no emprego, no ambiente e no reforço da coesão territorial e social” sejam projectos na área das obras públicas, sobretudo na construção civil (beneficiando muito mais a Mota-Engil à custa do dinheiro dos contribuintes) como a reabilitação do parque habitacional (no preciso momento em que o mercado imobiliário está deprimido e a procura por habitação declinou), a expansão da utilização de energias renováveis (subsidiadas, obviamente), a modernização da rede eléctrica (ideia copiada das propostas americanas, onde poderá fazer sentido, mas aqui faz?), projectos de investimento em infra-estruturas de transporte úteis, com destaque para a rede ferroviária (isto leva ao TGV, que como se sabe não pára nem em Bragança nem em Faro, não contribuindo em nada para o aumento da coesão territorial. Nem para a coesão social porque o TGV será um subsídio dos contribuintes mais pobres às elites viajantes).

No fundo, os 51 notáveis acreditam que, se gastarmos agora o dinheiro que a economia privada vai ter que pagar no futuro sob a forma de impostos, em projectos que inevitavelmente terão retorno muito baixo ou negativo, ganhamos mais do que se deixarmos a própria economia privada decidir em que projectos vale a pena apostar agora, se é que vale a pena apostar em alguma coisa agora. O que nos leva à questão que a Helena Matos já colocou neste blog: qual é o currículo destes notáveis em matéria de escolha de investimento que os tornam particularmente habilitados para decidir em que é que todos nós, via Estado, devemos investir?

57 comentários leave one →
  1. 1 Julho, 2009 14:49

    ORA NEM MAIS. Quem disse a estes senhores que eles têm moral para vir dizer este tipo de coisas?
    Vão lá mas é mandar em casa deles.
    Invistam em piscinas, automóveis topo de gama, LCDs, etc lá em casa.

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  2. 1 Julho, 2009 15:00

    Gostaria de saber quantas destas 51 personalidades são economistas ou têm formação afim. Alguém me esclarece, por favor?

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  3. Pagador permalink
    1 Julho, 2009 15:01

    A solução é acabar com a origem destes males todos: o ISCTE , esse alfobre do bolivarianos que só querem africanizar o país depois de terem feito a descolonização “entregando” pela cor da pele os territórios…

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  4. Anónimo permalink
    1 Julho, 2009 15:01

    “Um grupo de 51 personalidades ligadas à esquerda e à extrema esquerda resolveram”. Começas logo mal: Um grupo “resolveu”, não “resolveram”, pá!

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  5. 1 Julho, 2009 15:01

    O que é notável, é o Público dar grandes prangonas ao manifesto dos não sei quantos e ter ignorado este.
    Já agora qual é o currículo do João Miranda para opinar sobre o assunto?

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  6. Anonimous permalink
    1 Julho, 2009 15:02

    “Um grupo de 51 personalidades ligadas à esquerda e à extrema esquerda resolveram”. Começas logo mal: Um grupo “resolveu”, não “resolveram”, pá!

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  7. Pagador permalink
    1 Julho, 2009 15:02

    E até o gay mor do “casamento” assinou.Para mim bastava esta assinatura para qualificar as restantes…

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  8. Pagador permalink
    1 Julho, 2009 15:05

    E o Boaventura SS pá.Esse bolivariano de Coimbra que se calhar ainda sonha em plantar bananeiras, mandioca e café nos pinhais pá…

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  9. 1 Julho, 2009 15:09

    Mais importante: Diana Mantra assinou?

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  10. Pagador permalink
    1 Julho, 2009 15:09

    Os adeptos de planos quinquenais com eles a mandar e a servir-se que vão pelo buraquinho donde saíram ao mundo…

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  11. 1 Julho, 2009 15:10

    Eu já discuti com um dos subscritores no arrastão, e a conversa dele está a ao nível da minha sobre este assunto: conversa de café. Mas ele é economista e subscritor e eu não sou. Até me sugeriu a construção de mais escolas, parecendo desconhecer que nós já temos 8 mil escolas (já tivemos 10 mil) e que não precisamos de mais. É sempre o mesmo impulso gastador: mais escolas, mais hospitais, mais estradas, mais comboios, mais, mais, mais….

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  12. Pagador permalink
    1 Julho, 2009 15:12

    Deveria ser parida uma lei simples para político guloso: QUEM GASTASSE MAIS DO QUE O ORÇAMENTADO IA PRESO DE IMEDIATO!

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  13. Gonçalo permalink
    1 Julho, 2009 15:12

    E então o que é legitima a intervenção da cambada que teve o poder para fazer qualquer coisa e que só nos enterrou ainda mais (os 28+1)?

    A maior parte teve, de facto, o poder executivo para ajudar a transformar e a viabilizar o país. Todos falharam. Ora estrepitosa, ora clamorosamente (aceitam-se mais sinónimos), todos falharam, todos adiaram, todos se envolveram em comissões de estudo, em declarações de intenções, em think tanks e grupos de trabalho. E, voilá, lá esteve o país a marinar, à espera do D. Sebastião.

    Os 51 não serão melhores (à atenção dos comerciantes de ganza e t-shirts do Che – descubram onde serão celebradas futuras reuniões!!!), mas, pelo menos, não cheiram a mofo (e nem todos a ganza, mind you) e a falhanço rotundo.

    Ui ui, que já me cheira a rancho.

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  14. Paulo Nunes permalink
    1 Julho, 2009 15:14

    #5 Rb “Já agora qual é o currículo do João Miranda para opinar sobre o assunto?”

    Por esta lógica, ninguém que não seja economista pode opinar sobre os gastos dos dinheiros públicos. Não basta termos que contribuir compulsivamente para o bolo, como ainda não poderíamos opinar sobre como ele é gasto.
    Não nos esqueçamos que é dinheiro de todos nós e não de uma qualquer empresa ou particular.

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  15. Pagador permalink
    1 Julho, 2009 15:19

    O “D.Sebastião” pá… era mesmo preciso como pão para a boca!Primeiro “limpar” isto de traidoresinternacionalistas que escravizam os indígenas e depois evitar que isto vá à falência por gastamento do pouquinho que ainda resta e que tornará muito MAIS DOLOROSA A RECUPERAÇÃO futura.Tudo por Portugal nada contra Portugal!

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  16. José Barros permalink
    1 Julho, 2009 15:20

    Já agora qual é o currículo do João Miranda para opinar sobre o assunto? Rb

    Eu suponho que o JM tenha anos de pagamento de impostos. O que o torna muitíssio qualificado para comentar o modo como o Estado esbanja o seu dinheiro. Quem diz o JM, diz “eu” ou qualquer outro contribuinte.

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  17. Pagador permalink
    1 Julho, 2009 15:23

    Os incompetentes que nos têm (des)governado nada têm feito pela “produção”.Dizem descaradamente que isso é com os “capitalistas”.Quando nos mais avançados e ricos países é o estado que promove as grandes empresas e organiza as grandes produções tecnológicas.Quem fabrica o airbus?Quem paga o I&D de novas tecnologias devidamente orientadas?Os nossos africanizadores o que gostam é de cimento e alcatrão… e de muitos pretos para mão de obra baratinha para os seus patrões…

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  18. 1 Julho, 2009 15:27

    Gostava de sugerir este gráfico:
    PIB Portugal 1976-2009, com enquadramento político

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  19. Pagador permalink
    1 Julho, 2009 15:29

    Portanto é neste momento patriótico fazer abortar todos os investimentos não reprodutivos e só para dar lucro a aconstrutoras e empregar a africanidade.Parar tudo para “derrubar” os impérios do mal.E a partir daí reconstruir portugal para portugueses.Quem não se der bem que vá para áfrica…

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  20. lucklucky permalink
    1 Julho, 2009 15:32

    “Eu já discuti com um dos subscritores no arrastão, e a conversa dele está a ao nível da minha sobre este assunto: conversa de café. Mas ele é economista e subscritor e eu não sou. Até me sugeriu a construção de mais escolas, parecendo desconhecer que nós já temos 8 mil escolas (já tivemos 10 mil) e que não precisamos de mais. É sempre o mesmo impulso gastador: mais escolas, mais hospitais, mais estradas, mais comboios, mais, mais, mais….”

    E a seguir no parágrafo seguinte, na entrevista seguinte tudo muda e falam de sustentabilidade…
    A Esquerda é assim, sempre disposta a fazer como os Comunistas a falar de Democracia e depois a elogiarem a Coreia do Norte e o Irão…

    “Os 51 não serão melhores (à atenção dos comerciantes de ganza e t-shirts do Che – descubram onde serão celebradas futuras reuniões!!!), mas, pelo menos, não cheiram a mofo (e nem todos a ganza, mind you) e a falhanço rotundo.”

    Gonçalo os 51 defendem o que uma grande parte dos 28 fizeram nos últimos 30 anos!!! Isso é o mais hilariante e trágico desta história toda.

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  21. Pagador permalink
    1 Julho, 2009 15:44

    Vejam a agricultura.Uma montanha de funcionários e políticos que vivem de “dar subsídios” mas nada organizam.Dizem que organizar a “produção e comercialização é com os “outros”…
    Nada se produz tudo se importa com os agricultores indígenas a irem à falência…

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  22. 1 Julho, 2009 15:46

    #14 e #16

    Têm toda a razão, a minha pergunta era irónica. Se um biólogo pode opinar sobre as grandes opções estratégicas do país, porquê criticar o novo manifesto do emprego pelo facto de não ser de autoria exclusiva de economistas?

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  23. Pagador permalink
    1 Julho, 2009 15:46

    Por exemplo nos matadouros instalados parece que poderiam satisfazer as necessidades da europa toda… com gajos tão bons a mandar acho que deveriam ser multiplicados.De cada um faziam-se dois ou três…

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  24. boymerang permalink
    1 Julho, 2009 15:49

    “Note-se que a solução apresentada por estes 51 notáveis nada tem a ver com os factores que segundo eles causaram a crise.”JM

    Só se fossem mentecaptos é que teria. Uma coisa de cada vez, caro João Miranda. Primeiro há que tratar das dores e com isso evitar que o paciente morra. Garantido isto, aí sim, vamos então tratar dos factores que causaram a crise.

    Tu és tão inteligente e não consegues perceber isto?

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  25. Pagador permalink
    1 Julho, 2009 15:50

    Mas o futuro defendido pelos bolivarianos é mesmo conseguirem colocar portugal a produzir mandioca e bananas no alentejo.Mão de obra conhecedora é o que mais por aí existe…

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  26. Pagador permalink
    1 Julho, 2009 15:53

    Agora fazerem TGV´s com todo o material importado e com défices de exploração monstruosos isso não.Mais auto-estradas em que só os gajos dos carjaking podem andar também não.Assim organizem-se de outra maneira.Mas que não seja como fazer barcos que quase afundam nas provas de mar…

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  27. Pagador permalink
    1 Julho, 2009 16:03

    O que deve ser exigido pelos cidadão que efectivamente pagam impostos e que são os únicos a lixar-se é:
    1º- exigir a total profissionalização da função pública até Director Geral, inclusivé
    2º- exigir o “embaratecimento” por reduções significativas da “representação” popular “interpretativa”.E dizendo logo quais as qualificações para os lugares para não virmos a ter “doutores” em simples juntas de freguesia…e a ganhar como tal(no tempo da outra senhora o serviço era feito de borla:Reduzir nas Câmaras municipais, AR e Regionais “tabelando” quem pode meter “assessores”
    3º- Diminuir impostos, cortando “serviços”
    4º-Acabar com o RSI nos actuais moldes e com as casas “sociais”
    4º Fazer uma nova constituição

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  28. Pagador permalink
    1 Julho, 2009 16:10

    Entretanto convinha que deixassem de aumentar anualmente por “nacionalizações” virtuosas em 30000 o número de pobres… Só isso “derruba” qualquer orçamento…então se o novo “nacional” tiver SIDA a 2000 euros/mês vejam quantos professores os gajos não têm que “avaliar” sem “exames nacionais” como dev ser…

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  29. Pagador permalink
    1 Julho, 2009 16:15

    Estão a ver como os gajso que nos (des)governam não fazem contas?.São umas bestas como todas as outras mas armadas em sabichonas…

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  30. Filipe permalink
    1 Julho, 2009 16:21

    Bom texto JM.

    Só uma ressalva aqui “Um grupo de 51 personalidades ligadas à esquerda e à extrema esquerda” devias ter riscado “extrema esquerda” e colocado “esquerda da social-democracia” para não melindrar ninguém.

    Esse manifesto cheira a URSS, é reacção ao anterior manifesto contra o tgv e tinha de ter obrigatoriamente mais pessoas a assinar. Estes métodos de decridibilizar algo têm décadas de existêcia, já deviam estar em museus…

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  31. Rosa de Abreu permalink
    1 Julho, 2009 16:23

    Mas…Notáveis de quê e porquê?
    Ainda ninguém reparou, que nós estamos atolados nesta trampa até à raiz dos cabelos, ú nica e exclusivamente por causa destes pseudo-notáveis de merda!

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  32. ourição permalink
    1 Julho, 2009 16:39

    Desde hoje na presidência da UE
    Primeiro-ministro sueco alerta governos europeus para ordem nas finanças públicas
    O primeiro-ministro da Suécia, Fredrik Reinfeldt, apela aos governos dos países membros da União Europeia para que voltem a atenção para a necessidade de equilíbrio das finanças públicas.
    Claro que há sítios que não se importam com ninharias até ver.

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  33. Basico permalink
    1 Julho, 2009 16:49

    Ele nao é apoiado por 51 reputados economistas.

    Alguem já se perguntou sobre a incongruencia de estar a discutir os mega processos, quando a maior parte das economias mundiais parecem estar a virar o ciclo economico?

    Quando estes projectos estivessem lancados e no terreno (minimo 1-2 anos?), já a economia portuguesa deles nao precisaria.

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  34. Pedro Lascasas permalink
    1 Julho, 2009 17:02

    Mas será que alguém já leu o Manifesto ?! É que só vejo verborreia facciosa contra os signatários… Será falta de argumentos ou ódio pessoal e político ?!

    E alternativas ?! E ideias novas ?!

    E eu, do alto da minha poltrona critico todos aqueles que ousam tentar…

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  35. 1 Julho, 2009 17:02

    Já agora qual é o currículo do João Miranda para opinar sobre o assunto?

    O Blasfémias cada vez esté melhor.
    Um censura os posts que não lhe agradam.
    O outro faz-se de cego e torna-se mudo.
    E dizem-se liberais e democratas.

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  36. 1 Julho, 2009 17:04

    O manifesto tem algumas coisas com piada:

    “Estamos a atravessar uma das mais severas crises económicas globais de sempre. Na sua origem está uma combinação letal de desigualdades, de especulação financeira, de mercados mal regulados e de escassa capacidade política. A contracção da procura é agora geral e o que parece racional para cada agente económico privado – como seja adiar investimentos porque o futuro é incerto, ou dificultar o acesso ao crédito, porque a confiança escasseia – tende a gerar um resultado global desastroso. “

    Nada sobre o papel dos bancos centrais, o papel dos estados na garantia de crédito fácil, os défices permanentes. Apesar de vivermos sobre toneladas de regulamentos, estes são maus. Deveriam ser bons e são maus – que azar.

    “É por isso imprescindível definir claramente as prioridades. Em Portugal, como aliás por toda a Europa e por todo o mundo, o combate ao desemprego tem de ser o objectivo central da política económica.”

    Virá algo sobre os bloqueios à contratação e sobre a rigidez do mercado de trabalho? Nem por sombras.

    “A crise global exige responsabilidade a todos os que intervêm na esfera pública. Assim, respondemos a esta ameaça de deflação e de depressão propondo um vigoroso estímulo contracíclico, coordenado à escala europeia e global, que só pode partir dos poderes públicos. Recusamos qualquer política de facilidade ou qualquer repetição dos erros anteriores. É necessária uma nova política económica e financeira.”

    Nas últimas décadas, a despesa pública nunca parou de aumentar. Em Portugal, idem. No entanto, a solução para uma crise surgida num ambiente de permanente aumento de despesa pública é aumentar ainda mais a despesa pública. Não vamos repetir os erros anteriores – vamos antes ampliá-los. E não devemos ser só nós – devemos exigir que isto se faça à escala europeia – chegou finalmente o internacionlismo socialista ou, em nomenclatura moderna, o internacionalismo despesista.

    “Nesse sentido, para além da intervenção reguladora no sistema financeiro, a estratégia pública mais eficaz assenta numa política orçamental que assuma o papel positivo da despesa e sobretudo do investimento, única forma de garantir que a procura é dinamizada e que os impactos sociais desfavoráveis da crise são minimizados.”

    E donde vêm os recursos? Dos impostos, diminuindo a capacidade de intervenção dos privados. Da banca, dificultando o acesso ao crédito dos privados. Mais público significa menos privado. Menos hoje e muito menos amanhã. Ainda acreditam em efeitos multiplicadores sem fim. São ultra-keynesianos radicais.

    “Os recursos públicos devem ser prioritariamente canalizados para projectos com impactos favoráveis no emprego, no ambiente e no reforço da coesão territorial e social: reabilitação do parque habitacional, expansão da utilização de energias renováveis, modernização da rede eléctrica, projectos de investimento em infra-estruturas de transporte úteis, com destaque para a rede ferroviária, investimentos na protecção social que combatam a pobreza e que promovam a melhoria dos serviços públicos essenciais como saúde, justiça e educação.”

    E sabem tudo. Sabem onde se deve aplicar os dinheiros que pretendem sacar aos contribuintes. Gente tão conhecedora deveria estar a criar riqueza em vez de consumir. A lista inclui todos os lugares comuns dos tempos que correm. Não falta nada: ambiente, energias limpas, justiça, saúde, educação e TGV. Tiveram que riscar a cultura, porque o PM abriu a boca na véspera, senão também cá estava.

    “Desta forma, os recursos públicos servirão não só para contrariar a quebra conjuntural da procura privada, mas também abrirão um caminho para o futuro: melhores infra-estruturas e capacidades humanas, um território mais coeso e competitivo, capaz de suportar iniciativas inovadoras na área da produção de bens transaccionáveis.”

    A crise é conjuntural, dizem, mas precisam de soluções estruturantes. Chamam aos recursos, recursos públicos – como se para os conseguir eles não fossem extorquidos aos cidadãos e empresas.

    “Dizemo-lo com clareza porque sabemos que as dúvidas, pertinentes ou não, acerca de alguns grandes projectos podem ser instrumentalizadas para defender que o investimento público nunca é mais do que um fardo incomportável que irá recair sobre as gerações vindouras. Trata-se naturalmente de uma opinião contestável e que reflecte uma escolha político-ideológica que ganharia em ser assumida como tal, em vez de se apresentar como uma sobranceira visão definitiva, destinada a impor à sociedade uma noção unilateral e pretensamente científica. “

    Reparem: contestam a opinião que as grandes obras serão um fardo incomportável para as gerações seguintes. De um conjunto de estatistas para quem o dinheiro é um bem confiscável em nome do desígnio do grande estado, isto até é natural. Nada é incomportável para quem pode sempre aumentar impostos. (se entretanto não matarmos o contribuinte dos impostos de oiro).

    “Ao contrário dos que pretendem limitar as opções, e em nome do direito ao debate e à expressão do contraditório, parece-nos claro que as economias não podem sair espontaneamente da crise sem causar devastação económica e sofrimento social evitáveis e um lastro negativo de destruição das capacidades humanas, por via do desemprego e da fragmentação social.”

    Talvez fosse bom ler agora as patacoadas que alguns destes senhores disseram e escreveram aquando da esquecida crise asiática dos anos 90. Era o fim do capitalismo, o fim do mundo como o conhecemos, não havia possível retorno ao crescimento, exigia-se um novo paradigma, adivinhavam-se as tragédias futuras. Passados dois anos, já ninguém se lembrava do que tinha acontecido. São muito bons, nas previsões.

    “Consideramos que é precisamente em nome das gerações vindouras que temos de exigir um esforço internacional para sair da crise e desenvolver uma política de pleno emprego. Uma economia e uma sociedade estagnadas não serão, certamente, fonte de oportunidades futuras.”

    Não em nome dos meus filhos, por favor. Há aqui gente que sempre defendeu as soluções que levaram à miséria e estagnação de dezenas de países e de milhões de pessoas em todo o mundo. Agora, querem usar as mesmas soluções para evitar a estagnação? É preciso ter lata.

    “Julgamos que não é possível neste momento enfrentar os problemas da economia portuguesa sem dar prioridade à resposta às dinâmicas recessivas de destruição de emprego. Esta intervenção, que passa pelo investimento público económica e socialmente útil, tem de se inscrever num movimento mais vasto de mudança das estruturas económicas que geraram a actual crise. Para isso, é indispensável uma nova abordagem da restrição orçamental europeia que seja contracíclica e que promova a convergência regional.”

    Como temos estado sistematicamente a viver em políticas expansionistas – ver o défice dos últimos 20 anos – propõem como solução uma política ainda mais expansionista. O brilho da sugestão é tão intenso que até cega. Estão aqui, estão a falar de planos quinquenais, estruturantes e estratégicos. Um novo paradigma.

    E depois vemos quem assina isto. Uma colecção mal amanhada de comunistas (do PC e do Bloco) e de estatistas do PS, mais meia dúzia da intelectualidade de esquerda das universidades públicas. Porra! É nestas alturas que um ateu pode gritar: Deus nos livre desta gente.

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  37. Pedro Lascasas permalink
    1 Julho, 2009 17:13

    # 27

    Permita-me que continue o seu pensamento:

    5º – Matar os velhinhos (vulgo, “papa-reformas”);
    6º – Deportar tudo o que é deficiente;
    7º – Trabalhadores é despedir quando o patrão quiser;
    8º – Aumentos só se for de trabalho.

    Basicamente, cada um por si e o resto que se lixe ! É assim mesmo !

    Como dizem os Brasileiros: “pimenta no cú dos outros é refresco ! ”

    N.B. (deixei-me do tradicional P.S. para evitar confusões) – relativamente ao uso (absolutamente despropositado) das aspas: http://ciberduvidas.pt/idioma.php?rid=1283 .

    Cordiais cumprimentos.

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  38. 1 Julho, 2009 17:15

    37 # JCD

    Você faça um “copy paste” desse seu comentário e pespegue-o na caixa de comentários do Arrastão, que aquilo lá está cheio de comentários mirabolantes dos subscritores do manifesto e seus apoiantes.

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  39. Pedro Costa permalink
    1 Julho, 2009 18:08

    Tenho dois amigos a discutir isto com muita seriedade aqui:http://mrtonyswasthyatales.blogspot.com/2009/06/o-portugal-dos-pequeninos.html

    Esta discussão do blasfémias entra ao barulho lá no outro debate…

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  40. Basico33 permalink
    1 Julho, 2009 18:34

    Claro que não se esperava outra posição do Mirandinha. Mas a esquerda já lhe respondeu em vários sítios.

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  41. Ulf Cegrell permalink
    1 Julho, 2009 18:50

    jcd disse
    1 Julho, 2009 às 5:04 pm

    Excelente comentário.

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  42. Mcp permalink
    1 Julho, 2009 19:32

    « O que nos leva à questão que a Helena Matos já colocou neste blog: qual é o currículo destes notáveis em matéria de escolha de investimento que os tornam particularmente habilitados para decidir em que é que todos nós, via Estado, devemos investir?» Citando João Miranda.

    Caríssimos acabo de descobrir, através dessa iluminada afirmação/interrogação de Helena Matos, que cá, nesta terra lusa, o que faz as pessoas serem credíveis é possuírem currículos.

    Eureka. Eurekaaaaaaaaaaaaaaaa.

    Cá está a solução para todos os nossos problemas, CURRICULOS.

    Por favor, quem me diz a mim que uma pessoa do contra-manifesto tem menos credibilidade que a do Primeiro? Vão cingir-se aos currículos?

    Alguns desses Senhores já estiveram no poder e alguma, nada ou até mesmo pouca coisa fizerem.
    Não estou com isto a defender, de forma alguma, os Senhores do Contra-Manisfesto. Lamento, isso sim, é que venham a resumir tudo isto (sustentabilidade do país – coisa pouca néh? -) a questões de currículos.

    E assim caminha, lentamente, o pensamento dos portugueses.

    P.S: é de lembrar que esses Senhores – mui curriculados – para quem não sabe, pois pode acontecer a alguns, já foram jovens o que não lhes tirou de forma alguma a credibilidade mesmo sem currículos ainda.

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  43. 1 Julho, 2009 19:40

    #43

    Os currículos são muito importantes para o (eng?) Sócrates. Ele é Novas Oportunidades, ele é Mestrados integrados, ele é 12º ano de escolaridade.

    Vá, se aceita o curriculum do Primeiro Ministro, terá que aceitar o meu e o do palhaço Batatinhas também.

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  44. Pi-Erre permalink
    1 Julho, 2009 21:12

    No fundo, o que essas 51 luminárias propõem é apenas a sovietização do país.

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  45. 1 Julho, 2009 21:29

    O curriculo académico de muitos deles é excelente em áreas fundamentais para este debate.
    Têm de ser ex-ministros ou empresários para opinar? Explique-se.

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  46. JMLM permalink
    1 Julho, 2009 21:49

    JOÃO MIRANDA E HELENA MATOS:

    A crise não começou agora, é um facto.
    A crise é mundial, é um facto.
    Não está fácil encontrar soluções, é um facto.
    Portugal precisa URGENTEMENTE de economistas sábios, com soluções na manga.
    Façam o favor de prestar um favor á nação, apresentem as Vossas soluções, são sempre bem vindas.
    Será bom principio para a critica que ela mesmo apresente uma alternativa, mas viável.
    VIVA PORTUGAL.

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  47. JMLM permalink
    1 Julho, 2009 21:53

    #45 «sovietização»

    O bom da democracia é a liberdade de expressão.
    O melhor é aproveitar para não dizer asneiras.
    Seja responsável, use a liberdade com cuidado.
    VIVA PORTUGAL

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  48. Pi-Erre permalink
    1 Julho, 2009 22:27

    #48 JMLM

    Olhe, leia “O Caminho Para A Servidão” de HAYEK, para aprender qualquer coisinha disto, está bem?
    Seja responsável, portanto, e não diga baboseiras.

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  49. JMLM permalink
    2 Julho, 2009 00:01

    #49
    Fica sempre bem no argumento invocar grandes temas e se possível nomes de “instrangieros”.
    Gostava era de o ver explicar essa da sovietização.
    VIVA PORTUGAL

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  50. açoriano permalink
    2 Julho, 2009 10:44

    “Pagador disse

    1 Julho, 2009 às 3:01 pm
    A solução é acabar com a origem destes males todos: o ISCTE , esse alfobre do bolivarianos que só querem africanizar o país depois de terem feito a descolonização “entregando” pela cor da pele os territórios…”

    Eu estudei no ISCTE e uma coisa que não faltavam eram gajas boas, vide a Carla Matadinho e profs. com ideias liberais, por isso, descubra outra causa.

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  51. açoriano permalink
    2 Julho, 2009 10:46

    “José Barros disse

    1 Julho, 2009 às 3:20 pm
    Já agora qual é o currículo do João Miranda para opinar sobre o assunto? Rb

    Eu suponho que o JM tenha anos de pagamento de impostos. O que o torna muitíssio qualificado para comentar o modo como o Estado esbanja o seu dinheiro. Quem diz o JM, diz “eu” ou qualquer outro contribuinte.”

    Mas o João Miranda não é funcionário público?

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  52. Tribunus permalink
    2 Julho, 2009 11:46

    Este 51 espertalhões, ainda não perceberam que mais de 50% do desemprego não tem qualificação para o arranque de uma economia moderna?foi isto a herda que nos deixou a socialite? com educação de treta? população agarrada a direitos, mas muito pouco a deveres!
    Qual quer governo que venha ou suspende a constituição por 2 anos ou vamo-nos continuar a atulhar na ,merda em que estamos. Viram como os comunistas votaram contra na Autoeuropa? e tiveram sorte com a decisão dos alemãis , mas na proxima è a deslocação pura e dura…………..

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  53. JMLM permalink
    2 Julho, 2009 18:49

    #53
    Concordo.

    Ainda estamos á espera de ver as tais soluções milagrosas de Helena Matos e João Miranda, como grandes especialistas da matéria. Enquanto espero, convido o amigo Açoriano para beber um copo, ou mais , estou a prever uma espera longa.

    VIVA PORTUGAL

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