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Para memória futura: o que escrevi sobre Bento XVI

11 Fevereiro, 2013
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Ao longo dos últimos sete, oito anos, ainda escrevi alguma coisa sobre Bento XVI, e o seu antepassado Cardeal Ratzinger, o suficiente para aqui o recordar neste dia em que o Papa, com enorme coragem, anunciou a sua renúncia. Sempre me interessei pelo seu percurso e pela sua luta contra o relativismo moral, mesmo não sendo crente, mesmo distanciando-me dele no que toca ao liberalismo económico. Um Papa que vale a pena ler e estudar, um príncipe entre os intelectuais europeus.

Aqui fica o essencial do que escrevi sobre um Papa que me fascinou. Para memória futura:

Para além da continuidade

A eleição de Joseph Ratzinger, o colaborador mais próximo de João Paulo II e o guardião da Doutrina da Fé é um sinal da luta da Igreja contra o relativismo moral e pode revelar um surpreende Bento XVI

Joseph Ratzinger era, provavelmente, o mais próximo colaborador de João Paulo II. O seu grande cúmplice. Mas quererá isso dizer que Bento XVI será apenas um mero continuador do Papa que o antecedeu? Dificilmente.

Primeiro, porque o mundo e a Igreja mudaram muito nos últimos 26 anos e as prioridades e preocupações do novo Papa são muito distintas das que Karol Woityla enfrentou quando iniciou o seu longo papado. Depois, porque havia uma espécie de divisão do trabalho entre o anterior chefe da Igreja de Roma e o até ontem Perfeito da Congregação para a Doutrina da Fé que é irrepetível. Mas para compreender a natureza dessa partilha é essencial para olhar para o que pode manter-se e para o que pode mudar no Vaticano. É que, como Rocco Buttiglione, o polémico filósofo católico que era muito próximo de João Paulo II, disse numa entrevista dada já há alguns anos, “o Papa tem o dom da síntese, por causa das suas funções, e o Cardeal Ratzinger o dom da polémica”, e agora o homem das polémicas terá que trabalhar a capacidade de realizar sínteses – o que já deve ter começado a fazer tal a rapidez com que os seus pares, apesar de todas as diferenças, o elegeram.

Algo também deve ser retido: Bento XVI é um homem de uma determinação ímpar, rara inteligência e capacidade argumentativa, tendo deixado claras, na homília que fez antes do Conclave se iniciar, quais as suas principais preocupações. “Possuir uma fé clara, seguir os ensinamentos da Igreja, é classificado com frequência como fundamentalismo” disse perante os 115 cardeais eleitores. “Em contrapartida o relativismo, isto é, o deixar-se levar ‘para aqui ou para ali por qualquer vento ou doutrina’ parece a única atitude aceitável nos tempos que correm. Toma corpo uma ditadura do relativismo que não reconhece nada como definitivo e que deixa tudo ao critério do próprio ego e dos seus desejos”. Este é o estado de coisas que quer combater e por isso foi ontem genericamente definido em todas as televisões como o expoente da ortodoxia.

Aparentemente esta linha de combate contra a “ditadura do relativismo” é impossível de vencer numa Europa onde a religião parece ocupar cada vez menos espaço, onde o individualismo radical e o consumismo, a vontade de obter instantaneamente gratificação e prazer, estão a substituir os valores de contenção e sacrifício pregados pela Igreja. Mas será mesmo um combate sem esperança, sobretudo agora que deixou de ser servido pelo carisma de João Paulo II e pela sua capacidade de atrair a juventude? Ou será que esse vaticínio está tão errado como os que menorizaram a capacidade do Papa polaco para derrubar o comunismo? Em 1978 esse também parecia um combate perdido…

É também redutor limitar a personalidade do novo Papa aos seus combates em defesa da Doutrina da Fé. Convém recordar quer as suas origens – nasceu numa Alemanha prestes a cair no pesadelo nazi, filho de um pai polícia que preferiu demitir-se a servir o regime, foi alistado com 15 anos e desertou com 16, partindo dessa experiência para abraçar a vocação religiosa –, quer o seu percurso – com apenas 35 anos impressionou Roma durante o Concílio do Vaticano II com as suas capacidades teológicas e as suas posições liberais, tendo depois evoluído para o campo conservador ao confrontar-se com as consequências da contra-cultura pós-Maio de 1968 –, quer ainda com o significado do nome que escolheu, Bento XVI.

Na verdade o Papa que viveu a I Guerra Mundial – que logo classificou como o “suicídio da Europa” – teve como preocupações centrais a luta pela paz e a evangelização. A primeira, mal entendida e mal sucedida na época, não impede que hoje os historiadores reconheçam que a sua proposta de paz de 1917 já contivesse o essencial dos 14 pontos de Woodrow Wilson, o mais idealista dos Presidentes americanos do século passado e impulsionador da Sociedade das Nações. A segunda preocupação levou-o a promover num mundo onde a maior parte das nações ainda eram colónias a pregação por missionários locais contra a tradição dos missionários enviados das potências imperiais.

O que é que isto pode significar? Que a sua rápida eleição pode ter ficado a dever-se à associação entre a sua defesa intransigente da doutrina católica, algo que por vezes incomoda a Igreja nos países do Norte mas é melhor aceite em muitos países do Sul, e uma abertura ao que realmente preocupa os episcopados desses países, com destaque para a pobreza.

Não surpreenderia pois que este Papa já idoso – acabou de completar 78 anos – se revele como Bento XVI alguém bem distinto do estereótipo construído em torno de Joseph Ratzinger. Na sua última entrevista à televisão italiana defendeu que a juventude não é uma questão de idade e, mesmo que muitos augurem um mandato curto e de transição, isso não implica que venha a ser menos importante. Basta recordar que João XXIII tinha 77 anos quando foi eleito e deixou o legado que deixou.

Público, Abril 2005

Fé e razão

Bento XVI terá sido escolhido por ser o melhor preparado para a batalha de valores que a Igreja sente como crucial

Conforme os dias vão passando vai-se tornando mais claro porque escolheram os cardeais alguém como Joseph Ratzinger para o lugar do herdeiro de Pedro. Não foi porque o antigo Perfeito da Congregação para a Doutrina da Fé fosse um conservador, ou, se se preferir, “o” conservador. Também não representou um mero desejo de continuidade da obra de João Paulo II, de que era o mais próximo colaborador.

Bento XVI terá sido escolhido porque será, neste momento, o melhor preparado para uma batalha que a Igreja sente como crucial: uma batalha pelos valores, não apenas os valores informados pela fé, mas também os que a razão informa. Valores de humanidade, valores morais, valores que modelam o comportamento pessoal e social e que não são exclusivos da religião, ou de uma religião.

Superiormente inteligente, culto, articulado no discurso e conhecedor das regras da retórica e da polémica, Bento XVI tem as condições para ir além do carisma quase populista do seu antecessor e conduzir a Igreja numa batalha cultural que tem vindo a perder. E poderá fazê-lo não por via da ortodoxia, como tantos sugeriram, mas por manejar a doutrina com uma familiaridade que lhe permite saber o que é essencial e o que é acessório.

(…) A Igreja parece ter entendido que ao escolher um Papa muito forte do ponto de vista cultural e ético teria melhores condições para apontar caminhos a sociedades que se encontram desorientadas pelos desafios da modernidade e da tecnologia. Ou seja, sociedades que não encontram nos triunfos da ciência respostas para as suas angústias e pessoas cujas experiências de vida lhes mostraram que o prazer imediato, procurado a qualquer preço, está muito longe de corresponder à felicidade por todos almejada.

De certa forma este caminho – o caminho mais difícil – é paralelo ao que muitos cristãos e não cristãos têm vindo a travar. Mais: muito antes de se tornarem conhecidos por causa das suas posições sobre política internacional, os neoconservadores surgiram e cresceram como movimento intelectual de resposta à contracultura pós-moderna – a mesma contracultura com que Ratzinger se confrontou na velha Universidade de Tübingen, onde dava aulas no final da década de 60. Os caminhos percorridos são, naturalmente, diferentes, mas na imprensa norte-americana já vários autores estabeleceram o paralelismo, sublinhando a importância que esse movimento sempre deu ao combate cultural e intelectual.

Bento XVI quererá recuperar para a religião o papel de recurso cultural e moral sem o qual faltam bases à convivência e à sociedade civil, um papel que alguém como Habermas considera existir sem opções alternativas. O que é isso significa? Recuperar o cristianismo e a sua herança cultural como fundamento da liberdade, dos direitos humanos, da solidariedade, da democracia, de tudo o que faz a diferença da civilização e tem valor universal. Talvez encontrando na fé novos recursos para a razão.

Público, Abril 2005

Um ano depois

Bento XVI distanciou-se de Ratzinger. Porque um Papa não é um Cardeal. E a Igreja tem uma sabedoria milenar

Quantas instituições têm dois mil anos? Quantas resistiram vinte séculos? E quantas ainda continuam a mostrar sinais de vitalidade?

Provavelmente, mau grado todos os altos e baixos da sua longuíssima história, julgo que só a Igreja de Roma pode reivindicar tal estatuto. E continuar viva e influente, mesmo onde foi ou ainda é perseguida, tal como onde um dia dominou e hoje sente o chão fugir-lhe debaixo dos pés. Concorde-se ou discorde-se radicalmente da sua doutrina, seja-se crente, agnóstico ou ateu, é impossível deixar de meditar sobre como sobreviveu tanto tempo e a tantas mudanças. Sobretudo pensando que, como instituição, é feita de homens e mulheres.

Mais do que a doutrina, que o tempo moldou, mais do que a Fé, que teve diferentes significados em diversas eras, mais do que o poder temporal que não teve, depois teve e de novo deixou de ter, a explicação tem de estar numa sabedoria feita de prudência, de capacidade de adaptação, de resistir mesmo quando isso significou ser reaccionária, como noutros momentos se revelou libertadora, mesmo progressista. Melhor ou pior soube acompanhar os tempos e os seus sinais, e influenciá-los. Não se sobrevive tanto tempo e com tanta influência de outra forma. Nenhum império logrou sequer algo de semelhante.

É claro que a coincidência do primeiro aniversário da eleição de Bento XVI com a passagem de 500 anos sobre o massacre dos judeus em Lisboa, em que o envolvimento de membros da Igreja é inquestionável, levará muitos a sublinhar todos os lados sombrios destes dois milénios. Porém, uma vez que a inumanidade tem sido a mais fiel companheira da história da Humanidade, que na história de todas as nações existem sempre lados sombrios, o importante é sublinhar, em cada momento, o que se soube largar do passado e como se enfrenta o futuro.

Ora é aí, precisamente, que este primeiro ano de Bento XVI se destaca. O seu dever não era o de prolongar o seu antecessor, João Paulo II, cujo magistério seria sempre irrepetível. Não lhe competia repetir os pedidos de perdão pelos erros do passado sobretudo depois de, num gesto de particular simbolismo, o Papa polaco se ter ajoelhado em Jerusalém junto ao Muro das Lamentações. Não se atirem pois pedras antes de olhar, sem preconceitos, para aquilo a que veio e aquilo que fez Bento XVI, até porque neste ano ele teve a arte de se libertar da imagem que carregava, a do ortodoxo Ratzinguer.

Dele pouco se esperava depois de um papado tão carismático e algo se temia sabendo que havia sido o guardião da doutrina. Porém, numa muito lúcida e inteligente entrevista que concedeu há um ano ao PÚBLICO e à Renascença, D. Manuel Clemente, bispo auxiliar de Lisboa, teve a intuição de perceber como Bento XVI seria diferente. No texto que hoje escreve neste jornal, ele sublinha como dificilmente se poderia esperar que um homem daquela idade e condição tivesse dedicado a sua primeira encíclica ao amor. Mais inesperado é que ao fazê-lo tenha, pela primeira vez na história da Igreja de Roma, assumido o lado erótico do amor.

Contudo D. Manuel Clemente intuíra logo que, e citamos, “Bento XVI ganhará face aos fantasmas de Ratzinger”; “a sua visão cultural torna-o mais aberto à interculturalidade”; e, sobretudo, que poderia mudar alguma coisa na Igreja porque “se for sensível, humano, e tudo leva a crer que é, o facto de não só conhecer a doutrina como as pessoas, torna-o mais capacitado para dar os passos que forem necessários”.

Alguns desses passos são pequenos e já se percebeu que não mobilizará as massas que João Paulo II arrastava. Mas que não fixava. Bento XVI escolheu outra via, a da luta de ideias e a dos pequenos sinais. John L. Allen Jr. explica também nesta edição do PÚBLICO o significado de um desses pequenos gestos. Um dos que só é possível numa instituição duas vezes milenar e que acumulou sabedoria nos erros e nos triunfos. E que, como Bento XVI, age devagar, com prudência e resistindo às modas.

Público, Abril de 2006

 

 Regresso a Auschwitz

Bento XVI foi mais alemão do que Papa no campo de extermínio, falando assim a judeus, polacos e alemães

Antes de terminar a sua visita de três dias à Polónia, Bento XVI escolheu falar como alemão, em alemão. Fê-lo em Auschwitz-Birkenau. “Durante o resto da visita fora sempre o chefe da Igreja Católica; aos campos de extermínio deslocou-se como alemão e como católico”, notou o repórter do diário israelita Haaretz. A escolha tem um significado profundo num momento especialmente delicado já que, na Polónia, voltam a esvoaçar os seculares fantasmas da xenofobia e do anti-semitismo.

O Papa alemão, ao deslocar-se a Auschwitz, e ao escolher cuidadosamente cada uma das palavras que proferiu, os passou que deu, os lugares onde parou, estava sob o mais exigente dos escrutínios. Ao contrário de João Paulo II, que era polaco e crescera não longe daquele sinistro lugar, Bento XVI é alemão, com 16 anos obrigaram-no a alistar-se no exército, de onde desertaria antes do fim da guerra. Por isso tinha de falar aos polacos, um quinto dos quais morreu durante o conflito, a mais elevada proporção entre as nações que o conflito atravessou. Tinha de falar aos judeus, que viram 1,2 milhões dos seus gaseados e cremados naqueles campos. E tinha que falar em nome dos alemães e aos alemães. Tudo numa altura em que na Polónia ressurgem sentimentos xenófobos alimentados pela extrema-direita no poder, tudo um dia depois do rabi de Varsóvia, Michael Schudrich , ter sido vítima de um ataque anti-semita. Cada um dos seus gestos foi pois cuidadosamente escrutinado, sendo contudo fundamental o discurso que fez na íntegra para entender o seu significado.

E que novidades encontramos nas suas palavras? Antes do mais o facto de, ao contrário do que fizera nas suas duas anteriores visitas João Paulo II, se ter referido abertamente à Shoah e ao facto dos crimes ali cometidos não terem paralelo na história. Mais: o ter escolhido, depois de se referir às inscrições em hebreu presentes no memorial de Birkenau, terminar o discurso lendo um salmo da Bíblia que é celebrado tanto por cristãos como por judeus.

Depois, ao referir-se aos alemães, fê-lo de forma diferente do habitual, como notou Piotr Kadlick o líder da comunidade judia na Polónia que o acompanhou na visita, ao Haaretz: “Foi muito importante que tivesse falado abertamente sobre a responsabilidade de todos os alemães, que não o tivesse feito usando antes a palavra ‘nazis’”. Esta leitura difere da feita por alguns editorialistas, designadamente em França – caso do Le Monde –, mas vai ao encontro da leitura da imprensa alemã, onde se escreveu que há muito ninguém nascido na Alemanha conseguira reunir tanta amizade no vizinho que fica a Leste do Vístula.

Bento XVI falou da responsabilidade dos alemães ao assumir-se “filho do povo sobre o qual se ergueu um bando de criminosos graças a falsas promessas de futura grandeza e de recuperação da honra nacional, mas também através do terror e da intimidação, permitindo que o meu povo fosse usado e abusado como instrumento da sua sede de destruição e poder”. Representarão estas palavras uma fuga à responsabilidade colectiva dos alemães? Os polacos ouvidos em Auschwitz pelo Haaretz avaliaram-nas exactamente ao contrário e, para tal, por certo também contribuiu as palavras de Bento XVI contra a crença no poder ilimitado dos homens: “Ao tentarem destruir Israel, com a Shoah, esses [criminosos] desejavam em última análise destruir as raízes da fé cristã e substituí-la pela fé na sua própria invenção: a fé no poder dos homens, a fé no governo dos poderosos”.

A assumir-se como alemão em Auschwitz-Birkenau Bento XVI foi mais longe do que João Paulo II e por certo alguns dos gestos serão no futuro recordados com aquele momento histórico em que Willy Brandt, chanceler alemão, se ajoelhou junto ao monumento às vítimas do guetto judeu de Varsóvia.

Público, Maio de 2006

 

Um Papa difícil

Bento XVI defendeu que conciliar razão e religião é importante para o diálogo de culturas. Porque foi treslido?

Aparentemente muitos jornalistas desistiram de ler, quanto mais de pensar. Se uma frase de uma figura pública não contém o “sound-bite” evidente, ficam sem norte. Quando em vez de terem de ler um simples têm de ler um texto complexo, as coisas ficam ainda pior. Infelizmente o que se passou depois do discurso de Bento XVI na Universidade de Ratisbona tem muito a ver com esta forma de fazer (mau) jornalismo, porque foi sem notícia parciais e incompletas (para não as classificar cruamente de especulativas ou mesmo maliciosas), muita, senão toda, a ira ateada por radicais muçulmanos (convém notar que os moderados tiveram uma atitude completamente diferente) não teria existido.

Recordemos algumas passagens do seu longo e complexo discurso dirigido a uma plateia de académicos e que tinha como tema as relações entre a fé e a razão. Começando pelo último parágrafo onde começa por criticar os que entendem que só a “razão positivista” é válida, sublinhando que “as culturas profundamente religiosas do mundo vêem na exclusão do divino da universalidade da razão um ataque às suas convicções mais arreigadas”. Ou seja, disse “culturas” e não “cultura” ou “cristandade”, ou “catolicismo”. Pelo que acrescentou que “uma razão que é surda e relega a religião para o âmbito de uma cultura de segundo grau é incapaz de se inserir no diálogo das culturas.”

Esta ideia do “diálogo de culturas”, que já sublinhara numa anterior homília em Ratisbona, implica contudo que a religião entenda a razão, certamente um dos motivos porque escolheu citar o último imperador bizantino: “Não agir racionalmente, não agir com o logos, é contrário à natureza de Deus”, disse Manuel II (…). É a este grande logos, a esta amplitude da razão que convidamos os nossos parceiros no diálogo de culturas. Redescobri-la constantemente é o grande desafio da universidade”.

Perguntar-se-á: mas não haveria outros teólogos que o Papa pudesse citar? Seguramente. E podemos mesmo discutir se ao optar por citar a frase que originou a controvérsia – mesmo distanciando-se dela – não terá cometido um passo imprudente. Contudo a verdade é que se a nossa leitura não se ficar por essas linha e se não as retirarmos do contexto, temos de acrescentar o que o Papa explicitamente considerou como central no diálogo citado: “A frase decisiva nesta argumentação contra a conversão pela violência é: ‘Agir de modo irracional é contrário à natureza de Deus’”. Ora se esta é a “frase central”, porque se centrou toda a discussão noutro extracto potencialmente incendiário? A única resposta possível é que há muito jornalismo incendiário. Ou, no mínimo, irresponsável e preguiçoso.

Com efeito é muito mais fácil, muito mais atraente, um título “escandaloso” do que procurar interpretar o que Bento XVI disse sobre o que cristianismo foi beber à herança da filosofia grega (um tema que não deve ter surgido por acaso, pois é sabido que deseja melhorar as difíceis relações com as correntes ortodoxas do cristianismo). Ou tentar perceber porque critica um teólogo muçulmano, Ibn Hazn de Córdova, a par com outro cristão, João Duns Escoto. Tudo isto não cabe nuns segundos de telejornal – a frase “brusca” de Manuel II sobre Maomé cabe. Porém, se isso acontece devemos pedir ao Papa mais “sound-bites” ou exigir antes mecanismos de transmissão de informação mais rigorosos?

Por outro lado, mesmo admitindo que Bento XVI devia mutilar o seu raciocínio em nome do “momento sensível que se vive”, como tantos escreveram, não será antes nossa obrigação subscrever, face às reacções violentas às suas palavras, as palavras do George Carey, ex-arcebispo de Cantuária, anglicano e portanto insuspeito de “papista”: “os muçulmanos, tal como os cristãos, devem aprender a dialogar sem gritar histericamente”?

E, já agora, também sem atacarem templos.

Público, Setembro de 2006

  

Um Papa diferente

O por que luta Bento XVI é pelo reconhecimento que no Estado laico há um espaço para o sagrado e para o religioso

“Numa instituição tão antiga como a Igreja, são geralmente os homens que estão muito dentro da tradição, que conhecem muito bem todos os elementos que estão em causa, os que se sentem seguros para avançar” dizia, em Abril de 2005, o bispo D. Manuel Clemente ao PÚBLICO e à Renascença. Na mesma entrevista o bispo auxiliar de Lisboa também vaticinava que o novo Papa Bento XVI “venceria os fantasmas de Ratzinger”. Ano e meio depois as palavras de D. Manuel Clemente mostraram ser sábias e avisadas, apesar de na época irem a contra-vapor do discurso dominante.

É indiscutível que Bento XVI é o chefe da Igreja Católica intelectualmente mais interessante e rigoroso das últimas décadas. Os seus discursos necessitam de ser lidos e relidos antes de entendermos (julgamos nós) tudo o que comportam. E qualquer dos seus gestos, mesmo aqueles que podem parecer ocasionais, tal como a sua falta de carisma quando comparado com João Paulo II, são mais fruto da racionalidade do que das emoções.

A sua recente visita à Turquia não foi apenas um acto de teimosia e de coragem: foi porventura o mais importante passo dado pela Igreja de Roma para afirmar a sua doutrina. E esta não é apenas a do diálogo e aproximação ecuménicas com os outros credos cristãos, em especial com as igrejas ortodoxas. Tal como também não é apenas a promoção do diálogo entre religiões quando se fala da fala da “Cristandade” e do mundo muçulmano. O que Bento XVI deseja, aquilo por que luta, é pelo que disse, mesmo que utilizando palavras diferentes, em Ratisbona e em Ankara: pelo reconhecimento que no Estado laico há um espaço para o sagrado e para o religioso. Fê-lo em Ratisbona dando uma lição sobre a relação entre razão e religião. Repeti-lo em Ankara ao lembrar o legado do fundador da Turquia moderna, Ataturk.

Nos ortodoxos e nos muçulmanos respeitadores da separação entre o Estado e a Igreja Bento XVI encontra mais depressa aliados para a sua causa do que numa Europa que acredita “descristianizada”. O Deus das três grandes religiões do Livro é o mesmo, apesar de todo o sangue que em seu nome correu ao longo dos séculos. E se Bento XVI defendeu uma Turquia integrada na Europa fê-lo sem abandonar a ideia de que a União Europeia é filha da tradição cristã, como defendeu que estivesse inscrito na Constituição.

Contraditório? Talvez não se pensarmos que o primeiro Estado a consagrar na sua Constituição a liberdade religiosa e a separação entre as instituições públicas e as diferentes igrejas ainda imprime no seu papel-moeda “In God we Trust”. Que Deus? Apenas o Deus de cada um e também o daqueles que não têm fé.

Público, Dezembro de 2006

 

De Lustiger a Bento XVI, ou a Fé como mistério

No obituário que hoje editamos sobre o antigo Cardeal de Paris, Aaron Jean-Marie Lustiger, a autora, Esther Mucznik, confessa no final que a conversão daquele judeu ao cristianismo permanecia, para ela, “um mistério incompreendido”. E acrescentava que “ninguém pode ler no coração de um homem”, pelo que apenas se devia aceitar o seu destino excepcional.

E ele foi de facto um homem com um destino excepcional que ultrapassa muito o mistério da sua conversão e a sua ascensão ao topo de hierarquia da Igreja. Lustiger, como se escreveu no Le Monde, era simultaneamente um “homem de uma fé católica radical, impaciente, intransigente” e um herdeiro da laicidade francesa que, aceitando, combatia nos seus excessos. Íntimo de João Paulo II, membro do colégio eleitoral que escolheu Bento XVI, o cardeal Lustiger partilhava com este último a ansiedade face ao que encarava como uma Europa “descriatianizada” e, ao lado de João Paulo II, “denunciava a pretensão do homem a ser o único mestre do seu destino e do Universo”, como se podia ler no mesmo editorial do Le Monde.

No fundo, o homem que chocava muitos judeus e indignava os católicos mais tradicionalistas, foi também o que ajudou a Igreja de Roma a reaproximar-se do povo de Israel (no sentido lato do termo), quebrando um gelo milenar e marcado por inúmeras violências. Ora isso talvez só tenha sido possível porque Lustiger era, ele próprio, um “mistério de Fé” e, como tal, incompreensível para a maioria dos não-crentes.

Vale por isso a pena voltar à crónica de Vasco Pulido Valente da passada sexta-feira, onde aborda o último livro de Ratzinger, Jesus de Nazaré, já editado como Papa Bento XVI e que como tal deve ser lido. Vasco Pulido Valente, um apaixonado pela exegese histórica da figura de Jesus – isto é, pelo que a arqueologia e a investigação histórica têm revelado sobre a sua vida e época e sobre a forma como evoluíram os evangelhos –, descobriu no livro mais teologia do que análise histórica, o que não o satisfez. Como escreve, “para Bento XVI não existe esse Jesus da ‘exegese histórica’, existe o imutável ‘Jesus da fé’ ou do que ele chama a ‘exegese canónica’.” E esse só se encontra no Novo Testamento, como seria inevitável que o chefe supremo da Igreja de Roma concluísse.

Porquê então o esforço do Papa para discutir, mesmo evitando os temas e as revelações mais complicadas, o que a investigação histórica vai revelando? A explicação só pode ser a mesma de Lustiger: o seu desejo de recolocar a “revelação da Fé” no centro da vida dos homens. Até porque os que acreditam não são crentes como resultado de um acto racional, antes por aderirem a algo semelhante ao que Bento XVI diz ser o “Jesus que nos trouxe Deus e, com Deus, a verdade sobre para onde vamos e de onde vimos: a verdade da Fé, da Esperança e do Amor”.

Podendo e devendo um homem de Fé prezar a Razão – outra das batalhas de Ratzinger/Bento XVI –, os homens da Razão devem entender que há um espaço para a religião. E nesse combate Lustiger era desassombrado, como escreveu Henri Trincq no obituário do Le Monde: era “contra as Luzes e os ‘mestres da suspeita’ (Marx, Nietzsche, Freud, etc.) que, cortando os laços com a Revelação e proclamando a ‘morte de Deus’, por pouco não provocavam também a ‘morte do Homem’ em Auschwitz ou no Goulag”. Era contra a “modernidade” de um mundo sem Deus, contra o “neopaganismo” que encontrava nas teses das Frente Nacional. Ou ainda, escreveu Trincq, “contra o idolatrar do dinheiro, do sexo e do poder”.

Esta noite, em Fátima, uma multidão de crentes repetirá mais uma celebração de um outro “mistério de Fé”, as “Aparições de Fátima”. A maior parte dos presentes não acompanhará estes debates nem, porventura, saberá explicar o porquê da sua Fé. Inúmeros até não seguirão, no seu dia-a-dia, as regras que lhes recomenda o seu credo. E, paradoxalmente, é por isso mesmo que o desaparecido Lustiger e o novo Papa não querem que Deus desapareça da vida dos homens. Algo a que não se chega apenas por raciocínio intelectual, o mesmo raciocínio intelectual que não desvenda o que tem de paradoxal e incompreensível, mas também de precioso, uma vida como a antigo Cardeal de Paris.

E aí regressamos a mistérios que já vivi mas que hoje, como não-crente, apenas respeito e procuro compreender.

Público, Agosto de 2007

 

O papel da “sapienza” e da honestidade no debate intelectual

Em Roma, na sua prestigiosa Universidade, crismada “La Sapienza” (A Sabedoria), um grupo de professores mobilizou um protesto que conseguiu levar o Papa Bento XVI a declinar o convite para falar na sessão inaugural do ano lectivo. Porquê? Porque consideraram que o convite a um dos grandes intelectuais europeus da actualidade – uma qualidade que só por cegueira se pode negar ao antigo Cardeal Ratzinger – era “incongruente” com a laicidade da universidade. Ou seja, um cidadão de Roma e do mundo, um bispo que se distinguiu como académico, viu serem-lhe barradas as portas do que devia ser um tempo da ciência em nome de um princípio sectário e de um preconceito que levou um grupo de cientistas a deturparem o que tinha dito num passado já longínquo. Na sua arrogância consideraram mesmo o homem que manteve uma polémica aberta e elevada com Habermas como sendo “intelectualmente inconsistente”.

Ernesto Galli della Loggia, editorialista do Corriere de la Sera, ele mesmo um defensor dos princípios da laicidade, escrevia ontem que o gesto dos professores, poucos mas com responsabilidades, traduzia “uma laicidade oportunista, alimentada por um cientismo patético, arrogante na sua radicalidade cega”. Uma laicidade que não hesitou em seguir o mesmo caminho dos islamitas radicais que tresleram o famoso discurso de Ratisbona, deturpando-o e descontextualizando-o para atacarem Bento XVI. E Giorgio Israel, um professor de história da Matemática que se distanciou dos seus colegas, explicou que estes tinham construído o seu caso a partir de “estilhaços de um discurso” realizado pelo então Cardeal Ratzinger na Universidade de Parma há 18 anos. O processo foi muito semelhante ao de Ratisbona: em vez de notarem que o Papa citava outrém para a seguir marcar as suas distâncias, pegaram nas palavras do autor citado – em Parma, o filósofo das ciências Paul K. Feyerabend – para, atribuindo-as a Bento XVI, considerarem que este dava razão à Igreja na sua querela com Galileu. O sentido do discurso de Parma, prosseguia o mesmo Giorgio Israel, era exactamente o contrário da caricatura que este na origem do protesto: afirmar que “a fé não cresce a partir do ressentimento e da recusa da modernidade”.

Mas que Universidade é esta, que cidade é esta, que Europa é esta, que fecha as portas a alguém como Bento XVI, para mais com base numa manipulação? Não é seguramente a que celebra não apenas a tolerância, mas a divergência, a discussão em busca da verdade. E por isso não aceita sequer ouvir o que o bispo de Roma lhe tinha para dizer. E que já sabemos o que era, pois ontem o Vaticano divulgou o discurso que este tinha preparado.

Como este Papa nos tem habituado, era, é, um grande discurso, uma extraordinária aula onde o teólogo e o professor, unidos num só, discorrem, sobre o papel da Igreja e o da Universidade que, “na sua liberdade face a qualquer autoridade política e eclesiástica encontra a sua vocação particular, essencial para a sociedade moderna”, que necessita de instituições autónomas de interesses ou lealdades particulares, antes dedicadas à “busca da verdade”.

Evoluindo entre referências modernas – como os filósofos John Ralls e Habermas – e clássicas – com destaque para o “pouco devoto” Sócrates, que elogia e defende -, socorrendo-se de Santo Agostinho e São Tomas de Aquino, Bento XVI escreveu um texto que, devemos admiti-lo, seria uma afronta para os seus detractores. Por possuir a abertura e a universalidade que são o oposto do seu sectarismo anti-clerical. Por defender que “o perigo do mundo ocidental é que o homem, obcecado pela grandeza do seu saber e do seu poder, esqueça o problema da verdade. E isto significa que a razão, no fim do dia, acabará por vergar-se às pressões dos interesses e do utilitarismo, perdendo a capacidade de reconhecer a verdade como critério único”.

Sendo que alcançar a verdade implica questionar – mas não ignorar – as certezas de hoje. E que um Papa, na Universidade, não vem para “impor a Fé de cima, pois esta é antes do mais um dom da liberdade”.

Público, Janeiro de 2008

 

É arriscado escrever sobre estas coisas. Não estão na moda

Mais do que sucumbir aos “murmúrios da opinião dominante”, a Igreja tem de reforçar os mecanismos que o Cardeal Ratzinger, ainda antes de ser Papa, e os bispos de vários países, puseram em prática para prevenir a pedofilia e castigar os abusadores

Não sou crente. Educado na Fé Católica, passei pelo ateísmo militante e hoje defino-me como agnóstico. Talvez não devesse, por isso, pôr-me a discutir os chamados “escândalos de pedofilia” na Igreja Católica. Até porque não sei se, como escreveu António Marujo neste jornal – no texto mais informado publicado sobre o tema em jornais portugueses – estamos ou não perante “A maior crise da Igreja Católica dos últimos 100 anos”.

Tendo porém a concordar com um outro agnóstico, Marcello Pera, filósofo e membro do Senado italiano, que escreveu no Corriere della Sera que se, sob o comunismo e o nazismo, “a destruição da religião comportou a destruição da razão”, a guerra hoje aberta visa de novo a destruição da religião e isso “não significará o triunfo da razão laica, mas uma nova barbárie”. Por isso acho importante contrariar muitas das ideias feitas que têm marcado um debate inquinado por muita informação errada ou manipulada.

Vale por isso a pena começar por tentar saber se o problema da pedofilia e dos abusos sexuais – um problema cuja gravidade ninguém contesta, ocorram num colégio católico, na Casa Pia ou na residência de um embaixador – tem uma incidência especial em instituições da Igreja Católica. Os dados disponíveis não indicam que tenha: de acordo com os dados recolhidos por Thomas Plante, professor nas universidades de Stanford e Santa Clara, a ocorrência de relações sexuais com menores de 18 anos entre o clero do sexo masculino é, em proporção, metade da registada entre os homens adultos. É mesmo assim um crime imenso, pois não deveria existir um só caso, mas permite perceber que o problema não só não é mais frequente nas instituições católicas, como até é menos comum. Tem é muito mais visibilidade ao atingir instituições católicas.

Uma segunda questão muito discutida é a de saber se existe uma relação entre o celibato e a ocorrência de abusos sexuais. Também aqui não só a evidência é a contrária – a esmagadora maioria dos abusos é praticada por familiares próximos das vítimas – como o tema do celibato é, antes do mais, um tema da Igreja e de quem o escolhe. Não existiu sempre como norma na Igreja de Roma e hoje esta aceita excepções (no clero do Oriente e entre os anglicanos convertidos). Pode ser que a norma mude um dia, mas provavelmente ninguém melhor do que o actual Papa para avaliar se esse momento é chegado – até porque talvez ninguém, no seio da Igreja Católica, tenha dedicado tanta atenção ao tema dos abusos sexuais e feito mudar tanta coisa como Bento XVI.

Se algo choca na forma como têm vindo a ser noticiados estes “escândalos” é o modo como, incluindo no New York Times, se tem procurado atingir o Papa. Não tenho espaço, nem é relevante para esta discussão, para explicar as múltiplas deturpações e/ou omissões que têm permitido dirigir as setas das críticas contra Bento XVI, mas não posso deixar de recordar o que ele, primeiro como Cardeal Ratzinger e prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, depois como sucessor de João Paulo II, já fez neste domínio.

Até ao final do século XX o Vaticano não tinha qualquer responsabilidade no julgamento e punição dos padres acusados de abusos sexuais (e não apenas de pedofilia). A partir de 2001, por influência de Ratzinger, o Papa João Paulo II assinou um decreto – Motu proprio Sacramentorum Sanctitatis Tutela – de acordo com o qual todos os casos detectados passaram a ter de ser comunicados à Congregação para a Doutrina da Fé. Ratzinger enfrentou então muitas oposições pois passou a tratar de forma muito mais expedita casos que, de acordo com instruções datadas de 1962, exigiam processos muito morosos. A nova política da Congregação para a Doutrina da Fé passou a ser a de considerar que era mais importante agir rapidamente do que preservar os formalismos legais da Igreja, o que lhe permitiu encerrar administrativamente 60 por cento dos casos e adoptar uma linha de “tolerância zero”.

Depois, mal foi eleito Papa, Bento XVI continuou a agir com rapidez e, entre as suas primeiras decisões há que assinalar a tomada de medidas disciplinares contra dois altos responsáveis que, há décadas, as conseguiam iludir por terem “protectores” nas altas esferas do Vaticano. A seguir escolheu os Estados Unidos – um dos países onde os casos de abusos cometidos por padres havia atingido maiores proporções – para uma das suas primeiras deslocações ao estrangeiro e, aí (tal como, depois, na Austrália), tornou-se no primeiro chefe da Igreja de Roma a receber pessoalmente vítimas de abusos sexuais. Nessa visita não evitou o tema e referiu-se-lhe cinco vezes nas suas diferentes orações e discursos.

Agora, na carta que escreveu aos cristãos irlandeses, não só não se limitou a pedir perdão, como definiu claramente o comportamento dos abusadores como “um crime” e não apenas como “um pecado”, ao contrário do que alguns têm escrito por Portugal. Ao aceitar a resignação do máximo responsável pela Igreja da Irlanda também deu outro importante sinal: a dureza com que o antigo responsável pela Congregação para a Doutrina da Fé passou a tratar os abusadores tem agora correspondência na dureza com que o Papa trata a hierarquia que não soube tratar do problema e pôr cobro aos crimes.

De facto – e este aspecto é muito importante – a ocorrência destes casos de abusos sexuais obriga à tomada de medidas pelos diferentes episcopados. Quando isso acontece, a situação muda radicalmente. Nos Estados Unidos, país onde primeiro se conheceu a dimensão do problema, a Conferência de Dallas de 2002 adoptou uma “Carta para a Protecção de Menores de Abuso Sexual” que levaria à expulsão de 700 padres. No Reino Unido, na sequência do Relatório Nolan (2001), acabou-se de vez com a prática de tratar estes assuntos apenas no interior da Igreja, passando a ser obrigatório dar deles conta às autoridades judiciais. A partir de então, como notava esta semana, no The Times, William Rees-Mogg, a Igreja de Inglaterra e de Gales “optou pela reforma, pela abertura e pela perseguição dos abusadores em vez de persistir no segredo, na ocultação e na transferência de paróquia dos incriminados”.

Bento XVI, que não despertou para este problema nas últimas semanas, não deverá precipitar decisões por causa desta polémica. No passado domingo, durante as cerimónias do Domingo de Ramos, pediu aos crentes para não se deixarem intimidar pelos “murmúrios da opinião dominante”, e é natural que o tenha feito: se a Igreja tivesse deixado que a sua vida bi-milenar fosse guiada pelo sentido volátil dos ventos há muito que teria desaparecido.

Ao mesmo tempo, como assinalava John L. Allen, jornalista do National Catholic Reporter, em coluna de opinião no New York Times, “para todos os que conhecem a experiência recente do Vaticano nesta matéria, Bento XVI não é parte do problema, antes poderá ser boa parte da solução”.

Uma demonstração disso mesmo pode ser encontrada na sua primeira encíclica, Deus Caritas Est, de 25 de Dezembro de 2005, ano em que foi eleito. Boa parte dela ocupa-se da reconciliação, digamos assim, entre as concepções de “eros”, o termo grego para êxtase sexual, e “agape”, a palavra que o cristianismo adoptou para designar o amor entre homem e mulher. Se, como referia António Marujo na sua análise, o teólogo Hans Küng considera que existe uma “relação crispada” entre catolicismo e sexualidade, essa encíclica, ao recuperar o valor do “eros”, mostra que Bento XVI conhece o mundo que pisa.

Por isso eu, que nem sou crente, fui informar-me sobre os casos e sobre a doutrina e escrevi este texto que, nos dias inflamados que correm, se arrisca a atrair muita pedrada. Ela que venha.

Público, Abril de 2010

 

A propósito de “Deus Caritas Est (Encíclica Deus é Amor)”

Antes de expor duas ou três reflexões sobre esta Encíclica, queria recordar o momento em que foi publicada e o impacto que então teve.

Deus Caritas Est surge muito pouco tempo depois de o Papa ter sido eleito pois foi escrita no Verão de 2005, logo após a eleição, e publicada a 25 de Dezembro desse mesmo ano, ou seja, quando tinham passado apenas sete meses da eleição de Bento XVI. Trata-se pois de um documento inicial, de uma Carta Encíclica que era esperada com alguma expectativa mas que, na altura, surpreendeu a maior parte dos órgãos de informação: Deus Caritas Est não correspondia a nada daquilo de que os media estavam à espera. Na verdade o Papa vinha-nos falar de amor quando se esperava que, de acordo com a imagem que dele fora construída, nos viesse falar de ortodoxia. Talvez por isso mesmo esta encíclica tenha passado relativamente despercebida e tivesse tido menos impacto, por exemplo, do que uma outra mais recente, Caritas In Veritate, publicada há cerca de seis meses.

Em Deus Caritas Est há três pontos que queria referir mais detalhadamente, todos na linha do que ao longo deste encontro tem vindo a ser reafirmado, isto é, a coerência evangélica de Banto XVI.

O primeiro é apenas um apontamento. Nos primeiros pontos da Encíclica o Papa refere-se quase exclusivamente ao Antigo Testamento de tal forma que quase tem necessidade de o justificar, como faz no início do ponto 12 ao escrever… “apesar de termos falado até agora prevalentemente do Antigo Testamento”. Penso que este pormenor é importante porque a percepção entre muitos cristãos não Católicos, sobretudo em algumas Igrejas Protestantes, é de que o Catolicismo não dá suficiente importância ao Antigo Testamento. Atrever-me-ia por isso a dizer que a circunstância de abrir desta forma a sua primeira Encíclica não terá sido ocasional, antes se enquadrando no que tem sido uma sua preocupação constante: a abertura às diferentes Igrejas cristãs num indiscutível esforço de aproximação.

O segundo aspecto que gostava de destacar, e que é muito mais importante, prende-se com a forma frontal e, de novo, inesperada, como o Papa trata do tema do amor erótico, do amor paixão. Mais: fá-lo de uma forma que contraria não só o preconceito como a ideia de que na Igreja esse domínio é um domínio de proibições.

Ao sublinhar a diferença e ao mesmo tempo a unidade entre o amor eros e o amor agape, Bento XVI procura não só situar a novidade do cristianismo como, ao mesmo tempo, responder aos seus críticos sem recusar abordar as questões que eles colocam. É precisamente por isso que não hesita em citar Friedrich Nietzsche, segundo o qual “o cristianismo teria dado veneno a beber ao eros, que, embora não tivesse morrido, daí teria recebido o impulso para degenerar em vício”.  Ou seja, não teria a Igreja, “com os seus mandamentos e proibições”, tornado “porventura amarga a coisa mais bela da vida?” Mais: “Porventura não assinala ela proibições precisamente onde a alegria, preparada para nós pelo Criador, nos oferece uma felicidade que nos faz pressentir algo Divino?”

Esta linguagem é directa. Para Bento XVI a paixão, o amor eros, é algo de belo, é uma alegria preparada pelo Criador. Porém, acrescenta, “será mesmo assim?” Ou será que “o Cristianismo destruiu o verdadeiro eros?” De novo, como é seu hábito, o Papa enfrenta o problema central sem fugir a ele: o Antigo Testamento “não rejeitou de modo algum o eros enquanto tal, mas declarou guerra à sua subversão devastadora, porque a falsa divinização do eros, como aí se verifica, priva-o da sua dignidade, desumaniza-o”, escreve Bento XVI referindo-se à forma como certas culturas viram “no eros sobretudo o inebriamento, a subjugação da razão por parte duma ‘loucura divina’ que arranca o homem das limitações da sua existência”.

Para desenvolver este raciocínio a Encíclica tem de, naturalmente, abordar o problema da relação da religião com o corpo, sendo que ao fazê-lo Bento XVI não tem problemas em assumir que, por várias vezes, houve alguma dificuldade em tratar os problemas da corporeidade dentro da Igreja. “Hoje não é raro ouvir censurar o cristianismo do passado por ter sido adversário da corporeidade; a realidade é que sempre houve tendências neste sentido”, assume. O que significa que nem sempre se entendeu que “se o homem aspira a ser somente espírito e quer rejeitar a carne como uma herança apenas animalesca, então espírito e corpo perdem a sua dignidade”. Só que, por outro lado, renegar o espírito e consequentemente considerar a matéria, o corpo, como realidade exclusiva, leva ambos a perde também a sua grandeza. Isto porque “a fé cristã sempre considerou o homem como um ser uni-dual, em que espírito e matéria se compenetram mutuamente, experimentando ambos precisamente desta forma uma nova nobreza”.

Nestas passagens desta Encíclica Bento XVI não surpreende ao recordar que não podemos pensar apenas no corpo, mas talvez surpreenda muitos ao assumir que a dimensão erótica do amor não é, muito longe disso, uma dimensão secundária. No limite, e remetendo para um debate que ficou famoso, o amor erótico não é uma coisa subsidiária que se pratica apenas com o fim de procriar. Considera, pelo contrário, que a “estreita ligação entre eros e matrimónio na Bíblia quase não encontra paralelos literários fora da mesma.” Talvez fosse difícil encontrar uma formulação que contrariasse mais frontalmente os preconceitos alimentados relativamente às opiniões, neste domínio, da Igreja Católica.

Mais: esta frase surge antes de a Encíclica entrar no Novo Testamento – portanto ainda no final da sua reflexão baseada no Antigo Testamento – e logo a seguir à reafirmação da importância do matrimónio monogâmico. Este é justificado quer pela sua relação com a crença num Deus monoteísta, quer por se basear num amor exclusivo e definitivo.

Toda esta primeira parte da Carta Encíclica é pois muitíssimo interessante e, de alguma forma, conduz-nos à segunda, porque se se começa por referir sobretudo o amor matrimonial, depois sublinha importância da “atenção ao outro”. Aqui começo por destacar a forma como Bento XVI se distancia da imagem do crente piedoso que acredita que, apenas pela piedade e pela oração pode alcançar a sua realização. Não pode: “Se na minha vida, negligenciando completamente a atenção ao outro, importando-me apenas com ser piedoso e cumprir os meus deveres religiosos, então defina também a minha relação com Deus.”

Isto é, posso cumprir todos os deveres religiosos, posso rezar e ir à missa – até posso ir todos os dias –, mas também tenho de colaborar para melhorar o destino colectivo da minha comunidade. Isso implica um empenhamento na sociedade e com a sociedade.

O que nos leva a outra questão muito controversa: qual deve ser a missão da Igreja e a missão dos cristãos nas sociedades contemporâneas. De novo – como também já se sublinhou nesta conferência –, Bento XVI traça uma separação muito clara entre o que é o domínio do poder político e aquilo que é a intervenção não apenas da Igreja, mas dos católicos.

A segunda parte desta Carta Encíclica, toda ela dedicada à prática do amor realizado pela Igreja, trata das actividades em que a sua importância mais facilmente é reconhecida: a sua intervenção nos domínios sociais, da educação ao apoio às famílias, aos mais desfavorecidos, aos esquecidos.

Logo no início desta segunda parte encontramos uma importante clarificação doutrinal sobre o conceito de caridade. Este tema não é secundário, pois se muito facilmente encontramos quem reconheça a importância social de muitas organizações da Igreja, se utilizarmos o termo “caridade”, quase de imediato surge uma reacção agressiva. Quase todos já ouvimos frases como “não venhas agora com a tua caridadezinha”, como se a tal “caridadezinha” fosse uma coisa antiga que já não fizesse sentido.

Bento XVI, mais uma vez, desafia esse ponto de vista e dedica a primeira parte da segunda parte a delimitar o que é o papel dos Estados para alcançar a justiça e o que não compete aos Estados fazer sob pena de eles não só não fazerem bem a sua missão, como começarem a fazer mal.

Penso que, como sempre, neste domínio a semântica é muito importante. E, nas sociedades em que vivemos tem havido uma tendência para substituir umas palavras por outras, processo em que a palavra caridade ganhou, em alguns sectores, uma conotação quase negativa. De resto tal como uma outra palavra que até tinha uma conotação muito positiva, até por estar associada à Revolução Francesa, mas que também desapareceu – a palavra “fraternidade”.

O lema da Revolução Francesa era, recorde-se, “Liberdade, Igualdade, Fraternidade”, mas essa fraternidade que entendemos como algo que tem muito a ver com a relação entre as pessoas, com a relação de nós com os outros, com sermos fraternos, que tem uma componente de envolvimento pessoal no apoio àqueles que podem menos, tem vindo a ser substituída por uma outra palavra mais asséptica: “solidariedade”. Não tenho nada contra a palavra “solidariedade”, mas a solidariedade é algo que com mais facilidade, com menos problemas de consciência, podemos transferir para o Estado e não nos preocuparmos mais com o assunto. É assim algo do género: “Pago os meus impostos, cumpro as minhas obrigações, portanto o que o Estado tem a fazer com os meus impostos, com as minhas contribuições para a Segurança Social, é garantir a solidariedade nas sociedades.” Logo estou de consciência tranquila…

Porém a solidariedade prosseguida pelo Estado, mesmo visando a justiça social, não preenche toda a nossa humanidade.

Como se escreve nesta Encíclica, “desde o Oitocentos, vemos levantar-se contra a actividade caritativa da Igreja uma objecção, explanada depois com insistência sobretudo pelo pensamento marxista. Os pobres — diz-se — não teriam necessidade de obras de caridade, mas de justiça. As obras de caridade — as esmolas — seriam na realidade, para os ricos, uma forma de subtraírem-se à instauração da justiça e tranquilizarem a consciência, mantendo as suas posições e defraudando os pobres nos seus direitos”.

Mesmo reconhecendo que pode haver alguma verdade nesta argumentação, a verdade é que Bento XVI considera que se o Estado pode assegurar o acesso ao mínimo de bens materiais, acrescenta que não há possibilidade de um homem ser completo só através dos bens materiais, existindo portanto sempre um espaço para a intervenção não só da Igreja como, para além da Igreja, de todos os membros da comunidade.

Ou seja, se “a justa ordem da sociedade e do Estado é dever central da política”, isso não obsta a que “o amor – caritas – seja sempre necessário, mesmo na sociedade mais justa”. E se “a Igreja não pode nem deve tomar nas suas próprias mãos a batalha política para realizar a sociedade mais justa possível”, se “não pode nem deve colocar-se no lugar do Estado”, também “não pode nem deve ficar à margem na luta pela justiça”. Por isso toca-lhe “empenhar-se pela justiça trabalhando para a abertura da inteligência e da vontade às exigências do bem”.

Nesta Encíclica defende-se por isso que “não precisamos de um Estado que regule e domine tudo, mas de um Estado que generosamente reconheça e apoie, segundo o princípio de subsidiariedade, as iniciativas que nascem das diversas forças sociais e conjugam espontaneidade e proximidade aos homens carecidos de ajuda”. Sendo que a Igreja é uma destas forças vivas pois o seu papel não lhe permite – tal como o papel dos católicos não os autoriza – a, por assim dizer, contentar-se apenas com aquilo que decorre das obrigações sociais do Estado. Isto porque “o imperativo do amor ao próximo” foi “inscrito pelo Criador na própria natureza do homem”, escreveu Bento XVI.

Não sou teólogo, não posso discutir questões de Teologia, mas como cidadão isto é o que encontro de mais interessante, de mais estimulante, mesmo de mais inesperado, nesta primeira Encíclica de Bento XVI.

Universidade Católica, Maio de 2010

41 comentários leave one →
  1. piscoiso permalink
    11 Fevereiro, 2013 15:49

    Mas alguma alma de Deus vai ter a santa paciência de ler a resma debitada por jmf1957?
    Sua Santidade vai resignar às 20:00 de 28 de Fevereiro.
    Admirado ficaria se resignasse às cinco da tarde do dia 30 do mesmo mês.

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  2. Grunho permalink
    11 Fevereiro, 2013 16:16

    Porra
    Já morreu?
    Se não morreu a que propósito vem o elogio fúnebre?

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  3. Duarte permalink
    11 Fevereiro, 2013 17:20

    Prefiro o César das Neves. Esse sim um profeta. Um iluminado.
    Este parece aqueles comentadores da TV que faziam as reportagens de Salazar e de Fátima.

    Ja agora convém lembrar as lavandarias de Sua Santidade

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  4. @!@ permalink
    11 Fevereiro, 2013 17:38

    Isto é jmf1957.

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  5. Duarte permalink
    11 Fevereiro, 2013 17:43

    Uma crónica de um jornalista (mesmo)

    El papado de Joseph Ratzinger pasará a la historia por sus intentos —tardíos pero sinceros— de limpiar la imagen de la Curia y de la Iglesia, mancillada por los miles de casos de abusos a menores ocurridos en los últimos 50 años en instituciones y colegios católicos de medio mundo, y por la sistemática tarea de ocultación que emprendió la jerarquía durante el reinado de su antecesor, Juan Pablo II. Es verdad que Ratzinger fue el brazo teológico de Wojtyla en la Congregación para la Doctrina de la Fe, pero mientras el Papa estuvo vivo la consigna fue tapar y proteger a las ovejas descarriadas, y sobre todos ellos al líder de los Legionarios de Cristo, Marcial Maciel, elevado al altar de asesor principal de Wojtyla e inmune a toda condena pese a la tímida oposición de Benedicto XVI, que solo pudo poner orden cuando llegó al trono de San Pedro y que finalmente puso bajo tutela al movimiento entero.

    El ortodoxo cardenal alemán de alma tridentina ha sido durante su mandato un Papa solo, intelectual, débil y arrepentido por los pecados, la suciedad y los delitos —él empleó estas dos palabras por primera vez— de la Iglesia, y rodeado de lobos ávidos de riqueza, poder e inmunidad. La Curia forjada en tiempos de Wojtyla era una reunión atrabiliaria de lo peor de cada diócesis, desde evasores fiscales hasta pederastas, pasando por contrarrevolucionarios latinoamericanos y por integristas de la peor especie. Esa Curia digna de El Padrino III siempre vio con malos ojos los intentos de Ratzinger de hacer una limpieza a fondo, mientras los movimientos más pujantes y rentables, como los Legionarios, el Opus Dei y Comunión y Liberación, torpedeaban a conciencia cualquier atisbo de regeneración

    La Vaticalia eterna, esa espesa gelatina formada por cardenales y civiles que confunden los intereses de Italia y los del Vaticano y hacen negocios cruzados en los dos Estados mientras deciden las cosas importantes, se ha empleado a fondo en estos siete años para mantener sus privilegios e impedir al mismo tiempo la renovación de la Curia y la modernización de Italia, especialmente en dos sectores, las finanzas y la información, los imperios donde más poder e intereses tienen el Opus Dei y Comunión y Liberación, los movimientos ultracatólicos que más medraron, junto a los Legionarios, durante el largo papado de Wojtyla.

    Así, los asuntos turbios y los escándalos han sido moneda corriente, y a vuela pluma se pueden citar varios que demuestran cómo el poder vaticaliano en la sombra, aliado de hierro de ese gran pecador llamado Silvio Berlusconi y dirigido y protegido por su mano diestra, el andreottiano Gianni Letta, ha desafiado de forma reiterada la autoridad y las invocaciones a la honradez del Papa. El falso papel que acusó de homosexualidad a Dino Boffo, director de Avvenire, para forzar su dimisión; los manejos que acabaron con el cese fulminante del presidente del banco vaticano, el Instituto para las Obras de Religión (IOR); el ascenso de Angelo Scola, único cardenal de Comunión y Liberación, al arzobispado de Milán para sustituir al progresista Tettamanzi y preparar el relevo de Ratzinger; el caso nunca aclarado del mayordomo, cabeza de turco de un más que probable espionaje sistemático al Papa; y el escándalo de la Protección Civil que salpicó a un gentilhombre y a media administración berlusconiana son solo algunos ejemplos de esa comunión de intereses entre la política italiana y la curia vaticana.

    El papado de Ratzinger, en ese sentido, ha sido un rotundo fracaso: pese a las críticas, su honestidad intelectual es indiscutible, pero al final ha estado muy por encima de los resultados obtenidos. Los lobos han ganado la partida, pero su renuncia, meditada para evitar un segundo calvario en directo como el vivido con la interminable agonía de Wojtyla, sitúa a Joseph Ratzinger como un pastor derrotado y coherente que, harto de luchar, se retira a la clausura antes de ser devorado por los buitres. Que sea el primer caso en 600 años dice mucho sobre el nivel de la iniquidad con el que ha convivido. Que no se haya filtrado la noticia lo dice todo sobre su soledad.

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  6. salino permalink
    11 Fevereiro, 2013 18:30

    ui, um papa que vale a pena ler e estudar, ui, não fdeixem, ó relvas, desta, ao menos, pá, não sejas trafulha, estuda, não leves o canudo do pdrinho, massim sem ler uma letra… e olha aquela ministra de ducação alemãi, concidadãã do Rats singer, que por mero plágio no exame ou tese, fez o mesmo que ele, resignou, e já outro seu antecessor, por outro plágio, mero copianço, renunciou, enquanto, relvas, grande trafulha, como o teu comparsa mentiroso, todos amigos desse jmf, como do ratzinger, julgo eu, se têm de consciência tranquila, limpa, raios os parta, seus traficantes do caráter, bem ao jeito do centrão, que nos leva já quatro mil milhões dele e pode ir aos sete mil milhões, desde os homens de sucesso de cavaco e bpn aos socialistasque o nacionalizaram para salvar de conjunto o seu …
    e vem este agora, que nem é crente, diz ele, mas beato é, no falar, no engrolar a vida a todos os aspetos de quem se põe sempre ao lado poder e hipocrisia que o pariu …

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  7. salino permalink
    11 Fevereiro, 2013 18:37

    Que diz bem Pacheco Pereira, estes gajos estão de consciência tranquila, não lhes pesa a consciência, que não têm…
    a nossa é que nos pesa, a que ponto, à força de vermos os atos desses trafulhas do governo e do centrão, que abusam, setariamente negociam, se abastecem, pilham , mandando a conta a conta ao contribuinte, sem vergonha, sem consciência, à sombra da batuta moral dos jmfs e quejandos filhas da mãe…
    tudo amigos do ratzinger, se calhar, também …

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  8. caramelopipi permalink
    11 Fevereiro, 2013 19:28

    Gostei muito, sobretudo porque, infelizmente, vejo e oiço mais comentários negativos que positivos, a respeito deste HOMEM que eu, desde o primeiro minuto admirei e estimei! Obrigada.

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  9. piscoiso permalink
    11 Fevereiro, 2013 19:42

    Até estava à espera de um post de helenafmatos sobre a matéria.
    Porque há umas semelhanças entre o «muito deprimido» Chaves e o “sem forças” RatSinger.
    O terreno Chaves já disse que tem cancro.
    Sua Santidade tem o seu mal no segredo dos deuses.

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  10. Tiradentes permalink
    11 Fevereiro, 2013 20:08

    Não esqueça que o “terreno” disse também que daqui a 50 anos (segredo dos deuses futuros) o tal de cancro poderia ter sido “induzido” pelas forças do mal.

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  11. salino permalink
    11 Fevereiro, 2013 20:10

    Não, que, diz o Bento XVI, no meu país, já é a segunda que resigna, por um plágio, mera cópia de alguma questão ou tese, enquanto em Portugal Relvas resiste a toda uma licenciatura mafiosa, ele e os comparsas, de consciência tranquila, dizem eles, trafulhas que deus nos livre, e não passa nada, o povo paga a conta do BPN dos homens de sucesso do Cavaco, do BPP, do BCP e da Caixa, toda a roubalheira e ninguém se demite nem é demitido, enquanto o povo deixa o Coelho a esmifrar a vida de toda a gente, feito com os ladrões. É de mais.
    E eu já não aguento, resigno, pronto, não me peçam paciência, JMF, rui, Helena, o João Miranda… e tu, César das Neves, por mim acabou. Não estou para desvergonha, mais iniquidades .

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  12. Expatriado permalink
    11 Fevereiro, 2013 20:28

    Bem me parecia que os marcianos se iam atirar a este post como caes a um osso….

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  13. ti miguel antonio permalink
    11 Fevereiro, 2013 20:29

    perdoai-lhe senhor que não sabem o que dizem estes pseudo esquerdistas.

    pessoalmente não tenho uma grande simpatia intelectual pelo senhor JMF, contudo quero agradecer-lhe a sua lucidez e pragamatismo secular quando se refere a este homem de Deus e santo sem duvida, a esta inteligência humilde de um dos maiores pensadores da modernidade. quando escreveu o que a seguir transcrevo com toda a certeza foi Deus que o amparou: “(…) Bento XVI terá sido escolhido porque será, neste momento, o melhor preparado para uma batalha que a Igreja sente como crucial: uma batalha pelos valores, não apenas os valores informados pela fé, mas também os que a razão informa. Valores de humanidade, valores morais, valores que modelam o comportamento pessoal e social e que não são exclusivos da religião, ou de uma religião.
    Superiormente inteligente, culto, articulado no discurso e conhecedor das regras da retórica e da polémica, Bento XVI tem as condições para ir além do carisma quase populista do seu antecessor e conduzir a Igreja numa batalha cultural que tem vindo a perder. E poderá fazê-lo não por via da ortodoxia, como tantos sugeriram, mas por manejar a doutrina com uma familiaridade que lhe permite saber o que é essencial e o que é acessório.
    (…) A Igreja parece ter entendido que ao escolher um Papa muito forte do ponto de vista cultural e ético teria melhores condições para apontar caminhos a sociedades que se encontram desorientadas pelos desafios da modernidade e da tecnologia. Ou seja, sociedades que não encontram nos triunfos da ciência respostas para as suas angústias e pessoas cujas experiências de vida lhes mostraram que o prazer imediato, procurado a qualquer preço, está muito longe de corresponder à felicidade por todos almejada.
    De certa forma este caminho – o caminho mais difícil – é paralelo ao que muitos cristãos e não cristãos têm vindo a travar. Mais: muito antes de se tornarem conhecidos por causa das suas posições sobre política internacional, os neoconservadores surgiram e cresceram como movimento intelectual de resposta à contracultura pós-moderna – a mesma contracultura com que Ratzinger se confrontou na velha Universidade de Tübingen, onde dava aulas no final da década de 60. Os caminhos percorridos são, naturalmente, diferentes, mas na imprensa norte-americana já vários autores estabeleceram o paralelismo, sublinhando a importância que esse movimento sempre deu ao combate cultural e intelectual.
    Bento XVI quererá recuperar para a religião o papel de recurso cultural e moral sem o qual faltam bases à convivência e à sociedade civil, um papel que alguém como Habermas considera existir sem opções alternativas. O que é isso significa? Recuperar o cristianismo e a sua herança cultural como fundamento da liberdade, dos direitos humanos, da solidariedade, da democracia, de tudo o que faz a diferença da civilização e tem valor universal. Talvez encontrando na fé novos recursos para a razão”.
    obrigado!

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  14. Duarte permalink
    11 Fevereiro, 2013 20:52

    Foi por se distanciar dele quanto ao liberalismo económico que o Papa se demitiu. O Papa nunca conseguiu ultrapassar este distanciamento do JMF .

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  15. salino permalink
    11 Fevereiro, 2013 21:42

    Sim, foi a minha pedra no sapato, pode dizer-se, afirma o Papa, mas não só a de JMF, também do Relvas, do Coelho, do Gaspar e Borges, sem falta dos blasfemos todos e do Portas …

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  16. jojoratazana permalink
    11 Fevereiro, 2013 21:49

    Dois candidatos portugueses a ter em conta para ocupar o cargo.
    Pinto da Costa o papa do Norte, e o fenómeno Miguel Relvas .
    Vá Sr. JMF vamos lá a fazer lobi, pelo que é nacional, eu sei que não são padres mas têm tudo para ser cardeais.

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  17. Expatriado permalink
    11 Fevereiro, 2013 21:49

    A santidade marciana esta’ em Stalin, Mao Ze Dong, Pol Pot, Fidel, nos reis Kim, etc.
    .
    “reinados” que esperam ressuscitem……

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  18. salino permalink
    11 Fevereiro, 2013 21:54

    Na, com todo o respeito por ambos, que não é pouco, confesso, eu tenho que o Luís F Vieira será melhor candidato, já pela família que levaria ao pontificado como assim pelas orelhas dadas a escutar os gritos da Cristandade – e olhem, filhinhos, que não poucos, mas muitos e grandes .

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  19. JDGF permalink
    11 Fevereiro, 2013 22:19

    Na verdade jmf não escreveu um post, publicou uma encíclica. Poderia chamar-se: ‘In Renuntiationem’
    Há pessoas que, embora se afirmem ‘não-crentes’, não fazem as coisas por menos.

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  20. Duarte permalink
    11 Fevereiro, 2013 22:20

    O Sporting infelizmente não tem candidato

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  21. Portela Menos 1 permalink
    11 Fevereiro, 2013 22:27

    bagão, neves, gentill, casamento gay e aborto culpados da crise … 3 candidatos à santidade:
    http://expresso.sapo.pt/bagao-e-cesar-das-neves-assinam-peticao-contra-o-casamento-igayi-e-aborto=f785400

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  22. Duarte permalink
    11 Fevereiro, 2013 22:51

    A coisa é sistémica e global

    Madrid admite que “donó” 120.000 euros a la fundación de Urdangarin
    Hasta ahora no se han justificado a “qué servicios corresponde” el cobro de ese dinero

    ( ja repararam que nao ha um post sobre o que se passa em Espanha?)
    Calados que nem ratos

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  23. oɥɿəoɔ șoșșɐɗ permalink
    11 Fevereiro, 2013 23:08

    Excelente texto.
    No entanto percebo alguns dos comentários críticos: eu ainda diria coisas muito piores se fosse o CAA a assiná-lo. E, claro, não o teria lido.

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  24. salino permalink
    11 Fevereiro, 2013 23:42

    ai, seu passos ao contrário e assim de pernas ao ar, bem o retrato…
    já quanto ao jmf, ateuque seja, ´semi-ateu ou agnóstico, “não deixa por mãos alheias” (adoro a frase feita, mais parva e patusca) a beatice como um gosto de excessos, ai, e lhe faça bom proveto …

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  25. tric permalink
    12 Fevereiro, 2013 00:51

    Bento XVI em Portugal !!! é engraçado que a comunicação social Judaica Portuguesa se esqueça da memorável visita Papal a Portugal !!!! VIVA o PAPA !!!!
    .

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  26. salino permalink
    12 Fevereiro, 2013 07:02

    “Bento XVI em Portugal !!! é engraçado que a comunicação social Judaica Portuguesa se esqueça da memorável visita Papal a Portugal !!!! ” tric
    .
    Porra, tric, a comunicação social, que dizes “Judaica Portuguesa”, beata pa carai, não faz mais que exibir a padrada e bispada, com todo o beato encardido e a mesma procissão de beatos jornalistas e comentaristas assim beatos encartados, para não falar já de outra coisa, que até a crise esquece, parece, afora o caso das pensões milionárias que o judeu não afeta, por milionárias, e quanto ao mais, ainda a procissão saiu ontem, mas pior que carnaval, já enjoa e passa das marcas, tric …

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  27. salino permalink
    12 Fevereiro, 2013 11:14

    Dois candodatos, diz jojo,
    e vá lá, esses, jojo, e mais o Orelhas, que diz que monta uma rede de pó branco, dada a cobrir emprego a maioria da famelga agalinhada, que, sabemos, pa caray graaande, além de invejosa !

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  28. Duarte permalink
    12 Fevereiro, 2013 13:48

    Bento XVI: Crise e exaustão conservadora

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    Dinheiro, poder e sabotagens. Corrupção, espionagem, escândalos sexuais.

    A presença ostensiva desses ingredientes de filme B no noticiário do Vaticano ganhou notável regularidade nos últimos tempos.

    A frequência e a intensidade anunciavam algo nem sempre inteligível ao mundo exterior: o acirramento da disputa sucessória de Bento XVI nos bastidores da Santa Sé.

    Desta vez, mais que nunca, a fumaça que anunciará o ‘habemus papam’ refletirá o desfecho de uma fritura política de vida ou morte entre grupos radicais de direita na alta burocracia católica.

    Mais que as razões de saúde, existiriam razões de Estado que teriam levado Bento XVI a anunciar a renúncia de seu papado, nesta 2ª feira.

    A verdade é que a direita formada pelos grupos ‘Opus Dei’ (de forte presença em fileiras do tucanato paulista), ‘Legionários’ e ‘Comunhão e Libertação’ (este último ligado ao berlusconismo) já havia precipitado fim do seu papado nos bastidores do Vaticano.

    Sua desistência oficializa a entrega de um comando de que já não dispunha.

    Devorado pelos grupos que inicialmente tentou vocalizar e controlar, Bento XVI jogou a toalha.

    O gesto evidencia a exaustão histórica de uma burocracia planetária, incapaz de escrutinar democraticamente suas divergências. E cada vez mais afunilada pela disputa de poder entre cepas direitistas, cuja real distinção resume-se ao calibre das armas disponíveis na guerra de posições.

    Ironicamente, Ratzinger foi a expressão brilhante e implacável dessa engrenagem comprometida.

    Quadro ecumênico da teologia, inicialmente um simpatizante das elaborações reformistas de pensadores como Hans Küng (leia seu perfil elaborado por José Luís Fiori, nesta pág.), Joseph Ratzinger escolheu o corrimão da direita para galgar os degraus do poder interno no Vaticano.

    Estabeleceu-se entre o intelectual promissor e a beligerância conservadora uma endogamia de propósito específico: exterminar as ideias marxistas dentro do catolicismo.

    Em meados dos anos 70/80 ele consolidaria essa comunhão emprestando seu vigor intelectual para se transformar em uma espécie de Joseph McCarty da fé.

    Foi assim que exerceu o comando da temível Congregação para a Doutrina da Fé.

    À frente desse sucedâneo da Santa Inquisição, Ratzinger foi diretamente responsável pelo desmonte da Teologia da Libertação.

    O teólogo brasileiro Leonardo Boff, um dos intelectuais mais prestigiados desse grupo, dentro e fora da igreja, esteve entre as suas presas.

    Advertido, punido e desautorizado, seus textos foram interditados e proscritos. Por ordem direta do futuro papa.

    Antes de assumir o cargo supremo da hierarquia, Ratzinger ‘entregou o serviço’ cobrado pelo conservadorismo.

    Tornou-se mais uma peça da alavanca movida por gigantescas massas de forças que decretariam a supremacia dos livres mercados nos anos 80; a derrota do Estado do Bem Estar Social; o fim do comunismo e a ascensão dos governos neoliberais em todo o planeta.

    Não bastava conquistar Estados, capturar bancos centrais, agências reguladoras e mercados financeiros.

    Era necessário colonizar corações e mentes para a nova era.

    Sob a inspiração de Ratzinger, seu antecessor João Paulo II liquidou a rede de dioceses progressistas no Brasil, por exemplo.

    As pastorais católicas de forte presença no movimento de massas foram emasculadas em sua agenda ‘profana’. A capilaridade das comunidades eclesiais de base da igreja foi tangida de volta ao catecismo convencional.

    Ratzinger recebeu o Anel do Pescador em 2005, no apogeu do ciclo histórico que ajudou a implantar.

    Durou pouco.

    Três anos depois, em setembro de 2008, o fastígio das finanças e do conservadorismo sofreria um abalo do qual não mais se recuperou.

    Avulta desde então a imensa máquina de desumanidade que o Vaticano ajudou a lubrificar neste ciclo (como já havia feito em outros também).

    Fome, exclusão social, desolação juvenil não são mais ecos de um mundo distante. Formam a realidade cotidiana no quintal do Vaticano, em uma Europa conflagrada e para a qual a Igreja Católica não tem nada a dizer.

    Sua tentativa de dar uma dimensão terrena ao credo conservador perdeu aderência em todos os sentidos com o agigantamento de uma crise social esmagadora.

    O intelectual da ortodoxia termina seu ciclo deixando como legado um catolicismo apequenado; um imenso poder autodestrutivo embutido no canibalismo das falanges adversárias dentro da direita católica. E uma legião de almas penadas a migrar de um catolicismo etéreo para outras profissões de fé não menos conservadoras, mas legitimadas em seu pragmatismo pela eutanásia da espiritualidade social irradiada do Vaticano.

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  29. 1berto permalink
    12 Fevereiro, 2013 13:54

    O Papa demitiu-se, o que prova a existência de Deus.
    O discurso da demissão foi em latim, uma língua viva falada pela maioria dos católicos.
    JMF não perde uma oportunidade de se colocar em bicos de pés. Podia ter dito o mesmo em apenas dois parágrafos.

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  30. Portela Menos 1 permalink
    12 Fevereiro, 2013 14:04

    JMF a fazer concorrencia a Joao Carlos Espada … do maoismo à beatizaçao!

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  31. Duarte permalink
    12 Fevereiro, 2013 16:03

    Tem de ir a Fátima de joelhos para espiar os pecados

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  32. Duarte permalink
    12 Fevereiro, 2013 18:36

    Com o Vaticano entregue a radicais, pedófilos, corruptos, extremistas da legiao, da opus dei e outras seitas carnívoras, parece que o silencio do Papa que agora resigna vale ouro. Cuidado pois a historia de Papas em perigo é grande

    Lista cronológica dos papas assassinados

    Papa Estêvão I (254-257), decapitado [1]
    Papa Estêvão VI (896-897): estrangulado [3]
    Papa Estêvão VII / (IX) (939-942): mutilado [carece de fontes]
    Papa João XII (955-964): assassinado por marido traído [4]
    Papa Bento VI (973-974): estrangulado [5]
    Papa João XIV (983-984): morto pela fome, maus-tratos ou assassinato direto [6]
    Papa Gregório V (996-999): envenenado [carece de fontes]
    Papa Bonifácio VIII (1294-1303): morte possivelmente (embora improvável) dos efeitos do mal tratamento antes de um mês [7]
    [editar]Lista cronológica dos papas que foram supostamente assassinados

    Papa João VIII (872-882): alegadamente envenenado e, em seguida, espancado até à morte [8]
    Papa Adriano III (884-885): alegadamente envenenado[carece de fontes]
    Papa Leão V (903): supostamente estrangulado [9]
    Papa João X (914-928): supostamente sufocado com um travesseiro[10]
    Papa Estêvão VII / (VIII) (928-931): alegadamente assassinado[carece de fontes]
    Papa Sérgio IV (1009-1012): alegadamente assassinado[carece de fontes]
    Papa Clemente II (1046-1047): alegadamente envenenado [11]
    Papa Dâmaso II (1048): alegadamente assassinado[12]
    Papa Celestino V (1294): rumores de ter sido assassinado por seu sucessor, Bonifácio VIII após a sua abdicação.[13]
    Papa Bento XI (1304-1305): alegadamente envenenado, nenhuma evidência fornecida[carece de fontes]
    Papa Pio XI: alguns acreditam que foi silenciado sendo assassinado; [14][15][16][17][18][19] isto é uma pura suposição baseada no fato de que o seu principal médico foi o Dr. Francesco Petacci, pai de Claretta Petacci, amante de Benito Mussolini.
    Papa João Paulo I (1978): sua morte em apenas 33 dias após a eleição papal levou a teorias de conspiração.[20]
    Referências

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  33. Euro2cent permalink
    12 Fevereiro, 2013 21:29

    Vê-se que o papa fez bom serviço pelos paroxismos de raiva alucinada com que os cães danados espumam à mera menção do nome.

    Obrigado pelos textos, JMF. Assim por junto dão mais jeito a quem se interessa pelo apanhado, mas se calhar tinha sido melhor fazer folhetim de múltiplas partes …

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  34. JCA permalink
    14 Fevereiro, 2013 14:07

    .
    Respeito em absoluto, admiro os Católicos, mas não ainda não rezo.
    .
    alimentando teorias da conspiração:
    .
    “o novo Papa seria o ultimo” segundo as profecias que previam o nome de todos os Papas.
    .
    “um relampago, um raio de fogo de Deus, atingiu a cupula do Vaticano, instantes após a renuncia deste Papa”
    .
    que também disse após 28.FEV “ficarei oculto no Mundo”
    .
    Não obstante algo esteja para acontecer. Segundo os pintos de viosta, Bom ou Mau, mas desconhece-se. Porém que acontecerá algo de NOVO lá isso tudo sugere …
    .

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  35. Duarte permalink
    14 Fevereiro, 2013 23:33

    A historia secreta da demissão do Papa

    Mais do que querelas teológicas, são o dinheiro e as contas sujas do banco do Vaticano os elementos que parecem compor a trama da inédita renúncia do papa. Um ninho de corvos pedófilos, articuladores de complôs reacionários e ladrões sedentos de poder, imunes e capazes de tudo para defender sua facção. A hierarquia católica deixou uma imagem terrível de seu processo de decomposição moral. O artigo é de Eduardo Febbro, direto de Paris.
    Eduardo Febbro

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    Paris – Os especialistas em assuntos do Vaticano afirmam que o Papa Bento XVI decidiu renunciar em março passado, depois de regressar de sua viagem ao México e a Cuba. Naquele momento, o papa, que encarna o que o diretor da École Pratique des Hautes Études de Paris (Sorbonne), Philippe Portier, chama “uma continuidade pesada” de seu predecessor, João Paulo II, descobriu em um informe elaborado por um grupo de cardeais os abismos nada espirituais nos quais a igreja havia caído: corrupção, finanças obscuras, guerras fratricidas pelo poder, roubo massivo de documentos secretos, luta entre facções, lavagem de dinheiro. O Vaticano era um ninho de hienas enlouquecidas, um pugilato sem limites nem moral alguma onde a cúria faminta de poder fomentava delações, traições, artimanhas e operações de inteligência para manter suas prerrogativas e privilégios a frente das instituições religiosas.

    Muito longe do céu e muito perto dos pecados terrestres, sob o mandato de Bento XVI o Vaticano foi um dos Estados mais obscuros do planeta. Joseph Ratzinger teve o mérito de expor o imenso buraco negro dos padres pedófilos, mas não o de modernizar a igreja ou as práticas vaticanas. Bento XVI foi, como assinala Philippe Portier, um continuador da obra de João Paulo II: “desde 1981 seguiu o reino de seu predecessor acompanhando vários textos importantes que redigiu: a condenação das teologias da libertação dos anos 1984-1986; o Evangelium vitae de 1995 a propósito da doutrina da igreja sobre os temas da vida; o Splendor veritas, um texto fundamental redigido a quatro mãos com Wojtyla”. Esses dois textos citados pelo especialista francês são um compêndio prático da visão reacionária da igreja sobre as questões políticas, sociais e científicas do mundo moderno.

    O Monsenhor Georg Gänsweins, fiel secretário pessoal do papa desde 2003, tem em sua página web um lema muito paradoxal: junto ao escudo de um dragão que simboliza a lealdade o lema diz “dar testemunho da verdade”. Mas a verdade, no Vaticano, não é uma moeda corrente. Depois do escândalo provocado pelo vazamento da correspondência secreta do papa e das obscuras finanças do Vaticano, a cúria romana agiu como faria qualquer Estado. Buscou mudar sua imagem com métodos modernos. Para isso contratou o jornalista estadunidense Greg Burke, membro da Opus Dei e ex-integrante da agência Reuters, da revista Time e da cadeia Fox. Burke tinha por missão melhorar a deteriorada imagem da igreja. “Minha ideia é trazer luz”, disse Burke ao assumir o posto. Muito tarde. Não há nada de claro na cúpula da igreja católica.

    A divulgação dos documentos secretos do Vaticano orquestrada pelo mordomo do papa, Paolo Gabriele, e muitas outras mãos invisíveis, foi uma operação sabiamente montada cujos detalhes seguem sendo misteriosos: operação contra o poderoso secretário de Estado, Tarcisio Bertone, conspiração para empurrar Bento XVI à renúncia e colocar em seu lugar um italiano na tentativa de frear a luta interna em curso e a avalanche de segredos, os vatileaks fizeram afundar a tarefa de limpeza confiada a Greg Burke. Um inferno de paredes pintadas com anjos não é fácil de redesenhar.

    Bento XVI acabou enrolado pelas contradições que ele mesmo suscitou. Estas são tais que, uma vez tornada pública sua renúncia, os tradicionalistas da Fraternidade de São Pio X, fundada pelo Monsenhor Lefebvre, saudaram a figura do Papa. Não é para menos: uma das primeiras missões que Ratzinger empreendeu consistiu em suprimir as sanções canônicas adotadas contra os partidários fascistóides e ultrarreacionários do Mosenhor Levebvre e, por conseguinte, legitimar no seio da igreja essa corrente retrógada que, de Pinochet a Videla, apoiou quase todas as ditaduras de ultradireita do mundo.

    Bento XVI não foi o sumo pontífice da luz que seus retratistas se empenham em pintar, mas sim o contrário. Philippe Portier assinala a respeito que o papa “se deixou engolir pela opacidade que se instalou sob seu reinado”. E a primeira delas não é doutrinária, mas sim financeira. O Vaticano é um tenebroso gestor de dinheiro e muitas das querelas que surgiram no último ano têm a ver com as finanças, as contas maquiadas e o dinheiro dissimulado. Esta é a herança financeira deixada por João Paulo II, que, para muitos especialistas, explica a crise atual.

    Em setembro de 2009, Ratzinger nomeou o banqueiro Ettore Gotti Tedeschi para o posto de presidente do Instituto para as Obras de Religião (IOR), o banco do Vaticano. Próximo à Opus Deis, representante do Banco Santander na Itália desde 1992, Gotti Tedeschi participou da preparação da encíclica social e econômica Caritas in veritate, publicada pelo papa Bento XVI em julho passado. A encíclica exige mais justiça social e propõe regras mais transparentes para o sistema financeiro mundial. Tedeschi teve como objetivo ordenar as turvas águas das finanças do Vaticano. As contas da Santa Sé são um labirinto de corrupção e lavagem de dinheiro cujas origens mais conhecidas remontam ao final dos anos 80, quando a justiça italiana emitiu uma ordem de prisão contra o arcebispo norteamericano Paul Marcinkus, o chamado “banqueiro de Deus”, presidente do IOR e máximo responsável pelos investimentos do Vaticano na época.

    João Paulo II usou o argumento da soberania territorial do Vaticano para evitar a prisão e salvá-lo da cadeia. Não é de se estranhar, pois devia muito a ele. Nos anos 70, Marcinkus havia passado dinheiro “não contabilizado” do IOR para as contas do sindicato polonês Solidariedade, algo que Karol Wojtyla não esqueceu jamais. Marcinkus terminou seus dias jogando golfe em Phoenix, em meio a um gigantesco buraco negro de perdas e investimentos mafiosos, além de vários cadáveres. No dia 18 de junho de 1982 apareceu um cadáver enforcado na ponte de Blackfriars, em Londres. O corpo era de Roberto Calvi, presidente do Banco Ambrosiano. Seu aparente suicídio expôs uma imensa trama de corrupção que incluía, além do Banco Ambrosiano, a loja maçônica Propaganda 2 (mais conhecida como P-2), dirigida por Licio Gelli e o próprio IOR de Marcinkus.

    Ettore Gotti Tedeschi recebeu uma missão quase impossível e só permaneceu três anos a frente do IOR. Ele foi demitido de forma fulminante em 2012 por supostas “irregularidades” em sua gestão. Tedeschi saiu do banco poucas horas depois da detenção do mordomo do Papa, justamente no momento em que o Vaticano estava sendo investigado por suposta violação das normas contra a lavagem de dinheiro. Na verdade, a expulsão de Tedeschi constitui outro episódio da guerra entre facções no Vaticano. Quando assumiu seu posto, Tedeschi começou a elaborar um informe secreto onde registrou o que foi descobrindo: contas secretas onde se escondia dinheiro sujo de “políticos, intermediários, construtores e altos funcionários do Estado”. Até Matteo Messina Dernaro, o novo chefe da Cosa Nostra, tinha seu dinheiro depositado no IOR por meio de laranjas.

    Aí começou o infortúnio de Tedeschi. Quem conhece bem o Vaticano diz que o banqueiro amigo do papa foi vítima de um complô armado por conselheiros do banco com o respaldo do secretário de Estado, Monsenhor Bertone, um inimigo pessoal de Tedeschi e responsável pela comissão de cardeais que fiscaliza o funcionamento do banco. Sua destituição veio acompanhada pela difusão de um “documento” que o vinculava ao vazamento de documentos roubados do papa.

    Mais do que querelas teológicas, são o dinheiro e as contas sujas do banco do Vaticano os elementos que parecem compor a trama da inédita renúncia do papa. Um ninho de corvos pedófilos, articuladores de complôs reacionários e ladrões sedentos de poder, imunes e capazes de tudo para defender sua facção. A hierarquia católica deixou uma imagem terrível de seu processo de decomposição moral. Nada muito diferente do mundo no qual vivemos: corrupção, capitalismo suicida, proteção de privilegiados, circuitos de poder que se autoalimentam, o Vaticano não é mais do que um reflexo pontual e decadente da própria decadência do sistema.

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  36. Fincapé permalink
    15 Fevereiro, 2013 00:05

    Fosga-se! Se eles forem para o céu, há por cá muita gente que também vai. Mas que aquilo ficará um lugar pouco recomendável, isso fica.

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  37. Fincapé permalink
    15 Fevereiro, 2013 00:36

    Referia-me anteriormente ao texto do Duarte.
    Quanto aos textos de jmf1957, li-os quase todos (leio depois o restante), mas, apesar dos vários livros e artigos que abordam problemas graves dentro do Vaticano e das notícias que parecem confirmá-los, pouco são tratados na imprensa. É como se não existissem. Nem sequer são colocados aos bispos portugueses nas entrevistas na TV. Não me parece que isso seja bom para a instituição igreja. Não serem abordados é dar força aos “pecadores” dentro do Vaticano. Um dia poderá acontecer como aconteceu com os problemas da pedofilia.

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  38. Duarte permalink
    15 Fevereiro, 2013 00:53

    A media portuguesa herdou da ditadura “o respeito” subserviente pelos poderosos. É uma vergonha.

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  39. Duarte permalink
    15 Fevereiro, 2013 12:05

    Un pape allemand quitte le Vatican, un banquier allemand s’apprête à y faire son entrée comme président de l’Institut des œuvres religieuses (IOR). Ernst von Freyberg, 54 ans, co-fondateur et directeur de la société d’investissements DC Advisory Partners, ancien analyste à Londres et New York, devait être confirmé, vendredi 15 février, à la tête de la banque du Vatican, riche de 6 milliards d’Euros et de 44 000 comptes très secrets, dont celui du Souverain Pontife.
    Ernst von Freyberg est très actif dans l’organisation de pèlerinages à Lourdes et membre de l’influente confrérie de l’Ordre de Malte.

    Cette nomination – la dernière officielle du pontificat de Benoît XVI – était attendue depuis le 24 mai 2012, date à laquelle l’ancien président de l’IOR, Ettore Gotti Tedeschi, venu de la banque Santander et spécialiste de l’éthique de la finance, avait été limogé par son conseil d’administration (composé de laïcs et de religieux), placé sous l’autorité du cardinal Tarcisio Bertone, “premier ministre” de Benoît XVI.

    Il était reproché au banquier d’avoir voulu aller trop vite en besogne pour rapprocher l’IOR (fondé en 1942) des critères de transparence, ce qui aurait permis au plus petit état du monde de rejoindre la liste blanche du GAFI, l’organisme international créé pour lutter contre le blanchiment et le financement du terrorisme.

    SCANDALES POLITICO-FINANCIERS

    La vacance de pouvoir a alimenté un peu plus les soupçons d’irrégularité pesant sur la banque du pape au cœur des plus grands scandales politico-financiers qui ont secoué l’Italie ces trente dernières années.

    En septembre 2010, M. Gotti Tesdeschi ainsi que son vice-président, Paolo Cipriani, avaient été mis en examen pour violation de la loi italienne contre le blanchiment. La justice leur reprochait de n’avoir pas indiqué le mandataire ainsi que l’objectif d’un mouvement de fonds en provenance de l’IOR de 23 millions d’euros, déposés sur un compte-courant dans une agence romaine de la banque Credito Artigiano.

    Plus récemment l’IOR a été cité dans l’affaire Monte dei Paschi de Sienne (MPS). Sur ces comptes auraient pu transiter des fonds après le rachat par MPS de la banque AntonVeneta à un prix bien supérieur à sa valeur. Une hypothèse démentie par le Vatican.

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  40. Duarte permalink
    16 Fevereiro, 2013 19:41

    Nomeação controversa para novo presidente do Banco do Vaticano
    Escolha do alemão Ernst von Freyberg teve a anuência do papa Bento XVI, mas não está a ser pacífica.
    19:19 Sábado, 16 de fevereiro de 2013 Última atualização há 4 minutos
    EPA O alemão Ernst von Freyberg é o novo presidente do Banco do Vaticano
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    Antes de abandonar o papado, Bento XVI está a gerar controvérsia devido à nomeação do novo presidente do Banco do Vaticano. O empresário alemão Ernst von Freyberg foi aceite pelo (ainda) papa para o cargo, mas a relação da sua empresa atual com o nazismo está a ser recordada pelos detratores.

    Von Freyberg, advogado membro do grupo religioso Ordem de Malta, preside o grupo Blohm & Voss, que produzia navios de guerra para a marinha alemã no tempo do nazismo. Atualmente, a empresa dedica-se à construção de iates de luxo e repara outros navios, de acordo com Federico Lombardi, o porta-voz do Vaticano, que também admitiu que a Blohm & Voss “faz parte de um consórcio que está a construir fragatas para a marinha alemã”.

    A nomeação de von Freyberg é incomum porque vai contra a tradição do Vaticano de não escolher personalidades ligadas a áreas controversas. Contudo, Federico Lombardi ressalvou que o nome a decisão foi tomada pela comissão cardinalícia de supervisão do Instituto para Obras Religiosas – designação oficial do banco -, após uma “avaliação profunda e uma série de entrevistas ao longo de vários meses”.

    “O papa não o conhece pessoalmente”

    A escolha teve apenas a “anuência do papa”, indicou o porta-voz, que acrescentou que houve 40 candidatos ao posto, deixado vago desde maio do ano passado, quando Ettore Gotti Tedeschi foi afastado por não ter a confiança da administração, entre acusações de lavagem de dinheiro no banco.

    “O papa não o conhece pessoalmente, conhece a sua família, mas não teve qualquer intervenção na nomeação”, sublinhou o porta-voz do Vaticano.

    Ernst von Freyberg, nascido em 1958, estudou Direito em Munique e Bona, é católico praticante e tem estado envolvido em atividades religiosas.

    O Banco do Vaticano tem sido palco de vários escândalos ao longo da sua história, o mais grave dos quais, em 1982, envolveu uma loja maçónica ilegal (P2), a CIA e a máfia. Nos últimos tempos tem sido debatida a sua transparência financeira.

    O património do banco está avaliado em cinco mil milhões de euros e os seus clientes são padres, religiosas, conferências episcopais, fundações e ministérios do mundo inteiro.

    Bento XVI está a poucos dias de deixar a liderança da Igreja Católica, depois de ter anunciado a sua resignação a partir de 28 de fevereiro.

    Ler mais: http://expresso.sapo.pt/nomeacao-controversa-para-novo-presidente-do-banco-do-vaticano=f787696#ixzz2L5oShKFZ

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