Encontrei o senhor Domingos, que já não via há muitos anos
Ontem vi o senhor Domingos, que conheço desde que tinha borbulhas oriundas de uma infância feliz na pasmaceira da Gandra. O senhor Domingos já era adulto feito quando tive o meu primeiro carro – um usado com cinco anos sem sistema de som – e era conhecido na zona por arranjar auto-rádios. Não arranjar no sentido de passarem do estado de avariados para funcionais; arranjar no sentido de lhe aparecerem na mão – “não perguntes” – como uma concretização da vontade do Homem sobre a inexistência material, uma consubstanciação da oferta com a procura. Sempre encarei o senhor Domingos como um técnico especializado, como um hacker dos Anonymous a explorar vulnerabilidades do sistema para efeitos de melhoramento da segurança dos veículos, a saber, da resistência dos vidros e sistemas de fecho. Vendeu-me o meu primeiro auto-rádio. O senhor Domingos, quando não estava fora para arranjar auto-rádios, passava o tempo na oficina onde instalava sistemas de alarme em veículos vulneráveis, aos quais, facilmente, qualquer meliante podia roubar o auto-rádio.
“Leio-te de vez em quando lá nas Blasfémias” – disse, com ar sério. Corei um bocadinho. “Não entendo nada do que lá escreves” – acrescentou, com um tom que me fez pensar que este homem barbudo podia ser o nosso simpático comentador Bolota, o comunista residente. Tentei justificar-me, afirmando que o Adão e Silva escreve sempre a mesma coisa sem qualquer conteúdo no Expresso e que ninguém o deve abordar na rua para obter uma justificação para tal. “E pagam, lá no Expresso?” – perguntou, com a mesma dúvida que frequentemente me inquieta. “Devem pagar”. “Então deviam convidar-te, que também não dizes nada de jeito”. Anui com a cabeça.
A conversa continuou e percebi que o senhor Domingos era um eleitor do António Costa. “Agora já não arranjo auto-rádios, que ninguém quer isso. Temos que nos adaptar ao tempo novo, à nova realidade, às necessidades do mercado e ao empreendedorismo”. “O senhor Domingos sempre foi empreendedor”. “Verdade, tem que ser. Agora faço reabilitação urbana no Porto”. “É empreiteiro”? “Pois. Olha, se precisares de ferramentas, de uma betoneira ou de um martelo pneumático, diz, que eu arranjo”.
É assim, a ouvir o homem do povo, que percebemos porque é que o socialismo está entranhado nas pessoas.
“É assim, a ouvir o homem do povo, que percebemos porque é que o socialismo está entranhado nas pessoas.” – Infelizmente.
Bom texto Vitor, como sempre.
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O Sr Domingos não tem um auto-rádio a mais para dispensar?
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Se vir algum montinho de pedaços de vidro junto a um carro, é sinal de que o mercado foi abastecido. Pode manter a esperança. A não ser que o carro fosse o seu…
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Este é um verdadeiro socialista, sem as aspas que o MJRB costuma pôr.
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O verdadeiro socialismo é mesmo único.
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Larapiar o alheio também é socialismo.
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Os senhores banqueiros e os empresários «liberais» portugueses devem ser também eleitores do Dr. António Costa, pois não se fartam de «passar à esquerda».
O socialismo está bem impregnado na sociedade portuguesa desde tempos imemoriais.
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Já vem do Julio … o Cesar .
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Conheço o bem o camarada Domingos… Agora dedica-se a “arranjar” carros de topo de gama e exportá-los para as offshores dos Palop!
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A minha tia Pulquéria, um dia destes, ao regressar ao carro viu que faltava o auto-rádio e ainda viu um gajo a correr com ele debaixo do braço, enquanto o outro braço ia levantado com o punho cerrado.
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Devia ter alarme no carro.
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Deve pertencer à quadrilha do Duarte Lima
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Queria dizer, Domingos Duarte lima
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VC, O rádio que “comprou” tinha um ponto azul? Se sim quase tudo indica que era o meu que foi roubado em V.do Conde vai já uns anitos. Por outro lado nunca pensei que um verdadeiro liberal entrasse em esquemas mafiosos socialistas, julguei-o um homem sério, às direitas.
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Quando temos 18 anos ainda não pensamos nas consequências da nossa educação televisiva. Tinha um ponto azul, início dos anos 90.
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Blaukpunt 🙂
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A reabilitação urbana do Porto e de Lisboa não foi aquela que recebeu um investimento de 1400 milhões de euritos do Fundo da Segurança Social de todos nós?
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Não, foi só a de Lisboa! 😉
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A mudança de actividade do Sr Domingos foi devida há eliminação deste posto de trabalho porque agora os auto rádios estão integrados nos tablié e no ramo das ferramentas de construção apenas é necessário partir o cadeado do contentor.
É mais imediato.
Quanto a ser socialista com certeza que se sente identificado com o mesmo.
É natural.
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Cada ovelha procura a sua parelha
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O senhor Domingos não roubava, redistribuía a riqueza.
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E fazia descontos abismais para o Estado.
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“…o senhor Domingos era um eleitor do António Costa.” “…à nova realidade, às necessidades do mercado e ao empreendedorismo”.”
Victor, enganou-se o homem deve ser mais adepto do Massamá. Esse é que até tinha um governante para o empreendorismo… que mandava a rapaziada emigrar.
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muito fixe , já deu para rir um bocado 🙂 e dava-me jeito uma pistola de pintura…
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😀
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«“Leio-te de vez em quando lá nas Blasfémias” – disse, com ar sério. Corei um bocadinho. “Não entendo nada do que lá escreves” – acrescentou, com um tom que me fez pensar que este homem barbudo podia ser o nosso simpático comentador Bolota, o comunista residente.»
Ahhahahahahaha!
Priceless!
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Os “Senhores Domingos” das ‘olites’ e das ‘estranjas’:.
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=Who Will Protect Us From Space Pirates?
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It may sound like sci-fi. But millions and millions of dollars are pouring into projects to mine asteroids and the moon. And with a space gold rush comes space pirates.
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http://www.thedailybeast.com/articles/2016/04/15/who-will-protect-us-from-space-pirates.html
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Eu também conheço um Sr. Domingos. Aliás, conheço vários ; o que não falta em Portugal são “senhores Domingos”, de vário calibre e de grande qualidade. Este a que me refiro, é um sr. Domingos finório, licenciado, morador em Massamá, chefe da arrastadeira (sabem, aquele utensílio que serve para recolher as fezes e a urina dos doentes acamados) durante quatro anos, que elevou a arte de subtrair auto-rádios aos seus legítimos proprietários a um cume dificilmente atingível pelo comum dos mortais. Eu explico: cria-se uma empresa em grande tecnoforma, depois uma ong que depende dessa empresa e sacam-se umas broas valentes aos fundos europeus. Tudo limpinho, sem precisar de andar à procura de negligentes donos de auto-rádios, de partir vidros, de sujar as mãos. Este “sr. Domingos”, ainda por cima, tinha o génio da engenharia fiscal : não pagava impostos nem segurança social, afirmando peremptoriamente serem essas obrigações de qualquer cidadão. Este “sr. Domingos” de Massamá, tinha um amigo na Rua Braancamp, cujo nome agora não recordo, mas que faz lembrar um filósofo da Antiguidade, que também andava na faina dos auto-rádios: tinha um amigo que possuía um armazém cheio deles e, quando precisava de arranjar uns cobres, era só telefonar ao amigo e não havia limites para os rádios e outros artefactos técnicos. A coisa parece que não acabou bem. Um dia destes, ainda os havemos de ver cumprir pena juntos numa qualquer penitenciária.
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