Dia de corridas
O vapor de diesel ascende no ar quente que emana o cheiro a pneus novos em contacto com o asfalto ardente. Súbitas acelerações desembraiadas enchem o espaço com relâmpagos sonoros que tanto podem ser suspiros pela consternação de Deus como gargalhadas do Diabo. Os dois vermelhos do semáforo de partida antecipam o momento que separa os homens do rapazes. Na segunda linha da grelha está António Costa, capacete rosa, suando a fibra de Nomex da máscara protectora de fogo com excessiva salinidade em adiantamento estratégico ao amarelo do semáforo, que tarda e permeia quase ao mesmo tempo. São segundos que se expandem em horas por corações acelerados de adrenalina e a inebriante incerteza de terminar a corrida com vida. Costa conhece a pista, ouviu as histórias e reconhece as semelhanças na inversão interior com o canto de Villeneuve que, mesmo matando Ratzenberger, acabaria na relativa obscuridade face a Tamburello, que imortalizaria Senna no panteão um dia depois.
Amarelo. Pupilas dilatadas, também nos bastidores, onde o técnico chefe de oficina snifa a última linha de coca antes da acção, preparando-se para as mudanças de pneus que permitam manter a aderência do carro perante uma pressão crescente pela termodinâmica do atrito com a realidade da pista. Costa inspira, retém a respiração e aguenta estoicamente a gota de suor que lhe queima o olho.
Verde. Prego a fundo, o fim da austeridade dinâmica, a vitória sobre a inércia que altera o estado de espera para a ultrapassagem que permite a dianteira, a que, bem gerida, garante uma probabilidade exponencial de vitória. O barulho é ensurdecedor e os espectadores saltam, percebendo que tal ruído só seria possível juntando os suspiros de Deus com as gargalhadas de Satanás. Costa assume a dianteira nos primeiros 1500 m graças ao entalanço que os carros da equipa vermelha originaram na margem de manobra do pole position Passos Coelho.
Primeira curva, sem problemas. Costa entra na perfeição, reduzindo para uns precisos 187 km/h no ápex, onde acelera novamente para uns aparentemente excessivos 273 km/h na curta recta antes da monumental barreira de recife que é a DBRS. Redução drástica, súbita. O motor parece estar a falhar. Entra na curva a 60 km/h, ultrapassado por todos. Não aguenta o carro e estampa-se, a 43 km/h contra a barreira de saída. O acidente mais comicamente estúpido de todos os tempos, em directo, perante uma audiência de milhões de aficionados do corredor mais astuto a enobrecer a arte da competição com máquinas de suicídio.
Costa sai do carro, que não se incendeia – aliás, nem um arranhão parece ter -, rega-se com gasolina e acende o fósforo que o colocará, até etnicamente, na mais nobre saída possível. O fato não pega fogo, o calor da pista evapora rapidamente a gasolina, insuficiente para a incinerar. Ou, talvez seja diesel mesmo, que não arde assim com duas tretas. A corrida perdeu o interesse perante tão fustigante desgraça. É que nem o buraco está por perto, para lá se enfiar.
Extraordinárias metáforas para a falência do bandalho porcalhão preto. Muito bom!
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Não há buraco (do défice) para se enfiar mas haverá forca?
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Noutra versão, mais dramática, Costa era vitimizado por um seu secreto discípulo no recinto, que tentando desesperadamente colher apoio, se dirigiu a uma box e pediu ajuda para o querido líder:
– Terroristas regaram o nosso messias com gasolina ali na curva e ameaçam pôr-lhe fogo se não lhes pagarmos um milhão! Precisamos de contribuições!
Ao que um dos presentes respondeu:
– Em média, quantos litros de gasolina é que as pessoas têm estado a dar?
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Pessoalmente vejo mais provável outro cenário:
A DBRS faz uns avisos e dá puxões de orelhas, mas não toma nenhuma decisão drástica.
Ayrton Costa vai continuando, dá para mais umas voltas, mesmo perdendo gás e com o motor a gripar por todos os lados. Quando de repente, os comissários suspendem a corrida por causa do fumo, Ayrton Costa ainda seguia, Deus sabe como, em primeiro lugar. E isso é suficiente para ficar com os pontos.
Espero estar enganado.
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4,4% já ninguem nos tira e VIVA a saida limpa. Temos só e apenas o 3° maior deficit e a terceira maior divida da U.E. todo o resto são tretas.
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Bolota, lê a notícia toda: Gabinete de estatísticas da União Europeia confirmou esta quinta-feira que Portugal terminou 2015 com um défice de 4,4% do PIB. Mas sem as ajudas a a instituições bancárias* o valor ficava em 2,8%, abaixo dos 3% anunciados pelo INE.
*BANIF
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“Bolota” e “lê” é algo impossível para ele.
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4,4% é o numero oficial
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Libertario,
E o valor do pib está nos 129… Quando a quadrilha entrou estava nos 90…0 resto são tretas.
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4.4% é o número oficial depois do Costa /Centeno ter metido o restante 1.4% no Banif.
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Oh comida de cerdo pergunta ao camarada Centeno como foi a cena do email ???
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Brilhante texto, VC, como aliás é hábito.
Infelizmente não estou a ver a “…monumental barreira de recife…” a baixar-nos o rating, o que será desastroso para nós. Cada dia que passa com esta cáfila no “poder” são mais uns milhões de € que teremos de pagar no futuro seja ele a curto ou médio prazo.
Preparemos, portanto, as carteiras e os ouvidos para mais berraria contra os malvados da direita, os eternos responsáveis e únicos culpados dos males do país.
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Porém, o risco de downgrade refreou o ímpeto de maluquice durante algum tempo.
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Sim, tem razão. O risco era demasiado alto, mesmo para estes coiratos… ☺
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Temos candidato ao prémio de Literatura da Leya.
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Ouvi hoje que o livro escrito pelo JSócrates (??) é candidato a esse prémio. Se o júri continuar a ser presidido pelo MAlegre é canja — ganha-o.
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Acho que vai ser como nos desenhos animados da Corrida Mais Louca do Mundo, em que mesmo quando a geringonça já se tinha desfeito toda, eles continuavam a conduzir como se o carro ainda lá estivesse. Só ao fim de algum tempo é que davam por isso e caiam. Resta saber quem é que faz de Muttley nesta história.
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Chamam essa super ofensa à inteligência chamado Coelho,Jorge, que com aquele ar alarve que esconde matreirice e conhecimento ao nível dum vão de escada, tentará –e conseguirá– convencer indefectíveis do AC-DC e do P”S”.
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