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Fado do incubado

14 Maio, 2016

Venha cá. Dispa as cuecas e deite-se na marquesa. Não dói nada. Pode sentir um bocadinho de frio. É das luvas. Eu tento manter o ambiente quentinho, mas estes edifícios têm uma caixilharia que deixa passar tudo. Pode sentir uma impressão. Não se contraia. Isso. Relaxe.

Lá este o pequenino. O pequenino ou a pequenina, ainda não dá para ver. Mas olhe que me parece… Não tenho a certeza… Quando souber, digo-lhe a si ou à mãe? Depois vemos isso. Tenha cuidado com o peso, não aumente muito. Não, isso é um mito, não tem nada que comer por dois. Vá controlando. Um miminho de vez em quando não faz mal. Não pode é continuar a fumar, isso pode criar sérios problemas ao bebé da sua amiga.

A grávida tem ADSE? E a mãe? Muito bem. Posso perguntar-lhe porque está disposta a passar pelos enjoos, pés inchados e dores nas costas pela sua amiga? Ah, é a sua ex-mulher, peço desculpa, não tinha isso aqui. O pai também pode vir à próxima consulta. Não, só se forem três ou quatro, não cabem aqui quatrocentos potenciais pais. Vou tratá-la por “mãe”, OK? Não sei o que me parece tratá-la por “incubadora”. A outra mãe não se importa? Quer dizer, a mãe mesmo, não a cuba. Sem ofensa. Isto é difícil. Quem paga a consulta? A mãe? Mas não pode! Não pode! A incubada não pode receber compensações por ser a cuba, isso seria degradante. Não, tem que pagar a senhora. Isto é mais fácil no SNS, onde pagam os outros contribuintes.

⁕⁕⁕

Uma interrupção? Sim, sim. Trigémeos? Foi FIV. Ai não é a mãe? Pois, barriga de aluguer. Desculpe, desculpe, “incubadora de substituição”, tem razão: o manual de estilo só chegou na semana passada. Não imagina o trabalho que temos tido, ainda não o pude ler. Deite-se aí. Tire as cuecas. Ora então… Pronto, já está. Não custou, pois não? Aqui tem a baixa, pelo stress. São trinta dias. Leve também uma baixa para a mãe a sério. Olhe, leve também para o pai. Pronto, para os pais. Pais potenciais. Vou imprimir uma resma.

15 comentários leave one →
  1. 14 Maio, 2016 10:29

    Muito bem.
    Isto é uma vergonha. Desnaturar completamente a maternidade.

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  2. João Lopes permalink
    14 Maio, 2016 10:31

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  3. 14 Maio, 2016 10:31

    Uma Proposta Modesta do Swift. O mais incrível é que é feito pelos que se dizem feministas e sempre em defesa dos mais fracos.

    Se calhar as mulheres deles eram capazes de se deixarem engravidar e terem um filho que nem era delas- era para ser dado depois de 9 meses e do parto. Coisa simples que nada tem a ver com sentimentos ou emoções.
    Caga-se e vendes-e por debaixo da mesa porque pobre serve para incubadora de maricas

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  4. Juromenha permalink
    14 Maio, 2016 10:51

    “Brave New World…

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  5. Lolita permalink
    14 Maio, 2016 12:00

    Eis o redil dos ULTRAMONTANOS.

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  6. Colono permalink
    14 Maio, 2016 12:06

    Meninas do Bloco dos Verdes e do PAN: Oferecem-se para chocadeiras!

    Ligue: 707 707 44 34

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  7. Prova indirecta permalink
    14 Maio, 2016 12:24

    A realidade ultrapassa a ficção …

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  8. Arlindo da Costa permalink
    14 Maio, 2016 14:58

    Há quem ainda viva na Idade Média.
    Haja pachorra!

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  9. Jocamoca permalink
    14 Maio, 2016 15:37

    Custa ler estas estórias do século XX. Por aqui não entraram no século XXI

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    • 14 Maio, 2016 17:05

      Aí entra tudo o que quiser. Não é a minha onda nem tenho idade para não me conceder alguma selectividade acerca de onde entro, mas agradeço a oferta.

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  10. jose permalink
    15 Maio, 2016 21:15

    O progresso ciêntífico visa dar alternativa à ordem natural : aliviar dôr, combater doença, efectuar transplantes, transfusões, próteses, vacinas, etc, incorporando no nosso corpo elementos estranhos.
    Vamos parar com a investigação científica porque é contranatura?

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