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o nó górdio do libertarianismo

12 Junho, 2016
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Um dos problemas das filosofias libertárias é o de presumir que as pessoas querem a liberdade. Ora, a História e a realidade dos factos dizem-nos frequentemente o inverso: entre um mundo sem qualquer forma de coerção e outro em que alguma (por vezes, muita) coerção é compensada por certos serviços e bens, a esmagadora maioria das pessoas preferirá o segundo. A ânsia da liberdade anda quase sempre de braço dado com o desejo de segurança e com a percepção da falibilidade e da fragilidade existenciais. Nas sociedades plurais, isto é, naquelas em que todos os indivíduos possuem um status político e social, e pensam de forma diferente uns dos outros, como (felizmente) é próprio da espécie, haverá sempre quem queira trocar generosas parcelas de liberdade por segurança e bem-estar, ainda que as entidades (públicas ou privadas) que prestam esses serviços serviços o façam deficientemente ou oferecendo produtos de fraca qualidade.

A demonstração desta evidência tê-mo-la nos apelos crescentes ao intervencionismo do estado e do governo para resolverem, ou minorarem, os problemas e os efeitos das crises que eles mesmos em boa parte provocaram. Apesar disso e de todos dizerem mal dos políticos e dos governos, a maioria das pessoas continua a presumir que será melhor contar com eles, do que prescindir deles. Ou, de forma mais esclarecedora, no exemplo do actual referendo sobre o Brexit, onde os termos da questão se colocam em reforçar a liberdade da Inglaterra e dos ingleses, retirando-os da tutela dirigista e intervencionista das autoridades supranacionais de Bruxelas, ou mantê-los sob a sua protecção, evitando males – que se presumem maiores – com a saída da União Europeia. Apesar do que possam dizer as sondagens, aposto que, no lavar dos cestos, o Reino Unido permanecerá na União Europeia. O medo é um fortíssimo sentimento individual e social. Tão ou mais forte que o desejo da liberdade. Esse é o nó górdio do libertarianismo. A não ser que, como pretendia o outro, queiramos impor aos outros a nossa liberdade. Mas, nesse caso, já não será bem de liberdade que estaremos a falar…

11 comentários leave one →
  1. 12 Junho, 2016 19:20

    Completamente verdade. A segurança fala mais alto e nem sei se quem assim pensa não acaba por ser mais esperto.

    E quem prefere a segurança também funciona em manada. Só arriscam a magote e com as costas protegidas.

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    • PiErre permalink
      12 Junho, 2016 19:48

      A sociedade humana vive em completa anomia e a democracia não dá respostas.

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  2. 12 Junho, 2016 19:21

    Quanto ao resto, sim. Também penso que vai vencer a permanência, tal como venceu o referendo da Escócia por medo de perderem as reformas.

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    • lucklucky permalink
      12 Junho, 2016 23:47

      Zazie está tudo muito perto do ponto de rotura.

      Guerra Civil larvar na Europa e nos EUA está a uns anos de distância se um milagre não acontecer.

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      • 13 Junho, 2016 01:28

        uma guerra civil de veteranos de bengala em vez de metralhadra , non ?
        tenho ideia que guerras só se for ao dómino no jardim da estrela 🙂
        se nem um assassinatozinho há . impensável há cem anos atrás , este comer e calar.
        progresso às arrecuas 🙂

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      • 13 Junho, 2016 09:34

        Acho que não mas, pela minha parte deixei de ficar calada e respondo sempre que me vêm com essas merdas.

        Incluindo a colegas. Já sou conhecida por ser politicamente incorrecta a um ponto a que os que se dizem politicamente incorrectos acham mal.

        Por exemplo- aquela cena das mulheres barbudas de ambos os sexos que invadiram a barbearia do Chiado, e ainda quiseram ilegalizar a loja, por dizerem que era discriminação de género.

        Colegas meus ficaram a saber o que eu pensava e um ainda se atreveu a dizer que nem era bem assim, porque tinha letreiro à porta a proibir a cães e a mulheres e isso era insulto.

        E eu disse-lhe que insultada me considerava se estivesse letreiro a dizer que tinham promoções nesse dia para cabelo e barba a mulheres.

        😛
        Calaram e agora é assim. Respondo a dobrar

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      • 13 Junho, 2016 09:36

        enganei-me no comentário ehehehe

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  3. lucklucky permalink
    12 Junho, 2016 23:44

    Bom texto. O problema é que as pessoas querem liberdade tirando a dos outros.

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  4. Gonçalinho permalink
    13 Junho, 2016 23:01

    Eu não tenho nada contra quem queira prescindir da sua liberdade me prol de segurança. Tenho contra quem não me deixe a mim decidir pela minha preferência de mais liberdade, mesmo no risco de menor segurança.

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  5. Arlindo da Costa permalink
    14 Junho, 2016 01:19

    Se o Reino Unido ficar na UE vai ter que beijar a mão ao boche do Ministro das Finanças, Wolfang Schäub….

    Não estou a ver os súbditos de Sua Magestade a obedecer aos totalitaristas continentais….

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