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a guerra não voltará a ensombrar os europeus

22 Novembro, 2016
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Habituámos-nos à ideia de que acabaram as guerras na Europa Ocidental. Longos anos de paz, antecedidos de longos anos de guerra, deram nisto. O mérito da construção comunitária é hoje desvalorizado pelos seus principais beneficiários: aqueles que nasceram e têm vivido as suas vidas longe do espectro sob que viveram as gerações que lhes foram anteriores. Daí que muitos de nós encaremos o fim da União Europeia como uma coisa potencialmente positiva. Pois a burocracia de Bruxelas não precisa de uma lição? Pois não ficaremos de novo livres para fazermos o que quisermos com a nossa moeda? Pois não recuperaremos a nossa soberania para pescarmos a sardinha que nos convier? E não é absolutamente verdade que seremos capazes de manter Schengen? E que está assegurada a tolerância dos países ricos para com as nossas mazelas? E a paz, que ainda ninguém foi capaz de demonstrar que é devida à construção europeia? Não é verdade que as visões catastrofistas sobre o fim da União não são mais do que formas de pressão sobre os povos e os governos? A paz perpétua é o reverso da medalha do «fim da História».

Quando, em 39, a Inglaterra declarou guerra à Alemanha, houve festejos em Londres. O país estava farto das humilhações de Hitler, perpetradas à sombra de um primeiro-ministro frouxou e conivente, Neville Chamberlain, que, finalmente, tomara uma atitude. Os ingleses, e Chamberlain, sobretudo, nunca se convenceram que Hitler atacasse a Polónica, como acreditavam que a guerra onde tinham acabado de entrar seria meramente regional, não os afetaria nas suas ilhas, e seria de rápida resolução. Agora que o pequeno cabo de guerra austríaco cometera a insolência de o fazer, havia que lhe dar uma severa lição.

Na Europa dos nossos dias deram-se passos que não deveriam ter sido dados. Maastricht, ainda que reversível e controlável, foi o primeiro. O mais complexo e de sentido único foi, sem dúvida, a Moeda Única. Mas estão dados e ninguém sabe o que acontecerá se forem abruptamente destruídos. Algumas coisas, contudo, podem imaginar-se. A primeira das quais será a catalepsia que atingirá as economias dos países mais frágeis, entre eles Portugal. A falência da maioria dos bancos dessas economias, que deixam de contar com o suporte do BCE e com a subsistência assegurada por juros baixos às dívidas das suas nações. O fecho imediato de fronteiras e o fim do livre-comércio entre os países de Schengen e da União, porque não se imagina que permaneçam abertas num ambiente de colapso das instituições, pelo menos enquanto não forem negociados novos acordos. E que países os negociariam?

Num contexto como o descrito no parágrafo anterior, outras decorrências seriam certamente muito prováveis. A política tem horror ao vazio e, quando alguém se demite de exercer o poder, logo outro se presta a substituí-lo. A Rússia seria certamente tentada a retomar o seu papel de grande potência euro-asiática. Muitos países que antigamente pertenciam à sua zona directa de influência e que tentaram, no colapso da URSS, uma aproximação à «Europa rica» acabariam por novamente se lhe submeter. Aliás, é já o que hoje está a acontecer. A Turquia reforçaria os laços com a Rússia e abandonaria, de vez, qualquer simulacro de democracia, para o que não precisará de fazer um grande esforço. A Síria, o Médio Oriente, boas partes da Ásia e de África teriam de ter em conta os interesses do novo bloco emergente. Que não deixariam de ir onde tivessem de ir para assegurar os seus interesses. A França, se estivesse nas mãos de Le Pen, provavelmente divorciaria-se desses conflitos, ou poderia mesmo ser uma aliada táctica nalguns deles. A Alemanha, sem forças armadas dignas desse nome, ficaria isolada e o Reino Unido inteiramente dependente dos Estados Unidos. O resto da Europa quedaria, preso na sua imensa vulnerabilidade, aos interesses do mais forte.

Obviamente, tudo isto é um disparate e a paz na Europa é um bem para sempre adquirido. Tal como a História, que acabou em 1989, também a guerra não voltará a ensombrar os europeus.

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16 comentários leave one →
  1. castanheira antigo permalink
    22 Novembro, 2016 19:12

    Those who would give up essential Liberty, to purchase a little temporary Safety, deserve neither Liberty nor Safety.
    Benjamin Franklin, “Pennsylvania Assembly: Reply to the Governor”, November 11, 1755; as cited in The Papers of Benjamin Franklin, vol. 6, p. 242, Leonard W. Labaree, ed. (1963)

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    • 23 Novembro, 2016 00:00

      Sim está certo, essa frase é também muito bonita, quando se tem dois gigantes oceanos a separar-nos do resto do mundo, a oeste e outro a este , e “potencias inimigas terriveis” prestes a invadir-nos como o Canadá a norte e o México a sul…

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  2. 22 Novembro, 2016 19:23

    Excelente artigo, de uma lucidez e assertividade de dar calafrios. De degrau em degrau vamos caminhando para uma realidade, cá no burgo e nessa amálgama chamada Europa, que se vem desenhando nos vários “posts” que vou lendo no Blasfémias…

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    • 23 Novembro, 2016 00:09

      Como se um dia os Alemães tivessem acordado numa manhã de 36, lhes tivesse dado um chilique colectivo e pimbas toma lá hitler e abaixo os judeus.
      O caminho vem sempre da corrupção das elites que detêm o poder, e que decidem trair os seus próprios povos para seu exclusivo beneficio e manutenção pelo poder, mandando todos os que perderam a possibilidade de comprar pão que comprem “brioches”…

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  3. Juromenha permalink
    22 Novembro, 2016 19:27

    Ah! Pois, a “pós-verdade”.
    Há que estar à moda…

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  4. 22 Novembro, 2016 22:48

    ou então permanecemos na treta da UE e gramamos com guerras civis. nem só de guerras mundiais vive o homem.

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  5. lucklucky permalink
    22 Novembro, 2016 22:54

    Quando os Jornalismo trabalha e existe para dar cada avez mais poder à Política o resultado é sempre a Guerra.

    E sim Me a próxima será uma guerra civil mundial. Porque o Jornalismo Marxista está a conseguir destruir o Ocidente.

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    • 23 Novembro, 2016 00:21

      Junte aos marxistas, a mentalidade internacionalista dos liberais que se tornam nos idiotas úteis dos primeiros, e a cobardia e traição dos conservadores.

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  6. Colono permalink
    22 Novembro, 2016 23:09

    Enquanto o nosso patriótico trio de defesa: Costa, Marcelo Guterres estiver no topo, podemos dormir descansados….
    …..
    E Sócrates na Carregueira!

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  7. 22 Novembro, 2016 23:44

    Há sim que bonito, a falácia da construção europeia como o garante da paz e da prosperidade. Lucidez da treta. Curiosamente a paz bélica foi estabelecida com todas as potencias que conseguiram alcançar a bomba atómica ou então conquistadas e submissas a potências com armamento nuclear . Que como bem expressa a canção dos ABBA ” the winner takes it all” , e também devo acrescentar, “History is written by the victors”.

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  8. Arlindo da Costa permalink
    23 Novembro, 2016 03:10

    Tenho a certeza que dentro duma década vai haver múltiplas guerras na Europa.

    Estou à espera que os boches levem mais umas bombinhas nos cornos…

    Deus Não Dorme!

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    • André Miguel permalink
      23 Novembro, 2016 11:26

      Sim claro. Bombas nos cornos, mas continuem a emprestar euros aos tugas que isso é que bom.

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    • Colono permalink
      23 Novembro, 2016 11:56

      Camarada Arlindo

      Batava mandarem uma “”bicha-de – rabiar”:( das do tipo carnaval) e
      Fecharem a Auto Europa… para a geringonça depor incondicionalmente as armas! Não haveria papel higiénico que chegasse…. A propósito de papel higiénico:, os teus camaradas venezuelanos já deixaram de limpar o c* às pedras?

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    • castanheira antigo permalink
      23 Novembro, 2016 14:51

      És um democrata !…..

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    • oscar maximo permalink
      24 Novembro, 2016 10:10

      Grande manifestação de xenofobia do camarada Arlindo.

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  9. castanheira antigo permalink
    23 Novembro, 2016 14:53

    És um democrata !… é para o comuna arlindo , claro!

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