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Pensar a sociedade

24 Novembro, 2016

cow_eating_2_by_mearnzy-d3e9rg5O último cluster de lero-lero entre economistas – uma eventual necessidade para criar assunto entre a camada de ciento-plebeus que se sente segura com existência de um teologia moderna baseada em cientismo, a utilização de jargão científico para credibilizar o conteúdo que, em linguagem de leigos não teria ponta por onde se pegasse – é a questão da desigualdade. É bastante irónico, tomando em consideração que indivíduos como o Piketty têm como objectivo essencial a diferenciação, o reconhecimento da malta pelo seu mérito intelectual por oposição a todos os outros, os que não são capazes de “pensar a sociedade”.

Sempre tive aversão a tipos que “pensam a sociedade”. Em Trás-os-montes – mas não só – usa-se o verbo “pensar” para o acto de dar alimento ao gado. “Vou pensar a Mimosa”, dirá um agricultor que solta a vaca para verdes prados. “Corre, vaquinha, corre! Vai, pensa-te!”, que é o que estes pensadores da sociedade fazem: vai, boi, alimenta-te deste húmus que te enfio à colher pela goela abaixo, eu que penso a sociedade como ninguém.

Há centenas de anos que existe “globalização”. O que se denomina agora por globalização não é mais do que a transferência do patrocínio da corte para ir buscar umas especiarias aos orientais para a iniciativa privada de cariz tecnológico. Uns chineses constroem telefones em vez de comerem cascas de arroz ou pedras, recebem salário que nunca receberiam na “lixeira de Manila” (ainda gostam do Krugman, não gostam?), e os ocidentais podem “pensar a sociedade” nos blogues e Facebooks enquanto sentadinhos no aeroporto ou no gabinete antes da aula a leccionar durante o dia na universidade pública. O que chateia os arautos das desigualdades é, precisamente, não meterem a mão no bolo, como antigamente a corte fazia, sem pretenderem, porém, investir o capital necessário que esta investia para financiar o empreendimento. Vai daí, os estados, transpondo a máxima ginotrotskyista de que é preciso perder a vergonha de ir buscar a quem acumula – uma variante do “é preciso casar com homem rico e distraído o suficiente para ignorar o fogo que arde pelo jardineiro sem se ver” -, e por intermédio de quem “pensa a sociedade”, procuram “regular” as cenas, um eufemismo para “comer parte do bolo”. Invariavelmente, o cariz autoritário abrange todo o espectro, desde os que querem comer o bolo todo aos que querem comer o bolo todo mas só assumem querer comer uma ínfima parte.

E pronto, como me disseram que a direita tinha que pensar nisto, eu pensei, mas não mais que dez minutos, que estou de dieta. No entanto, cheguei à mesma conclusão que tenho desde que deixei de ter acne: um bom governo é aquele que não perde tempo com quem “pensa a sociedade”.

33 comentários leave one →
  1. 24 Novembro, 2016 10:18

    ora vamos lá ver , pensando em mim : não gosto nada de estar rodeada de desempregados para que , por exemplo , o sr. ortega tenha mais lucros . muito sinceramente estou-me lixando se os chineses comem arroz ou caviar ou nada, agora ou as leis que regem o mundo laboral são iguais globalmente ou há taxas aduaneiras
    neste post también parece que está dando pienso a las vacas 🙂

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    • 24 Novembro, 2016 10:22

      Proponho taxas aduaneiras a ideias. Uma ideia em Espanha só pode chegar a Portugal se se pagar uma taxa.

      Também proponho uma taxa para relações entre pessoas de diferentes países. Se alguém quiser enviar um email para fora de Portugal, paga uma taxa. Se houver toque, mais cara. Em caso de sexo, diferentes valores consoante a possibilidade física de reprodução acidental de indivíduo multi-fronteiriço.

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      • 24 Novembro, 2016 10:35

        só paga taxa se para enviar o email tiver de fazer o pino ou andar 5 km para encontrar net ou tiver de pedir de pc emprestado .

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      • 24 Novembro, 2016 10:41

        Então comunicações estão isentas de taxas, só informação tangível sob forma de grãos de arroz ou silício em microchips?

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      • 24 Novembro, 2016 12:32

        talvez.. o que deve ser taxado de certeza é o produto de mão de obra infantil , mão de obra sem férias e outras regalias , mão de obra sem higiene e segurança no trabalho , mão de obra que não precisa de contar os alfinetes na camisa , enfim , mão de obra não sujeita às mil e uma lei e regulamentações da UE que encarece o produto mil e um por cento 🙂 capisce ?

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      • 24 Novembro, 2016 12:40

        Isso de especificar como é que os outros devem trabalhar e a partir de que idade é bastante europeu, o continente onde as pessoas não conhecem os pais e muito menos os avós.

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      • 24 Novembro, 2016 12:52

        Isto não é por taxa e nem é por cenas de alfândega.

        A globalização sempre existiu só que dantes com Impérios Europeus a mandarem no resto.
        A globalização económica é uma coisa- a cena de ter de deixar entrar tudo, é outra.

        Eu estou perfeitamente do lado do Trump nessa de despachar a imigração chinoca e muçulmana legal, porque com a ilegal é fácil.

        E está toda a gente que trabalha em locais bem mais competitivos e onde os chineses pura e simplesmente funcionam em máfia, não fazem rigorosamente nada e encarregam-se sempre de fazer de escravou um qualquer outro- incluindo indiano – para fazer o trabalho por eles.

        Os chineses vivem de uma mentira que se espalhou, dizendo que era muito trabalhadores e altamente competentes por ganharem “olimpíadas matemáticas”.

        É mentira- é gente que só conhece a lei do senhor e do escravou- ou são escravos ou esclavagistas. E copiam e plagiam todo o trabalho dos outros.

        Esta cena não se altera por alfândega mas já se está a alterar em Londres com empresas onde por pura necessidade do grupo sobreviver e não estourar tudo, chumbam-nos nas entrevistas.

        Há lugares onde chinês nem mais um. E isto nada tem a ver com racismo ou pelo facto de terem os olhos em bico- tem a ver com o comportamento sabotador dele e com o facto de viverem sempre em cobertura uns dos outros, como autênticas máfias que se infiltram.

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      • 24 Novembro, 2016 12:53

        escravo- não sei de onde veio o “escravou” ehehe

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    • 24 Novembro, 2016 12:45

      Se te estás lixando se os chineses até nem comem nada ou podem ter escravatura, a que título queres taxar aquilo para o qual te lixas e normalizar à moda europeia a escolaridade obrigatória?

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    • 24 Novembro, 2016 12:50

      não fui eu que fiz as leis , pois não ? por mim saía hoje da camisa de forças UE e das tretas de bruxelas. agora se eu tenho de me sujeitar a elas , os outros também . ou então fazemos contas do que me custa a mais as parvoices das proibições e regulamentações e transformam-se em taxas aduaneiras.

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      • 24 Novembro, 2016 12:54

        Eu sei que saías porque o teu mundo é comuna pequenino e vega. Sonhas com micro aldeias pré-históricas onde todos viveriam felizes em clã e com a wika mor a fazer a sopa.

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      • 24 Novembro, 2016 12:57

        Como não percebes corno de política e nada sabes do que era Portugal há 30 ou 40 anos, nem percebes que sair da UE era criar novamente um PREC com nacionalizações e uma Cuba aqui dentro.

        Não há comuna que não tenha o mesmo sonho que tu. Só que eles fazem-se de sonhadores mas têm tarimba e tu és pírulas nesta treta de uma invenção do que nunca existiu- um portugal salazarista pequenino e pobrezinho, humilde e por comunas anarco-aldeâs à monty python

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      • 25 Novembro, 2016 17:54

        “nem percebes que sair da UE era criar novamente um PREC com nacionalizações e uma Cuba aqui dentro.”

        A zazie já reparou bem quem está no governo e como a EU os aceitou bem ? Acha que o os neomarxistas querem sair da EU quando a vêm como uma organização já infiltrada pelo marxismo e a linguagem frankfurtiana, a caminho para ser uma EUSSR ? Já reparou quem foram aqueles que mais protestaram contra os resultados do brexit ?
        O marxismo, fora alguns pré historicos stalinistas, deixou o anti-capitalismo de lado desde a queda do muro e o abraço da China ao mesmo.

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    • Pedro Paulo permalink
      24 Novembro, 2016 19:27

      e eu vou ter que pagar mais caro pêlos produtos chineses só porque a senhora quer? da mesma forma que a senhora quer que os chineses se lixem, eu tb quero que vc se lixe, não quero pagar mais caro por nada só porque vc acha que deve ser.

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  2. Artista Português permalink
    24 Novembro, 2016 11:24

    Nos “saudosos” tempos da URSS o que vigorava era o socialismo científico. Era científico porque estava estudado e por isso não tinha falhas. Para felicidade da populaça. Só era preciso obedecer. Deu no que deu. Agora é a mesma gente com a mesma técnica mal disfarçada mas politicamente correcta. Correcta por quem pensa; tudo para nossa felicidade. Puro altruísmo. E só lamentam haver por aí uma chusma de mal agradecidos.

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  3. 24 Novembro, 2016 11:35

    Maravilha. Vou pensar a Minosa

    🙂

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  4. Gabriel Órfão Gonçalves permalink
    24 Novembro, 2016 12:35

    «muito sinceramente estou-me lixando se os chineses comem arroz ou caviar ou nada,»

    Típico/a socialista que se está marimbando para o facto de alguém poder estar a morrer à fome. O que importa, para estes “socialistas”, é que aqueles que estão dispostos a trabalhar por menos dinheiro não o façam, de modo a manter os empregos na Europa e o seu “Estado Social Europeu”. Se for preciso, que morram, não é?

    Quando é que percebe que a riqueza europeia dependeu, durante muito tempo, do facto de sermos importadores de matérias-primas de países pobres onde não havia capacidade de trabalho instalado, e do facto de a seguir lhes revendermos o mesmo material, acrescido da transformação, a troco de… mais e mais matérias-primas? O destino desses países era ficarem depauperados, enquanto a Europa tinha orgasmos intelectuais com o seu “Estado Social”. Agora que os pobres têm capacidade de trabalho instalada e que crescem e que florescem vem um/a tipo/a dizer que não lhes interessa para nada se comem arroz, caviar, ou nada.

    Preocupa-me seriamente o facto de haver pessoas a trabalhar em condições miseráveis, mas não prefiro que morram à fome. Haja dignidade nesta discussão.

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    • 24 Novembro, 2016 12:54

      eu não sou socialista. simplesmente primeiro os meus , depois os outros.

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    • 24 Novembro, 2016 12:56

      ou acha que os europeus desempregados à conta da deslocalização de empresas devem passar fome para que os chineses comam ?

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      • 24 Novembro, 2016 12:59

        Isso tem solução autónoma: deve criar empresas locais que só empregam europeus e sujeitas a todas as regras e regulações, pagando sempre salário mínimo ou acima, com todas as férias, feriados e estado social. Se não for capaz de o fazer, não estou a ver que político o poderia fazer por si.

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      • 24 Novembro, 2016 13:04

        tem outra solução : todos os produtos vindos de países onde essas regulamentações e patati não estejam implementadas pagam taxas. certo?
        está com problemas de ouvidos ? sonotone tem bons aparelhos.

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      • 24 Novembro, 2016 13:09

        Pagam taxas a quem? Eu pago uma taxa a quem quando comprar o telefone? À loja que o importou? Para entregar aos chineses com uma mensagem “toma, vai comer uma feijoada”?

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      • 24 Novembro, 2016 13:07

        As taxas existem para todos e também não defendo a utopia neotonta da bondade de todo o internacionalismo contra qualquer ideia de prioridade e defesa do que é nacional.

        Deve-se travar a China e prefiro ficar mais nas mãos dos americanos que dos chineses.

        Mas deve-se é fazer o que estão a fazer em Inglaterra- uma maioria silenciosa que começa a travar a infiltração chinoca no mundo laboral de topo.

        E isto porque eles espatifam rigorosamente todos os grupos em que se infiltram.

        Não se fala desta merda e quem mais é responsável pelos lobbyes das minorias e de toda a prioridade a imigração são os judeus, sendo o Soros o cabecilha deles todos.

        Os judeus espelham sempre na trampa imigrante terceiro-mundista a historieta que lhes metem na cabeça desde a nascença- a vitimização do “judeu errante” perseguido pelos governos dos países por onde andaram.

        E agora acham que esta trampa muçulmana e chinoca pode estar á beira de um novo holocausto ou pode ser um bom pé para rebentarem todos os nacioanlismos porque o carcanhol é deles e Pátria dos outros é empecilho à sua expansão.

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      • 24 Novembro, 2016 13:09

        Quais “regulamentações”?

        A escolaridade até aos 18 anos sem fazerem nada?

        É isso?
        12º ano de escola obrigatória na China ou então não vos compramos nada.

        E ficas por aqui?

        O que fazes ao resto do pacote democrático?

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      • 24 Novembro, 2016 13:12

        Os europeus desempregados também são outra cantiga muito gira

        Há jovenzinhos que vivem de passeatas e pura e simplesmente nem acabam cursos e muito menos se candidatam a qualquer emprego que seja.

        É a tal geração de onde vens- a que se habituou a viver à grande por fundos europeus e agora não entende por que motivo desapareceu toda essa riqueza fácil e acha que a culpa tem de vir do “estrangeiro”.

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      • 24 Novembro, 2016 13:14

        De “onde vens” no sentido de antecedente etário. Claro que nada tens a ver com esses jovenzinhos e até te deves queixar talvez por experiência má de tentativa de empresa.

        Não sei nem interessa, mas historicamente viveste uma patranha e ainda não te apercebeste dela. Andas como a escardalhada a culpar os outros e as bolhas e a alta finança e o diabo a sete e depois fazes número para mais nacionalizações pelos comunas do “orgulhosamente sós”.

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      • 24 Novembro, 2016 13:19

        Olha- ainda esta semana paguei uma bruta taxa para poder comprar uma coisa simples que não imagino por que motivo ninguém na Europa a faz.

        Um irrigador oral sem pilhas nem ligação à electricidade e que é baratísimo, simples e portátil.

        Paguei quase o dobro pelo transporte e nem sei se não vou pagar ainda mais na alfândega, quando chegar.

        Porque é que esses desempregados todos europeuzinhos não inventam sequer coisas básicas como esta ?

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  5. Mauritano permalink
    24 Novembro, 2016 15:34

    Gosto particularmente da última frase.

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    • Os corruptos que se cuidem permalink
      25 Novembro, 2016 10:53

      Excelente ideia que me deu, Zazie. Vou encomendar um.
      Sim, porque não inventa nada de útil essa cambada de formados, doutorados, engenheirados, pós-doutorados e outros que tais? Para que serve tanto investimento nessa gente, tantas bolsas, tantos fundos europeus? Porque não criam riqueza, fundam empresas, dão origem a patentes?

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  6. licas permalink
    24 Novembro, 2016 20:39

    Correto!
    Aprendamos a lição:
    Andamos todos anémicos?
    É por via dos transgénicos
    Do milho híbrido, ao pão,
    Ainda temos as galinhas
    Deformadas, coitadinhas
    Anda-se a passar fome.
    Cheios de armas os Quarteis?
    Para sermos os fiéis
    Daquela que tudo come:
    Isto não tem polémica
    Somos escravos da América
    D´África passam aos magotes
    Gentes de várias Nações
    Fugindo às gringas monções
    Que apenas trazem mortes?
    Estavam na Paz do Senhor
    Quando chegou o pavor. . .

    licas fecit

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  7. 24 Novembro, 2016 23:35

    (ainda gostam do Krugman, não gostam?)

    “Krugman’s flip-flop—from a denigrator of “crazy conspiracy theories” to an eager promoter of them—exposes perhaps just how fragile the political psyche of modern American liberalism is. ”

    http://thefederalist.com/2016/11/24/paul-krugman-illustrates-the-damaged-political-psyches-of-the-left/

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  8. 25 Novembro, 2016 01:28

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