o grande e o pequeno marquês
Um dos episódios que considero mais desagradáveis e incomodativos da história contemporânea de Portugal é o daquele célebre cheque de 900 milhões de euros passado por Henrique Granadeiro da PT para a Rio Forte. Trata-se de uma coisa saída de uma versão malévola dos Padrinhos de Coppola, porque estava à vista de todos, e certamente que de Granadeiro em primeiro lugar, que esse acto, ao qual ele seguramente não pode fugir, lhe destruiria irremediavelmente a vida. Alguém, em determinado momento, lhe terá feito «um pedido que ele não podia recusar», sob pena de acordar com a cabeça do seu melhor cavalo decepada no travesseiro, ou até de nem acordar, e ele assinou a sua sentença de morte para ficar vivo.
No desenvolvimento dos acontecimentos da Operação Marquês, de que hoje a Visão e a Sábado publicam importantes peças, fica-se com a sensação de que, afinal, o grande «marquês» é outro que não Sócrates, concretamente Ricardo Salgado, o homem a quem, segundo Bataglia, «nada se podia recusar». Neste contexto, Sócrates surge, cada vez mais, como uma pequena personagem que se deixou corromper pelo «dono disto tudo», a troco de alguns significativos milhões de euros. Quando se esperava que Sócrates pudesse ser ou inocente ou um grande corruptor, a grande personagem de uma tragédia ou de um crime, eis que ele nos surge como um pequeno figurante de uma ópera bufa, capaz de pôr em causa o enorme património político que os portugueses lhe confiaram, em troca de uma vida flauteada e de luxos exibicionistas. Um pequeno marquês.
Mas, se Sócrates desilude, o papel a que Salgado se prestou nos interrogatórios também não engrandece a personagem, porque, para além de tentar fazer dos inquiridores parvos, fez-se de parvo ele também. Assim é que nos pontos principais do Ministério Público – a transferência de 15 milhões de euros para Bataglia, que foram posteriormente parar às contas do eterno Carlos Santos Silva, e os milhões enviados para o negócio da PT no Brasil – o homem alega um absoluto descontrole das operações, o total desconhecimento do destino das verbas e do resultado dos «investimentos» (os 15M para Bataglia, por exemplo, seriam para comprar «blocos de petróleo», de que, obviamente, nunca ninguém viu o paradeiro). O que, a ser verdade, faria de Ricardo Salgado um absoluto pateta e um péssimo gestor, coisas que ele, obviamente, não é.
Está, pois, próximo o fim dos dias da tão comentada Operação Marquês. Pelo que já se vê, desta vez, a acusação deverá mesmo sair no mês de Março. Esperemos que, em seguida, para que isto não fique a meio, a investigação avance para averiguar o que aconteceu na Caixa Geral de Depósitos, que a levou à ruína. Será, certamente, uma boa ocasião para revermos as personagens principais do caso cuja investigação está agora prestes a terminar. E para entendermos por que razão, e graças a quem, andamos a pagar, com o dinheiro dos nossos impostos, a falência de Portugal.
Sócrates não desilude: a ser verdade a acusação, um primeiro-ministro corrupto que toma as decisões que toma (da OPA da PT à tentativa de asfixiar a imprensa) é um caso maior da história da Europa nos últimos 200 anos.
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P.S. E Ricardo Salgado não será, de facto, um péssimo gestor?
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Pois.
> um absoluto pateta e um péssimo gestor, coisas que ele, obviamente, não é.
Meh. Os asnos que se alcandoram a altos postos …
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A oligarquia dominante , possui na algibeira a maioria dos políticos mas também a maioria dos jornalistas . E quando estes não estão , como deveriam , do lado da realidade as coisas complicam-se muito para a maioria , que não tem voz e não tem sindicatos poderosos pagos com os impostos de todos . Os “cronies” mandam , os politicos entrtêm-se numa orgia legislativa sem fim e os jornalistas aplaudem e acrescentam a onda da ilusão.
Posto isto , para dizer que a operação marques é uma gota no panorama portugues. Quero aqui dizê-lo, que embora Paços Coelho tenha implementado politicas socialistas que continuaram com um estado parasita enorme que impede o desenvolvimento economico , recusou-se a colaborar na continuação da ocultação do crime lesa-patria perpetrado por essa corja de mal-feitores . Estivessem os socialistas no poder e tudo teria sido ocultado com a ajuda da sempre solicita media.
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Está comprovada a falência e a incompetência do «capitalismo» português, o qual foi sempre sobrevivendo com as políticas sucialistas.
Desde o tempo do fontismo, passando pelo Salazar, que por acaso não gostava dos banqueiros ladrões.
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Capitalismo de estado socialista. Um estado socialista que tudo asfixia e tudo corrompe em nome do social que enche as bocas dos defensores do dito cujo. Tal como nos regimes comunistas, o povo é um rebanho que se tosquia ao mesmo tempo que as elites enriquecem.
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Volta Salazar, estás perdoado.
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A justiça em Portugal é um dos maiores entraves ao desenvolvimento do país. E não se vêm mudanças próximas, dado que os intervenientes são todos avessos à sua agilização. Os juízes e os advogados asseguram que nunca terão falta de trabalho (também nunca teriam, mas pronto), e os réus culpados agradecem os salamaleques legais intermináveis que asseguram que, só com muito azar, serão acusados ainda em vida,
Não há sistemas judiciais perfeitos, mas um conhecido meu andou 11 anos em processo de divórcio, e foram só 11 anos porque às tantas o homem fartou-se da coisa e abdicou de tudo. Considerando que o casal não tinha filhos e os bens comuns talvez não chegassem a 50 mil euros, como foi possível demorar tanto tempo?
Acontece que o sistema permite intermináveis recursos e apelos e inquéritos e adiamentos, e as coisas andam do cível para a relação e da relação para o supremo, e voltam ao cível, e dão a volta outra vez, e entre cada passo as demoras são de meses – e isto para cada carro velho ou sofá coçado.
A coisa chega ao ridículo de um processo de custódia em que ambos os progenitores estavam de acordo ter demorado uns singelos 6 anos – e este não é o caso de um conhecido, é o meu caso.
Considerando isto, os processos contra Sócrates, Bava, Salgado, Granadeiro, até estão a ser relativamente rápidos. Temos de ver que toda essa gente dispõe de advogados de topo que questionam tudo, desde a isenção dos juízes até ao padrão da gravata do porteiro.
É claro que se um cidadão normal tiver o descaramento de dizer a um juíz que não se recorda do que fez a 900 milhões, vai imediatamente preso por desrespeito ao tribunal. Mas para esta gente não há limites, dizem isso a juízes como a deputados da nação, com uma cara de pau impressionante. Há claramente dois pesos e duas medidas, gente de primeira e de segunda, ou sairiam directamente das comissões para o aconchego duma cela – é o que sucede a um cidadão normal quando não consegue explicar à AT o paradeiro de uns poucos euros.
Agora são milhares, milhões, dezenas, centenas, milhares de milhões, e o que acontece? O próprio sistema os protege, há sigilos a respeitar, reputações a manter, segredos que não podem aparecer, tudo coberto por supervisores, media, e mesmo o parlamento. Que sistema é este? A gente pequena como eu nada é perdoado nem esquecido, a minha triste conta bancária devia ser pública porque sim, enquanto à minha volta se passa esta pouca vergonha?
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> gente de primeira e de segunda
Os atenienses do Tucidides explicaram claramente, há 2500 anos, que “a justiça era uma coisa entre iguais”.
É claro que depois os publicitários vieram dizer que éramos todos iguais.
São uns exagerados.
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o entertainer anda finalmente ”preocupadp” om o futuro da cgd
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E a Casa Pia, fica assim………….???????
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aquilo foi assim : o Salgado começou a roubar , às tantas percebeu que toda a gente à volta roubava também , mas não podia fazer nada sem se denunciar. o golpe era tão grande que ficou fora de controle. Small Is Beautiful , nunca esquecer 🙂
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Verdade, quando afinal mesmo não concordando com o Sócrates ficamos com imensa pena de um homem que pensávamos que era poderoso e afinal não passou de um lacaio do Dono Disto Tudo. Pobre sócrates que vendeu o a sua dignidade e o Ps por uma vida de luxo.
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