Quero Lá Saber! Ganhamos Porra!
Sou do tempo em que o Festival da Eurovisão era imperdível. Uma noite de nervos, com a família em peso à frente da TV a torcer por Portugal. A ouvir depois os apresentadores a dizer: “Portugal two points”, “Portugal five points”, para desalento de todos nós que não entendíamos como canções tão boas e interpretadas por vozes maravilhosas, não passavam do chão da tabela. Quando descolavam, o coração disparava e pensávamos” é desta!!” mas… depois, como que congeladas, as pontuações já não subiam mais e ficávamos a 7 lugares da vitória. Foi assim, com José Cid, Sara Tavares, Anabela, Dulce Pontes e tantos outros. Anos a fio… Lúcia Moniz foi quem chegou mais perto com um sexto lugar. Até ao dia 12 de Maio de… 2017.
Com uma canção despida de artifícios onde a voz impera sem rede, tão simples e ao mesmo tempo tão poderosa interpretada por um miúdo esguio e desconchavado, num estilo único pouco consensual, eis que o Mundo se rende de forma inesperada à canção por quem ninguém dava um chavo cantada na língua de origem. E o impensável aconteceu. Vencemos o Festival da canção pela primeira vez desde a nossa entrada para o concurso trazendo três prémios: melhor canção, melhor intérprete e de vencedor do concurso! É obra!
Fiz parte daquele grupo de pessoas a quem a canção provocou estranheza. E no intuito de perceber porque estavam todos rendidos a ela, fui ao You Tube à procura de respostas. Ouvi-a uma vez, duas, três… e quanto mais ouvia mais ela se entranhava. Fui trabalhar normalmente com ela sempre na minha mente, sem saber porquê, e dei por mim várias vezes a trauteá-la ao longo do dia. Foi então que entendi. O poder da simplicidade acompanhada de uma voz melodiosa que embala lembrando as músicas da Disney, interpretada por um pequeno Joe Cocker português era de facto sublime.
Não tardou quem se opusesse por cá a esta vitória pondo em causa a votação, alegando que ganhou apenas a custo de uma boa acção de marketing ou até da condição de coitadinho por via das doenças. Até o facto de ser descendente da nobreza foi usado. Não faltou escrutínio para injustificar a todo o custo o mérito. Precisamente do mesmo modo como ao longo de todos estes anos argumentávamos, mas na bancada contrária, revoltados pela pobreza de votos atribuídos à nossa canção. Acusávamos a Eurovisão de manipulação de votos, de interesses políticos dos países votantes, dos investimentos de marketing nas canções vencedoras que dizíamos não prestarem para nada ao lado da nossa. E agora que somos os vencedores barafustamos indignados???! Porquê caraças?!!
No Euro, nem tínhamos a melhor equipa. E chegamos à final sem saber ainda muito bem como. Mas foi com um jogador que nem era de todo dos melhores, gozado muitas vezes por dar pontapés na atmosfera que inesperadamente, com um chuto todo desengonçado, nos tornamos campeões europeus! Porque ganha quem mete mais golos e não quem joga melhor. Alguém se importou com isso? Claro que não!
Eu quero lá saber se houve ou não manipulação. Eu quero lá saber se Salvador tinha ou não uma boa máquina promocional. Eu quero lá saber se foi à conta do coitadinho que tem uma máquina que o liga à vida por baixo das vestes. Eu quero lá saber se a canção é de embalar, se a voz dele é banal, se é nobre ou do povo, se veste bem ou mal. Quero lá saber!! Ganhamos porra!!!
Fosse com a canção dos “Parabéns a Você”, fosse de calções de praia, fosse acompanhado de uma banda de rock ou só com violinos, fosse como fosse, para mim o que importa é que o Mundo se rendeu à nossa música! Se depois da vitória foi a música mais ouvida do Mundo, bem isso é magia da alma, do sentimento, da pureza do amor cantado em estado puro que apaixona e cola à pele. Por isso é que vi pessoas na plateia com as bandeiras de outros países de olhos lacrimejantes rendidos à interpretação de Salvador. Isso não é marketing.
O que significa que ela é, simplesmente extraordinária porque só canções extraordinárias provocam arrepios que une uma multidão pelo Mundo.
Por isso, quero lá saber! Ganhamos porra!!!
……?!?
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Não consumo esse tipo de música-“adrenalina” tuga ou doutro país que fosse, desde os 17, 18 anos. Não, obrigado !
E o Joe Cocker, se soubesse que um pequeno Salvador “da pátria” é-lhe só 2, 3% gestualmente comparável…
Portugal-RTP-cançonetista ganhou, uma maioria dos tugas estão felizes pelo Papa, pelo SLBenfica campeão. Foi um “abençoado” 13 de Maio.
Quando eu constatar que 500 tugas estão por iniciativa própria num aeroporto à espera com ou sem bandeiras e cartazes por exemplo um genial cientista, um consagrado maestro ou compositor, um médico que descobriu a solução para erradicar doença, começo a acreditar que talvez estejamos “no bom caminho”.
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Quanto ao essencial, de acordo.
Quanto à canção, ainda não consegui ouvi-la toda. Um choradinho angustiante…
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Não interessa. Ganhamos. Orgulho imenso em ser portuguesa. Também não é minha onda mas gostos não se discutem. Abraço
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E se fosse uma cançoneta bem pior a ganhar, por exemplo interpretada pelo Toy ou pelo Zé Cabra (“gostos não se discutem”, inclusivé num júri…?), esse orgulho continuaria pleno ? Só porque seria um tuga-“herói” nacional ?
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Olhe, parece que não entendeu muito bem onde quis chegar, mas pronto, aqui vai: eu sou incondicionalmente apoiante do meu país quando está lá fora a concorrer seja no que for. A minha opinião pessoal é sempre colocada de parte. Importa-me sim, o que OS OUTROS pensam para lhes dar a vitória. Se o Mundo se rendesse a um Zé Cabra, iria rir às gargalhadas mas continuaria a apoiar!!! Percebeu agora?
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A Cristina tem toda a razão e escreveu um excelente artigo. O 13 de maio de 2017 foi um dia de grandes realizações. Hoje, mais um milagre: o PIB cresceu 2,8% no trimestre! Para tudo voltar ao “viver normalmente” só nos falta o império do Minho a Timor. Mas, ponham os pés no chão, isto está colado com cuspe.
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E, de passo, ainda conseguimos evitar que os espanhois obtivessem o record almejado de zero pontos. Que noite de glória!!
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Manuel,
o PIB cresceu “hoje”, porque consequência –como afirmou o Cavaco há 2 anos a propósito da saída da troika…– e graças à Senhora de Fátima.
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Escrevi um comentário como resposta a Cristina Miranda, mas não foi editado, quiçá triturado. Adiante.
Mas vai esta, também a propósito e actualíssima:
“O povo completo será aquele que tiver reunido no seu máximo todas as qualidades e todos os defeitos. Coragem, portugueses, só vos faltam as qualidades”.
Almada Negreiros, 1917.
Pois, “qualidades” não faltam aos Zés Cabras tugas vencedores ou não, para “orgulho de Portugal”. O que preciso é a imagem de Portugal “lá fora”.
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Caro MJRB. Os gostos não se discutem até porque se transportados para a política, verá que a maioria dos portugueses votou na geringonça partidária. E esta opção e oxalá eu me engane, vai custar-nos muito caro. Quanto ao Salvador Sobral e sua irmã pode não reunir consenso devido ao tipo de música que abraçaram, mas devo dizer-lhe que os maiores dos maiores em Jazz, são ouvidos com muita atenção em todo o mundo da música, e a Luísa Sobral já é conhecida no mundo inteiro.
Cps
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Caro/a SRG,
os gostos discutem-se e simultaneamente devem respeitar-se.
A geringonça partidária não se apresentou ao eleitorado como tal. Para vc. entender melhor: o P”S” perdeu, o PC não venceu, o BE idem. A coligação PaF venceu as legislativas.
Luísa Sobral não é “conhecida no mundo inteiro”. Coloque aqui actuais nomes maiores do jazz que a tenham elogiado e com ela tocado ou cantado; festivais, encontros, clubes prestigiados onde tenha cantado e obras suas executadas. Etc., etc.
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A prova que queria entender como foi, é que andou a matutar na canção.
A assertividade do “não interessa como” não me seduz, cheira muito a F.C.Canelas, ou á posição do Mário Soares “Feio, feio, é ser apanhado”.
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What?!
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O Tordo já regressou?
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O festival da Eurovisão sempre foi o festival da piroseira, pelo menos até onde assisti, e nem sei se ganhar um festival de piroseira é melhor que perdê-lo.
Mais pirosa ainda que o festival, só mesmo a seriedade com que em Portugal se tratou o tema. Os nossos intérpretes mais consagrados, poetas laureados, uniam esforços sem precedentes, para vencer uma piroseira. Depois das óbvias derrotas vinham as teorias cabalísticas. Portugal nunca percebeu que é um festival pimba?
Felizmente, com as honrosas excepções que foram os ABBA e Celine Dion, ganhar o festival da Eurovisão sempre foi um passaporte garantido para o anonimato. Boa sorte ao vencedor.
Por outro lado não fico automáticamente contente quando somos os primeiros. Somos primeiros em carga fiscal, somos quem tem a gasolina mais cara, e são títulos mundiais. E também estamos no top 10 doutras desgraças. Yupiii!
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Eu gostei da canção, mas também não tenho formação musical.
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…o Joe Cocker teria ciúmes do SSobral se ouvisse e, visse o “pequeno JCocker” tuga. Certamente tentaria obter direitos da cançoneta de embalar para a cantar quiçá em algum local em duo com o “herói” tuga..
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Eh pá, mas você é especialista em JoeCockerismo ?
Como de certeza não é, vá dar banho ao cão.
Ou então abra um blogue para dar as suas secas, que a malta aqui não tem que levar com elas.
Mas afinal qual é o seu ponto argumentativo ? Ou é só fazer barulho para se fazer ouvir ?
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Não é preciso ter formação para se gostar. Gostar é sempre subjectivo
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Essa afirmação é um erro monumental. Cara Cristina, certamente já reparou que um músico, pela sua formação, tem um nível de apreciação de música diferente do meu ou seu. Tal como um costureiro pode olhar para um vestido, aparentemente simples para si e para mim, e ficar extasiado com pormenores que a nós passam ao lado.
Gostar não é subjectivo, é mesmo bastante objectivo, e o gosto educa-se. Com formação.
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Não. A mim por muito que me eduque, serei sempre eu a determinar o que gosto de ouvir. É como amar. Não tem regras. Cada o sente de modo diferente. O que para uns é belo, outros será irritantemente feio. Sentimentos são indiscutivelmente subjectivos. Por muita técnica que haja, não vai ser ela a determinar se vão gostar muito ou pouco.
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Você parte do princípio que os sentimentos não são aprendidos, e que a sua formatação cultural não tem papel na determinação do que gosta, ou dos sentimentos.
Li há tempos que há um top 10 de equações. A 1ª é a Identidade de Euler, (e, (elevado a i vezes pi) +1=0.
A mim não me diz nada, pelos vistos os matemáticos acham-na duma elegância inultrapassável. Há um tipo de beleza que eu não consigo apreciar porque não fui formado para isso – fosse eu matemático e se calhar tinha uma t-shirt com a equação.
Estudei Belas Artes, e a primeira coisa que se aprende é a destruír o mito que gosto é inato e não se discute.
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Pois eu destruo sem problemas nenhum esse conceito só com aquilo que aprendi da vida. Não vem em manuais. Não se aprende a gostar de alguém. Não se aprende a gostar de uma música. TEM DE HAVER dentro de nós uma predisposição para isso. Por muita técnica maravilhosa que um indivíduo tenha na arte de amar, posso até me render a ele, mas jamais me apaixonar. Porquê se ele domina a técnica como ninguém? Se ele é perfeito? Pois… Na música é exactamente a mesma coisa.
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A minha conclusão é que do seu ponto de vista não se aprende nada, está tudo “dentro de nós”.
É claro que se aprende a gostar de pessoas, com o convívio, com a observação continuada da rectidão, generosidade, frontalidade, paixão pela vida, da história pessoal – isso é conhecimento, aprendizagem.
Quanto ao amor, as desgraças que por aí se vêm só me dizem que muita gente faria bem em começar a usar alguma técnica para escolher o parceiro.
Conheço gente que ouve uma Maria João Pires, um Paco de Lucia e abrem a boca de espanto – “Ah, que talento!”.
Ok, e sem dúvida, mas esquecem-se das 8 horas por dia de treino? Sem isso o talento não desponta. Um pianista segue uma pauta, mas a pauta permite microvariações, e são essas pequenas liberdades que permitem a um músico fazer sua a interpretação da obra, diferente, sem desrespeitar a pauta. Mas antes disso, antes de poder colocar a sua personalidade, tem de aprender a obra sem falhas, de um modo quase mecânico. O talento é a superação da técnica – no amor também.
Falando de predisposição, desde quando ela não é influenciada pelo meio? As pessoas crescem, os gostos mudam, não somos carimbados à nascença, não permanecemos imutáveis.
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carneiro,
paciência a sua (e da “malta”) para ler as minhas secas. Vai para o céu, nem bate nas nuvens, de certeza.
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E está evidente que do JCocker só hoje soube quem é, via net. Cantor, nunca o vi nem ouvi. Achei graça ao nome e à comparação do “herói” tuga, só isso.
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ó, 2 comentários meus não editados, sem direito de resposta ao carneiro.
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Afinal, surgiu 1 comentário.
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Cristina,
Eu não ganhei porra nenhuma
Mas a resposta que eu gostaria de dar já está dada no post a seguir, da autoria de Vitor Cunha.
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Não se pode agradar a todos Cristina! Excelente artigo e equilibrado, gostar ou não da música é igual, mas ganhou Portugal é o que interessa.
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Exactamente!
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É normal as pessoas apoderarem-de de um efémero sucesso como se fosse deles.
Também é normal em Portugal dar-se importância a ninharias.
Se alguém sem recorrer ao Google souber os nomes dos vencedores dos dois últimos concursos, já nem quero o nome das músicas, dou-lhe um prémio.
É isto que vai acontecer ao Sobral, dentro de dois anos ninguém se lembra dele.
Goze enquanto dura.
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Imagine-se que o AC-DC é classificado por políticos ou jornalistas europeus, como o melhor PM da Europa. “Coisa” que poderá acontecer, tudo pode acontecer, até o Sócrates certa vez foi louvado publicamente como “o sexto mais elegante do mundo”…
Mas porque não interessa o método, os lobbys, os interesses que elegeram o AC-DC, só porque é tuga e venceu “lá fora”, é caso para orgulho, “quero lá saber! Ganhamos porra !”??
Claro, não se deve duvidar das capacidades do eleito nem “barafustar” ou “indignar” — é prestigiante para Portugal e para os tugas tamanha distinção…mesmo que não estejamos “no bom caminho”.
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Está a deturpar o sentido do texto mas tem todo o direito de o fazer 😉
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Não deturpei nada, Cristina.
Resumindo, não tenho nenhum orgulho nacionalista por qualquer vulgaridade tuga vencer seja o que for “lá fora” ou, “cá dentro”.
Óbvio, e porque só ontem eu soube da doença do cantor, desejo-lhe melhoras, total recuperação e, felicidades.
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Então presumo que foi daqueles que não se rejubilou com a vitória do euro da nossa selecção…
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Não sei se o tema é música e até nem será. Quanto ao Salvador Sobral já teve fama e publicidade bem razoáveis e eu como nem tenho opinião sobre ele e a sua música, aproveito a oportunidade para dar a conhecer um grupo que recentemente me impressionou sobremaneira com o seu álbum de estreia: os Promenade e o seu álbum Noi al dir di noi … Pode ser que alguns gostem! EU acho que é muito bom. Quem gostar vai me agradecer a sugestão!
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