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In vino veritas, in champanhe patranhitas

21 Fevereiro, 2018

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Contava-me a minha avó que sentir as orelhas repentinamente quentes e vermelhas era um sinal evidente de que alguém estava a falar de nós. Caso fosse a orelha direita, estariam a dizer bem; se fosse a esquerda, estariam a dizer mal. Durante estes dias, em que muito se discutiu a figura de Rui Rio, dei por mim a pensar que, caso a minha avó estivesse certa, o novo presidente do PSD teria passado as últimas duas décadas com as orelhas a piscar intermitentemente, como se fosse uma árvore de Natal ou um carro dos bombeiros a caminho de um incêndio.

Durante os seus mandatos à frente da Câmara Municipal do Porto, tive de o defender algumas vezes em conversas onde o via alvo de ferozes acusações de falta de sensibilidade social, autoritarismo, ódio à cultura, economicismo e submissão aos interesses de especuladores. Algum tempo depois, tive de me defender algumas vezes em conversas onde me via alvo de ferozes acusações por ser apoiante de um homem, Passos Coelho, que, para esses mesmos interlocutores, estava a trair o verdadeiro e nobre espírito social-democrata do partido de, entre outros, Rui Rio! Inevitavelmente, desde o dia em que foram divulgados os resultados das directas, voltou a ser a orelha esquerda do político portuense a grande vítima dos seus bipolares analistas, o que significa que não deve faltar muito para me ver de novo envolvido em zaragatas verbais.

A verdade é que Rui Rio só me dá trabalho. Ainda esta semana, por causa dele, passei horas infinitas a pesquisar textos e vídeos antigos. Tudo teve início numa notícia do DN, na qual o realizador João Salaviza lhe apontava o dedo, referindo uma imagem em que o podemos ver a brindar com champanhe durante a demolição do bairro do Aleixo. Sobre essa celebração borbulhante, o deputado José Soeiro, uns dias depois, chamava canalha ao ex-autarca (sim, já estamos nesse ponto), dizendo que nunca conseguira esquecer a dita imagem. A partir daí, bombeado por um mar de gente, começando na líder do Bloco de Esquerda e terminando na senhora que lhes limpa a sede, o “champanhe do Rio” espalhou-se pela internet, inundando tudo à sua passagem como se estivéssemos numa festa do grande Gatsby. A famosa imagem, essa, é que não há forma de aparecer. Todos os jornais, rádios e televisões do país estiveram presentes durante a demolição, mas eu continuo sem saber se o brinde foi feito com champanhe francês ou com espumante nacional. Como é que querem que eu tenha uma opinião sobre o trauma profundo de José Soeiro quando nem sequer sei se o tchim-tchim foi feito com taças ou com flûtes? Uma pessoa chega até a pensar, depois de tanta investigação infrutífera, que o “champanhe do Rio” não passa de uma historieta fabricada, mas depois lembra-se que esse nunca foi o método do Bloco e volta a mergulhar no Google.

 

8 comentários leave one →
  1. Procópio permalink
    21 Fevereiro, 2018 11:43

    Observe-se a barragem dos merdia quando se trata de defender alguém contratado para o “serviço” pelas altas instâncias. O registo das personagens envolvidas no processo ajuda a desenhar a rede bem urdida. Se formos a ver são todos amigos. O seu percurso pessoal denuncia de onde vem o dinheiro para as diferentes tarefas. Artigos nos jornais, entrevistas com pivots excitadas, conferências, beberetes e espectáculos. Muito espectáculo.
    Dinheiro não falta, a sua proveniência é mais difícil de apurar por agora. Os objetivos vão-se desbobinando à nossa vista, um deles está encapotado, a demissão de Marques Vidal.
    Pergunta: a quem interessa a partida da senhora?
    Deixou de haver espaço para pessoas decentes no sítio frequentado pelos “amigos”?
    Estive de visita à Catania o ano passado. Sol e paisagens de sonho. Lá também é assim.

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  2. Castrol permalink
    21 Fevereiro, 2018 11:58

    O grande problema dos últimos dois anos, tem sido dar importância a quem não a tem.

    O PCP e BE não passam de duas agremiações de ditadores de algibeira de uma Esquerda Caviar que precisa e fomenta a pobreza e instabilidade social, para manter os seus privilégios.

    Caso contrário não estranhariam que um autarca brindasse com Champanhe, por conseguir acabar com um bairro social.

    É que para o PCP, BE e PS de António Costa, um Portugal perfeito seria repleto de bairros sociais, a abarrotar de indigentes e refugiados, dependentes do estado para sobreviverem e saberem quando morrer e como viver.

    Um País de imbecis, de mão estendida, a agradecer a esmola com o voto…

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  3. licas permalink
    21 Fevereiro, 2018 12:20

    É aqui que bate o ponto: a dependência das pessoas do Estado, na sua forma mais extrema, como é a alimentação (e o domicílio) vai tranformar, no que seria um cidadão, num animal de curral, um bicho cuja existencia em vida está sempre em risco do “tratador” deliberadamente ou não se “esquecer” de distribuir a “ração” (ou de lhe não propiciar um abrigo mais apropriado).

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  4. licas permalink
    21 Fevereiro, 2018 13:24

    licas PERMALINK
    21 Fevereiro, 2018 12:20
    Continuação . . .
    Em Democracia é o povo, a generalidade dos cidadãos, que detem em exclusivo a última vontade de como a sociedaade se mantem em desenvolvimento, porèm se esta apenas for formada por pessoas em dependencia estrita do Estado, acaba-se a cidadania e a Democracia definha para se cair na arbitrariedade do todo podereoso e incontrolado Socialismo, tal como aconteceu na ex-URSS.
    Todos sabemos desta verdade, mas, mesmo asim, arriscamos a esquecêmo-la frequentemente. . .

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  5. carlos alberto ilharco permalink
    21 Fevereiro, 2018 14:53

    Ainda hoje o JN publica fotos de um “massacre” (as aspas são deles) com dezenas de crianças atingidas.
    Nas fotos são quatro sempre repetidas em diversas poses mais dois civis com arranhões ligeiros.
    Não digo que não tenha havido um bombardeamento, mas podiam ser um bocadinho melhores na escolha das fotos.
    Até eu faria melhor.

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