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Três conservadores entram num bar

1 Julho, 2018
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O José António lembra-se como se fosse ontem. O pai chegou a casa naquela sexta-feira e disse-lhe “Hoje vais-te tornar num homem”. O Zézinho, 12 anos, ainda atarantado desde que a mãe o tinha apanhado uns dias antes a fazer coisas marotas (“foi a primeira vez”, garantiu) não percebeu o que o pai queria dizer com aquilo. Mas lá foi. Lá chegado, o pai entrega-o à Gracinda. A Gracinda com 40 anos ainda apresentava um corpinho mais ou menos. “Anda lá miúdo, tira a roupa que ainda tenho mais três para aviar hoje”. Só aí o Zezinho percebeu ao que ia. Já a salivar com a visão da Gracinda ali deitada, sem roupa, despe-se rapidamente. “É aqui miúdo, põe-na aqui”. Mas o Zezito mal tinha acabado de pensar que não a esperava tão felpuda e já as coxas da Gracinda tinham sido abençoadas pela sua semente. “Porra, 5 segundos, é um recorde miúdo. É da forma que avio mais um esta noite”. “Então, Gracinda, o miúdo é bom nisto?” “Nem 5 segundos durou, querido. Gosto mais do pai”. Apesar da comichão que o atormentou umas semanas, o José António não mais esqueceu a Gracinda. Passou os próximos anos na ânsia de um dia lhe mostrar que podia fazer melhor. Quando tinha juntado uns trocos do seu emprego lá na fábrica voltou ao local onde se tornou um homem e pediu a Gracinda em casamento. Os anos não tinham amansado a Gracinda que lá lhe explicou que fazia mais numa semana que ele num mês lá na fábrica e que, se fosse para sair dali, não era com um desgraçado que, ainda para mais, nem 5 segundos aguentava.

O Armando, pele escura e cabelo forte, cresceu em Cabinda. “Pele queimada pelo sol de Angola”, insistia o tio materno quando lhe falavam no contraste em a pele clara dos pais e a pele morena do miúdo. “O teu pai?”, “Foi à metrópole”, “A tua mãe está bem? Não se sente sozinha?”, “Está muito triste. Ainda ontem veio lá o caseiro à noite e ela não parou de chorar a noite toda. Mas o caseiro, tão bom rapaz, só se foi embora quando ela parou de gemer”, “Há pretos de bom coração”, replicava o vizinho a tentar esconder o riso.

O Luis, também conhecido por Rei das Alcatifas do Algarve, é um empresário de sucesso. O maior exportador português para a Tailândia, garantia o próprio. Filho de um general na reforma, o Luis fez a escola toda no colégio militar. Havia poucos alunos mais felizes naquele colégio. “E não tens pena de não estudares com meninas?”, “Não, nenhuma”, respondia convicto. Mas a entrada na adolescência foi complicada para o Luis. A mãe levou-o ao psicólogo, que no fim da primeira sessão percebeu o problema. “Você conhece um amigo dele lá do colégio, o Joãozinho?”, “Sim, é um dos melhores amigos dele. Ele está sempre a falar dele”, “Convide-o lá para casa. Vai ver que o Luisinho se vai sentir melhor”, “Obrigado, doutor”, acenou a mãe. O João passou a ser visita recorrente lá de casa, e o Luisinho andava mais feliz. E mais feliz ficou quando a mãe disse que o Joãozinho podia passar lá a noite. O Luis passou 1 hora no banho nesse dia e, para surpresa da mãe, deixou o quarto num brinco. Mas a noite não correu muito bem. Antes das 10 já o Joãozinho estava a telefonar aos pais para o irem buscar. Nenhum dos dois alguma vez explicou porque se tinham zangado nessa noite. O Luisinho cresceu e ficou conhecido por ser um casanova. “Uma namorada por semana”, dizia, “As gajas são para usar e deitar fora”. As relações eram tão fugazes que ele nunca apresentou nenhuma namorada à família. A empregada já se limitava a arrumar as perucas espalhadas pelo quarto ao Domingo de manhã sem fazer perguntas.

O José António, o Armando e o Luis, três conservadores da velha guarda, juntavam-se ao almoço depois da missa.

– O problema do país são os pretos. Estamos cheios de pretos. Já não chega tê-los aturado lá em África, agora tenho que os aturar aqui também na minha terra – dizia o Armando.
– E o putedo que para aí anda? Já não se pode ir a lado nenhum ou abrir o jornal sem ver uma puta. Perdeu-se a vergonha toda. – replicava o José António
– Eu já não posso é com as fufas e os paneleiros. Cambada de degenerados, agora querem casar-se e o caralho. Eu sabia bem como resolvia isto.

Os três concordam que a sociedade já não tem valores como antigamente, e que apenas eles se mantêm como guardiões da moral e dos bons costumes.

14 comentários leave one →
  1. 1 Julho, 2018 21:03

    bué de abrilista. pensei que tinham convidado a côncia para o blasfémias

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    • Euro2cent permalink
      1 Julho, 2018 21:53

      É para mostrar que tem uma mente aberta … de vez em quando caem os miolos … é a vida.

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      • 1 Julho, 2018 22:02

        Ou faz corrente de ar, como dizia o Groucho
        “:OP

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  2. 1 Julho, 2018 21:15

    CGPinto devia ter resumido a estorieta assim: Pena não haver Zezés Camarinha profissionais em cada aldeia, vila e cidade. Seria sinal de dinheiro e felicidade.

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  3. 1 Julho, 2018 22:14

    Boring…..

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  4. Os corruptos que se cuidem permalink
    1 Julho, 2018 22:58

    Não percebi nada… o post é para mostrar o quê? Alguém me ajude.

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    • Euro2cent permalink
      2 Julho, 2018 09:25

      É uma piada de base freudiana, muito usada na retórica progressista, para dizer que as pessoas atacam aquilo de que têm medo por terem nelas próprias.

      O CGP deve ser um conservador recalcado 😉

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      • CGP permalink
        2 Julho, 2018 09:50

        Touchè!

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      • 2 Julho, 2018 11:39

        Os textos são brilhantes (o do casamento) mas devo dizer que bater no conservadorismo-social é um desporto da modernidade iluminista com pelo menos 200 anos.

        A tese é que uma pessoa normal com qualquer resquicio de conservadorismo social mesmo que apenas common-sense é no fundo um anormal.

        O que dizer de Hindus, Budistas e Muçulmanos? Para já nem conseguem viver no mesmo bairro. Qual seria a piada a fazer-se?

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      • Euro2cent permalink
        2 Julho, 2018 21:06

        Touché!

        Está a ver, em vez de encaixar na desportiva, um verdadeiro progressista teria amarinhado pelas paredes a espumar da boca por não levarem a sério o estabelecimento do paraíso na terra imediatamente já!

        É uma vida triste, a de progressista. Sempre desapontados. Adira ao pessimismo 😉

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  5. Raghnar permalink
    2 Julho, 2018 06:54

    É para mostrar “arejamento”…

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  6. JgMenos permalink
    2 Julho, 2018 09:52

    E, matéria de sexo nada muda, só muda o que se diz dele.

    A novidade maior é a moda de tudo transformar em normal, como se o facto de poderem ser encontradas aberrações numa ‘distribuição normal’ isso as definisse como ‘moda’.

    Essa é a anormalidade esquerdalha que espero que o autor não vise promover.

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  7. Luis Lavoura permalink
    2 Julho, 2018 10:16

    Excelente post, muito bem escrito!

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  8. Arlindo da Costa permalink
    2 Julho, 2018 19:46

    Pensava que os nossos conservadores frequentavam casas de fado, tabernas, tascas e casas de pasto…

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