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Eu é mais Nelson Ned, sinceramente

13 Julho, 2018

Os dois filhos de Édipo, Etéocles e Polinices, dois tipos talhados pelo nome de baptismo para serem mariquinhas (a meu ver), arranjaram um entendimento para governarem rotativamente o reino, antecipando o sistema em vigor na Jugoslávia de Tito, o que tinha uma das seis repúblicas a fingir governar a coisa até à carnificina final que se verificou nos anos noventa, uma espécie de União Europeia mas com marechais. Como é normal nestas coisas, mal um tipo chega ao poleiro, trata logo de arranjar maneira para lá se manter indefinidamente, afastando o outro, coisa que Etéocles fez com a mesma pinta com que Soares afastou Cunhal em definitivo na Fonte Luminosa, relegando-o para um ícone pop que perduraria mais em nostalgia do que por mérito artístico, mais ou menos como a Madonna.

Contudo, a parte importante da história de Etéocles e Polinices não é terem cometido suicídio assistido mútuo, um direito que lhes assistia segundo a ética progressista da época: é, sim, que as terras a governar continuaram a existir muito para além da passagem para o plano poeirento da existência terrena dos manos. É por isso que, apesar da inerente beleza tradicionalista da mitologia – as histórias que devem ser conservadas em vez de adaptadas para o paladar dos tempos que correm –, a minha grande base intelectual para o liberalismo, sem desprimor para Pedro Arroja, que muito admiro por ir contra a fátua sedução do presente, é essa figura incontornável da ciência política internacional, Nelson Ned. É que, olhando a influências de estilo, nada consegue bater “mas tudo passa, tudo passará; mas tudo fica, tudo ficará”.

7 comentários leave one →
  1. Mauritano permalink
    13 Julho, 2018 09:21

    “… a mesma pinta com que Soares afastou Cunhal em definitivo na Fonte Luminosa, relegando-o para um ícone pop que perduraria mais em nostalgia do que por mérito artístico, mais ou menos como a Madonna.” Adorei. Ainda me doem os maxilares de tanto rir. Obrigado Vitor Cunha por mais um texto delicioso.

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  2. procópio permalink
    13 Julho, 2018 10:16

    “mas tudo passa, tudo passará; mas tudo fica, tudo ficará”.
    Sou mais tudo passa, ficarão as cinzas.
    Quem vai ser Adrasto? Há um pretendente, mas o Alzheimer espreita e não perdoa. De resto Tebas continuará a ser ingovernável.

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  3. Mário Fernandes permalink
    13 Julho, 2018 10:35

    Excelente post.

    Este Verão destrambelhado está a apurar a verve de Vitor Cunha.

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  4. 13 Julho, 2018 12:13

    Outra em grande

    “:O)))))))

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  5. 13 Julho, 2018 12:14

    “mais em nostalgia do que por mérito artístico, mais ou menos como a Madonna.”

    Esta do Soares é para emoldurar

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