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As pessoas não são propriedade do Estado

13 Novembro, 2018

Há que prestar muito mais atenção a esra conversa fofinha em torno dos “cuidadores informais”: Estima-se que em Portugal haverá 827 mil pessoas que dependem de cuidadores informais, na esmagadora maioria mulheres. De acordo com dados de um estudo pedido pelo governo, o valor económico das horas de trabalho despendidas por estes cuidadores ascende aos 333 milhões de euros mensais.”

Em primeiro lugar há que ter em conta que a responsabilidade pelos mais velhos tal como pelas crianças é das famílias e não do Estado. Paulatinamente tem vindo a ser instilada na sociedade a ideia de que alguém que não os familiares deve cuidar dos mais velhos e dos dependentes.  Parece-me óbvio que estas pessoas que não são uns estranhos a quem acontece uma desdita qualquer mas sim todos nós porque todos nós (a não ser que nos tenha acontecido uma enorme tragédia familiar) temos pai, mãe, tios … e todos nós envelheceremos logo todos seremos confrontados com a necessidade de cuidar de alguém e de sermos cuidados por alguém. É também óbvio que esse cuidar se prolonga cada vez mais no tempo. E basta ter cuidado de uma pessoa para perceber que não existem soluções perfeitas, receitas padrão ou medidas mágicas.

Mais trabalho, mais responsabilidade e mais despesa é o que acontece quando se tem de cuidar de alguém. É certamente importante que se flexibilizem horários de trabalho, que existam estruturas de apoio e flexibilidade na forma como esses apoios são administrados, que sejam atribuídos apoios financeiros, que se acabe com a penalização fiscal de quem cuida dos seus familiares em casa, que a alternativa não seja apenas o lar ou ficar sozinho em casa …  Agora transformar os dependenetes propriedade do estado e os familiares que cuidam deles em funcionários é que não.

 

31 comentários leave one →
  1. 13 Novembro, 2018 14:24

    Eu concordo com o que diz.

    Mas, já agora, sou cuidadora sem ajudas e se fosse “tutora de animal doméstico” pelo menos ainda tinha desconto nos impostos.

    Se até um drogado tem subsídio e um calão bolsa da Santa Casa, com tabaco e telemóvel pago, então sejamos equitativos.

    Porque, a verdade é que cuidar de quem está acamado e com 95% de incapacidade não permite sequer um trabalho normal. Tem de se abdicar de muito para o fazer e até assumir essa responsabilidade juridicamente.

    Ou seja- por lei terei obrigações enquanto tutora de familiar; mas por lei tenho menos benefícios dos que teria se não me responsabilizasse por mais que um cão ou vários e gatos.

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  2. Velho do Restelo permalink
    13 Novembro, 2018 15:04

    Vai alguma distância entre o apoio e o assumir a total responsabilidade. O debate do assunto é pertinente. Deve é ser esclarecido logo de início que a participação do estado está limitada em função da crise (que nunca existiu segundo o PS).
    Este assunto tem alguma semelhança com outro que me grila:
    O contributo do estado para as vítimas dos fogos de 2017 (Pedrógão …), era justificado (pensava eu de que …) por o estado assumir alguma responsabilidade (pela não implementação da lei das florestas, falhas operacionais, siresp …). Ok fica-lhes bem assumir os erros. Mas agora pergunto eu : Em 2018 – Monchique qual foi a responsabilidade do estado ? Pelo que vi nas TV’s as casa que arderam estavam totalmente rodeadas de floresta ! Ninguém quis saber da lei do Costa, e agora ainda querem casa nova para arder de novo no próximo verão ? Isso sim é deitar dinheiro fora.

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  3. Tiro ao Alvo permalink
    13 Novembro, 2018 17:25

    A Helena tem razão, esta gente procura com que o Estado seja dono de tudo e que todos dependam do Estado.
    Quando uma família se vê confrontada com uma criança descoordenada motor, por exemplo, a mãe ou o pai vão ser cuidadores a visa inteira do dependente. E não há dinheiro que pague isso. Portanto, tudo que for benefícios fiscais, ajudas para a compra de material – cadeira de rodas, adaptação de viaturas, etc., prioridades em todo o lado, óptimo. Mas o número dessas pessoas, a precisarem de cuidados durante toda a vida, não é muito elevado, felizmente. Quem tem o azar de ter que cuidar de uma pessoa destas, merece todo o nosso respeito. E há quem o faça durante dezenas e dezenas de anos, sem grandes queixumes.
    Pensar que Portugal tem condições para apoiar os cuidadores de 800 000 criaturas, é coisa de doidos. Transformar metade desses cuidadores em “funcionários públicos” ou coisa parecida pendurada no Estado, com direito a férias, horas extras, reforma, quando chegar a altura, é coisa que só passa pela cabeça de quem nasceu e mora em Lisboa e julga que o dinheiro cai do céu ou que nasce numas árvores que estão à mão de serem abanadas pelos governos.
    Prestar homenagem a esses cuidadores, tudo bem. Alguns são autênticos heróis. Considerar essa função uma obrigação do Estado, tal como a segurança, a saúde ou o ensino, é coisa de lunáticos. Lunáticos perigosos.

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  4. pitosga permalink
    13 Novembro, 2018 18:27

    Conheci alguns casais, poucos porque a Trissomíase21 é rara, que viviam a trabalhar sem descanso em diversos empregos para assegurar um pecúlio para o filho ou filha afectados.
    Para quando eles morressem, haver alguém com dinheiro (deles) para cuidar do deficiente.
    Para isto não é preciso leis nem estado. Basta ser-se humano.

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    • Zé Manel Tonto permalink
      14 Novembro, 2018 01:44

      “Para isto não é preciso leis nem estado. Basta ser-se humano.”

      Vá dizer isso aos canhotos…

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  5. André Miguel permalink
    13 Novembro, 2018 18:44

    Que em pleno sec. XXI, onde a industria está automatizada e os serviços assentam na gestão da informação, que se pode fazer em casa a partir do tlm e de um PC, nao exista flexibilidade de horários e continuemos agarrados às 8h diárias é algo que não tem cabimento algum. Estamos muito, muito atrasados e o pior é que o português comum, entalado entre o mar e Espanha, e estupidificado desde há 40 anos, não faz a minima ideia do quanto…

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    • 14 Novembro, 2018 17:11

      Isso também é chavão, como se todo o trabalho que uma pessoa faz fosse emprego vulgar com horário vulgar

      Eu tenho actividade liberal. O que faço é ao vivo e não pode ter qualquer substituição virtual

      Caso não saiba, as pessoas ainda existem e comunicar com elas é diferente do que ler num ecrã.

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    • 14 Novembro, 2018 17:17

      Cuidar de um acamado com 99 anos, 95% de incapacidade, totalmente dependente de 3ºs é algo que implica muitos gastos para se poder “arejar” ou ter “liberdade provisória” para sair de casa e até trabalhar.

      Isto para quem se recusa terminantemente a colocar em lar, porque eu sei que deixar, nem que seja por uns dias, uma pessoa nestas condições é deixá-la ser morta.

      Já não regressam, acredite.

      E, como eu disse, se fosse animal doméstico até podia ter desconto nos impostos. Como é velho, é para abate e ainda sou criticada por teimar em tomar conta de um “vegetal”. Como já me disseram- porque ninguém quer ter problemas de consciência por atirar para lar o pai ou a mãe. Pensar que não sentem é uma forma de auto-indulgência.

      Como eu sou bera e intolerante, não só não desculpo os outros como não tenha essa capacidade de poltranice indulgente.

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      • André Miguel permalink
        14 Novembro, 2018 18:56

        Totalmente de acordo.
        O meu ponto é precisamente a flexibilidade para estar presente junto daqueles que mais necessitam.
        Bem haja pela sua determinação em denunciar aqui por diversas vezes este tema.

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      • 14 Novembro, 2018 20:33

        O Ocidente julga-se muito avançado mas existem outros povos mais tradicionais que mantêm coisas bem mais importantes.

        Falo com as raparigas africanas que vêm cá ajudar e elas contam-me que, por exemplo, na Guiné ninguém fica sozinho e sem ajuda, porque se não há família- todos os vizinhos tomam contam.
        Disseram-me até que qualquer pessoa tira da sua comida para primeiro ir dar à velhota ou velhote que está só e sem se poder cuidar.

        Isto por cá desapareceu. Os vizinhos na primeira coisa que pensam é em, se possível, apanhar a casa.
        Quando fazem que é para ajudar é para se infiltrarem e roubarem.
        Nos bairros em que já nem há contacto, morrem velhos e ficam por lá a apodrecer até que um esperto das finanças se lembre de apanhar a casa em leilão por tuta e meio. Por dívidas de juros de mora, como aconteceu naquele caso da velha morta há nove anos, sem ninguém dar por nada.

        Porque dantes as comunidades não eram “geridas” por partidos políticos mas por paróquias com o padre!

        Esta é que é a gigantesca diferença.

        O ateísmo trouxe negócio e abandono e as duas coisas juntas, fazendo que é “solidariedade”.

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      • José Lopes da Silva permalink
        14 Novembro, 2018 23:33

        Com pirâmides demográficas, também eu ajudo os vizinhos todos. Com as invertidas que temos, boa sorte.

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  6. procópio permalink
    13 Novembro, 2018 20:00

    Estamos simplesmente a ouvir notícias falsas. A conversa fofinha visa “explicar” às pessoas que o kosta tem muita pena das pessoas e que a geringonça pensa muito nelas. Nunca seriam capazes de cumprir, nem tal coisa lhes passa pela cabecinha . Só de dívidas à indústria farmacêutica são 2 biliões de euros. Eu não sei o que são 2 biliões, mas sei o que pode acontecer nestes casos.
    A bonomia dura enquanto o contribuinte alemão permitir ser sugado.
    Vamos ver por quanto tempo.

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    • Velho do Restelo permalink
      13 Novembro, 2018 22:21

      Pura propaganda … a campanha eleitoral já começou para o PS e BE. Ainda não resolveram a encrenca dos profs e já andam a semear outras. A vantagem é que estes não são F.P. (ainda) e por isso não fazem greve.

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  7. procópio permalink
    13 Novembro, 2018 23:47

    Não nos afastemos do assunto. Seria pois o estado querido a tomar conta de nós…
    Diz o dinossauro e sequazes: “É preciso uma nova política! Sempre o mesmo. Até o vómito cansa. Os meninos bons, bem comportados, bandeirinha vermelhas guardadas nos fundos, estão à espera do dia bom, o dia em que todas as promessas serão cumpridas
    Eu, o menino mau, não fumo dessas substâncias ácidas.

    Ideologias oficiais abraçadas por todos, cuidado.
    Partido único dirigido por gente superiores a tudo e a todos, cuidado.
    Tipos com inabalável fé na ideologia, dispostos a propagá-la e forçá-la, cuidado
    KGB ou STASI implacáveis contra o “inimigos”, permeáveis a denúncias, cuidado
    Monopólio dos media e das forças armadas nas mãos dos camaradas, cuidado
    Controlo de toda a economia das unidades produtivas, cuidado.
    Cautela e caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém.
    Já comprei o frango. Eu sei lá se não vamos ter patuscada?

    https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcT_bdDkMDDqHV8Ly7Y8f_D2g6jv-RLPwrreHk9vvGv3n3x3-Qew

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    • Tiro ao Alvo permalink
      14 Novembro, 2018 18:33

      ” nas mãos dos camaradas”! e dos “camarados” Não ouviu o homem do Bloco?

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  8. Leunam permalink
    14 Novembro, 2018 14:00

    O Estado se quiser dar apoio aos cuidadores não devia só pensar em dinheiro.

    Em muitos casos, o que se precisa é de mais alguém que apoie e coadjuve o Cuidador.

    Inúmeros desempregados/as poderiam ser formados e pagos parcialmente pelo Estado e parcialmente pelo utente, para prestar esse serviço.

    Para garantir a qualidade e idoneidade destes Auxiliares, deveria criar-se um Fundo que desse suporte a uma estrutura de Formação que acompanhasse os profissionais que fossem colocados no mercado e os fiscalizasse recolhendo, periodicamente, informação junto dos beneficiários, tendo sempre presente que estes deveriam dar informações fidedignas e não com receio de ser alvo de retaliações, se acaso o auxílio não correspondesse às expectativas.

    Diz-se acima que não haveria dinheiro para tão grande despesa.

    Dou uma sugestão:

    Tudo o que seja: Alimentos, Camas, “Shampoos”, Roupas, Trelas, Areias para cócó, Brinquedos e quaisquer outros Acessórios para os animais de companhia, deviam ser taxados a IVA de 35%. A diferença de IVA seria para criar um Fundo de apoio aos Auxiliares dos Cuidadores.

    Mais, todo o cão que circule na via Pública devia pagar uma Licença camarária destinada
    não só a custear, em parte, a limpeza diária da via, mas também contribuir para o Fundo que acima refiro.

    Não se compreende que hoje em dia os animais tenham médico, ambulância, medicamentos, hospitais, hotéis e escolas, (creio até que funerais!) e os donos, que a tudo isto recorrem, não paguem uma taxa de LUXO, repito uma taxa de LUXO, enquanto inúmeros seres humanos carecem dos mais básicos cuidados ao ponto de nem sequer terem quem deles cuide, ficando ao abandono nos hospitais, nas suas próprias moradas ou pelas ruas das cidades.

    Tudo isto se podia fazer se tivéssemos um Estado formado por pessoas IDÓNEAS, SÉRIAS E HONESTAS que pensassem mais nas pessoas que lhes pagam o ordenado e menos nos votos que lho garantem.

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    • Tiro ao Alvo permalink
      14 Novembro, 2018 18:48

      Se a malta de Lisboa o ouve, está lixado…
      Não sabe que a Câmara Municipal de Lisboa tem um serviço que vai lançar um “programa” – é assim que eles chamam a esta idiotice – que passa por apanhar cães e gatos vadios e entregá-los, depois, para adopção, com os custos a serem suportados pela edilidade, desde a alimentação, até às despesas com o veterinário, com vacinas e com medicamentos?
      E não lhe falaram que tencionam mandar alguns desses gatos para a Holanda, onde parece que nascem cães e gatos a menos? E que alguns funcionários já deram os passeatas até lá a tratar do assunto?
      Qualquer dia essa gente começa a exigir um “estatuto” especial para os cuidadores de animais vadios. Eles querem lá saber da Zazie que se sacrifica pela sua família, eles querem é arranjar maneira de se sentarem à mesa do orçamente e de viverem principescamente a fazerem que são úteis, quando não passam de parasitas.

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    • André Miguel permalink
      14 Novembro, 2018 19:01

      Tá doido???? Quais aumentos de IVA qual quê?! Não se esqueça que em 2013 o FMI disse que se limitassemos as pensões a um máximo de 5 mil euros, pouparíamos 500 milhões! Leu bem: 500 milhões de Euros.

      Não chegaria para o que sugere?

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    • André Miguel permalink
      14 Novembro, 2018 19:03

      Mas até concordo com aumento de IVA para bichanos e ao mesmo tempo isenção de iva para todos os produtos para bebé. Isso é que era!

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    • 14 Novembro, 2018 20:38

      Olhe- no meu bairro anda uma drogada a pedir esmola à porta do supermercado. Passa ali o dia a fumar e a falar ao telemóvel e é ainda um sujeita nova.

      Ao final da tarde aparecem os drogados amigos para a partilha do “material”.

      Aquilo irrita-me porque ando eu numa lufa-lufa e até para conseguir alguém só para uma higiene nocturna me vejo aflita. Ninguém quer ganhar 6 euros por 1/4 de hora.
      Aqui há tempos, virei-me para ela e perguntei porque é que não trabalhava pois há muito velho a precisar de ajuda.

      E responde-me ela- “ó minha senhora, eu sou reformada!”

      ehehehe

      E aí, eu pergunto-lhe, então, se nem precisa de trabalhar porque já tem para a reforma e excedente que aqui se vê, porque é que não faz voluntariado?

      Ficou biursa. desatou a insultar-me.

      E esta malta tem bolsa da Santa Casa. Para não fazerem corno e passarem o dia a fumar e a falar ao telemóvel.

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      • André Miguel permalink
        14 Novembro, 2018 21:29

        Mas como chegámos a este ponto no espaço de uma geração? Isso é que não me sai da cabeça. Como foi possível em tão curto espaço de tempo?!
        Eu recordo quando era criança (há 30-40 anos atrás) isso que contou mais acima, dos vizinhos ajudarem e a família estar sempre presente. Não dá para entender…

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      • José Lopes da Silva permalink
        14 Novembro, 2018 23:36

        Quem gosta de ganhar 6 euros por 1/4 hora e está disponível para lutar e progredir – ou arranja outro emprego ou pira-se daqui para fora.
        Esses exemplos de café nunca incluem a história “pago eu aqui 1500€ por mês e não aparece ninguém”.

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      • 15 Novembro, 2018 00:57

        Quem gosta de ganhar 6 euros/hora não é português. Acredite! Nem uma portuguesa eu consegui. São ucranianas ou do Uzbequistão e durante o dia trabalham no mesmo, por conta própria.

        E vivem melhor e sem se queixarem do que as que preferem emprego.
        Pontualíssimas, responsáveis, impecáveis.

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      • José Lopes da Silva permalink
        15 Novembro, 2018 01:46

        Com certeza! Se já vieram para cá é porque têm essa garra.
        Os portugueses que têm essa garra vão vendê-la mais caro para outro lado. Só se fossem parvos é que ficavam aqui, ainda por cima com os outros a acusá-los de ganhar “muito dinheiro” e de não declararem rendimentos.

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      • José Lopes da Silva permalink
        15 Novembro, 2018 01:48

        Não se lembra do PA? O católico tem o instinto de ir conhecer o mundo. Um país católico é bom para viver, mas para trabalhar só se for para os nepaleses do tomate, ui que maravilha.

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    • 15 Novembro, 2018 09:59

      Completamente de acordo!

      E, nas escolas ainda lhes ensinam a fazer voluntariado a passear cãezinhos mas não ensinam a fazer voluntariado a velhos que precisam.

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  9. Leunam permalink
    15 Novembro, 2018 00:08

    André Miguel PERMALINK
    14 Novembro, 2018 21:29
    Mas como chegámos a este ponto no espaço de uma geração?

    Sr André Miguel

    Chegamos a este ponto, no espaço de uma geração, porque antigamente vivi-se conforme as posses. Cada um estendia a perna até que tivesse cobertor…

    Hoje vive-se conforme as ambições, as invejas e os empréstimos bancários:

    O meu vizinho tem um carro, eu também tenho de ter um e, se possível, mais novo e de marca mais conceituada, ainda que isso me obrigue a uma pesada mensalidade e só o possa usar de vez em quando…
    O meu vizinho tem uma mobília cara, eu tenho de ter outra ainda melhor, nem que seja a prestações.
    Alugar uma casa é muito difícil, lá terei que ir a um Banco pedir um empréstimo para comprar um tecto e pagar uma boa fatia do ordenado no fim do mês.
    Gosto de ver o Benfica, faço-me sócio, vou aos jogos e tenho um vistoso “cachecol”, lá vai uma quota.
    O meu filho viu o colega com um telemóvel moderno e muito caro, ele também me pede para lhe comprar um ainda mais moderno e se possível de boa marca; lá tenho de pagar mais uma prestação.
    Com as calças, os ténis, etc. passa-se igual, senão o menino fica frustradíssimo e é objecto de chacota dos colegas.
    Muitas destas despesas e outras como cinemas, festivais, judos, praias, etc.,etc. eram dispensáveis antigamente.
    Ora o dinheiro não é elástico e, para fazer face a todas estas despesas, muitas delas perfeitamente dispensáveis, a Mãe tem de sair de casa para auferir um salário que complemente o do marido e, mesmo assim, o dinheiro não chega para tudo o que se ambiciona.
    Chegamos ao ponto principal:
    A ausência da Mãe junto dos filhos pequenos, entretanto entregues a “técnicos” de infantários, jardins-escola, amas, etc., cria nas crianças um desapego emocional de tudo e de todos, mal veem os Pais, pouco tempo passam com eles.
    No seu cérebro em formação instala-se uma indisciplina insidiosa a par de uma arrogância parva, misturada de exigências muitas vezes incoerentes e sobretudo sem sentido.
    Os vícios, sempre à espreita, instalam-se e quando se chega aos 20/25 anos muita juventude não dispõe ainda da maturidade que qualquer pessoa rica,pobre o remediada, já tinha, há 50 anos atrás.
    Tudo isto leva à perda de muitos dos laços familiares e sociais, nomeadamente ao conceito de Solidariedade: o Eu e o Outro, meu semelhante.
    Se à ausência dos Pais (agravada no caso do Divórcio) adicionarmos uma Escola onde a disciplina é muito fraca, com Professores desmotivados porque o Estado, os Pais e o Povo em geral fazem deles “gato-sapato”, mais os meios de comunicação social manipuladores das ideias e das verdades, tudo isto criou uma Geração que está muito mal preparada para enfrentar um Futuro agreste, frustrante e muito incerto.

    A Escravatura está aí; não acabou.
    É apenas mais subtil.

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    • Andre Miguel permalink
      15 Novembro, 2018 08:50

      Podemos então afirmar que “os amanhã que cantam” do 25 de Abril são os responsáveis, certo?
      A geração dos meus avós cresceu num ambiente que se acreditava que nada se conseguia sem esforço e dedicação, a família era o núcleo social por excelência, os meus pais foram a geração da transição, educados nesses termos mas depois engoliram a banha de cobra dos esquerdistas em que o sol brilhava para todos e o dinheiro caia do céu. A minha geração foi lixada de principio ao fim, educada a parecer e não a ser (a Zazie tem uma expressão deliciosa: “avante pessoal das barracas!” ehehehe), endividada até ao tutano e sem valores familiares e culturais que lhe garantam a solidez moral necessária para o salutar desenvolvimento da sociedade. Salvam-se os que tiveram uma educação conservadora (obrigado aos meus pais!), mas temo que sejamos poucos, pelo que tenho profundo receio para o estado desta nação daqui a uma geração. Que futuro terá este país nas mãos de jovens ignorantes, que não conhecem a nossa História e Cultura, alienados e sem valores familiares, sem afinidade social a não ser para coleccionar likes no facebook e afins, que temem o confronto de ideias e alinham pelo politicamente correcto…

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      • 15 Novembro, 2018 10:00

        Esse “prá frente pessoal das barracas” era boca grafitada dos antigos anarcas.

        Até os anarcas com piada acabaram.

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  10. Leunam permalink
    16 Novembro, 2018 00:35

    Sr. André Miguel

    Este país não tem futuro.
    Está a ser vendido a retalho.
    Breve será de chinas,bifes, alamões, castelhanos e outros, em regime de SARL ou Comandita.

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