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Podem chamar-me como vos originar maior proveito

16 Novembro, 2018

Na igreja aqui da paróquia há um padre que todas as semanas se repete sobre a importância da comunidade. A igreja está aberta, não tem um daqueles cartazes sobre direito de admissão e muito menos um daqueles sobre não se vender fiado. Às vezes entro, desligo o telemóvel e sento-me a olhar para as figuras e para o altar, a pensar na vida e essas coisas que as pessoas fazem em silêncio. Antes de entrar tinha os ascultadores postos, como muitas outras pessoas da minha idade, que passam a pender no meu pescoço como outrora penderia um fio ornamentado com um crucifixo. Não são particularmente diferentes: ambos simbolizam a ligação a comunidades, agora a comunidade dos que escrevem canções para mim e para os meus, outrora aos que passaram mensagem semelhante sobre a condição humana. Talvez seja rezar, talvez não seja, o que é, seguramente, é um momento de alívio do ruído externo que impede ver a realidade com clareza. Deus é muito pouco mencionado na minha relação com Ele.

Estamos sozinhos no mundo. Nascemos e morremos sozinhos. Alguns procuram o alívio da solidão na tribo de lenhadores com barbas iguais, outros na família, outros ainda na comunidade paroquial e, principalmente os que mais conheço, em ideologias. Há uma imagem de João Baptista nesta igreja. Há outras no Facebook, nos partidos e nos jornais e blogues. Ao fim do dia, adormeço na mesma sozinho, independentemente da sorte de partilhar a cama com alguém. É por as coisas serem como são, pela condição solitária da existência humana em mundos que se encerram em cada indivíduo, que grupos normativos me incomodam cada vez mais. Se vos agrada, podereis chamar-me de conservador, de ultramontano, de socialista ou até de filho da puta. Só não me chamem de liberal, que isso é o que se denomina o João Miguel Tavares, e eu, com a consciência tranquila, posso afirmar que não vos fiz mal algum.

9 comentários leave one →
  1. Castrol permalink
    16 Novembro, 2018 11:16

    Brilhante!!

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  2. 16 Novembro, 2018 11:30

    AHAHAHAH

    Brilhante!

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  3. pitósga permalink
    16 Novembro, 2018 11:54

    Muiro gostei de o ler. Quase um ‘streap tease’ da alma.
    Eu também me sinto muito bem no silêncio de uma capela ou de uma igreja.
    Se bem que eu tenha imensas dúvidas, uma velha amiga, crente como é raro de ver, disse-me que ia para o Céu. E porquê? «Um Pai abre sempre a porta a um Filho».
    Abraço de admiração; desde há uns anos.

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    • Nuno permalink
      16 Novembro, 2018 12:16

      Há um sacerdote que gosto bastante de ouvir, é o Padre Duarte Sousa Lara (Exorcista da diocese de Lamego).É visto por algumas pessoas como um doido mas é um ser humano extraordinário,acreditem.Se hoje tenho fé é graças a ele.

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  4. 16 Novembro, 2018 13:22

    Ninguém se salva sozinho amigo. Andamos nesta terra para vivermos uns para os outros. Um dia mais tarde o que contará será o bem que fizemos ( ou não ) ao longo da vida.

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  5. 16 Novembro, 2018 15:05

    Vítor Cunha, todos somos cristãos em obra de Santa Engrácia.

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  6. raCSt14CrAmirocarrola@sapo.pt permalink
    16 Novembro, 2018 19:38

    Numa palavra: Excelente.

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  7. mcmp permalink
    17 Novembro, 2018 21:09

    eu gosto do João Miguel Tavares.

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