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A Madragoa de antes é que tinha gajas boas

7 Dezembro, 2018
No nosso tempo ninguém morria
No nosso tempo ninguém sofria
Tanto que no nosso tempo
ninguém dizia “o nosso tempo”

Miguel Araújo in Fizz Limão

No tempo do Salazar é que era bom. Em primeiro lugar, porque os meus avós e o meu pai estavam vivos; em segundo, porque a minha avó podia morrer de tuberculose aos trinta e sete com a alegria de me ter conhecido. Outro dos motivos para as coisas serem boas no tempo do Salazar era que eu, em 2018, já pouco me importaria com o futuro, que, para mim, poderia ser coisa para durar uma década, com sorte, o tempo suficiente para qualquer pessoa se conciliar com a finitude e tempo insuficiente para que alguém se dedique a questões mundanas de “no tempo do Salazar é que era bom”.

Acho que no tempo do Salazar não era assim tão bom. Podia não ser tão mau como se diz que era no tempo do Salazar, mas não tão bom como quando já se pode usar a expressão “no tempo do Salazar”. A revolução correu mal? Podia ter corrido pior. Os descobrimentos também podiam ter corrido melhor: se tivessem ido em aviões em vez de naus e caravelas decerto que a coisa teria corrido melhor. Tantos meses no mar sem dar cavaco à família, sem um email, sem uma mensagem no WhatsApp. Hoje em dia há WiFi no aeroporto, uma pessoa sabe logo se o navegador está mesmo em descobrimentos ou apenas a deleitar-se na ilha dos amores (nota do autor: não é Malta, ao que me dizem amigos).

Sobre o que é este post? É sobre o saudosismo nacional pela memória selectiva do passado? Não. É sobre o presente. O presente é a Geringonça e a esperança no futuro é Rui Rio (não chora, aguenta). Podia ser melhor? Podia. Também podia ser pior. O nosso tempo é o nosso tempo. Não é o passado, nem é o futuro, é o agora. Nem D. Sebastião, nem Salazar: eu tenho é que viver com as pessoas do café que estão vivas.

Amanhã é fim-de-semana.

28 comentários leave one →
  1. bst permalink
    7 Dezembro, 2018 19:28

    O tempo de Salazar são 40 anos. E antes dele, na 1ª República não se morria aos 37 anos de tuberculose?
    Não sou salazarista, muito longe disso. Não gosto é de falácias. Devemos comparar o tempo de Salazar (anos 30, 40, 50 ou 60) com tempos equivalentes nos outros países.
    Na economia e em outros assuntos. Por exemplo: nos anos 30 já havia mulheres portuguesa na assembleia nacional ainda as francesas não tinham direito de voto. E nos anos trinta, como era no Sol na terra, vulgo URSS? Ou mesmo em França, Espanha, ou porque não, Inglaterra?

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    • 7 Dezembro, 2018 19:31

      Se for antes disso até se morria aos 37 de velhice.

      O método de comparação internacional é coisa do professor Lains. Eu é mais comparação de hoje com ontem.

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  2. 7 Dezembro, 2018 19:59

    Amanhã é fim de semana para sí, seu invejoso, hoje foi fim de semana para os gajos da IP e da CP. Não é funcionário Publico? Tem inveja? Não estudasse.

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  3. Vitor permalink
    7 Dezembro, 2018 20:09

    Off topic: o que está a passar com os efeitos da greve dos enfermeiros ultrapassa a decência mínima. Há doentes que morrem por causa da greve dos enfermeiros às cirurgias. Uma vergonha!

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    • Vítor Pedido permalink
      7 Dezembro, 2018 21:35

      Os enfermeiros a trabalharem 48 horas seguidas também provocam a morte dos doentes.
      Olhe, um conselho: não adoeça enquanto a greve dura.

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  4. procópio permalink
    7 Dezembro, 2018 20:39

    Pois, pois, o vitor diz que tem é que viver com as pessoas do café que estão vivas.
    vitor, vitor, por este andar, não há certezas.

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  5. Mario Figueiredo permalink
    7 Dezembro, 2018 21:13

    Podia ser pior? Como? Mas já chegamos a este nível de conformismo que nos permite desistir de lutar por um pais melhor e declarar este imenso absurdo que é um socialista como o Rui Rio ser uma esperança para o futuro? O futuro de quem? Só pode ser dos cleptocrata que assumiram o controlo da 3ª república em 1974. Deles, da máquina de dependências que eles criam para se manterem no poder.

    Mas a geringonça derrotou de tal forma o Vitor, que você até já aceita um socialista declarado, um homem que se diz de esquerda, um homem que renuncia qualquer hipótese de o PSD ser sequer um partido de centro-direita… este homem é a sua esperança? Porra! A geringonça já ganhou!

    E a sua avosinha que morreu de tuberculose aos 37 anos de idade, o que é que ela tem a ver com a minha filha que morreu aos 5 meses de idade mandada para casa pelo hospital de Cascais em 2001 porque… estava apenas engripada?

    Podemos todos aqui trocar histórias até nos caírem os dentes. Que tal trocar também o número de imigrantes portugueses durante o regime de 40 anos do Estado Novo, contra o número de imigrantes portugueses durante os 40 anos do regime Abrilista? Afinal o Vítor diz que estamos melhor. Portanto deve-se ter emigrado mais durante o Estado Novo, certo? Se calhar vai me dizer que a emigração era dificultada durante o Estado Novo. É afinal o argumento do costume. Deve ser por isso que os comunistas iam todos estudar para a Russia naquele tempo, e os Portugueses faziam férias em massa nas praias de Espanha e França.

    Este meu comentário também não é sobre saudosismo. Só um tolo tem saudades de regimes ditatoriais. Mas é a aniquilação da história de Portugal e do que isso tem contribuído para desculpabilizar o horror que tem sido a governação pós 25 de Abril e a crença que estamos melhor apenas porque temos liberdade. Não estamos, nem temos. Acorde!

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    • Martim Moniz permalink
      8 Dezembro, 2018 18:45

      Bis(não diria melhor)e também não sou saudosista(seria até complicado visto não me lembrar de nada sobre o anterior regime,só me lembro de entrar numa escola já “socialista” no pós CRP de 76)

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  6. 7 Dezembro, 2018 22:49

    e que não nos tirem umas sardinhas assados acompanhadas de pão e vinho alentejanos…
    Isso é que não!!!

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  7. procópio permalink
    7 Dezembro, 2018 23:30

    O futuro da Madragoa já não depende dos marinheiros da Murtosa, nem de Ovar.
    O futuro do sítio joga-se noutros tabuleiros, os indígenas quando muito conhecem os peões, bem patuscos por sinal. As pedras fortes raramente nos visitam, o chinó foi excepção.
    A ironia do vitor: “O presente é a Geringonça e a esperança no futuro é Rui Rio (não chora, aguenta). Podia ser melhor? Podia. Também podia ser pior”.
    Não podia ser pior, mas também não faz mal, o futuro não passa pela escumalha.

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  8. Sem Norte permalink
    8 Dezembro, 2018 03:43

    Sinceramente julgo que entendo o seu desabafo, por isso há vários anos penso que o melhor é votar em partidos da extrema esquerda. Só assim haverá vacina. Mas infelizmente na hora da verdade não consigo.

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  9. 8 Dezembro, 2018 11:30

    Para falar do tempo de Salazar é preciso fazer comparações mas para tal é preciso conhecer o que comparar.

    Alhos com bugalhos é uma expressão idiomática que explica melhor por que este postal não compara bem o que deve ser comparado.

    “No meu tempo é que era bom” pode ter uma boa dose de verdade, mas é subjectiva.

    Quase toda a minha procura no campo intelectual assenta nesse problema: o que tinha Salazar de bom e principalmente o que tinha esse tempo de bom para podermos aproveitar hoje?

    Era tudo mau? Nem por isso.

    Por exemplo: com Salazar e Caetano nunca faríamos as figuras tristes de um A. Costa e um presidente Rebelo de Sousa perante o mandarim chinês que nos visitou.

    Mas há mais e muito mais e é tudo isso que se torna interessante explorar.

    Entrar no politicamente correcto e começar a espingardear o salazarismo é, a meu ver, estéril.

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    • 8 Dezembro, 2018 11:42

      O meu ponto – se bem que não gosto de o explicar, mas abro uma excepção – é que o Salazar morreu. Pode-se arranjar outro, digamos, o Zé, mas o Zé não é o Salazar e 1952 também não é 2018. Vai daí que o problema desta juventude não resolvida de 40, 50 e 60 anos não é se o papá Salazar era melhor que o papá Costa e sim sobre a necessidade de papá numa adolescência tão tardia.

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      • 8 Dezembro, 2018 12:48

        O Estado Novo era uma forma de Regime.
        Este novo regime é outro. Podemos comparar os frutos de um com os de outro?

        Eu penso que a questão de fundo é esta, Não é de papás e homens providenciais. Mas, entre governantes também se pode comparar. E a questão de qualidade e superioridade a toda a prova é bem evidente.

        Podia-se perguntar, sim, se Sá Carneiro não tivesse morrido se este regime seria diferente.
        Também me parece uma pergunta legítima

        O que me parece desbocado é achar-se que em toda a Europa só existem Ruis Rios e Costas a liderar.

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      • 8 Dezembro, 2018 12:57

        De acordo com tudo isso. Falemos então de governantes e do regime que temos, quer o nacional, quer o de Bruxelas (que também tem as costas largas, independentemente de ser bom ou mau). Porque eu só ouço falar do homem providencial, o que é só ruído, não é real.

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      • 8 Dezembro, 2018 12:49

        A ideia de países em auto-governação sem Estado é uma utopia que até os sovietes venderam e foi-se a ver patranha igual à ancap

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      • 8 Dezembro, 2018 12:50

        E, se há Estado, há liderança. Se há partidos, há líderes.

        Agora a Merkel até já delegou por endogamia noutra.

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      • 8 Dezembro, 2018 12:53

        Eu percebi o seu final.

        Está-se nas tintas, Por pessimismo acha mesmo que resta o cordão sanitário e conversa com gente real do café.

        E depois, não somos italianos nem belgas, em sequer ingleses.
        Um país pobre largado ao saque está tramado.

        Se for grande e rico, pode dar a reviravolta por cima, como parece acontecer com o Brasil.

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      • 8 Dezembro, 2018 13:16

        De qual homem providencial é que ouve falar?

        O que pode ouvir é a gigantesca demagogia desta sacanagem escardalha a falar do “Salazar”, traduzindo por “no tempo do fassismo é que era bom”, para legitimarem toda a merda que fazem.

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      • 8 Dezembro, 2018 13:18

        Mas pode também perguntar se esta maltosa escardalha, com o tosco providencial do costa, não descobriu uma União Nacional para não largar o poleiro.

        É que eu ia jurar que descobriram mesmo e nem estou a ver como caem, a não ser do modo mais cretino, tomada por dentro, com um palhaço de palha, como o Rio.

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      • 8 Dezembro, 2018 13:21

        Eu ainda não cheguei ao ponto do “mujah” lá nos debates, de colocar mesmo em causa a alternância partidária.

        Ainda não. Mas, pelo menos, em relação ao poder local, já sou capaz de pensar que os partidos não deviam ter acesso a ele.

        Assim como já sou capaz de pensar que devia ser proibido a toda a função pública fazer greve.

        Toda. Só por causa das coisas.

        Porque isto de “em nome dos trabalhadores” já era. Já só se fala em nome da ganância a coberto do corporativismo da matilha e atrás da cenoura do PCP.

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  10. vccqa permalink
    8 Dezembro, 2018 17:11

    Vitor Cunha, com o devido respeito discordo do seu texto, subscrevendo na totalidade o comentário de Mário Figueiredo. Assim como o do José e os da Zazie.
    Maria

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  11. Aónio Lourenço permalink
    8 Dezembro, 2018 21:18

    Uma posta verdadeiramente sóbria e realista.

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    • Aónio Lourenço permalink
      8 Dezembro, 2018 21:21

      Mas que fazer perante os saudosistas, que confundem as ternuras pueris e inocentes da miséria infantil, com regimes políticos? Hão-de ver a quantidade de saudosistas russos perante o estalinismo: é assustador!

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  12. Aónio Lourenço permalink
    8 Dezembro, 2018 21:20

    Uma posta verdadeiramente sóbria e realista. Mas que fazer perante os saudosistas, que confundem as ternuras pueris e inocentes da miséria infantil, com regimes políticos? Hão-de ver a quantidade de saudosistas russos perante o estalinismo: é assustador!

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  13. Arlindo da Costa permalink
    9 Dezembro, 2018 04:29

    Quem é que tem saudades da Madragoa de antanho? A Madragoa da prostituição infantil, da pobreza, da miséria e dos maus costumes salazarentos? Quem?

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  14. José Ramos permalink
    11 Dezembro, 2018 00:03

    Pelos comentários “postados” vejo que há muita má consciência, excessivo uso de detergente para lavar a memória e uma dose preocupante de imunidade à ironia.
    Parabéns, Vítor Cunha.

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