num país perto de si
Imagine-se que, graças a uma extraordinária conjugação astral favorável e ao irresistível carisma telegénico do seu presidente, um novo Partido Liberal Português dos Verdadeiros Portugueses Liberais (PLPVPL) obtinha a vitória nas eleições legislativas deste ano. Em razão disso, o presidente Marcelo convidava o chefe do partido a formar governo, o que este conseguia, ao fim de uns dias de negociação com o CDS, de modo a garantir uma maioria parlamentar firme. Uma vez no poder, o que faria essa coligação? Provavelmente, para além de gerir a conta e o passivo do estado, pouco mais. Revia umas decisões do governo anterior, cortava nuns impostos mas seria obrigada a aumentar outros (as regras do euro não consentem veleidades), continuava a gerir a escola pública, o Serviço Nacional de Saúde (que abriria, timidamente, à iniciativa privada, sob o coro de protestos dos partidos de esquerda, dos sindicatos e da opinião publicada), por pressão do CDS evitava chatices com o dr. Balsemão à conta da RTP e inventava, para a coisa, um qualquer «conselho orientador» saído da mais genuína «sociedade civil», reduzia simbolicamente o funcionalismo público (onde se perdem e ganham eleições), mas empregava devidamente os seus em bons postos da administração do estado, num momento de arrojado atrevimento, o líder ameaçava privatizar a Universidade de Coimbra, mas era de imediato chamado ao presidente para levar um puxão de orelhas e deixar-se de tolices. Por fim, no termo da legislatura, que poderia nem durar quatro anos, a probabilidade de perder eleições seria elevada e, com a derrota e o mais do que seguro abandono do líder, a «aventura liberal» ficaria esquecida durante muito tempo.
Este é um cenário de ficção que, porém, não está muito distante da realidade que aconteceu em Portugal, entre 2011 e 2014. Lembro, para quem não o tiver presente, que Pedro Passos Coelho surgiu como candidato a líder do PSD como um «liberal». Eu próprio, convicto de que ele estaria muito próximo de o ser (e ainda hoje acredito nisso) dei um modestíssimo contributo para um blogue de campanha para a sua eleição interna no PSD, para o que fui convidado, não pela minha condição de militante desse partido – que não era (nem sou) -, mas pelo facto de ser uma das poucas avis raras que, neste pequeno país, se diziam pertencer a essa estranha espécie.
O que resultou dessa experiência governativa, malgrado as dificuldades que lhe foram impostas pelas circunstâncias que são de todos conhecidas, foi o que se viu: Passos foi responsabilizado pelas poucas medidas liberalizadoras que tomou (e às quais devemos hoje boa parte da modesta recuperação do país, como as modificações no arrendamento e a legislação sobre o turismo) e condenado pelo seu excessivo «neoliberalismo», com o qual – horror dos horrores! – pretendeu ir além da troika.
A verdade das coisas é que nem Passos Coelho nem o seu PSD estavam minimamente preparados para governar Portugal. Não o estavam, seguramente, numa tão difícil conjuntura, mas onde, apesar disso, contaram com o apoio e a pressão das instituições internacionais credoras, mas também não o estariam em condições de normalidade económico-financeira. Para, por exemplo, se entenderem com o CDS de Portas sobre um conjunto de políticas elementares, consta que foram consumidos meses de governação, e que só com a crise do «irrevogável» a coisa encarreirou.
Em suma, PSD e o CDS não têm – talvez nunca tenham tido – uma verdadeira ideia sobre o país, nunca prepararam um projecto de direita, que fosse simultaneamente liberal e razoavelmente conservador, para o aplicar quando chegassem ao governo, e tão-pouco as têm sobre questões sectoriais fundamentais, como a educação, a saúde ou a justiça. Em quarenta e quatro anos de democracia, nunca a direita partidária portuguesa se preparou para ser poder e a pensar no que isso pudesse ter de significado e de exigência. A seguir ao 25 de Abril, os alemães da Konrad Adenauer ainda cá vieram buscar uns mancebos para lhes darem alguma formação política e económica, mas os resultados foram muito rudimentares, como todos podemos constatar. O CDS, com Francisco Lucas Pires, organizou um think-tank que produziu algumas coisas com interesse, o «Grupo de Ofir», mas a coisa esvaiu-se assim que conquistaram o poder no partido. No PSD e no CDS sobram, nos dias que correm, o Instituto Francisco Sá Carneiro e o Instituto Amaro da Costa. Alguém conhece, nos últimos anos, uma linha saída desses interessantes conventículos que mereça ser, já não digo citada, mas ao menos lida? Por fim, a Universidade de Verão do PSD, onde ex-líderes e outras figuras fulgurantes dessa e doutras agremiações partidárias explicam aos promissores jovens que os escutam como é que eles progrediram na política e no estado.
Assistindo, nos últimos tempos, ao lançamento de um número elevado de projectos partidários de cariz assumidamente liberal que quer ir a votos em eleições nacionais, seria oportuno perceber o que têm essas novas agremiações a oferecer aos indígenas a quem pedem que votem neles. No fim de contas, o que fariam com o poder se, por milagre ou talento próprio, este lhe caísse no regaço.
Parece que boa parte do problema está na escassez de dados disponibilizados pelo governo à sociedade civil.
O próprio Bloco de Esquerda, ao que parece (de acordo com o Expresso), só pôde formular com maior rigor as suas opções políticas a partir do momento em que se pôs a colaborar com o governo, porque só então pôde avaliar concretamente as possibilidades de cada opção, por só então poder aceder aos dados de que o governo dispõe.
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Discordo. Não deixaram PPC acabar o seu trabalho.
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Talvez. Mas nunca o saberemos.
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Para quantos anos tinha ele previsto o seu trabalho? 4? 8? 12?
Ele nunca nos informou que trabalho tinha para fazer, nem quanto tempo demoraria a fazê-lo.
Aliás, na 1ª campanha eleitoral, informou-nos que iria fazer um trabalho totalmente diverso daquele que depois efetuou.
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O trabalho era pagar a dívida.
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PPC conseguiu ter taxas de emigração semelhantes às da guerra colonial e aumentou impostos como nenhum outro governo tinha feito antes.
é verdade que liberalizou as rendas mas isso parece-me poucochinho face ao aumento de impostos e taxas.
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além do aumento significativo da agressividade da maquina fiscal junto de pequenas e medias empresas operacionalizada no governo de Passos, ao mesmo tempo que se protegiam monopolios como os da EDP.
Quando a ir além da troika, não foi capaz sequer de implementar medidas realmente estruturantes como a redução do nr de municipios que estava contemplada no memorando ou de reduzir as rendas das empresas de energia
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Não só, veja-se a “privatização” da ANA feita para manter o monopólio dos aeroportos.
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O que é realmente necessário para entender estes tempos passados é o facto de o PaF ter subido ao poder com os votos unânimes da Esquerda !!!
Os liberais não ganharam as eleições com os votos dos portugueses liberais.
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Não foi durante o governo de Passos que foi implementada a nova lei da facturação e da factura obrigatória? Aquela em que os fiscais iam para a porta das lojas a fiscalizar quem pedia a factura ? Aquela em que foi implementado o sistema fiscal mais intrusivo, e controlador que há memória ? Tornando os cidadãos nos novos agentes e bufos do Estado, recompensando-os com prémios sorteados, pagos à conta do contribuinte, e obrigando toda e qualquer actividade económica a estar sobre vigilancia constante ligada directamente aos servidores centrais da stasi fiscal ? Algo que Stalin só podia sonhar no seu tempo.
E depois ainda temos que ouvir, de gente que se diz da “direita liberal” com discursos nostálgicos, de que afinal, boicotaram o homem e não o “deixaram trabalhar” , hum ?
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Programa concreto antes de eleições ninguem tem, todos partilham as mesmas generalidades que o eleitor-funcionário tolera. Depois polvilham com umas palavras-chave: Portugal, PMEs, trabalhadores, pensionistas, segurança e, claro, confiança. O eleitor-funcionário pode confiar em todos eles que ninguém vai agitar muito as águas mornas dos brandos costumes.
Depois como ninguém tem o seu deputado nem nenhum deputado tem programa ou que prestar contas, votamos em listas de amigalhaços do partido ou pior, na miss universo que os pasquins decidem mostrar com fotos mais atraentes.
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Razão tem o Jaime Nogueira Pinto quando diz que não há direita em Portugal. Há é um grupo de ressabiados e de proxenetas políticos encostados, desde sempre, à mama do Estado. A tal direita socialista (PSD, CDS e anexos) que é muito menos liberal do que o BE ou PAN.
Enxerguem-se e deixem-se de fantasias!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
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O partido BE deve ser proibido: perversos, incompetentes, mentirosos e burros arruinam qualquer país. O partido comunista também. E o partido socialista, os mais falsos de todos. Os liberais não sabem governar. Fracasso total.
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Deixa-te de merdices e pieguices, ó seu reaccionário de meia tigela! Tu é que precisas de ser proibido de abrir essa bokassa!
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The Depression Of 2019-2021 ?
https://www.zerohedge.com/news/2018-12-29/depression-2019-2021
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Não obstante, irei votar Iniciativa Liberal pois no PSD de Rio não voto de certeza
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Continua a ser tristemente hilariante a opinião de boa parte da direita que se lê aqui sobre o Governo Passos Coelho.
Um Governo que aumentou o poder do Estado, aumentou impostos, criou novos impostos – passe a redundância.
Lá que a comédia mediática do Jornalismo Marxista não o tenha parado de criticar por não ser de boas famílias de esquerda, ou também porque é preciso fingir que há democracia não muda nada do resultado do seu Governo de Esquerda.
E depois perguntam porque é que a Direita não tem programa.
Porque raio há de ter, o objectivo é sempre sacar mais e mais tal como a Esquerda.
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V. Exa quer ser e é rei. Assim seja em sua casa.
Mas em relação aos seus argumentos vale isto:
Hilariante é só a sua falta de cultura, de saber, e o seu modo de trabalhar e pensar: perverso. O que você oculta, não menciona, por ignorância ou incompetência, os seus ataques ad hominem (coisa mais atrasada e vergonhosa e indigna de qualquer trabalhador bom).
Facto é: o liberalismo de café nunca irá governar em Portugal, porque os bananas da esquerda nunca o irão permitir. Todo o seu comentário é falso. V. Exa nem sequer sabe definir.
Eu quero a proibição imediata de toda a esquerda, do Bloco dos Perversos aos fascistas da esquerda, e o culto da morte ambientalista. Esses que apontam o dedo aos honestos, para ocultar os crimes de toda a esquerda: Cuba, Venezuela, China, África do Sol (o racismos nojento dos pretos) e muito, muito mais.
Quantos seminários visitou para aprender a argumentar sem norte? È fácil fazer-lhe o juízo. Só engana a quem quer ser enganado.
Liberalismo em Portugal nunca será possível, com esses idiotas que querem que o malandro ganhe tanto como o produtivo. E que os idiotas governem sobre os produtivos. Desde o 25 de Abril, que assim foi. Os burros a querer mandar nos inteligentes. A Ponte de Salazar vai sobreviver esses brutos.
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Lá está o Rui a querer convencer toda a gente que não é socialista de que o melhor que os liberais podem fazer se alguma vez chegarem a governar o retângulo é serem o mínimo socialistas que conseguirem… É um sintoma da “matrix” (referência ao filme, se não viram, vejam que é bom) vermelha a que o país está ligado há décadas.
Caro Rui, se um partido assumidamente liberal, – vamos lá pôr um nome na hipótese puramente académica: a Iniciativa Liberal – ganhasse eleições, o país que iria governar seria necessariamente muito diferente do que temos hoje, logo mais propenso a apoiar medidas liberais. E, independentemente disso, eu esperaria que um governo liberal tomasse medidas liberais ou, na impossibilidade de o fazer (porque, por exemplo, o TC, na sua visão socialista de uma constituição socialista, não o permitisse) que ficasse quieto e não fizesse nada, coisa que é muito melhor do que fazer caca.
O PPC foi o melhor PM que eu vi (não vi para lá do Soares) e ao mesmo tempo, foi uma merda. Mais um ligado à matrix, apesar do cabo lhe fazer comichão na nuca. O raciocínio “o TC não deixa cortar gastos ou despedir funcionários públicos? Bora aumentar o IRS até ao camandro” é coisa que não passaria pela cabeça do Carlos Guimarães Pinto, presumo eu.
“Ah, mas é preciso ser socialista (aumentar impostos) para agradar à UE.” Outra vez a matrix a falar. Um exemplo concreto: se a Irlanda (na pior posição negocial: de mão estendida) fizesse tudo o que os socialistas de Bruxelas queriam, tinha subido o IRC.
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