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Tens falta de dinheiro? Torna-te em “leitura obrigatória”

2 Janeiro, 2019

Acabei de comprar um livro com 16 páginas (inclui as “intencionalmente deixadas em branco”). Custou 8,80€, ou, em linguagem de saloio, 1.47% do novo salário mínimo nacional (o equivalente, em linguagem de gente, a oito cheesburgers no McDonalds e um café). Trata-se da 15ª edição de uma obra que diz na capa “leitura obrigatória” e “6º ano”. Fora a capa, a contra-capa e a biografia dos — ahem — autores, possui, no seu corpo de texto, exactamente 852 palavras, pelo que cada uma delas tem, naturalmente, para mim, o custo de 1,033 cêntimos.

Não sei quantos alunos frequentam o 6º ano. Vou supor que o número de alunos em 2017 se distribuem uniformemente do primeiro ao nono ano, originando então uns 95 mil a frequentarem o 6º. Vou supor que a 15ª edição da obra foi vendida 50 mil alunos durante os 15 anos em que eventualmente foi “obrigatória”, orginando, então, um total de vendas de 750 mil unidades a 8,80€ ou seja, 6,6 milhões de euros. Isto dá 7746€ por cada palavra da obra até ao momento, um lucro de aproximadamente 7500% por palavra.

Obrigado, Leya. Obrigado Ministério da Educação. O Manuel Alegre e o filho também têm direito a uma renda. E assim se aprende, em “As Naus de Verde Pinho”, para não mais esquecer, o quão a viagem de Bartolomeu Dias foi uma valente asneira (mas lucrativa).

14 comentários leave one →
  1. procópio permalink
    2 Janeiro, 2019 19:56

    Se possível o miúdo deveria transitar o mais rapidamente possível para a ST. JULIANS SCHOOL ou o ST. PETER’S INTERNATIONAL SCHOOL, seguir o programa que lhe permitirá ser gente, aceder ao mercado internacional.
    Se não puder, tá lixado, a menos que o pai ingresse na maçonaria. Se as portas tiverem fechadas, ou se for acometido pela vergonha, o puto, tá mesmo lixado, coitado do puto, não tem culpa nenhuma. Vai andar a queixar-se toda a vida. Sim, poderá tentar a sua vez de ingressar na maçonaria já adulto… “Mas porque é que o meu pai não tentou a sua vez, só o tempo e a trabalheira que me poupava”!

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  2. 2 Janeiro, 2019 20:09

    Nunca pensei que fosses tão longe na estupidez.Os livros de leitura obrigatória estão na Biblioteca para serem lidos na sala de aula.

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    • António Queirós permalink
      3 Janeiro, 2019 10:13

      ahahahahahahahahahaha…… só se for na sua.

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  3. 2 Janeiro, 2019 21:01

    Não fazia ideia.

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  4. procópio permalink
    2 Janeiro, 2019 22:05

    Estupidez pelos vistos é não promover a “superestrutura”, pôr em causa o livro único, escolhido a dedo, lambusado de ideologia caduca. Inteligência será pois “promover o debate intelectual para aumentar a consciência” da prole em jeito de prepotência.
    A “hegemonia” tem que ser invertida, a favor dos “iluminados”. E está a ser.
    Nem sempre se pode governar pela coerção e pelo medo, embora haja dinossauros que apoiassem o método consagrado dos sovietes. Lideraram a tentativa de golpe de estado voluntarista do 25a quebrada pelos patriotas do 25n, caídos no esquecimento. Chiu, caluda!
    O golpe não resultou em cheio. Há quem se canse de esperar. Cabecinhas mais espertas começaram a apostar na “transformação da consciência de massa” do corcundinha da Sardenha. Inspiram-se na batalha prolongada de “guerra de posições”. Os sindicatos a assumir papel relevante, os programas escolares a inspirar ignorância e desmotivação confrangedoras. Uma guerra em que os chamados intelectuais orgânicos, colados ao ministério ao longo dos anos, desempenham papel significativo, apoiados por jornalistas vagabundos, chefes de redacção e por filósofos caducos.
    O resultado é o que se vê, uma multidão de tótós, benvindos os tótós que vão votar em nós, perguntem-lhe o que pensam das escolas.
    Uma minoria lá se vai safando na hecatombe celebrada pelo programa Pisa, muitos deles emigram logo que podem. Proibi-los? Estou cá para ver.

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    • Paulo Valente permalink
      3 Janeiro, 2019 00:37

      “benvindos”? Creio que Benvindo é um nome próprio…

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  5. Paulo Valente permalink
    3 Janeiro, 2019 00:17

    Para vitorcunha, excelso poeta e prosador, a literatura vende-se a metro. Mas coitado, compreendo-o, apenas com a 4a classe não deverá ter meios para adquirir tão caro livro.
    Não se preocupe, o seu filho encontra-lo-á certamente na biblioteca da escola, e caso ele deseje possuir uma cópia pessoal (pois deve ter um pouco mais de testa do que o pai), bastar-lhe-á fazer uma pequena busca na internet, para encontrar um pdf da obra.

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  6. procópio permalink
    3 Janeiro, 2019 00:23

    vitor, pode estar descansado, com o pdf tudo se resolve.

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  7. Filipe permalink
    3 Janeiro, 2019 09:14

    Mais 3 posts destes e o VC já pode escrever um livro.

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    • lucklucky permalink
      3 Janeiro, 2019 12:56

      Pode mas não o obriga a comprar. Na existência ou não de coerção está a diferença.

      Liked by 1 person

      • Zé Manel Tonto permalink
        3 Janeiro, 2019 19:44

        lucklucky, acha que esta tropa fandanga percebe isso?

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  8. Velho do Restelo permalink
    3 Janeiro, 2019 10:20

    A análise parece-me interessante, mas como sou mesmo saloio, agradecia um pequeno esclarecimento :
    – Na indexação ao “salário mínimo nacional” usou o “privado” ou o “público” ?
    É que parece que agora há dois SMN! Finalmente assumem que de facto não somos todos iguais, e por isso há os cidadãos de 1ª (funcionários públicos) com um salário mínimo de 635€ , horário de 35h, ADSE, direito a greve sem despedimento, enquanto que os cidadãos de 2ª (privado) com salário mínimo de 600€, horário de 40h e se quiser algo mais que o SNS pode sempre tentar fazer um seguro de saúde (se o patrão não o oferecer), mas se tiver mesmo falta de saúde o mais certo é a seguradora o mandar bujiar.
    Como ainda não mudaram a constituição, será que não por aqui umas inconstitutus…?

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    • lucklucky permalink
      3 Janeiro, 2019 12:59

      O IRS é inconstitucional o artigo 13 proíbe a discriminação devido a capacidade económica por exemplo.

      É até bem provável que partes da Constituição sejam Inconstitucionais tais as contradições dos nossos “sábios” de letras…

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