Saltar para o conteúdo

“História” concisa, aproximada e descontraída de Portugal (2)

17 Janeiro, 2019

portugal.a2016198.1345.250m

 

Quem olhar para uma fotografia de satélite da Península Ibérica ou para um daqueles mapas físicos incluídos nos livros escolares, percebe facilmente que as maiores diferenças visíveis não são entre Portugal e Espanha, mas entre grandes áreas que atravessam fronteiras: a mancha verde que se encontra a noroeste engloba o Minho e a Galiza; a Cordilheira Central que passa perto de Madrid prolonga-se até à Serra da Estrela; a cor dourada de que se veste a paisagem alentejana também é moda na Extremadura espanhola. É verdade que, tal como muitas vezes ouvimos da boca de governantes orgulhosos, Portugal é o país com as fronteiras mais antigas da Europa, mas devemos ter em atenção que essa linha, com algumas excepções (umas dezenas de quilómetros do rio Minho e aproximadamente uma centena de quilómetros do rio Guadiana, por exemplo), foi desenhada por políticos e não pela natureza.

Quase ninguém resiste, quando aborda esta temática, a referir os trabalhos de dois autores fundamentais da historiografia nacional: Orlando Ribeiro e José Mattoso. Também não serei eu a resistir. No seu Portugal, o Mediterrâneo e o Atlântico, Orlando Ribeiro mostrou-nos os grandes contrastes existentes no nosso “rectângulo” continental, dividindo-o em três grandes zonas – Norte Atlântico, Norte Transmontano e Sul – que se distinguem pelo clima, relevo ou culturas agrícolas. É por causa desta diversidade que um turista que pretenda percorrer todo o território português durante as férias da Páscoa poderá tomar, no mesmo dia, um agradável banho matinal de mar no Algarve e um não tão agradável banho nocturno de chuva gelada no Gerês. Uns anos depois, José Mattoso completou o raciocínio do influente geógrafo. Com o ensaio Identificação de um País a dualidade norte-sul foi estudada historicamente, dos aspectos religiosos aos familiares, passando até pelos contrastes ideológicos mais recentes. O texto é de 1985, o nome “cavaquistão” ainda não estava colado à pele de algumas das zonas localizadas a norte da Serra da Estrela, mas já se notava bem, nos resultados eleitorais pós-74, o contraste que estas faziam com um Alentejo pintado a vermelho pelo PCP.

Se é certo que actualmente, décadas volvidas sobre os dois estudos, o contraste mais dramático deixou de ser entre as montanhas do norte e as planícies do sul e passou a ser entre o litoral urbano (para onde os políticos normalmente direccionam os dinheiros públicos) e o interior rural (para onde os políticos normalmente direccionam os discursos bonitos), também é verdade que se mantém totalmente em vigor o carácter plural do país.

 

6 comentários leave one →
  1. 17 Janeiro, 2019 09:59

    Segunda “História” muito interessante.

    Mas…e as Berlengas, carago ?

    Gostar

    • Velho do Restelo permalink
      17 Janeiro, 2019 11:32

      Então e a do Pessegueiro compadre? Olha moenga, pode parecer uma alcagoita mas também é uma ilha !

      Gostar

      • 17 Janeiro, 2019 12:54

        A Ilha do Pessegueiro não é território português desde que preferiu separar-se do continente em 1755 com medo de novo terramoto junto à costa, que a atingisse.
        Tem como hino a cançoneta do Rui Veloso, vive do turismo, da pesca, tem um PIB controlado e crescente devido ao elevadíssimo imposto cobrado a quem quiser fazer nudismo.

        Gostar

  2. Luís permalink
    17 Janeiro, 2019 17:32

    Nas últimas décadas o Litoral Norte urbanizou-se, e as zonas urbanas viraram um pouco à Esquerda. Coimbra, por exemplo, é um ninho de comunistas e socialistas, devido à acção de vários professores universitários e do associativismo académico. No Porto ou em Braga surgiram fãs do BE e parte das classes mais baixas votam PS, embora os mais velhos continuem a rejeitar o PCP: são resquícios da influência da Igreja (boas influências, diria eu). Mais fiéis à Direita permanecem os distritos de Leiria e de Aveiro, por terem muitas PMEs, ou os distritos de Vila Real, Bragança e Guarda. O Algarve tem um quadro muito complexo, mas Passos não ganhou a região por não ter retirado as portagens da Via do Infante. Estando o Alentejo perdido, a Direita tem de recuperar as áreas urbanas do Litoral Norte, os Açores e trabalhar para ganhar o Algarve.

    Gostar

    • 17 Janeiro, 2019 20:10

      E na Madeira (não é certa a recondução do Albuquerque) ? Nas Ilhas Selvagens ? Mais as ilhotas junto a Vila Franca de Xira ?
      E nas Berlengas, carago ?
      (O ilhéu do “rei” junto à Madeira tal como a Ilha do Pessegueiro são territórios independentes)

      Gostar

  3. Luis Gonçalves permalink
    17 Janeiro, 2019 21:43

    Há mais ninhos….o ISCTE..a UBI….com catedraticos brasileiros!

    Gostar

Indigne-se aqui.