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A quem interessa a degradação da PSP e GNR?

10 Março, 2020

Foi chocante assistir à reportagem da SIC que nos dava conta do estado degradante a que chegaram as condições de trabalho das nossas forças de segurança: instalações nojentas escurecidas com as infiltrações de água, em ruínas e com ratos; equipamentos obsoletos, outros fora de prazo ou inexistentes, a terem de ser adquiridos pelos próprios policiais; carros patrulha sem seguro, sem manutenção, sem combustível.  Assim de repente pareciam imagens da polícia cubana.

Mas há mais: como se pode ver pelas notícias que nos chegam todos os dias, hoje aplaude-se os criminosos mais depressa do que se enaltece um agente que arrisca a vida todos os dias pela nossa segurança. Foi o que se viu com a visita vergonhosa de Marcelo ao Bairro da Jamaica antes de visitar as nossas forças de segurança agredidas; o processo disciplinar pela foto de criminosos em fuga, capturados; a prisão de Hugo Ernano por matar involuntariamente, em serviço, numa perseguição a criminosos.  Como se explica que, depois de tanta luta por uma polícia que fosse respeitada e impusesse a ordem necessária ao bom desenvolvimento de uma sociedade, se chegasse a este retrocesso, com os políticos e a comunicação social sempre mais do lado dos agressores e esquecendo o total apoio aos policiais?

Um pouco de História ajuda-nos a compreender. O primeiro corpo de agentes policiais foi criado por D. Fernando I em 1383 e designavam-se por  quadrilheiros. Estes eram recrutados à força e escolhidos pela sua robustez física, mas não recebiam qualquer remuneração sendo compensados apenas  com a dispensa de trabalho nas obras públicas e pagamento de impostos. Não resolveu nada.

Foi com o pós-terramoto de 1755 que nasceram muitas resoluções e leis para manter a ordem pública como  freio dissuasor à anarquia galopante.  Marquês de Pombal, pela lei de 25 de Junho de 1760, criou um organismo que centralizava todas as leis já publicadas: a Intendência da Polícia da Corte e do Reino.  Ao Intendente  deu mais poderes que ao próprio Governo. É aqui que nasce o termo polícia. Porém, numa primeira fase pouco resolveu, dado que se focou mais na perseguição aos que falavam mal do Rei, do Governo e de Pombal (onde foi que eu já vi isto?). Ou seja, uma espécie de polícia “política”. Devido ao estado caótico da criminalidade que se mantinha, a Rainha D. Maria I, através do  Decreto de 18 de Janeiro de 1780 nomeou novo Intendente, Pina Manique, um  antigo juiz do crime do bairro do Castelo de S. Jorge. Com este procedeu-se a uma purga nos serviços policiais: grande número de criminosos são presos e bairros suspeitos de Lisboa são limpos de marginais; reorganizou os serviços; impôs o respeito da população ao Departamento; fundou a Guarda Real de Polícia em 25 de Dezembro de 1801, um corpo militarizado a cavalo;  iluminou a cidade de Lisboa; criou casas de correcção e a Polícia Sanitária para as prostitutas; criou a Guarda das Barreiras, sendo mais tarde substituída pela Guarda das Alfândegas. Depois, em 1808, o General Loison, a mando do Intendente-Geral da Guarda Real de Polícia institui a Polícia Secreta.

Em 1823 é criada, pelos liberais, a Guarda Nacional, e a 23 de Junho de 1824 é instituída uma nova polícia secreta, a Polícia Preventiva.

Em 21 de Agosto de 1826 foi extinta a Guarda Real de Polícia. Uma vez  extinto o cargo de Intendente-Geral da Polícia, todos os serviços de polícia passaram a cargos de Prefeitos (mais tarde designados de Governadores Civis). A 18 de Abril de 1835 foi o Reino dividido em 17 Distritos Administrativos, tendo cada distrito um Governador Civil, sendo dividido em Concelhos e os Concelhos em Freguesias ou Paróquias. Assim,  os Governadores Civis eram os chefes supremos da segurança pública.

Em período de grande confusão política e social resultante das lutas entre liberais e absolutistas é suprimida a Guarda Real de Polícia e substituída pela Guarda Municipal, e em 1846 extinta a Guarda Nacional. Apesar desta amálgama de instituições e legislação durante 7 décadas do séc. XIX nenhuma lei deu resultados positivos e a desordem continuava. Os guardas e juízes sentiam-se traídos porque não havia condenações e ainda eram ameaçados. Chegou-se ao cúmulo de, na cidade do Porto, em 1865, o jornal “O Demócrato” ter ridicularizado os agentes da autoridade nortenha, chamando-os de “coitados” e “desgraçados” como eram apelidadas as meretrizes à época (onde é que eu já vi isto?).

Foi com este estado verdadeiramente doentio que o Rei D. Luis fez publicar, em 2 de Julho de 1867, a lei que criou em Portugal o Corpo de Polícia Civil. Com o nascimento desta nova instituição, estavam lançadas as bases, longínquas, para a criação da actual Polícia de Segurança Pública.

A Polícia, que tinha sido dissolvida a 6 de Outubro de 1910,  “renasce” a 9 de Outubro de 1910, sendo nomeado seu Comandante o Major Alberto Carlos da Silveira. Em 29 de Abril de 1918 cria-se a Direcção-Geral de Segurança Pública, que superintendia os Corpos de Polícia Civil de Lisboa e Porto, a Polícia de Investigação Criminal, (que originará a actual Polícia Judiciária) e a Guarda Nacional Republicana, sendo todas estas corporações dependentes do Ministério do Interior.

Por aqui se conclui que as forças de segurança resultaram dum esforço de organização contra a anarquia, o caos e  a insegurança, que perdurou durante séculos.

A quem interessa o regresso ao país do caos e anarquia social? Aos que dele tiram proveito próprio  para  surgirem como “salvadores nacionais”,  aumentando os seus poderes para impor uma nova ordem e assim eternizarem-se nos cargos públicos: os ideólogos de esquerda. Porque o caos favorece a implementação de ditaduras. E o socialismo é só o meio para lá chegar.  

12 comentários leave one →
  1. 10 Março, 2020 18:32

    “Adquiridos pelos próprios policiais.”
    “Policiais”, Cristina? Apesar de tudo o que se está a passar aqui, isto ainda não é o Brasil.

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  2. Castrol permalink
    10 Março, 2020 19:15

    Isto há muito que deixou de ser um País para ser um pardieiro mal frequentado…

    Só uma hecatombe que não deixe pedra sobre pedra desta III República, poderá mudar o estado das coisas e as coisas do Estado.

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  3. MJRB permalink
    10 Março, 2020 20:49

    O P”S”, sempre que esteve no poder, retirou “meios”, cortou verbas, desmotivou polícias, desprezou magistrados, perturbou investigações. Não por acaso.

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    • José Monteiro permalink
      10 Março, 2020 20:59

      Mas carregou mais generais e oficiais superiores, como digo adiante.

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      • MJRB permalink
        10 Março, 2020 21:23

        Obviamente para os serenar e influenciá-los para cumprirem o que convém aos “socialistas”.
        O P”S”, os “socialistas” (nem todos, sejamos justos), é cada vez mais uma seita muito bem organizada e com proveitos despudorados — actualmente sob a asa protectora do MCThomaz, o DDT(Deus Dos Tolos).

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  4. José Monteiro permalink
    10 Março, 2020 21:19

    « instalações nojentas escurecidas com as infiltrações de água, em ruínas e com ratos»

    Não sendo assim no posto da minha aldeia-vila (Silvares-Fundão), instalado numa vivenda familiar alugada, quando eu dizia há duas décadas: há que tirar os alunos da escola primária a uma centena de metros (construção Estado Novo), colocá-los na nova escola EB ((é proibido, ouvia dizer!)), agora já ali colocados!
    Acabando por ser encerrada há anos, ainda desocupada…
    A saber, em vez de uma instalação rápida, o Comando da GNR & Ministério da AI, devem andar ocupados com um qq grande Plano-Lei Quadro de Programação de Instalações…
    Quanto à GNR, e a marca antiga do PS, nomeadamente António Costa MAI (com Sócrates):

    «Um total de sete oficiais-generais (1 Gen, 3 Ten-Gen, 3 Maj-Gen) em substituição dos anteriores quatro (1 Ten-Gen, 3 Maj-Gen). Quem falou em racionalização da administração central?
    Os grupos territoriais (distritais) – actualmente de comando de tenentes-coronéis – passarão a ser comandados por coronéis ou tenentes-coronéis e os destacamento – actualmente de comando de capitães – por majores ou capitães. Enfim, mais um aumento significativo do número de oficiais superiores depois de em 2002 (Governo de António Guterres – Decreto-Lei n º 15/2002) terem sido já aumentados em 55% (de 208 para 324). Mais uma vez uma questão de racionalização!»
    A REFORMA DA GNR (Monteiro Valente, major-general, licenciado em História) -ano da Graça de 2007-António Costa MAI & estudo pago a consultora.

    PS: ano seguinte à reforma de 2007, com a tentação de parar por um ano, a formação de guardas na Escola da Guarda em Portalegre do Alto Alentejo cidade…Tinha nascido no governo uma ‘nova’ forma de poupança.
    A bem do Regime.

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  5. JgMenos permalink
    10 Março, 2020 23:46

    «…para surgirem como “salvadores nacionais”, aumentando os seus poderes para impor uma nova ordem e assim eternizarem-se nos cargos públicos…»

    Se assim fosse sempre se diria que havia um projecto, mas não: é pura cretinice lambuzada de pós-modernismo!

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  6. Liberal de Bancada permalink
    11 Março, 2020 05:59

    A degradação da PSP e da GNR interessa aos socialistas porque é a forma mais rápida de criarem um papão fascista que lhes sirva de inimigo e lhes dê fôlego.

    Como se vê, estão a conseguir.

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  7. José Reis permalink
    11 Março, 2020 08:04

    “O caos favorece a implementação de ditaduras e o socialismo é só o meio para lá chegar”.
    Concordo totalmente. E a pretexto desta degradação das condições da PSP e da GNR, como já acontece nos hospitais com os médicos e enfermeiros, ou nas escolas com os professores e auxiliares, vai-se criando um “caldo” de impunidade e anarquia na sociedade portuguesa que, desabituada já de pensar pela sua cabeça, prefere a ligação em rede pela “mioleira formatada” dos outros.
    Tenho esperança que o comandante Magina da Silva, oriundo dos GOI e com pleno conhecimento e experiência no terreno, possa enfrentar o laxismo e o desleixo da opinião reinante contrapondo a determinação da acção, sem contemplações, em prol de um Estado de direito seguro e protegido.

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  8. Andre Miguel permalink
    11 Março, 2020 08:39

    O socialismo serve para alimentar a casta, nunca o povo. Segurança, saúde e educação são a ultima das suas prioridades. Mas os liberais e capitalistas é que somos o diabo em forma de gente… País de amebas que só tem o que merece!

    PS: sou só eu a ter a sensação que esta pandilha que nem se consegue organizar para combater um incêndio anda aos bones com o coronavirus?

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    • MJRB permalink
      11 Março, 2020 11:59

      Antes do Corvi-19, a administração e governança da Saúde já era um pré-caos sob “orientações” da atabalhoada e incompetente Temido, incluindo as tentativas crescentes de extermínio do SNSaúde. Portanto, com esta crise, praticamente tudo o que tem estado mal gerido (e a falta de investimento no sector) piorará e revelará aos tugas a realidade.
      Também nesta caso, vão usar todos os meios para iludir-nos.

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