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As pessoas pastilha-elástica

29 Maio, 2020

Comecei a ver a interessante série Netflix “Trial by Media”. Deixando pontas soltas e ângulos por explorar, dificilmente classificaria esta série documental como excelente, mas, apesar das limitações, é bastante interessante por trazer à tona material que permite a discussão sobre o papel dos média e a ruptura que podem causar na opinião pública acerca do julgamento de um crime.

No quinto episódio, sem contar, deparei com uma história conhecida, a da Cheryl Araújo, a jovem violada em grupo num bar de New Bradford, Massachusetts, nos início dos anos 80 e que serviu de inspiração ao filme de 1988 protagonizado por Jodie Foster, The Accused. É um caso que é paradigmático por vários factores, desde a legitimidade para a divulgação do nome de vítimas até ao esmiuçar na praça pública de eventuais comportamentos que de alguma forma sirvam para atribuir culpa à vítima do crime que ela própria sofreu. Contudo, o aspecto que quero trazer à baila é o do orgulho de manada. A tribo.

Após a condenação de seis homens – Victor Raposo, John Cordeiro, Joseph Vieira, Daniel Silva, Virgílio Medeiros e José Medeiros – a comunidade portuguesa e de luso-descendentes do Massachusetts saiu à rua em indignação. Crendo que a caracterização dos condenados como “portugueses” colocaria em causa toda a comunidade lusa em território norte-americano, a certa altura no documentário ouve-se alguém questionar, parafraseando: “não bastaria dizer serem homens, era mesmo necessário dizer que eram portugueses?”

Durante as manifestações podiam ver-se cartazes afirmando que o julgamento foi injusto, assim como macabros cartazes de “was she willing?” e “it wasn’t murder it was consent [sic] sex!!!”. Entre cânticos de “o povo unido jamais será vencido”, toda uma comunidade saiu à rua para condenar a atribuição de pena a uns homens, que por serem portugueses, nunca deveriam ser condenados por violar alguém à vez numa mesa de bilhar: se houve sexo foi porque ela o instigou, crêem os manifestantes.

Quando atribuímos crimes “aos ciganos” ou “aos muçulmanos” devemos mencionar a etnia ou a religião? Enquanto uns acham que sim, outros acham que é uma generalização abusiva para grupos heterogéneos como “os portugueses”, ou “os ciganos”. Porém, há generalização mais abusiva do que duvidar que uma vítima de violação – e é indiferente se usava mini-saia, se estava nua ou se inicialmente estaria disposta a flirtar ostensivamente com fosse quem fosse – possa colocar em causa a honra de toda uma nação apenas pela origem dos criminosos, levando até a desculpar criminosos como vítimas que meramente cederam num “pequeno deslize”?

Só há uma forma de evitar este horror: é que as denúncias dos horrores partam dos próprios grupos, das próprias tribos. Contrariamente aos portugueses de Massachusetts que sairam à rua para defender violadores, deveriam ter saído em defesa da sua comunidade, que só é conseguida manifestando o imenso repúdio pelos actos de membros dessa comunidade. Quando ciganos, muçulmanos, portugueses ou católicos se insurgirem contra os lobos dessas próprias comunidades, aí sim, poderemos acabar com generalizações. Até lá, a única atitude racional é aquela a que qualquer Mamadou Ba chamará de racismo ou de xenofobia.

Fiquei a saber que nenhum dos homens condenados pela violação de Cheryl Araújo cumpriu pena superior a seis anos. Fiquei também a saber que Cheryl morreu em 1986, aos 25 anos, apenas dois anos após o julgamento, sem qualquer atenção mediática dedicada ao facto. Como a pastilha elástica: mastiga-se e quando perde o sabor deita-se fora.

18 comentários leave one →
  1. Zé Manel Tonto permalink
    29 Maio, 2020 16:47

    Nos anos 80 na América havia tomates para dizer que o grupo de violadores eram portugueses, fosse isso relevante para o caso, ou não.

    No século XXI não há tomates para referir a origem dos criminosos, mesmo quando a origem (nacionalidade, raça, religião, etc.) é relevante e peça fulcral nos crimes e escolha das vítimas.

    Por isso em Inglaterra se fala de Asian Grooming Gangs, e não de mouros violadores de crianças.

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    • Jornaleca permalink
      29 Maio, 2020 18:08

      Pelo menos 1.500 (mil e quinhentas) crianças no norte do Reino Unido, em Rotheram.

      O governo de Boris Johnson prometeu estes dias atrás uma actualização sem piedade dos crimes, cometidos por elementos muçulmanos, da comunidade muçulmana, do falso profeta, que já adorava fazer o mesmo, e que apoia isso mesmo, escravizar e humilhar a todos, que não são muçulmanos, na versão do Paquistão.

      Não é igual qual comunidade comete o crime. É a mentira total, a traição total. Faz muito sentido pois.

      O crime à tal Cheryl Araújo foi tratado como um assunto da comunidade portuguesa, porque foram só portugueses entre si. Correcto? Foi justo falar dum crime da comunidade portuguesa.

      Agora o que admira muito, é que os grandes defensores dos direitos humanos, no Reino Unido, andaram anos e anos caladinhos, de uma maneira vergonhosa, a ocultar os crimes da seita mais mortífera do mundo, porque tinham medo deles, do islão, com os quais eles tanto gostam de conviver.

      A canalha da esquerda é muita falsa.

      A canalha da esquerda também oculta os crimes diários dos perversos, dos não-heterosexuais e das lésbicas com os menores.

      A falsidade e falta gritante de justiça da esquerda totalitária é um sério problema e vai destruir esta sociedade e levar a uma guerra profunda onde toda a esquerda vai levar nos cornos.

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  2. Jornaleca permalink
    29 Maio, 2020 17:54

    A mim interessa-me só, quem destruiu a justiça. Quem foi?

    A mim não me interessa um corno o que os portugueses e não-portugueses pensam daquilo.

    Eu até castigava a aqueles que apoiaram esses criminosos nas ruas: outro esterco humano.

    Eu castigava o juiz.

    Eu castigava a aqueles, que só deram seis anos de cadeia a aqueles seis porcos, que nem os cumpriram.

    Deram cabo da vida de uma mulher. Morreu jovem.

    Eu quero a justiça perfeita de volta.

    Os cabrões do 25 de Abril não a vieram restabelecer. É o que vemos hoje.

    O cúmulo da hipocrisia é falar de justiça e ser ateu. Esses também devem ser castigados.

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  3. MJRB permalink
    29 Maio, 2020 18:08

    Óptimo, VCunha.

    Ontem e hoje em Portugal, mais uma no mínimo sacanice de certa comunicação social: Desde o condenável ataque à Academia do SportingCP, em Maio de 2018, o Bruno de Cravalho foi logo condenado não só pela opinião pública, mas sobretudo pelo Correio da Manhã (manchetes e mais manchetes) e pela CMTV. Programas diários e repetidos, uma jornalista incontrolável, opiniões de Moita Flores e de outros ex-inspectores da PJ, de comentadores desportivos e não só, também por Rui Pereira, prof universitário, ex-ministro da Administração Interna do Sócrates e ex-membro da direcção do Vieira “do” SLBenfica…”Terrorismo !”, chegou este a acusar.
    Ontem, o BdeCarvalho foi ilibado. Alguma manchete do CManhã ? Só isto, num pequeníssimo (o mais pequeno) rectângulo na capa: “Terror em Alcochete-agressor de Bas Dost com pena suspensa”, agressor, que obviamente não foi BdC. Programas especiais na CMTV ? Nenhum, só com notícias…normais acerca da decisão do tribunal.
    E continuam incólumes, para vitimizarem “famosos” e não só. Fazendo parte da manjedoura-15 milhões, o que mais surgirá…
    PQP !

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  4. MJRB permalink
    29 Maio, 2020 18:36

    Sobre a Direita tuga (não só a actual), aconselho que leiam a opinião do Rui Ramos, in Observador de hoje.
    (“Desestabilizador”, “esquerdóide qb”, pensarão alguns ?!).

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  5. Liberal de Bancada permalink
    30 Maio, 2020 08:20

    “Só há uma forma de evitar este horror: é que as denúncias dos horrores partam dos próprios grupos, das próprias tribos. Contrariamente aos portugueses de Massachusetts que sairam à rua para defender violadores, deveriam ter saído em defesa da sua comunidade”

    Então e quanto ao indivíduos dessas comunidades que simplesmente… não saem à rua?
    O que é que eles têm a ver com isso?

    Há uma outra forma de evitar o espírito de manada: é não fazer parte dele.

    Trabalharmos para reconhecermos a importância e o valor do indivíduo, certo? Contra os Mamadus desta vida.

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    • chipamanine permalink
      30 Maio, 2020 19:46

      Na África acontecia uma coisa parecida com as manadas de búfalos quando por acaso uma manada se cruzava com a outra. A primeira achava que a segunda manada era uma manada e a segunda achava que a manada era a primeira. Na especie humana acontece o mesmo. Uma manada acha sempre que os outros é que são manada. Diferença é que entre os bufalos eles não achavam diferenças. Já entre os humanos há sempre uma manada que se acha com “valores mais elevados” que o resto das outras manadas.

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  6. chipamanine permalink
    30 Maio, 2020 10:27

    Sobre a esquerda no mundo é ler José Milhases, no Observador

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  7. Filipe Bastos permalink
    30 Maio, 2020 17:02

    “Há outra forma de evitar o espírito de manada: é não fazer parte dele.”

    Nem mais. O Liberal de Bancada acertou na proverbial cabeça do prego.

    Quase todos, até ‘liberais’, querem fazer parte de manadas. Ou de rebanhos. Política, bola, religião, adoração de bandas e géneros musicais, actores e ‘celebridades’, participação em protestos e movimentos, seja a favor ou contra, todos estão ansiosos por fazer parte de algo.

    Alguns, sobretudo esquerdistas, adoram andar de punho no ar em manifs e passeatas. Outros passam a vida em blogs e fóruns onde todos concordam e pensam parecido. Nem se dão conta do seu carneirismo e desejo de aceitação. Basta ver esta casa: quase todos repetem as mesmas ideias.

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    • Andre Miguel permalink
      30 Maio, 2020 22:52

      Vê-se bem que andas aqui há pouco tempo, não te deste conta das inúmeras polémicas e divergências, algumas bastante acesas, entre os frequentadores assíduos do local…

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  8. Expatriado permalink
    30 Maio, 2020 19:40

    Embrulha!!!

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  9. Expatriado permalink
    31 Maio, 2020 00:34

    Como resolver a questão actual nos EUA. Fala quem sabe da poda.

    https://video.foxnews.com/v/6160557683001?playlist_id=5198073478001#sp=news-clips

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    • Jornaleca permalink
      31 Maio, 2020 01:06

      Os irmãos dos nossos porcos e corruptos do Largo do Rato, a esquerda totalitária, esta a tentar a incendiar o povo, através de intrigas.

      O polícia portou-se perfeitamente.

      É bom lembrar o crime que está a suceder nos EUA.

      O preto que morreu é um vigarista, um criminoso, que estava cheio de drogas.

      As putas e serpentes querem permitir, que todo o mundo possa votar em Novembro de 2020, para assegurar, que só a esquerda putana e totalitária ganhe as eleições.

      E querem proibir, que alguém controle, que os votantes.

      Sim, sim. A esquerda quer falsificar as eleições.

      Já o fizeram assim na Califórnia, nos mesmos EUA. Sim senhor.

      E pior. A nossa esquerda está a preparar coisa semelhante para a Europa.

      Quer dizer, até os russos e os chineses, que nunca puseram um pé nos EUA vão poder votar. Mas têm que votar contra Trump.

      Haverá alguma coisa mais podre no mundo, do que aqueles, que enfiam a cenoura no cu do outro, como esta esquerda porca e corrupta?

      A guerra já começou.

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      • Zé Manel Tonto permalink
        31 Maio, 2020 10:06

        “O polícia portou-se perfeitamente.”

        Aguardemos pela investigação chegar ao fim.

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  10. 31 Maio, 2020 01:51

    Esta cena do género, do assédio, do abuso, da violência, está tão cheia de estereótipos e armadilhas…e os jornais e os sites e os canais cheios de prostituição, massagens, as novelas são exercícios de sacanagem disto e daquilo que só resta a ambição de encontrar r um pequeno universo sadio.

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  11. 2 Junho, 2020 12:00

    Era só para dizer senhor vitor, que não se preocupe que o dinheiro que você envia para a Netflix está a ser bem investido. Digamos que quanto mais dinheiro o senhor Vitor enviar para a Netflix, mais o mamadou lhe agradece.

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    • 2 Junho, 2020 12:07

      Agradeço a preocupação com a forma como gasto o meu dinheiro. Envie-me os dados para autorizar no banco e terei todo o gosto em o tornar no meu gestor financeiro.

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    • 2 Junho, 2020 12:50

      Muito obrigada pela oferta de trabalho, mas eu sou preguiçoso. A última coisa que quero é ter a meu cargo o peso e a canseira da gestão da vida alheia.
      Experimente falar com o mamadou, para ver se ele lhe pode ajudar. Mas eu acho que ele até é da da opinião, que você um bom gestor e está a fazer um optimo trabalho.

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