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Foi arrasador

4 Janeiro, 2021

Nos países mais tropicais há uma tendência para que a vida quotidiana seja enquadrada como o intervalo entre festas. Portugal, o mais tropical dos países europeus em tudo que não seja clima, não é excepção. Finada a festa da compota entregue em quintais e vãos de escada, somos brindados com um Carnaval antecipado a 24 de Janeiro. Faltam 20 dias, portanto.

Substituindo as decorações natalícias das cidades fantasma e centros comerciais encerrados por scores de popularidade, debates, análises a debates, análises às análises de debate e sondagens sacadas a uma massa de indiferentes perante quem será a rainha que finge ter mão no governo no ano da desgraça de 2021, começamos o ano com a campanha eleitoral mais inconsequente de sempre para o cargo mais estético de sempre no país mais palerminha de sempre.

Se a Covid não explicar o excesso de mortos neste Inverno, decerto que o tédio provocado pela campanha presidencial poderá explicar, pelo menos parcialmente, o aumento de suicídios. Imbuído de espírito de missão para a depressão, decidi assistir ontem ao debate entre o candidato Tiago Mayan Gonçalves e o presidente quase vitalício Marcelo Rebelo de Sousa. Dou os parabéns a Mayan Gonçalves por sair do quentinho da sala de estar para a missão de ir lá correr a maratona contra o Ferrari. Como isto é Portugal, um país que é mais lazer do que competição, o que conta é participar. E como o que conta é participar, todos os que participam são vencedores, como se faz com as crianças do infantário. Saiu-se bem? Ganhou no Twitter, pelo que deve ter corrido bem. No café em São Pedro de Fins não se falava do debate, pelo que parece que o mundo real está mais preocupado com a insuficiência cardíaca da mãe internada num lar. Seja como for, como nada disto é feito para o mundo real e sim para ocupar pilhas de pessoas que de outra forma teriam mesmo que arranjar um emprego decente, posso afirmar com toda a certeza que o resultado foi excelente, a julgar pela quantidade de tinta digital e faladura entre entertainers de rádio.

No fundo, mesmo lá no fundo, o que importa mesmo é que alguém arrasou outro. Pelo menos a mim arrasaram, pelo que não repito a experiência. Parabéns a Marcelo, a Mayan Gonçalves e a todos os outros candidatos que me arrasariam, não tivesse eu mais coisas com que me preocupar ao ponto de perder mais tempo com debates.

6 comentários leave one →
  1. Mauritano permalink
    4 Janeiro, 2021 10:48

    “…campanha eleitoral mais inconsequente de sempre para o cargo mais estético de sempre no país mais palerminha de sempre.”
    Simplesmente brilhante.

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  2. carlos rosa permalink
    4 Janeiro, 2021 10:51

    Notícia do jornal ECO:
    “Governo DÁ aumentos até 20 euros à Função Pública”

    Este jornal é o eco da propaganda do governo ou quê?
    Filhos de uma grandessíssima marrã!
    Porcos!

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  3. LTR permalink
    4 Janeiro, 2021 10:53

    Como diria o Salazar, a solução concretiza-se numa palavra e essa é emigrar.

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  4. Paulo Valente permalink
    4 Janeiro, 2021 12:13

    Estes cronistas, sem nada de útil e racional para nos transmitem, fazem-nos morrer de tédio.

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    • Francisco Miguel Colaço permalink
      4 Janeiro, 2021 16:59

      O significado do texto encontra quem o percebe e a utilidade dele quem lá chega.

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  5. Expatriado permalink
    5 Janeiro, 2021 10:10

    E aqui?

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