O Pavilhão de Portugal
O pavilhão de Portugal na Expo 2008 de Saragoça nem sequer provoca qualquer resquício de frustração na maior parte dos visitantes lusos porque a verdade é que já todos esperam algo do género. Um espaço atestado de conceitos, planeamentos, traçados, metáforas, transições e discursos. Um espaço recheado de modernidade e esvaziado de interesse. Passa-se por lá de fugida e ninguém volta.
O site português da exposição explica o que é o nosso pavilhão. Infelizmente a explicação precisa de explicação. Eu ajudo.
“O Pavilhão é pensado como um todo contínuo no espaço e no tempo.”
Quer isto dizer que o pavilhão está cheio de espaço e vê-se em pouco tempo.
“Assumimos a metáfora primordial do Rio – tema mobilizador do evento – correndo da nascente até à foz – sempre diverso mas mantendo uma personalidade forte e inconfundível.”
A metáfora do rio que corre da nascente à foz será melhor aplicada ao visitante que corre da entrada até à saída. O que mobiliza o visitante neste percurso é saber que em breve terá um outro qualquer pavilhão para visitar.
“Guião expositivo, arquitectura, design, participação artística e dados científicos são fundidos num discurso único, permitindo a imersão total do visitante.”
Actualmente, há dois paradigmas naquilo que Portugal gosta de mostrar ao mundo. Siza e Oliveira. Espaços à Siza Vieira, animação Manuel de Oliveira. Paredes brancas, minimalistas, ângulos rectos, pouca imaginação onde nada se passa. É nestes paradigmas que os visitantes se sentem submergidos. E é essa a razão porque não descansam enquanto não chegam à saída onde, finalmente, respiram.
“Os dois espaços públicos fundamentais do Pavilhão (área expositiva e Portugal Compartilha) marcam dois momentos e duas atitudes distintas de experimentar o espaço.”
É verdade, os espaços compelem o visitante a adoptar atitudes distintas. Na área expositiva experimenta-se um espaço unidireccional, só há um caminho, só há um sentido. Pelo contrário, na área Portugal Compartilha só há uma porta. Tem que se parar a meio e voltar para trás.
“No espaço Portugal Compartilha, pelo contrário, encontramos um lugar polivalente, onde todos os eventos acontecem, de livre utilização, onde o público define os seus níveis de participação.”
Na verdade não há muito a definir. A única escolha que é dada ao visitante é entre vinho, água, coca-cola ou cerveja.
Entrada da exposição
“O átrio é pautado pela presença de caixas de luz (primeiro contacto com a temática expositiva), que em conjunto constitui um espaço de transição para a entrada na área de exposição. Um balcão de atendimento e venda recebe os visitantes, que se podem agrupar de diferentes modos no interior deste espaço.”
Esta última frase é verdadeira. Os visitantes podem agrupar-se em grupos de 2,3,4,5 ou mais pessoas. Também podem ir sozinhos, o que tem uma grande vantagem. Ninguém nos atrasa até à saída. Esqueceram-se de falar na entrada. Parece uma estação dos CTT. É a mais insípida de todas as entradas de todos os pavilhões desta exposição.
Exposição
“O primeiro momento da exposição, a que chamamos ALERTA, desenvolve-se num espaço tubular, onde a presença de imagens projectadas, associadas a superfícies espelhadas e com geometrias irregulares, transportam a um só tempo os visitantes para “cenários-limite”, alertando para os problemas reais que as recentes mutações climáticas provocam. Em simultâneo, outros alertas de natureza científica são apresentados, bem como uma atmosfera sonora que complementa a imagem envolvente.”
É um corredor escuro em que se projectam umas imagens imperceptíveis e que consome ao visitante mais curioso um tempo de atravessamento nunca superior a 5 segundos.
Consciência
“A grande sala da exposição refere-se ao segundo momento a que chamamos CONSCIÊNCIA. Trata-se de uma nave rectangular, com cerca de 350 m2 e 8 m de altura, onde se destacam dois elementos arquitectónicos:– um “rio” de cor rubra que se desenvolve ao longo da sala, tocando ou extravasando os seus limites, levando-nos pela descoberta dos rios Douro, Tejo e Guadiana.
-uma superfície periférica vertical, afastada dos limites reais da sala, espécie de “anel” suspenso que servirá de suporte aos diferentes componentes expositivos.
Pontualmente, grandes elementos suspensos reforçarão o efeito de surpresa na grande sala.
O pavimento/percurso encontra-se ligeiramente sobrelevado face ao pavimento existente e cobre apenas o espaço indispensável ao percurso expositivo. As áreas não necessárias ficam por construir, enfatizando a circulação/curso do rio, ao mesmo tempo que se chama a atenção para a relação entre o essencial e o supérfluo, criticando o desperdício.
Esta opção valoriza o percurso dos visitantes, fazendo-os percorrer uma espécie de passerelle que metaforicamente deverá ser lida como o ciclo da vida, mas também como palco onde expressa a sua responsabilidade.
Se quem construiu este espaço tivesse um milésimo da imaginação do tipo que a descreveu, talvez aquilo tivesse algum interesse. É aquilo que se vê na imagem. Uma passadeira vermelha em zigue-zague, umas projecções na parede dos rios e do Alqueva, o modelo da torre Piseira de entrada no Tejo, um copo de vinho e uma aldraba dum burro em cima dum monte de cortiça, ou lá o que é aquilo. Uma dor de alma. Um espaço inacabado. Repare-se como a vacuidade do espaço é descrita pelo poeta: “As áreas não necessárias ficam por construir, enfatizando a circulação/curso do rio, ao mesmo tempo que se chama a atenção para a relação entre o essencial e o supérfluo, criticando o desperdício.”.
O caminho em zigue-zague irrita alguns visitantes. Há quem atravesse na diagonal, pisando o rio, poupando bastante tempo. Logo à primeira curva percebe-se que não há nada para ver. Cortar caminho é uma excelente opção.
Mudança
“Na terceira sala, a que chamamos MUDANÇA, procura-se projectar os visitantes para um futuro melhor, mais atento. É nesta sala que se desenvolve uma instalação interactiva produzida pela YDreams, onde o movimento dos visitantes implica o movimento de palavras e frases, escritas e ditas em inúmeros idiomas, num ambiente dinâmico que preenche todo o espaço, e onde uma torrente de palavras determina o final da visita.”
Este é o único espaço que ainda nos faz parar por uns momentos, enquanto tentamos perceber como é que acertamos nas palavras com a nossa sombra. Cada hit destrói um elemento negativo para o ambiente, ao que parece. Ao fim de 30 segundos já toda a gente percebeu como salvar o planeta da poluição e do aquecimento global e o joguinho perde o interesse. Antes da saída ainda há umas estatísticas sobre a pontaria dos visitantes no jogo. Todos juntos somos muitos e poderemos construir um mundo melhor.
Uma outra explicação dos significados do pavilhão é a do arquitecto responsávbel, Ricardo Bak Gordon, conforme conta o JN:
O projecto – um pavilhão de 100 mil metros quadrados, ao lado dos pavilhões da Alemanha, Itália e China – baseia-se no tema principal da Expo e nos três rios ibéricos principais (Douro, Tejo e Guadiana), explica Bak Gordon ao JPN. “E também noutra questão fundamental”, acrescenta: “as preocupações climáticas, que hoje em dia são um problema transversal a todos os países. Daí surgiu o tema de partirmos o nosso conceito expositivo em três espaços: Alerta, Consciência e Mudança”.
Está explicado. É um problema do clima. O aquecimento global deixa as gentes febris.






Mais um bota abaixo?
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Quanto é que os filhos da puta que organizaram essa palhaçada meteram no bolso?
É que se fizeram isso a sério, deveriam ser metidos numa camisa de força!
Bonifácio
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“Bak Gordon Arquitectos”
Quem é este Arquitecto? Pode ser que tenha trabalho feito….
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“Paredes brancas, minimalistas, ângulos rectos, pouca imaginação onde nada se passa”
Um retrato fiel do país actual. Muito bem!
“A única escolha que é dada ao visitante é entre vinho, água, coca-cola ou cerveja.”
Então e mine, sande de córato e tremoços e farturas? Não há? Tst, tst!
“Esta é a única que ainda nos faz parar por uns momentos.”
Se foi concebida pela YDreams, não admira.
E quanto custou este brinquedo?
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és siempre la misma mierda
no hay trampa ninguna
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Estranho:
http://www.bakgordon.com/Pages/R00_rbg.htm
Ricardo Bak Gordon was born in Lisbon in 1967, and studied in Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto, in Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa and in the Milan Polytechnic Institute. He graduated in 1990. During that year he created the Vilela & Gordon atelier, together with Carlos Vilela Lúcio.
In the year 2000 he created the atelier Bak Gordon Arquitectos, where he currently works. Among the works and competitions he participated in are, the first prize of the international competition for the Residence of the portuguese Embassy in Brasilia, Brasil, the first prize of the international competition for the preservation of the Historic Centre of Sintra, the first prize of the competition for the Human Sciences and Arts Complex of the Universidade de Évora, the first prize of the competition for the Urban Park in Albarquel, coordinated by the landscape architecture office FCAP.
He has been a project assistant in Universidade Lusíada de Lisboa and in Universidade Moderna de Lisboa, and was a tutor of the degree in architecture in Escola Superior Artística do Porto and, participated in several international seminars of architecture.
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jcd foi a Zaragoza?
E que tal a expo2008?
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O pavilhão português devia ser uma grande barraca de farturas com matraquilhos.
Simbolizava o calor do nosso povo com a sua apetência reconhecida mundialmente para o futebol.
A tecnologia seria representada por várias tunas universitárias que completamente embriagadas cantariam vários temas escatológicos. No final enquanto alguns pediriam esmola aos presentes como preparação para a sua vida futura outros vomitariam à porta para gáudio dos visitantes justamente chocados com tal alegria
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“Paredes brancas, minimalistas, ângulos rectos, pouca imaginação onde nada se passa”
Caro JCD, não menosprezando a sua critica – até porque ainda não tive a (in)satisfação de visitar o dito cujo – há paredes brancas e paredes brancas… e minimalismo não é para ser falado qual boca esfomeada por rocócó. É óbvio que ninguém exige que seja um conhecimento universal a importância de uma parede branca, de um ângulo recto… da pureza.
Critique à vontade JCD, que até admiro o seu sarcasmo, mas caminhe apenas por águas que conhece.
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De certeza que jcd foi à expo e entrou no pavilhao?
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Numa frase curta: Um pavilhao concebido por um imbecil e descrito por outro imbecil.
Uma nulidade em termos de interesse e um pateta armado em intelectual que parece saido directamente das escolas do berloque.
So numa coisa nao tenho duvidas: Alguem meteu ao bolso.
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Excelente post.
Esperemos que quem passou o cheque tenha a oportunidade de ler esta e outras críticas. Talvez perceba como foi enganado e como desbaratou dinheiro dos contribuintes.
“Paredes brancas, minimalistas, ângulos rectos, pouca imaginação onde nada se passa” … melhor descrição do que se passa cá no burgo, é difícil !
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J Diz:
1 Julho, 2008 às 5:08 pm
Quem é este Arquitecto? Pode ser que tenha trabalho feito….
Pois pode. E tem. Mas o problema não é o arquitecto. Podia ser um qualquer. Apresentam projectos e alguém aprova. O que eu gostava de saber é quem aprovou e quanto custou.
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Ouvi dizer que era o pavilhao mais visitado da expo2008
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Calma! Aquilo é o retrato de um país onde os alunos têm direito ao sucesso. Podia ser pior: além de pretencioso e palerma podia ser socrático. Imagine-se um pabellón desenhado pelo sr. eng. Pito de Sousa…
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Vai ser giro se começar a receber prémios pela arquitectura e design. Vao continuar depois no bota abaixo.
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O arquitecto é do Porto!
Se fosse de Lisboa era outra coisa
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um arquiteco portugues deveria ter um site em portugues!
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a missing “t”!
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…E sobre o Sporting Clube de Portugal, João?
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Por instantes senti-me de volta aos tempos do Jaquinzinhos…
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Às vezes uma parede branca, diz mais que um arco-íris.
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O mistério está desvendado: quem escreveu aquela prosa sobre o pavilhão foi o Piscoiso 😉
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Não rima.
Não fui eu.
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Mil desculpas! Achei que a frase do arco-íris ficava lá bem…
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Paredes brancas, minimalistas, ângulos rectos
Gosto imenso de Siza Vieira.
Foi o arquitecto da estação Baixa-Chiado do metro de Lisboa.
É toda decorada de alto a baixo com azulejos pequeninos, todos brancos e iguais.
Se algum se estragar é facílimo comprar outro e pôr no sítio.
A única coisa que destoa naquele branco imaculado são as tabuletas a indicar as linhas.
Tinham ficado melhor em branco transparente.
Uma ideia para futuro.
Dizem-me, que como gastou aqui todo o branco que tinha, fez a Avenida dos Aliados em preto.
Será verdade?
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A arquitectura moderna é isso. Muito símbolo e pouco significado. Depois aparecem disparates entre a concepção (filosófica) e o uso real. Para sentir tudo o que foi concebido é preciso cortar a liberdade a quem visita a Expo, tal como fizeram o pavilhão espanhol em Sevilha e o pavilhão do conhecimento em Lx. Além da vantagem de poder transmitir aos visitantes tudo o que foi pensado, pavilhões com fila costumam atrair mais visitantes. Dar a liberdade de passear num pavilhão cheio de simbolismos é um convite a correr para o pavilhão seguinte.
Será que o arquitecto nunca visitou nenhuma Expo?
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O Jcd é muito corajoso.
A atitude típica é dizer muito bem de tudo aquilo que é diferente para que ninguém fique a pensar que nós somos uns parôlos.
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Parabéns JCD. Com efeito até parece que voltámos ao Jaquinzinhos (que saudades).
Depois de um enxurro de FL e de economia, este post é mesmo refrescante.
Nenhum pavilhão de Portugal, em nenhuma Expo, prestou para nada. Este parece que não desmerece os outros.
Mas a análise artística de JCD, parece-me correctíssima.
É indispensável que alguém diga: O REI VAI NU.
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O pavilhão de Portugal em Saragoça 08 é uma treta.
Ainda me lembro de vários pavilhões na Expo 98. O da Áustria, pelo pormenor de menor importância mas impressionante de ter repuxos de água sem qualquer torção, parecendo varas de vidro, o dos EUA, o do Japão (a colecção de conchas do imperador), o de Macau, o da Turquia (o barco impressionante do Sultão em cima de mármore preto), o da Austrália e pouco mais. O da Holanda tinha uma maquete com os diques, o que também foi giro. Por outro lado, lembro-me que visitei pavilhões em 5 segundos – tinham uma porta de entrada e uma de saída e eu simplesmente contornava o pilar que separava as duas, olhando de relance lá para dentro. E por fim havia pavilhões irritantes, cheios de cartazes sobre a água, fotos de rios e ondas, ou espaços pretensiosos. Não sei a que países pertenciam. Sei é que o Pavilhão de Portugal em Saragoça 08 pertence a esta última categoria. Irritante, pretensioso, vazio de conteúdos, demasiado abstracto. Numa palavra, uma merda.
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Pelo que vi nas fotos e video do site, parece-me tratar-se de uma obra de Arquitectura.
Talvez seja essa a razão que incomóda tanta gente.
Nã há razão para ficarem incomodados. logo que chegarem a Portugal isso passa.
A ausência quase total de obras de Arquitectura nas nossa cidades, apesar da quantidade e qualidade de grande parte dos nossos arquitectos, leva a que uma grande maioria de portugueses não tenha qualquer referência relativamente ao que é uma peça de Arquitectura.
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Pelo que vi nas fotos e video do site, parece-me tratar-se de uma obra de Arquitectura.
Talvez seja essa a razão que INCOMODA tanta gente.
NÃO há razão para ficarem incomodados. logo que chegarem a Portugal isso passa.
A ausência quase total de obras de Arquitectura nas nossa cidades, apesar da quantidade e qualidade de grande parte dos nossos arquitectos, leva a que uma grande maioria de portugueses não tenha qualquer referência relativamente ao que é uma peça de Arquitectura.
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Só os arquitectos é que podiam ter a audácia (ou a ingenuidade) de querer que um pavilhão represente um povo ou um país no seu todo… Não me parece que há paredes no mundo que consigam isso, brancas ou às cores!
Afinal um pavilhão num evento destes não é um acto de “arquitectura politica”? Ou seja, este sr. arquitecto não desenhou de acordo com o que o seu patrão (o Estado Português) lhe pediu? Então fez ou não fez um bom trabalho? Este pavilhão é ou não um reflexo do Portugal de hoje? Ou não se estava a dizer mal do arquitecto mas do patrão? Do empreiteiro? Dos visitantes? De todos?! Mas está certo, a difamação só porque sim também é uma tradição nacional e tem de ter o seu lugar no mundo!
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Parece-me que baseou a sua crítica nas críticas que eventualmente leu. Será que já visitou o pavilhão? E se o fez com que perspectiva. A de procurar apenas os defeitos, certamente.
Sou até defensora da união ibérica e, infelizmente, pouco orgulho tenho no presente desta Nação, sobretudo pela atitude pequenina dos seus cidadãos. Você é apenas um dos muitos maus exemplos deste País. Por isso é que ele está como está.
A crítica é um direito que nos assiste. O escárnio e mal-dizer é sinónimo de frustração, clube a que pertecem pessoas como JCD. Não podia ter escolhido melhor nome para a sua página: BLASFÉMIAS.
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