Há coisas que nunca mudam
Para esclarecimento das dúvidas de Vítor Dias a propósito deste meu artigo acrescento que o plano para o retorno dos emigrantes foi referido pelo Secretário de Estado da Emigração no encontro sobre emigrantes que teve lugar em Bragança nos últimos dias de Agosto de 1974. Nesse encontro também se discutiu o problema do reaccionarismo dos emigrantes, o seu direito de voto e o secretário de estado mostrou-se muito confiante no trabalho de conscencialização dos mesmos emigrantes. Para o efeito confiava nos méritos da revista “Correio de Portugal” que a secretaria de Estado ia editar e que deveria combater os malefícios da imprensa obscurantista.
Aliás como Vítor Dias talvez também não tenha esquecido o próprio IARN, criado em Março de 1975, se designava Instituto de Apoio ao Retorno de Nacionais, procurando manter ainda numa altura em que milhares de portugueses fugiam de África a ficção de que o retorno a Portugal seria uma espécie de processo natural, qual fatalidade histórica para quem vivia em França ou Angola.

O facto mais extraordinário no meio de tudo isto é a Helena Matos conseguir dizer isto tudo sem se rir.
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Muito bem, Helena F Matos.
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O meu Pai veio de África ao fim de 20 anos de trabalho árduo. Foi para Angola não por ser rico, mas por ser mais pobre do que aquilo que devia ser. Ajudou a sua mãe, viúva desde muito cedo e mãe de 6 filhos, e os seus irmãos a melhorar a vida. Como ainda hoje afirma – eu sempre o ouvi falar de África todos dias da minha vida – não foi por ele que partiu, foi pelos outros.
Voltou emn 1975 (apesar de ilustres africanos lhe terem pedido para ficar) porque eu nasci, e deixou para trás uma vida de sacrifício que o MFA traiu e liquidou. Costuma dizer amiúde que, em 20 anos de Luanda, não foi uma única vez à praia ou sequer ao cinema e que passou todo o tempo a trabalhar e a poupar.
O regresso foi horroroso. Ele que tinha sonhado com um novo Brasil em terras africanas, onde negros, brancos e mestiços, pudessem viver em paz e harmonia, não tinha sequer uma casa para arrendar para viver comigo e com a minha mãe. A integração natural de que se fala no texto, pura e simplesmente não existiu! É uma falsidade sem nome! Os retornados foram tratados como exploradores de uns desgraçados africanos quando não o tinham sido na grande maioria dos casos. Porquê? Porque eram ricos (não muito ricos, mas menos pobres no caso do meu Pai e de muitos outros!) e de repente ficaram outra vez pobres!
Nunca fui a Angola. Todavia, parece-me que sempre lá vivi! Há mais de 30 anos que ouço o meu hoje velho e sempre queridíssimo Pai, a falar emocionado do Povo angolano. Como ele sempre me disse: «a melhor e mais pura gente do Mundo! 1000 vezes melhor do que a de Portugal!».
Concordo contigo Pai: tens toda a razão! Basta pensar no Vitor Dias para não ter quaisquer dúvidas sobre o que sempre defendeste!
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O facto mais extraordinário no meio de tudo isto é a Helena Matos conseguir dizer isto tudo sem se rir.
Sim, hoje podemos rir, mas naquela altura não tinha piada nenhuma e não era muito aconselhável ninguém rir-se de quem estava no poder.
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Agora só falta que a Helena esclareça aquela outra dúvida do Vitor, relacionada com a guerrilha da resistência a partir da Serra da Estrela, nos idos de 75…
Estou à espera que a Helena esclareça…
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Não posso esclarecer pela simples razão que como o pCP sabe basta sugerir umas coisas e depois há umas almas que levam a vida a desmenti-las. Era só que me faltava!
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Helena: Quem falou na Serra da Estrela pela primeira vez foi a Maria João Seixas que acho que não tem nada a ver com o PCP.
Conte lá a história da Serra da Estrela que deve ter piada.
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O secretário de Estado da Emigração – Pedro Coelho, do PS – que foi acusado de nefandas coisas por Helena Matos está por mim informado do teor da acusações e, por isso, responderá se e onde quiser e enetender.
A minha intervenção neste assunto chegou pois ao fim. Mas, a terminar mesmo, não posso deixar de anotar que este esclarecimento de Helena Matos não é de muito préstimo.
Eu calculo que, folheando jornais de 1974, HM tenha lido alguma coisa sobre o tal encontro de Agosto mas suspeito que, como é compreensível, não tenha tomado notas precisas nem apontado a fonte.
Eu comprendo que assim possa ter acontecido. Mas a verdade é que sem a fonte precisa (publicação e data), sem ofensa , é sempre legitima a dúvida se Helena leu ou tresleu.
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