Plano Paulson e a economia de mercado
Escreve Pedro Lains:
Já se percebeu que o tradicional (e irracional) debate esquerda-direita já atacou a avaliação do plano Bernanke-Paulson. Meus caros, o plano não é socialismo, nem keynesianismo. É economia de mercado no seu melhor, sofisitcada e descomplexada. O plano é impopular porque os banqueiros são e sempre serão impopulares, e ainda mais os “especuladores”. Os republicanos que votaram contra não estão a defender o mercado, estão a defender o voto dos seus votantes populares (Not that there’s anything wrong with that, como diria o Seinfeld).
Não percebo como é que Pedro Lains chega à conclusão que o plano Paulson é economia de mercado, ainda por cima no seu melhor. A economia de mercado baseia-se em transações voluntárias. O plano baseia-se em dinheiro dos impostos. Numa economia de mercado o Estado funciona como árbitro imparcial. O plano Paulson transforma o Estado num jogador. Numa economia de mercado os empresários pagam os seus próprios erros com prejuízos e falências. O plano Paulson obriga o contribuinte a pagar os erros dos outros. Também não percebo como é que a impopularidade dos banqueiros ou o eleitoralismo dos republicanos podem ser argumentos a favor da tese de que o plano Paulson é economia de mercado no seu melhor.

Há um fenómeno muito interessante e curioso que convém analisar. Após a rejeição do plano Paulson os comentários a favor do liberalismo diminuíram drasticamente. No ar sentia-se um sentimento de desconforto por o plano ter sido rejeitado. Liam-se pequenas notas mas o tom era quase conciliador. Agora que se volta a falar da aprovação do plano, com pequenas alterações, as críticas recomeçam.
A minha tese é a seguinte: os liberais usam o plano para propaganda política mas têm um enorme receio do descalabro económico se ele não for aprovado. No seu íntimo, aprovam-no e querem que seja aprovado. Embora o critiquem. Ficaram surpreendidos por ter sido rejeitado. E assustados. Pensaram: será que os republicanos lêem o Blasfémias?!
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O plano devia ter sido aprovado com os votos contra dos republicanos ( embora estes quisessem que passasse e até fossem eles que o propuseram). É engraçado. Espero que hoje sejam os democratas a votar contra na maioria e o plano passe com o voto republicano se tiver que ser. Deviam assumir.
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Se o plano hoje não passar no senado vão fazer nova votação até que passe. Onde é que já vi isto.
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Na maior parte dos livros de introdução à economia que conheço, a possibilidade de existência de algo como o plano Paulson seria um exemplo típico de “economia mista”.
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será que nos states não haverá dois ou tres milionários que se juntem e disponibilizem os 700MM? ou será que eles só aparecem quando é para mamar e pela certa?
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Portanto, temos uma cimeira teológica:
– Irmãos, tenham calma, os sagrados e puros ensinamentos do Mercado estão a ser seguidos!
– Andas cego, irmão? Não estás a assistir a estes movimentos heréticos? Vamos todos para o Inferno! É preciso purificar o Mundo com as falências! Falências!
Entendam-se. Entretanto, haja alguém de bom senso que resolva sem fanatismos e com calma estes sarilhos todos. São os estados que vão resolver as coisas, como é óbvio.
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Willem Buiter antecipou o conceito de um banco central como criador de mercado. Criar um mercado não tem nada a ver com regulação. São conceitos opostos: enquanto a regulação limita os efeitos do mercado e exclui os seus mecanismos de algumas áreas consideradas importantes, a criação de mercado alarga estes mecanismos a áreas onde, por qualquer razão, eles não conseguem chegar.
O que Buiter sugeriu foi isto: num mundo onde os bancos foram em larga medida substituídos por um sistema financeiro integrado, o grande perigo não é uma crise de liquidez tradicional mas um congelamento do mercado provocado por uma incerteza radical na determinação de preços. Ninguém conhece o preço de um derivado ou outros instrumentos financeiros complexos. Sem preços o mercado deixa de funcionar.
É aqui que entram as autoridades públicas: os bancos centrais têm de criar um mercado onde ele não existe. Comprando e vendendo os títulos que mais ninguém está disposto a negociar, um banco central pode descobrir o preço a que eles devem ser negociados. O preço descoberto pelas autoridades tem muito pouco de fictício: uma vez que não estão obrigados a seguir regras de contabilidade e de gestão de risco, os agentes públicos não estão sujeitos à mesma impossibilidade de obter um preço rigoroso. No momento em que o mercado volta a funcionar normalmente, o banco central deixa de ser necessário. A regulação nunca o foi.
No essencial é este o plano proposto por Paulson e Bernanke. Há dois reparos a fazer. Primeiro, um plano semelhante devia ter sido proposto há muito. Segundo, urge explicar que a solução é um triunfo e não uma derrota da economia de mercado.
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Concordo com o João Miranda. Realmente, este plano não é economia de mercado e só se pode justificar porque durante vários anos, alguém se esqueceu de por algum freio a algumas situações que depois acabaram por ser mal copiadas por alguns jovens financeiros em busca da riqueza fácil.
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««É aqui que entram as autoridades públicas: os bancos centrais têm de criar um mercado onde ele não existe. Comprando e vendendo os títulos que mais ninguém está disposto a negociar, um banco central pode descobrir o preço a que eles devem ser negociados.»»
Como é que um banco central pode descobrir preços sendo o único comprador? A solução para o problema de falta de preços de mercado é a transacção em bolsa dos títulos em causa.
««Segundo, urge explicar que a solução é um triunfo e não uma derrota da economia de mercado.»»
Como é que pode ser uma vitória da economia de mercado se o que se pretende fazer consiste na utilização de fundos cobrados através de impostos para fixar preços através de compras que estarão muito acima daquilo que os agentes privados estariam dispostos a pagar?
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O plano é a tentativa de manter tudo na mesma…até ao próximo plano para manter tudo na mesma!
A penúria é o resultado do “spend like there is no tomorrow”!
A Economia Americana vai ter de se achinesar ou Ajaponesar ou Alemanhizar…”export driven”.
Terão de investir os recursos que ainda têm na produção de bens exportáveis…consumir menos petróleo…menos tudo! Importar menos! Trabalhar mais e gastar menos! A economia vai contrair-se até aos verdadeiros números da economia americana! Isto seria excelente pois corresponderia à verdade sobre as coisas!
Isto já se adivinhava e a cura é excelente para os EUA e para o mundo…
Se, ao invés, aprovarem a queima dos 700MM dólares é definitivamente o regresso à idade da pedra, à irrelevancia do dinheiro como suporte das trocas económicas, irão mais tarde ter de se reconstruir do zero!
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“Isto seria excelente pois corresponderia à verdade sobre as coisas!”
Isto parece um versiculo da Biblia. Amen.
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Ninguém conhece o preço de um derivado ou outros instrumentos financeiros complexos. Sem preços o mercado deixa de funcionar.
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«Como é que pode ser uma vitória da economia de mercado se o que se pretende fazer consiste na utilização de fundos cobrados através de impostos para fixar preços através de compras que estarão muito acima daquilo que os agentes privados estariam dispostos a pagar?»
É uma vitória da economia de mercado no sentido em que o Estado, e logo o americano, está disposto a tudo para, a final, salvar a economia de mercado. Ou seja, a ecomomia de mercado é tão boa, tão boa, que até permite esquecer todos os princípios da mesma para, dizem eles, se salvar.É esse o objectivo. Não sei é se lá chegam, ou se não estão antes a deitar gasolina para a fogueira.
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Já tinha lido. É uma tristeza e é sempre isto que acontece quando as pessoas se atiram para voos mais altos do que aqueles que poderiam fazer.
O Pedro Lains é um excelente historiador mas não é entendido em finança. E acreditou que qualquer análise à economista servia para entender o que nem os economistas entendem.
Claro que está tudo errado. Mas percebi a preocupação dele- não quer ser ideologicamente preconceituoso e lá acreditou que assim, até defenderia qualquer coisa de útil.
A ser útil era mero remendo a curtíssimo prazo. Mais nada.
Só que nada disto é a velha historieta do “mercado a funcionar e da mão invisível”- a mãozinha invisível até será mais lobby e sempre o velho e eterno lobby com provas dadas de há séculos.
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Um mercado sem regulação é como um jardim sem jardineiro: transforma-se em matagal em pouco tempo. É ver as infestantes a medrar por todo o lado!
A auto-regulação só existe na cabeça de quem não regula bem da dita. Manicómio com ele, já!
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Só para que ninguém ande por aí a apropriar-se de afirmações alheias, o texto que o Judas colou acima é um artigo de opinião de Bruno Maçães no DE:
http://diarioeconomico.sapo.pt/edicion/diarioeconomico/opinion/columnistas/pt/desarrollo/1170289.html
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Parece WishfullThinking.
Aquilo lá é tudo muito sofisticado. Eles são uns grandes carolas logo sabem o fazem. Só pode dar certo.
O problema desta linha de pensamento é que se perde um pouco de autonomia de análise.
O Plano foi este e até lá chegar houve um determinado percurso.Se o percurso tivesse sido outro e com um novo resultado(um outro plano) receberia na mesma o aplauso dos “pragmáticos” porque estes olham para uma qualquer intervenção como uma necessidade imperiosa.
Quanto à questão socialismo vs mercado a funcionar por muitas voltas que dê não consigo enquadrar como é que a transferência de 700MM de estado para não sem bem onde se pode catalogar de “economia de mercado no seu melhor”.
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Pois mas a Irlanda já deu a volta nisto tudo. Mais uma vez.
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São os das “pontas da Europa, Irlanda, Suecia. E mais não digo para não ferir mais falsas susceptibilidades, porque até hoje não me interessaram “capelinhas portuguessas do costume” obscurantistas que estão com a conta na mão sem saberem como pagar.
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