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As cronologias são de facto importantíssimas

17 Maio, 2009

No blogue  Da Literatura escreve Eduardo Pitta a propósito do início do caso Freeport:

 «Hoje, em artigo assinado por Carlos Rodrigues Lima, o Diário de Notícias informa: ‘O processo do Freeport está agora “blindado”, porque a resposta ao pedido de informações do Conselho Superior do Ministério Público ao Departamento Central de Investigação e Acção Penal que chegou à Procuradoria-Geral da República tinha elementos que estão em segredo de justiça. Por isso, nada foi divulgado. […] A investigação ao caso começou em finais de 2004, com a chegada à Polícia Judiciária de Setúbal de documentos e uma denúncia anónima que deram origem ao processo-crime. […] Depois dessas diligências, o processo desapareceu de circulação até finais de 2008.’ Estranhamente, o texto dá um salto de 2004 para 2008, omitindo factos importantes ocorridos nesse intervalo de tempo, que fizeram manchete e são do conhecimento público. A saber, o mesmo Diário de Notícias, em artigo assinado por Licínio Lima no dia 25 de Abril de 2007, informava: ‘Zeferino Boal, militante do CDS-PP e candidato à presidência da Câmara de Alcochete nas últimas eleições autárquicas, é o autor da denúncia anónima que originou a investigação da Polícia Judiciária em volta do caso Freeport, em 2004. […] A revelação foi feita pelo inspector da PJ Elias Torrão, da directoria de Setúbal, que ontem começou a ser julgado no 6.º juízo dos Tribunais Criminais de Lisboa, por violação de segredo de justiça e de funcionário. […] Em Janeiro de 2005, Armando Carneiro, presidente da administração da Euronotícias, proprietária da revista Tempo, junta na sua casa de Aroeira o inspector Torrão, o antigo chefe de gabinete de Santana Lopes Miguel Almeida, o advogado José Dias, que trabalhou no escritório de Rui Gomes da Silva, ex-ministro adjunto e ministro dos Assuntos Parlamentares do Governo de Santana Lopes, e o jornalista Vítor Norinha. Segundo Torrão, todos eram seus informadores. Realizou-se, depois, outra reunião com a inspectora Carla Gomes, titular do processo. […] O escândalo rebentou uma semana antes das eleições ganhas por Sócrates. […]’
Em Julho de 2007, Elias Torrão foi condenado a oito meses de prisão, tendo recorrido para o Tribunal Constitucional. Zeferino Boal saiu do CDS-PP. Miguel Almeida, antigo chefe de gabinete de Santana Lopes enquanto presidente da CML, (ainda) é deputado do PSD.
Marinho Pinto, Bastonário dos Advogados, lembrou estes factos num texto publicado há dois meses no boletim da Ordem.
As cronologias não são obrigatórias. Mas, sendo feitas, não faz sentido que omitam peripécias estruturantes… Sobretudo se, como é o caso, foram julgadas em tribunal. Sobretudo se, como é o caso, envolvem um antigo inspector da PJ (condenado), um antigo presidente de uma concelhia do CDS-PP, um advogado ligado ao escritório de um ministro do PSD, vários jornalistas e um deputado do PSD. Não custa nada. Foi ali, e daquela forma, que o caso Freeport começou. »

E o que aconteceu depois? Ou seja a denúncia do Freeport começou desta forma conspícua e, como escreve Eduardo Pitta, o  “escândalo rebentou uma semana antes das eleições ganhas por Sócrates. […]”. Mas a cronologia não pode de facto nem omitir a génese da denúncia nem o pós-denúncia. Logo o que aconteceu após as eleições ganhas em 2005 por José Sócrates:

a) Elias Torrão foi condenado em Julho de 2007, a oito meses de prisão, tendo recorrido para o Tribunal Constitucional.

b) Zeferino Boal saiu do CDS-PP.

c) Miguel Almeida, antigo chefe de gabinete de Santana Lopes enquanto presidente da CML,(ainda) é deputado do PSD.

d) E a investigação ao Freeport andou por onde?

Não acho desejável que responsáveis partidários se reúnam com agentes policiais para combinarem denúncias mas a circunstância da denúncia, pela qual aliás Elias Torrão já foi condenado, não pode levar a que se menorize a importância dos factos denunciados. Aliás a questão cronológica para a qual o Eduardo Pitta chama a atenção pode ter outra leitura. Se como escreve Eduardo Pitta “O escândalo rebentou uma semana antes das eleições ganhas por Sócrates. […]» também é verdade que o escândalo parou após Sócrates ter ganho as eleições. Logo talvez seja melhor abandonarmos as teorias da conspiração, não porque elas não tenham existido mas sim porque podemos acabar a descobrir outras  conspirações ou peripécias estruturantes como lhes chama Eduardo Pitta  ainda mais graves do que as de Torrão, Boal, Carneiro, Norinha & Almeida.

7 comentários leave one →
  1. António Saldanha's avatar
    17 Maio, 2009 10:21

    E Pita não passa de um Vitalino Canas da blogosfera.

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  2. Desconhecida's avatar
    JMRB permalink
    17 Maio, 2009 12:06

    Se eu fosse Piscoiso tinha muito a contrapor a esses ataques disfarçados ao nosso querido líder.

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  3. José Manuel Santos Ferreira's avatar
    José Manuel Santos Ferreira permalink
    17 Maio, 2009 12:45

    Eduardo Pitta: Escritor, poeta, ensaísta, crítico literário ???

    Está intoxicado

    Gosto muito mais do porta da loja
    Esse sim é muito clarividente e pouco dado a especulações
    Muito isento

    Esta agora !!!!!!!

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  4. Desconhecida's avatar
    José permalink
    17 Maio, 2009 13:21

    Eduardo Pitta é um apaniguado deste poder que está. Não tem mal algum porque é claro e transparente nessa opção. Como o é nas suas preferências de género cuja identidade não tem mistério. Vale a minha consideração por isso e por ser claro na escrita, ainda. É um tipo civilizado, parece-me.

    Mas a preferência de apaniguado tolda-lhe a objectividade crítica, o que também se compreende, mas suscita reacções adversas.

    Como disse um comentador, é uma espécie de Vitalino Canas da blogosfera, sempre pronto a defender o indefensável.

    Há quem diga o mesmo do que eu escrevo aqui, mas pelo menos procuro justificar e fundamentar as razões. Algumas delas, de advogado do diabo, precisamente.

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  5. Desconhecida's avatar
    José permalink
    17 Maio, 2009 13:22

    Quanto ao Ferreira, cada vez mais prefere o papel de troglodita ao de comentador equilibrado.

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  6. Desconhecida's avatar
    Anónimo permalink
    17 Maio, 2009 16:04

    o polícia cromanhoso vai partindo espelhos meus.

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  7. Crítico Encartado's avatar
    17 Maio, 2009 16:47

    É natural que o Pita defenda o alegado engenheiro.
    Cada ovelha procura a sua parelha.

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