A armadilha moral em que Sócrates e o PS nos fizeram cair*
I) Quando se aceitou que determinadas circunstâncias pessoais de José Sócrates não eram incompatíveis com o cargo que ocupava,
simplesmente porque essas circunstâncias não tinham sido consideradas como matéria pela Justiça, criou-se um padrão em que tudo aquilo que o primeiro-ministro fizesse ou tivesse feito era legítimo desde que não fosse crime. Desde esse momento o PS criou uma armadilha na qual caiu aquele partido e o país. Era inevitável acabarmos assim: os jornalistas fazem o papel da Justiça; o primeiro-ministro transformado no principal problema do seu Governo pronuncia-se sobre o que deve ser notícia e o que é segredo de justiça e a Justiça desdobra-se em explicações sobre o que os jornalistas escrevem sobre o seu funcionamento. Esta tragédia grotesca acontece porque os políticos não fizeram em devido tempo o que tinham a fazer: assumir que entre aquilo que a Justiça considera crime e aquilo que a sociedade vê como eticamente aceitável existe uma nítida linha que político algum e muito menos um primeiro-ministro pode pisar.
II) Da tentativa de controlo de danos da degração das liberdades e dos valores a que Sócrates nos conduziu faz parte a tentativa de reduzir as
revelações do jornal “Sol” a uma espécie de tentação que o primeiro-ministro, qual editor de imagem interventivo terá para
interferir na comunicação social.
Como é óbvio o primeiro-ministro tem toda a legitimidade para detestar e odiar jornalistas, noticiários e comentadores. Aliás todos os
primeiros-ministros odiaram jornalistas, noticiários e comentadores e frequentemente com muita razão. É certo que eram geralmente mais discretos do que José Sócrates nas suas apreciações embora isso não tenha qualquer relevância. Mas como também é óbvio não estamos perante uma questão de gosto, estilo ou de falta de senso. Estamos sim perante uma questão de poder que nada tem a ver com as pretéritas manifestações de desagrado ou as habituais pressões.
Acontece que o Estado português não cresceu só na despesa. Cresceu no poder, sobretudo no poder económico: empresas públicas, fundações,
institutos, parcerias e pareceres, a que se junta a CGD, aliados a uma mais eficaz máquina fiscal e a um universo infindável de
licenciamentos e certificações estatais necessários para toda e qualquer actividade, fizeram de José Sócrates um primeiro-ministro que
não se limita a pressionar como os seus antecessores fizeram ou quiseram fazer. Agora o Estado compra o que tiver de comprar. Ou o que
for conveniente para o poder político que se compre. As conversas que o “Sol” transcreve são o espelho desse Estado em que quem ocupa o
poder político vê o país como coisa sua. E como os primeiros-ministros passam e os países ficam é conveniente não esquecer que esta máquina
estatal tentacular vai ficar aí ao dispor de quem suceder a José Sócrates. Ou se repensa o peso do Estado na nossa vida ou conversas
como aquelas vão sempre poder acontecer.
*Adaptado PÚBLICO

Há-de ficar como cúmulo do anedotário político a acusação de que a liberdade de imprensa está em perigo entre nós. Quando o Governo não controla nenhum órgão de comunicação — nem sequer a televisão pública — e quando a generalidade dos órgãos de comunicação social mantém contra o Governo e o primeiro-ministro uma ofensiva em todos os azimutes (onde não faltam a injúria e o insulto), é caso para tentar imaginar o que seria se a tal “mordaça” governamental sobre imprensa não existisse…
http://causa-nossa.blogspot.com/2010/02/liberdade-de-imprensa.html
Não sei se acredita no que escreve. Mas que não é de levar a serio… isso o tempo e os acontecimentos permitem provar.
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SE assim é, não se compreende porque motivo o PSD e o CDS se abstiveram no OE e vão colaborar no PEC. Também se entende ainda menos porque não apresentam uma moçãO de censura e fazem cair o governo. Falta de tomates?
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Os assessores hoje ainda não se devem ter deitado, coitados. Lutam pela sobrevivência… não se lhes pode levar a mal …
Continuam a tentar desviar a conversa e não discutemn o essencial.
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Helena,
O primeiro objectivo é mandar este Tony Soprano em versão metrossexual para o olho da rua.
Discussões filosóficas sobre o papel do Estado podem ficar para depois, até porque muitos “executivos” de empresas privadas que andam metidos nesta alhada não parecem distinguir-se, do ponto de vista moral, do chefe.
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Excelente e inspirado artigo. A dupla licenciatura de Sócrates devia ter sido o seu fim e, caricatamente, foi o catalisador do seu sentimento de impunidade. Quando passamos pelo Freeport já Sócrates se sentia intocável.
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A questão é mesmo essa: Qual o peso do Estado na vida social e económica do país. Se não tratarmos disso com responsabilidade e a seriedade devida, quem suceder a esta confusão irá jogar o jogo com as mesmas regras… Ontem ouvia dizer al´guém ligado ao mundo espectáculo que as coisas estavam negras, iguais aos problemas que assolam o mundo politico. E, a causa estava ligada à situação finaceira das Câmaras municipais, os melhores clientes.
A actividade económica de qualquer país que pretende ser civilizado, não pode e nem deve depender do Estado. Se não pusermos fim a escta concepção, e esta é uma oportunidade única, teremos sempre líderes com tendência para domesticar a sociedade. A liberdade ´so pode ser assegurada com uma economia livre, mas devidamente regulada. De contrário, Portugal em nada se distinguirá das “Democracias” da américa do sul.
Parabéns Helena Matos
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O jornal “independente” fora o coveiro do Cavaquismo. O Jornal “Sol”, tudo indica, será o coveiro do Socratismo. Parece que não aprederam a lição…..
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ó clara, você que anda por todo o lado e parece bem informada, diga-me: o que acha da licenciatura do senhor primeiro ministro de Portugal? … por exemplo …
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Helena Matos…a voz daquilo que penso e tenho sem sucesso tentado explicar. Nós permitimos este descaramento, não só permitimos como de facto encoragamos quando uma maioria votou nele mais uma vez….não sei até que ponto é que nos podemos indignar agora….
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Mais um bom artigo, Helena Matos. Parabéns.
Na prática, sempre que há eleições, estamos a entregar, desculpem-me a metáfora talvez um pouco exagerada, o PIN do nosso cartão de crédito a quem ganha essas eleições (as dívidas do Estado quem as vai pagar? Quem iria beneficiar de um superavit do Estado?). O nosso estilo de vida, a nossa capacidade de compra, o custo do nosso dinheiro, têm ou não que ver com as acções da governação?
Por isso é OBRIGAÇÂO de quem se propõe governar-nos, dar todas as explicações e demonstrar até ao limite das suas capacidades, todas as suas qualidades, boas intenções e seriedade. Para além da restrita e formal Letra da Lei. Tem que se reconhecer sempre em quem governa essa disponibilidade. Trata-se de um requisito, a meu ver, essencial. Quem as não quiser dar, quem não quiser que a sua vida seja “inspeccionada” para além do que o é a vida do “normal cidadão” (e todos têm o direito a não o querer), não se candidate.
Eu, a cada eleição, sinto que estou a entregar o código secreto do meu cartão de crédito a quem ganhar as eleições. Eu gosto de saber, eu acho que tenho especiais direitos de conhecer muito bem a quem o entrego. E quem mo pede tem que ter como primeira preocupação dar-me todas as explicações e esclarecer todas as dúvidas que eu possa ter a seu respeito sobre o seu carácter, a sua seriedade, as suas intenções.
A propósito, lembro-me de que no Reino Unido o “Speaker” demitiu-se porque havia deputados (ele não estava envolvido nisso mas sentiu-se responsável por não ter conseguido controlar as acções daqueles de quem era “chefe”) que utilizaram dinheiro do Estado para comprarem umas coisas para si; por cá ainda não me explicaram convenientemente como é que o 1º ministro consegue concluir uma licenciatura ao Domingo, com um mesmo professor a não sei quantas disciplinas.
Até hoje estou para saber que tipo de pessoa é o engº. Sócrates, porque se prestou ele a esse tipo de “manobras” e em que condições o fez (foi uma passagem política, um favor, ou de facto o 1º ministro foi avaliado com o rigor e exigência com que o são todos os outros alunos, apesar de o ter sido a um Domingo? Onde estão as provas, os exames que realizou para conseguir a licenciatura?) Eu, à falta de explicações precisas, concretas e completas dos envolvidos, tenho o direito de pensar deles o pior.
E, a cada “caso” mal explicado (isso das “campnhas negras” não serve de explicação – é sempre a justificação de quem não pode explicar nada) e quando em vez de explicações assisto a tentativas de silenciamento, penso cada vez pior.
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a moção de censura que efeitos imediatos é que poderia trazer Clara? Neste momento com as empresas de rating a rondarem Portugal seria IRRESPONSAVEL provocar alteração politicas relevantes. Sabe que consequencias isso teria para a despesa publica? Em Junho deve haver novidades … é seguro e garanto-lhe que ainda ouviu muito pouco sobre o caso das escutas … isto é apenas a ponta do iceberg … mas a sua atitude de enterrar a cabeça na areia é muito portuguesa … traz-nos à memoria os tempos da população durante a ditadura…
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