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Nota sobre Transfusões de sangue de MSM.

27 Abril, 2010
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A questão de saber se deve ser utilizado, para efeito de transfusões, sangue de “men who have had sex with men” (MSM) é controversa. Sobre a matéria, indicam-se os textos de B. Roehr e de J.P.Brooks, publicados em 2009 no BMJ e disponíveis online. http://www.bmj.com/cgi/section_pdf/338/feb26_1/b311.pdf

Não irei reproduzir aqui os argumentos de cada uma das partes, nem irei pronunciar-me sobre a questão sob o ponto de vista técnico, mas irei defender alguns princípios relativos à matéria em apreço.

  1. Sendo que a transfusão de sangue visa manter viva ou melhorar a condição clínica de uma dada pessoa, é o interesse dessa pessoa que deverá ser a preocupação fundamental.
  2. Em obediência ao princípio da autonomia individual, compete ao interessado (a pessoa que recebe a transfusão) aceitar ou não a transfusão de sangue, nos moldes que lhe forem propostos.
  3. Qualquer eventual direito à doação terá de se subordinar ao melhor interesse da pessoa que recebe a transfusão.

A eventual alteração nas condições nas quais as transfusões de sangue são efectuadas entre nós pode associar-se a uma percepção, a qual pode ou não ter qualquer correspondência com a realidade, de uma menor segurança associada às transfusões sanguíneas. Esse facto, a ocorrer, pode ditar importantes alterações na prática clínica.

Por um lado, o número de pessoas que recusam transfusões pode aumentar (de momento, trata-se sobretudo de pessoas com posições de natureza religiosa). Por outro lado, sendo que a colocação das indicações para cirurgia, tal como muitas outras decisões no campo médico, se baseiam numa estimativa da razão benefício/ risco, uma eventual alteração ao nível em causa poderá fazer diminuir as indicações para cirurgia. Em alguns casos, poderá optar-se por técnicas alternativas (p. ex., em muitos casos de cirurgia cardíaca das artérias coronárias).

Em todo o caso, a pessoa interessada poderá sempre recusar-se a receber sangue de MSM, ou, em caso de tal informação não se encontrar disponível, de indivíduos do sexo masculino em geral.

A resposta para a questão de fundo deve ser encontrada em dados de cariz empírico, sendo que os dados obtidos num dado país e intervalo temporal não são necessariamente generalizáveis. No caso português, a eventual utilização, no futuro, de transfusões de sangue de MSM poderá ser seguida de estudos criteriosos de incidência de infecções transmissíveis por via sanguínea nas pessoas que tenham recebido esse tipo de transfusões, comparadas com pessoas que receberam outros tipos de transfusões.

José Pedro Lopes Nunes

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