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Notas soltas.

7 Maio, 2010
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Já foi dito que não conseguimos prever o que vai acontecer amanha, e ainda muito menos o que vai suceder dentro de um mês, um ano ou dez anos. O nosso mundo é, essencialmente, um mundo de imprevisibilidade.

O socialismo, enquanto filosofia política, embora com importantes raízes em períodos anteriores, desenvolveu-se de forma considerável no século XIX.  Neste início do século XXI, algumas das consequências dessas ideias do século XIX estão a chegar em força à Europa.

A democracia, o único regime político que considero legítimo, quando associada ao socialismo, parece apresentar como característica distintiva a sua flagrante incapacidade para conter custos – desde logo, de funcionamento do Estado. Tal deve-se ao que poderemos designar por defeito básico da filosofia socialista – a teoria defende a redistribuição mas não nos dá nenhuma pista sobre quando devemos parar de redistribuir. Não há limite para a redistribuição, e, portanto, para a despesa.

O advento do Euro, moeda única de grande número de países da Europa, foi apresentado como um modelo inovador. Neste momento, é incerta a viabilidade da moeda única europeia, uma moeda comum para países tão diferentes em termos económicos como são a Alemanha e a Grécia, uma moeda comum sem o suporte de um poder político comum.

A política está sob forte influência do socialismo mas a economia é dominada pelo capitalismo. Neste, tem papel de destaque o especulador – um conceito alargado que deverá incluir, no limite, os pequenos accionistas. A especulação procura cumprir um sonho de parte da humanidade – enriquecer sem trabalhar. O especulador é alguém que assume um risco – o risco de perder dinheiro.

No contexto de uma crise global do capitalismo, as receitas dos Estados tendem a diminuir (menor cobrança de impostos, desemprego, etc.). Assume papel fundamental, neste contexto, a grande resistência à diminuição de despesa que os regimes democráticos com influência socialista apresentam. Menos receita, despesas semelhantes, igual a aumento do défice.

Quando um país se aproxima da bancarrota, o número de pessoas disponíveis para assumirem riscos em relação com esse Estado diminui acentuadamente. As margens de lucro que são pedidas para emprestar dinheiro aumentam, em paralelo com o risco de insolvência. Convenhamos, não há nada de estranho nisto.

Se algum prognóstico puder ser feito, é o de que o ciclo democracia/ socialismo/ endividamento, que tomou conta de diversos países da Europa, poderá terminar, e eventualmente não de uma forma simpática. Imprevisível é qual poderá ser o elo mais fraco deste ciclo.

(Resumo de intervenção na tertúlia do Cafeína, 6 de Maio de 2010)

José Pedro Lopes Nunes

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