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PSD a caminho do centro, PS a fugir para a esquerda.

8 Junho, 2010
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Os partidos políticos podem ser encarados como estruturas vocacionadas para a conquista do poder, de forma a poderem implementar as respectivas políticas e ideologias. Em democracia, o poder conquista-se através de eleições. Tem sido reconhecido que as eleições são ganhas, a maior parte das vezes, pelo partido que ocupar o centro político (ver sobre o assunto J.A. Saraiva, Sol, 4 Jun 2010). Contudo, na perspectiva partidária, não menos importante do que conquistar o poder é conseguir mantê-lo.

Por estes dias, o PS e o PSD têm vindo a seguir trajectórias distintas, a esse respeito. O PSD procura aproximar-se o mais possível do centro político, tomando posição para poder disputar com sucesso umas futuras eleições, sejam elas quando forem (presume-se que não serão em 2010, talvez em 2011).

Já o PS, pelo seu lado, parece estar mais preocupado em manter o poder, do que propriamente em se preparar para novas eleições. Para esse efeito, têm vindo a ser dados sinais muito fortes para a extrema-esquerda, cujo principal objectivo consistiria em impedir a convergência de toda a oposição aquando de votações na AR, designadamente em possíveis moções de censura ou no OE. O protagonismo político fica para o PM, sendo que o espaço do centro ficou entretanto a cargo do titular da pasta das Finanças.

Tais sinais incluem, entre outros aspectos, as acções junto do poder actual na Venezuela (um substituto perfeito, no coração da extrema esquerda, para o velho Che) e o casamento entre pessoas do mesmo sexo. O almoço de celebração, aquando da publicação da respectiva lei, foi um sinal inequívoco da fuga para a esquerda que se encontra em curso.

É a “corrida” presidencial, contudo, que permite ao PS afirmar-se de forma clara como uma formação em desvio esquerdista, através do apoio a Manuel Alegre. Alegre, uma pessoa muito respeitável e um candidato com possibilidades de êxito, caso atinja uma eventual segunda volta, será visto, nesta perspectiva, como a pessoa que fará a ponte entre o PS e a extrema-esquerda.

Podemos prognosticar que o apoio a Alegre, por parte da direcção do PS, não será um apoio distante, será pelo contrário um apoio entusiástico. A campanha comum poderá permitir cimentar laços pessoais que obviem a atitudes políticas contra o PS após o fim da dita campanha. Nesta perspectiva, o resultado da campanha presidencial será relativamente indiferente – neste caso, é o processo que conta, não tanto o desfecho.

O momento da convergência do PS de volta para o centro político terá lugar em momento ulterior, quando as eleições estiverem à porta.

José Pedro Lopes Nunes

(Tópicos abordados no programa Domínio Público, emitido em 6 de Junho de 2010 no Porto Canal)

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