Saltar para o conteúdo

Erro anunciado

17 Junho, 2010

Quando sucedeu o caso BPP escreveu-se aqui: «deixa cair». É a situação normal e corriqueira em casos de insolvência, seja porque razão for. Mas o socialismo dominante disse que «nem pensar!, deixar o mercado funcionar? que disparate!». Sob a capa de dificuldades do sistema financeiro (que a situação do BPP nada tinha a ver), e de uma forma inusitadamente célere, nebulosa e nunca justificada,  os contribuintes foram chamados a suportar o custo dessa intervenção.

Dizia então o Teixeira dos Santos que «O Estado recebeu uma garantia que cobre no fundo este aval que foi dado”. Segundo Teixeira dos Santos o BPP deu uma contra-garantia na ordem dos 580 milhões de euros, isto é, 130 milhões acima dos que foram avalizados para “acautelar os seus interesses patrimoniais e dos contribuintes”.

Sucede que, como era mais do que evidente na altura , e mais tarde (sempre tarde…) foi verificado pelo Tribunal de Contas, tais «garantias» e activos não valiam o declarado: “dada a grande celeridade que revestiu o processo de concessão da garantia do Estado, esses bens [dados como contragarantia] foram, quando muito, objecto de uma análise superficial e aceites pelo valor indicado pelo BPP: 672 milhões de euros. Mas, logo na primeira análise efectuada pelo Banco de Portugal, o valor desses bens estava já reduzido para 439 milhões de euros“. Na verdade, seriam mesmo apenas apenas 150 milhões, se tanto…

Mais: e ainda segundo o TC, todo o processo foi ilegal, pois não havendo na altura um plano de recuperação «a garantia não poderia ter sido concedida». E que o aval do empréstimo destinava-se a garantir obrigações do BPP, o que nem isso sucedeu uma vez que tais fundos foram utilizados para fazer também face a responsabilidades de outros bancos do grupo. A propósito: o Banco de Portugal já pediu responsabilidades aos administradores por si nomeados (um deles, o seu próprio director do departamento de supervisão bancária que pelos vistos não fazia falta pois nunca foi substituído no BP….) ou é ainda o legado da cartilha de Constâncio «não sabia, não vi, não tinha poderes»?

Ah, e claro,  nós já pagamos os 450 milhões.

38 comentários leave one →
  1. CN's avatar
    17 Junho, 2010 00:13

    Como tinha comentado há muito tempo, a intervenção deve como primeira motivação impedir um default do BPP num empréstimo do JPMorgan de 500 ME (dado disponível no arquivo de notícias do Público)

    Por isso faça-se a ligação. A JP Morgan levou os 500 ME e quem pagou foi…?

    Gostar

  2. Desconhecida's avatar
    o neoliberalismo é um mito permalink
    17 Junho, 2010 00:18

    é o estado social em funcionamento. agora pode-se poupar na comida dos hospitais para compensar.

    Gostar

  3. Eduardo F.'s avatar
    17 Junho, 2010 00:30

    Quer no caso do BPP quer no do BPN, o que o Estado deveria ter feito era deixar o mercado funcionar. Se viesse a ocorrer a falência pois que ela acontecesse.´

    Já faliram, este ano, muitas centenas de empresas, umas mais pequenas outras maiores, mas foram largas centenas. Tal como, por exemplo, os trabalhadores de empresas falidas lutarão contra o espectro de poderem não vir a receber créditos que lhe cabiam, pois o mesmo sucederia quanto aos depositantes e demais credores daquelas duas instituições.

    É claro que no BPN logo foi invocado o “risco sistémico” apesar de o Estado ter optado por não ter viabilizado o plano Cadilhe. O que já sabemos, isso sim, é que o buraco do BPN é já superior a 2 mil milhões de euros, e que esse custo será coberto pelos contribuintes. Mas, pergunto eu, porque raio tenho eu que subsidiar os depositantes do BPN que quiseram tirar partido das altas rentabilidades das aplicações que o banco lhes oferecia. Por que carga de água, porra?

    Quanto ao BPP, fica-se sem se perceber o que lá esteve a fazer durante todos estes meses uma administração nomeada pelo estado (via Banco de Portugal). Quanto custou essa administração aos depositantes do BPP, por exemplo? Parece-me uma pergunta legítima.

    Gostar

  4. Desconhecida's avatar
    Anónimo permalink
    17 Junho, 2010 00:37

    “A JP Morgan levou os 500 ME e quem pagou foi…?”

    Quem representa a JP Morgan cá?

    Sempre os mesmos.

    Parece que há cerca de 13 biliões de euros escondidos em offshores. Dinheiro de cá, dos “empresários” de cá e vindos dos “mercados”.

    Então vamos lá traduzir: onzeneiros. Trafulhas e ladrões.

    Chega?

    Durante dois dias não comento aqui, por isso soube bem o desabafo de uma impotência contra esta camarilha que anda pelas “firmas” de advogados e certos meios.

    Gostar

  5. Desconhecida's avatar
    José permalink
    17 Junho, 2010 00:37

    “A JP Morgan levou os 500 ME e quem pagou foi…?”

    Quem representa a JP Morgan cá?

    Sempre os mesmos.

    Parece que há cerca de 13 biliões de euros escondidos em offshores. Dinheiro de cá, dos “empresários” de cá e vindos dos “mercados”.

    Então vamos lá traduzir: onzeneiros. Trafulhas e ladrões.

    Chega?

    Durante dois dias não comento aqui, por isso soube bem o desabafo de uma impotência contra esta camarilha que anda pelas “firmas” de advogados e certos meios.

    Gostar

  6. Desconhecida's avatar
    Anónimo permalink
    17 Junho, 2010 00:46

    a malta quer é praia, futebol, mines frescas e caracolada, nao quer cá saber de crises politicas e financeiras…. a prova é k ninguém faz manifestações na rua contra a injustiça k é os bancos pagarem menos irc, ou contra a violação dos direitos dos portugueses na aplicação retroactiva das leis…. portanto, viva a República!!!!!

    Gostar

  7. Eduardo F.'s avatar
    17 Junho, 2010 00:46

    Valerá a pena, uma vez mais, frisar que estamos perante dois exemplos evidentes em que a prática, legal, de reservas fraccionárias permite toda a espécie de desmandos, ficando os banqueiros sempre respaldados no «lender of last resort», no nosso caso, o BCE, via Banco de Portugal.

    Gostar

  8. Desconhecida's avatar
    Anónimo permalink
    17 Junho, 2010 00:51

    Já agora digam quem quem representa a JP Morgan cá

    Gostar

  9. Eduardo F.'s avatar
    17 Junho, 2010 00:53

    Uma nota de História:

    Sabiam que, na Antiguidade, em nenhum lugar seja na Grécia, em Roma, Índia, na China ou na Mesopotâmia, excepto na tribo dos Hebreus (e apenas para empréstimos entre Judeus), era legal a prática da usura?

    Gostar

  10. Eduardo F.'s avatar
    17 Junho, 2010 00:54

    Errata: era ilegal

    Gostar

  11. Desconhecida's avatar
    Anónimo permalink
    17 Junho, 2010 01:01

    # 10….

    Não podia faltar o bode expiatório: a culpa é dos judeus, pois claro, ´só podia ser. Da preguiça e da subsidio-dependência, nem pensar!!! 🙂

    Gostar

  12. Eduardo F.'s avatar
    17 Junho, 2010 01:05

    Caro Anónimo #11,

    Leu bem o que eu escrevi em #10 e #11?

    Gostar

  13. Eduardo F.'s avatar
    17 Junho, 2010 01:05

    Digo, em #9 e #10?

    Gostar

  14. lucklucky's avatar
    lucklucky permalink
    17 Junho, 2010 01:07

    “prática, legal, de reservas fraccionárias permite toda a espécie de desmandos”

    Isso é o mesmo que dizer que emprestar dinheiro permite toda a espécie de desmandos. Só chegámos onde estamos com crédito.

    “Uma nota de História:”

    Uma nota de história falsa.

    Gostar

  15. Eduardo F.'s avatar
    17 Junho, 2010 01:14

    Caro Lucklucky,

    Pense um pouco melhor, centrando-se nos depósitos à ordem.

    Gostar

  16. Desconhecida's avatar
    zazie permalink
    17 Junho, 2010 01:16

    Que tribo de hebreus, conta lá coisas, Peluche.

    Conta lá que era isso da tribo dos hebreus e onde ficava para ver se percebo onde foste desencantar a tribo dos hebreus a par dos gregos e romanos.

    Gostar

  17. Eduardo F.'s avatar
    17 Junho, 2010 01:17

    Caro Lucklucky,

    «Uma nota de história falsa.»

    Quer explicar-me porquê? Qual é a sua fonte para afirmar que a minha afirmação é falsa? A minha é a de Murray Rothbard em “An Austrian Perspective on the History of Economic Thought”, Volume I, pp. 43.

    Gostar

  18. Desconhecida's avatar
    Anónimo permalink
    17 Junho, 2010 01:33

    http://infamias-karocha.blogspot.com/

    Gostar

  19. Eduardo F.'s avatar
    17 Junho, 2010 02:11

    Caro Lucklucky,

    Agradeço, logo que tenha oportunidade, que corrija a informação que aqui prestei (em “Uma nota de história”, nos comentários e cuja fonte original tive a oportunidade de citar. Peço-lhe o favor de, naturalmente, também fazer o favor de indicar a(s) sua(s) fonte(s) caso venha a confirmar que o que escrevi em #9 coma a errata #10 está de facto errado.

    Aproveito também para lhe pedir que partilhe connosco o significado do que escreveu abaixo

    «Isso é o mesmo que dizer que emprestar dinheiro permite toda a espécie de desmandos. Só chegámos onde estamos com crédito.»

    tendo em atenção os meus comentários #7 e #15.

    O meu antecipado obrigado.

    Gostar

  20. Desconhecida's avatar
    Anonimo permalink
    17 Junho, 2010 02:41

    .
    A coisa anda assim:
    .
    -SURPRESA. QUEM DEVE MAIS NA EUROPA,
    Can you guess which is the most indebted country in Europe?
    http://blogs.telegraph.co.uk/finance/edmundconway/100006253/can-you-guess-which-is-the-most-indebted-country-in-europe/
    .
    -A AUSTERIDADE COM FINS POLITICOS e O FEITIÇO CONTRA O FEITICEIRO,
    Stimulus vs. Austerity
    Is Germany Saving Itself to Death?
    http://www.spiegel.de/international/germany/0,1518,700623,00.html

    -REVOLUÇÃO NA CITY – BANCO DE INGLATERRA ATACA OS BANQUEIROS,
    Bank of England to cap mortgages
    http://www.telegraph.co.uk/finance/personalfinance/borrowing/mortgages/7831323/Bank-of-England-to-cap-mortgages.html
    .
    Spanish banks break ECB loan record
    http://edition.cnn.com/2010/BUSINESS/06/16/europe.ecb.spain.banks/
    .
    -QUANDO A REVOLTA ARRANCA EM FRANÇA, NOS OUTROS PAISES QUEM TIVER JUIZO POLITICO ‘VIRA O BICO AO PREGO’,
    French workers’ fury as retirement age is raised… to 62
    http://www.dailymail.co.uk/news/worldnews/article-1287038/Workers-fury-France-plans-raise-retirement-age–62.html#ixzz0r3mZohCV
    .

    Gostar

  21. Nuno's avatar
    Nuno permalink
    17 Junho, 2010 02:46


    É evidente que quase tudo o têm escrito aqui nos interessa a todos, e muito.
    No entanto, o que francamente ma preocupa é correr com esta sacanagem, ou antes, como correr com esta cambada de incapazes.
    Já não há gente disposta a atirar-se aos socretinos com unhas e dentes e todo o material de agressão que encontre?
    Assim, não se passa da cepa torta…
    As mocas de Rio Maior deram resultado… depois, acabou-se.

    Nuno

    Gostar

  22. Desconhecida's avatar
    o neoliberalismo é um mito permalink
    17 Junho, 2010 11:46

    “Parece que há cerca de 13 biliões de euros escondidos em offshores. Dinheiro de cá, dos “empresários” de cá e vindos dos “mercados”.”

    aí está o dinheiro que falta e ninguém sabe explicar onde anda. Aí está porque se tem de cortar escolas, hospitais e subsídios de desemprego.

    apoiar isto é criminoso

    Gostar

  23. lucklucky's avatar
    lucklucky permalink
    17 Junho, 2010 14:34

    @Eduardo F

    O risco dos empréstimos não serem pagos existe sempre, logo existe sempre risco para os bancos.
    Se as pessoas passam a julgar que não há risco quer por terem funcionado bem durante 20 anos ou porque pensem que existe uma regulação mais tarde ou mais cedo temos problemas. O que é preciso é colocar na frente das pessoas esse risco e haver Bancos a oferecer no mercado diferentes coberturas dos depósitos e a anunciarem. É evidente que o salvamento de bancos impossibilitou mais uma vez o mercado do risco aparecer. Todos vão continuar a estar nos limites minímos.

    Em Roma por exemplo a taxa de jura era fixa por valor baixo. Mas ninguém cumpria, porque o mercado precisava de mais crédito.
    Os nossos Bancos Centrais não são mais do que uma maneira indirecta de tentar forçar uma taxa de juro do mercado como no passado.

    Gostar

  24. Desconhecida's avatar
    honni soit qui mal y pense permalink
    17 Junho, 2010 15:36

    e no entanto tanta gentinha achou mal deixar falir o Lehman`s …

    risco ? where ?

    Gostar

  25. Desconhecida's avatar
    Anonimo permalink
    17 Junho, 2010 15:57

    #23,
    vá directo ao assunto: quem são os proprietários dos Bancos Centrais ? Quem manda neles ? Quem manda imprimir mais papel moeda ? Informe.
    .
    Deixe-se de rodriguinhos. Vá directo(a) ao assunto. Quem manda no dinheiro ? Depois explique o resto.
    .
    Tome nota: ‘está escrito nas estrelas’ desde 2007 que os Bancos Centrais tal como os conhecemos hoje estão condenados a desaparecer até cerca de 2012.
    .

    Gostar

  26. Eduardo F.'s avatar
    17 Junho, 2010 19:28

    Caro Lucklucky,

    O seu comentário #23 em nada contribui para atestar a suposta falsidade que me imputou da afirmação que produzi em #9 e #10. Caso não o venha a fazer ainda hoje, considerá-lo-ei como uma pessoa de escrita leviana que não se importa de escrever manifestas mentiras sem qualquer tipo de fundamento.

    Dito isto, de que espero, sinceramente, vir a retractar-me, vamos então ao que escreve em #23.

    V. escreve, teorizando, sobre o risco de crédito. Eu não falei sobre essa matéria nem ela está em causa naquilo que escrevi. O que afirmei, e mantenho, é que o banqueiro, que quando recebe um depósito à ordem(*) tem por única obrigação devolver, a todo o momento que o depositante entender, a totalidade do depósito efectuado. Logo, qualquer empréstimo que o banco faça sobre o dinheiro depositado à ordem, é ilegítimo pois não houve, previamente, nenhum contrato de mútuo entre o depositante e o banco.

    É certo que esta prática é hoje legal entre nós, ao contrário do que sucedia, por exemplo, no direito romano, onde era considerada um crime por apropriação de propriedade alheia.

    Porém, exigindo o Banco Central uma taxa de reservas inferior a 100% (julgo que hoje é de 10%), ou seja, permitindo um sistema bancário de reservas fraccionárias, tal possibilita aos bancos criarem crédito/moeda a partir do nada, ou seja, enriquecerem à custa alheia e, ainda, introduzir, logo à partida, perturbações nos mercados financeiros. É este mecanismo que, historicamente, está por detrás das corridas aos bancos quando os depositantes acorrem aos bancos e percebem que o dinheiro que lá depositaram não existe ou, pelo menos, não é facilmente mobilizável.

    (*) – Na realidade, depósitos a prazo que sejam mobilizáveis, em todo o momento, em dinheiro vivo (cash), ainda que com perda de juros acabam por, para os efeitos do raciocínio expendido, serem “equivalentes” a depósitos à ordem e, como tal, defendo eu, também deveriam ser sujeitos a reservas de 100%.

    Gostar

  27. lucklucky's avatar
    lucklucky permalink
    17 Junho, 2010 22:01

    É falso que não existissem juros na antiguidade. Você pode pesquisar. Em Roma a taxa de juro fixa oficial num dos períodos senão me engano era de 2%. Muitos emprestavam a mais porque era preciso mais crédito.

    “O que afirmei, e mantenho, é que o banqueiro, que quando recebe um depósito à ordem(*) tem por única obrigação devolver, a todo o momento que o depositante entender, a totalidade do depósito efectuado. Logo, qualquer empréstimo que o banco faça sobre o dinheiro depositado à ordem, é ilegítimo pois não houve, previamente, nenhum contrato de mútuo entre o depositante e o banco.”

    Ele tem a obrigação de devolver. Nada mais a não ser que seja acordado.

    “Porém, exigindo o Banco Central uma taxa de reservas inferior a 100% (julgo que hoje é de 10%)”

    8%

    “Porém, exigindo o Banco Central uma taxa de reservas inferior a 100% (julgo que hoje é de 10%), ou seja, permitindo um sistema bancário de reservas fraccionárias, tal possibilita aos bancos criarem crédito/moeda a partir do nada, ou seja, enriquecerem à custa alheia e, ainda, introduzir, logo à partida, perturbações nos mercados financeiros. É este mecanismo que, historicamente, está por detrás das corridas aos bancos quando os depositantes acorrem aos bancos e percebem que o dinheiro que lá depositaram não existe ou, pelo menos, não é facilmente mobilizável.

    (*) – Na realidade, depósitos a prazo que sejam mobilizáveis, em todo o momento, em dinheiro vivo (cash), ainda que com perda de juros acabam por, para os efeitos do raciocínio expendido, serem “equivalentes” a depósitos à ordem e, como tal, defendo eu, também deveriam ser sujeitos a reservas de 100%.”

    E? Emprestar tal como fazer uma empresa tem risco, é uma aposta. Se não quer emprestar o dinheiro, você hoje pode meter o dinheiro num cofre de um Banco. Você terá de pagar para ter lá o seu dinheiro. Você é que pagará juros para o banco ter lá o seu dinheiro uma vez que este nada pode fazer com ele.

    Gostar

  28. Eduardo F.'s avatar
    17 Junho, 2010 23:09

    Caro Lucklucky,

    E desde quando é que eu disse que não havia juros(usura) na antiguidade? V. leu o #9 e o #10? Eu disse precisamente o inverso apontando apenas para uma excepção: a proibição de cobrança de juros entre os Hebreus.

    Gostar

  29. Eduardo F.'s avatar
    17 Junho, 2010 23:12

    Caro Lucklucky,

    «E? Emprestar tal como fazer uma empresa tem risco, é uma aposta. Se não quer emprestar o dinheiro, você hoje pode meter o dinheiro num cofre de um Banco. Você terá de pagar para ter lá o seu dinheiro. Você é que pagará juros para o banco ter lá o seu dinheiro uma vez que este nada pode fazer com ele.»

    Mas desde quando é que alguém de nós vai a um banco abrir um depósito à ordem e assina/celebra com o banco um contrato de mútuo?

    Gostar

  30. Desconhecida's avatar
    stop permalink
    17 Junho, 2010 23:20

    pagar para nos terem o dinheiro guardado é o que basicamente ocorre nas contas à ordem.

    Gostar

  31. lucklucky's avatar
    lucklucky permalink
    17 Junho, 2010 23:29

    “E desde quando é que eu disse que não havia juros(usura) na antiguidade? V. leu o #9 e o #10? Eu disse precisamente o inverso apontando apenas para uma excepção: a proibição de cobrança de juros entre os Hebreus.”

    Tem toda a razão. Peço desculpa.

    “Mas desde quando é que alguém de nós vai a um banco abrir um depósito à ordem e assina/celebra com o banco um contrato de mútuo?”

    Se os Bancos não puderem emprestar o seu dinheiro não lhe dariam juros alguns e você teria de pagar para lá por o seu dinheiro.
    Os Bancos funcionam como uma seguradora. Se o seu dinheiro for emprestado a uma empresa ou pessoa que falhe o pagamento os lucros do que o dinheiro de outros depositantes podem cobrir o seu e vice versa.

    Gostar

  32. Eduardo F.'s avatar
    17 Junho, 2010 23:32

    O contrato que algum de nós celebrou com o banco foi um contrato de depósito (dito “irregular”, porque as notas que depositou serão com certeza diferentes daquelas que lhe darão de volta) e o que o banco fez foi emprestrar, sem lhe pedir a si autorização, logo que pôde, (1-8%)=92% do montante depositado. Com esta operação, o Banco criou, supondo que o depósito constituído foi de 1000 euros, 920 euros de crédito a partir do nada. Porquê a partir do nada? Pela razão simples que, concedido que seja esse crédito, se o depositante retirar os mil euros que depositou de onde vieram os 920 entretanto emprestados?

    Por aqui se vê que o mecanismo de criação de crédito, sem que ocorra poupança prévia, leva ao desbragamento do crédito e ao enriquecimento indevido por parte da Banca.

    Na realidade este mecanismo é idêntico ao que resulta de imprimir moeda (seja em papel, seja em bits e bytes mais modernamente).

    Gostar

  33. Eduardo F.'s avatar
    17 Junho, 2010 23:34

    #31

    Caro Lucklucky,

    Agradeço o seu pedido de desculpas ficando, pela minha parte, sanado o incidente.

    Gostar

  34. Eduardo F.'s avatar
    17 Junho, 2010 23:43

    «Se os Bancos não puderem emprestar o seu dinheiro não lhe dariam juros alguns e você teria de pagar para lá por o seu dinheiro.»

    Sim, é o mais provável e, num sistema de reservas a 100%, seria o mais lógico (mesmo a 8%, também…). Exactamente como cada um de nós, se precisarmos depositar uma mobília em algum s+itio, teremos com certeza de pagar a custódia da mesma.

    «Se os Bancos não puderem emprestar o seu dinheiro não lhe dariam juros alguns e você teria de pagar para lá por o seu dinheiro.»

    Os Bancos só deveriam emprestar o dinheiro que nós próprios emprestássemos aos Bancos, através, por exemplo, da aquisição de obrigações ou da constituição de verdadeiros depósitos a prazo (não remíveis a depósitos à ordem). Só assim o crédito gerado seria “saudável” porque resultaria de poupança previamente constituída. A geração de crédito (“out of thin air”) sem que haja poupança previamente constituída é potencialmente inflaccionista e altamente desestabilizadora para os mercados financeiros pois fornece indicações aos mercados da existência de poupanças inexistentes. O resultado é o estouro. Mais cedo ou mais tarde.

    Gostar

  35. CN's avatar
    18 Junho, 2010 09:36

    «Se os Bancos não puderem emprestar o seu dinheiro não lhe dariam juros alguns e você teria de pagar para lá por o seu dinheiro.»

    Isso é que acontece já com a custódia de títulos (acções, obrigações, etc). Mas podemos antecipar que seria que os bancos pouco ou nada cobrassem devido ao portfolio de serviços.

    Exsite um factor que o Lucky tem de ter em atenção

    Num sistema de 100% de reservas, em vez de uma inflação permanente de (nos melhores tempos) 2-4% de subida de preços todos os anos, teríamos com toda a certeza uma descida gradual e contínua de preços.

    O que quer dizer que ter posse de dinheiro por si só, valoriza. E era assim, nos tempos antigo. Ter posse de moeda era uma forma de poupança por si só. O que levava as pessoas a estarem mais independentes do sistema bancário.

    Nos EUA no período de maior crescimento de sempre, cerca de 1870 a 1900, os preços caíram continuamente.

    Gostar

  36. Miguel Madeira's avatar
    18 Junho, 2010 09:58

    “o que o banco fez foi emprestrar, sem lhe pedir a si autorização, logo que pôde”

    Atendendo que eu sei perfeitamente que o banco faz isso com o meu dinheiro, o acto de o depositar não conta como uma autorização?

    Além disso, quando abro uma conta bancário, eu preencho um papel com uma conversa qualquer no verso. Eu nunca me dei ao trabalho de a ler, mas não me admirava nada que haja lá algo dizendo “depósito nos termos da lei xx/yyy”, remetendo para alguma lei dizendo que o banco pode emprestar uma percentagem do valor depositado. Ou seja, se fôr assim, eu efectivamente autorizei o banco a emprestar o meu dinheiro.

    Gostar

  37. CN's avatar
    18 Junho, 2010 11:20

    Miguel

    “Atendendo que eu sei perfeitamente que o banco faz isso com o meu dinheiro”

    Nem isso é 100% certo, historicamente, muita gente pensava que não. Não tenho a certeza que as cláusulas específicas mencionem expressamente que o dinheiro das DO pode ser dado a crédito a terceiros. Deve é decorrer de legislação geral da lei bancária e que as pessoas pouco percebem.

    Outro ponto menos visível é que:

    É a própria capacidade de dar crédito com DO que depois permite aos bancos criar moeda para dar crédito, porque o banco simplesmente deposita um DO (criado do nada) registando o crédito concedido no activo.

    Uma coisa leva à outra.

    Além disso existe a questão do “labelling”.

    Chamar “Depósito à Ordem” a uma operação de crédito ao banco é masi que discutível.

    Deveriam chamar “Crédito imediatamente reembolsável.” E ao mesmo tempo terem DO que seriam mesmo Do.

    Gostar

  38. Eduardo F.'s avatar
    18 Junho, 2010 14:44

    «Atendendo que eu sei perfeitamente que o banco faz isso com o meu dinheiro, o acto de o depositar não conta como uma autorização?»

    Acha que o facto de haver uma forte possibilidade (ou até mesmo a certeza) de lhe roubarem as nêsperas no seu quintal, constitui uma sua autorização tácita para que os ladrões as levem?

    Gostar

Indigne-se aqui.