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Terá a esquerda reformista coragem para se separar, de vez, de Alegre?*

29 Outubro, 2010
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Onde é que estaria Manuel Alegre, se fosse hoje Presidente da República? Talvez tivesse viajado ontem para Londres para “sensibilizar” as agências de rating, uma vez que o custo dos juros da nossa dívida soberana voltou a ultrapassar a fasquia dos 6 por cento. Ou talvez não. Talvez tivesse preferido voar antes para Bruxelas, onde, pedindo uns minutos a Passos Coelho e outros a José Sócrates, tentaria encontrar-se com Angela Merkel entre o almoço e o jantar para lhe explicar que “Portugal foi tratado injustamente”.
Patético, não é? É. Mas foi isto que o poeta candidato disse, numa entrevista ao Diário de Notícias, que devia estar a ser feito pelo Presidente da República. Uma entrevista tão reveladora que é um manifesto a favor da reeleição de Cavaco Silva. Uma entrevista que deveria levar a esquerda democrática e moderada a cortar de vez amarras com quem continua a dar sinais de perigosa alucinação. E de desfasamento da realidade.
Num país onde a dívida externa ultrapassa os 515 mil milhões de euros (três vezes o PIB) e a dívida pública os 125 mil milhões, Alegre acha que o mal está nos quatro mil milhões do BPN, que por enquanto nem saíram do Orçamento. Após anos de irresponsável despesismo e défices acumulados, num tempo em que Portugal perdeu a capacidade de tomar autonomamente decisões porque não tem dinheiro, isto é, depois de nos termos colocado numa posição em que, por estarmos sempre de mão estendida, somos obrigados a cumprir compromissos de redução da despesa, um político que nunca disse uma palavra sobre a forma desvairada como gastávamos afirma-se chocado: “Aqueles que andaram nos campos de batalha a defender a independência nacional nunca pensaram que lhes podia aparecer um dia um inimigo chamado mercados financeiros.” Inimigo? Chama-se inimigo a quem nos empresta dinheiro para levarmos uma vida desvairada? E não será que só dependemos desses mercados financeiros porque não sabemos viver senão a crédito e acima das nossas possibilidades? Alegre devia sabê-lo. E, se não o sabia podia, ao menos, tê-lo aprendido, se tivesse lido os discursos onde o actual Presidente alertou para as consequências trágicas do percurso que estávamos a percorrer pela mão do seu “camarada” José Sócrates.
Mas não. Nessa entrevista foi mesmo necessário insistir quatro vezes para que dissesse alguma coisa de concreto sobre o Orçamento. Mais: riu-se com a hipótese de também fazer greve geral. Foram outros dois dos muitos sinais de como tem embotada a sensibilidade para o que é mesmo preciso fazer em Portugal. O que não surpreende: a sua candidatura é uma aliança espúria de dois oportunismos, o de Sócrates e o de Louçã. Sócrates apoia-o (ou finge que o apoia) apenas para não ter mais maçadas e não se envolver em nova trapalhada, como há cinco anos. A única prioridade de Sócrates é sobreviver a todo o custo e sem olhar a meios, Alegre nem entra nos seus cálculos. Já Louçã comprou um sarilho ao BE com a esperança de, através do poeta candidato, criar uma fractura no PS, ou, no limite, dar força a uma ala dita “de esquerda” mais favorável ao namoro com os bloquistas. Para ele, Alegre começou por ser instrumental e está a tornar-se num fardo, até porque na campanha eleitoral não se vão discutir os temas etéreos que aproximam a esquerda alegre e irresponsável de um certo PS, antes a realidade pura e dura de como viver num país falido. Nesse debate tudo separa os revolucionários do Bloco dos que, no PS, ainda têm os pés na terra.
No momento que o país atravessa, esta clivagem não é secundária. E não é secundária porque vai ser preciso construir em Portugal um grande bloco social e cultural que apoie as reformas duras e difíceis que nos esperam nos próximos anos – por certo em toda a próxima década. Vai ser necessário mudar mesmo de vida, vai ser necessário que o Estado e os particulares gastem menos, vai ser preciso mudar a legislação falsamente protectora que agrava o desemprego, vai ser urgente conter o crescimento imparável do chamado Estado social, vai ser indispensável trabalhar mais e ganhar menos, vai ser incontornável acabar com o laxismo e a falta de exigência que marcam tantos sectores da vida portuguesa, com destaque para a Educação. Essas mudanças terão sempre a oposição dos revolucionários e dos lunáticos, mas não é certo sequer que seja possível formar uma coligação alargada de reformistas sensatos. Mais: o bloco de apoio a estas mudanças não será realizado em primeiro lugar pelos partidos, pois estes estão demasiado comprometidos com o statu quo; tal bloco terá sim de contaminar os partidos, levando-os a romper os actuais equilíbrios, feitos de jogos de interesses, de distribuição de prebendas e clientelas e de colonização de um Estado cada vez mais tentacular.
O próximo Presidente da República ou compreende e está em sintonia com o indispensável processo de superação da crise, ou colocar-se-á contra ele. É por isso que neste momento, como noutros momentos da democracia portuguesa – a luta pela democracia, a construção europeia -, a linha de separação não passa pelo centro de espectro político, antes pelo interior do PS. Manuel Alegre fica do lado de lá dessa linha. Cavaco Silva do lado de cá. Do lado onde está o centro-direita e também começa a estar a esquerda moderada. E uma parte importante do PS.
Não há muito espaço para estados de alma ou divagações estéticas e não perceber como vivemos de novo um momento de encruzilhada é não perceber o que vai estar em causa nos próximos anos em Portugal. Manuel Alegre, com a sua entrevista ao Diário de Notícias, ajudou a desfazer algumas dúvidas. A previsibilidade da declaração de recandidatura de Cavaco Silva também. Afinal quem é que deseja, por muito poucos poderes que tenha o Presidente, um inquilino imprevisível em Belém?
*Público, 29/10/10

24 comentários leave one →
  1. Arlindo da Costa's avatar
    Arlindo da Costa permalink
    29 Outubro, 2010 21:24

    Terá, por sua vez, a Direita Liberal e desempoeirada, coragem dalgum dia demarcar-se de Cavaco Silva, um politico profissional que eucaliptiza tudo à sua volta e que mantém refém há 20 anos o PSD?
    Que raio de liberais ou neo-liberais são esses que continuam a pôr a cruzinha no expoente máximo do caneisianismo tuga?

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  2. AB's avatar
    29 Outubro, 2010 21:26

    Caro JMF não perca tempo. À falta de melhor vamos chupar os ossos do Cavaco.
    É outra vez o mal menor.
    Para o poeta-assim-assim ficam a caça e a pesca, que é do que ele gosta.

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  3. Essa agora's avatar
    29 Outubro, 2010 21:30

    Excelente artigo.
    Era bom que fosse lido pela maioria dos portugueses: o País precisa de acordar.
    Parabéns!

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  4. Por outra's avatar
    Por outra permalink
    29 Outubro, 2010 21:37

    Não force a eleição do Cavaco,
    ó manel, se não precisa, condenado
    que está a gramá-lo, commigo e
    os mais portugueses, me valha
    nossa sinhora, coitados.

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  5. Por outra's avatar
    Por outra permalink
    29 Outubro, 2010 21:38

    E eu diria ainda mais, desgraçados.

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  6. Vadinho Nascimento's avatar
    Vadinho Nascimento permalink
    29 Outubro, 2010 21:43

    O que é preciso é acabar com direitos adquiridos, feudalismos e outras coisas que tais.
    Tudo esta em causa. Nada está adquirido. E não pense a malta das esquerdas, que lá por o Manuel alegre ir disputar a segunda volta, que o seu destino seja igual ao do Serra lá no Brasil.
    Não haverá direito adquirido. Por exemplo um devedor, têm uma hipoteca de 200.000 euros passa para 150.000 euros. Uma hipoteca de 100.000euros passa para 70.000 euro. O arrendatário paga 500 euro de renda passa para 400 euros. Um aforrador tem depósito de 5000 euro passa para 4000 euro. Não havendo dinheiro não há direito adquirido para ninguém.

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  7. Insurrecto Meditativ's avatar
    29 Outubro, 2010 21:50

    Qual Esquerda reformista? Não percebo, sinceramente.

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  8. Pi-Erre's avatar
    Pi-Erre permalink
    29 Outubro, 2010 21:56

    “(…vai ser indispensável trabalhar mais e ganhar menos…)”

    Ora deixa cá ver, trabalhar mais é produzir mais; ganhar menos é consumir menos, não é verdade? Então, para onde vai o excedente da produção? Ah, já sei, exporta-se para a China, juntamente com os galos de Barcelos. Problema resolvido!…

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  9. jaime's avatar
    29 Outubro, 2010 22:25

    a esquerda é isso mesmo
    mas o que é Cavaco? é penoso ouvi-lo

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  10. lucklucky's avatar
    lucklucky permalink
    29 Outubro, 2010 22:35

    Cavaco é mau de mais para ser mal menor . Cavaco é um entrave à reforma, um mordomo demasiado caro. Só quando o eucaliptal cavaquista – como bem diz Arlindo Costa- , desaparecer haverá mudança. A mudança poderá ser para chegarmos mais depressa ao pior, ainda assim é menos mau que chegarmos lentamente pela mão de Cavaco ao pior.

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  11. lucklucky's avatar
    lucklucky permalink
    29 Outubro, 2010 22:37

    Excepção para quem tem menos de 5 anos de esperança de vida e não tem filhos nem netos.
    Esse ainda deve votar Cavaco se se estiver nas tintas para o que vier a seguir.

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  12. e-ko's avatar
    e-ko permalink
    29 Outubro, 2010 22:38

    isto é uma das novas formas de campanha para o novo Cavaco? já que reduziu os gastos com a campanha, vêm os amigos ao seu socorro!…
    para mim, nem Alegre nem Cavaco… e cada partido tem a sua cruz!…

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  13. Ze's avatar
    29 Outubro, 2010 22:45

    ai o crlinho JMF , desculpe a má educação , mas a esquerda reformista chama-se PSD , o PS é socialismo mesmo , não confunda socialismo na gaveta com partidos quase liberais , é mais ou menos como pensar que o PS no governo é social-democrata , não é , finge …. mal deixa de ser governo é socialista de gaveta é diferente percebeu ?

    o PS esta dividido em dois , os do socialismo na gaveta que são sociais democratas quando governo , e os do socialismo fora da gaveta …..

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  14. Euro2cent's avatar
    Euro2cent permalink
    29 Outubro, 2010 22:51

    (tl;dr)

    O Cavaco faz tanto por nós como a rainha de Inglaterra.

    Merece o mesmo voto que usamos para a eleger.

    (wait, what?)

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  15. Carlos Albuquerque's avatar
    29 Outubro, 2010 23:03

    “vai ser indispensável trabalhar mais e ganhar menos”

    Mas não há trabalho para quem quer trabalhar e quem já trabalha trabalha muito. Não seria melhor dar trabalho a quem não o tem?

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  16. Bulimunda's avatar
    Bulimunda permalink
    29 Outubro, 2010 23:18

    ISTO É ASSIM.:QUANTO MAIS TARDE SE REFORMAREMOS VELHOTES MENOS HIPÓTESES TÊM OS MAIS NOVOS..LOGO TEMOS DE INSTAURAR RAPIDAMENTE O TESTAMENTO VITAL..EUTANÁSIA COM ELES NÃO É LIBERAIS…?
    Se é difícil impedir de pensar os povos que se acostumaram a isso, é cem vezes mais difícil forçar a pensar os que o esqueceram ou desaprenderam ….Edgar Quinete…

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  17. anonimo's avatar
    30 Outubro, 2010 00:52

    Já Adormeceram Outro
    E o coelho foi metido na cartola. Sócrates – com o apoio claro de Cavaco – conseguiu de novo.

    Já Adormeceram Outro

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  18. anonimo's avatar
    30 Outubro, 2010 00:54

    Embarretado A Toda A Força, Dispara Contra Os Mexilhões

    Embarretado A Toda A Força, Dispara Contra Os Mexilhões

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  19. anonimo's avatar
    30 Outubro, 2010 01:00

    O Cabrão de Boliqueime

    ARREBENTA
    Há uma coisa extraordinária que é o PS, ou o placebo no qual o PS se tornou, com o advento de Sócrates, poder ser, e parecer, insubstituível. Convenhamos que nem Maquivel teria uma receita para tal, mas era elementar: tornar um Estado tão próximo do deserto que qualquer alçar da perna, para uma mijadela contra a parede, logo parecesse uma fonte.
    Onde mija um Sócrates português, mija um Passos Coelho e mais um Portas e mais uns dois ou três.
    Devia haver, a bem da saúde pública, uma campanha de descontaminação, que impedisse que ex ministros, ex secretários de estado, ex gestores e presentes filhos da P*** viessem para a televisão, com ar sofrido, compungido, e grave, apregoar receitas para desparasitar a piolheira que espalharam.
    Na TVI, sempre inovadora nestas coisas, passa um programa que é abaixo de cão, onde umas gajas ordinárias, à mistura com uns rabetas tatuados, soltam uns lugares comuns elevadíssimos, ao nível da argumentação do Catroga, um dos quais que foi Ministro das Finanças, quando Cavaco vendia o País com deficites elevadíssimos, e desvios de fundos considerados como política de Estado, contra a argumentação do Teixeira dos Santos, um beiçanas, que parece saído do “Rapto da Serralho”, mas em versão tragédia de Ésquilo.
    Muito sinceramente, e começando pela conclusão, o que eu mais queria é que esses gajos se fodessem todos, e em fogo lento, para sentirem bem a tensão do que fizeram, porque, e nisto divergimos, eu, e mais uns quantos que costumam contra argumentar comigo, que a “Coisa” começou com o Cavaco, enquanto há quem afirme que o grande patriarca era o Soares. Se calhar temos todos razão, e vou alinhar com eles, embora coloque o Cavaco à frente, ou seja, sempre que saio a terreiro, é para dizer que, muito antes de Sócrates, de Teixeira dos Santos, de Durão Barroso, ou de maleitas afins, há, e continua a haver, um mal maior, que aconteceu à Democracia Portuguesa, e que se chama Aníbal Cavaco Silva. Contra Cavaco, alio-me com o que vocês quiserem, até com a Cinha Jardim, com o Quim Barreiros, ou com a inocência do Carlos Cruz.
    O enredo é simples, e muito ao nível do programa da TVI: entreter o pagode, sentando, à mesa, o máximo de figurantes, para fingir que o País inteiro, mais as suas “elites” de sarjeta, se conluiou, para tentar sair da Crise. Acontece que não há Crise nenhuma, o que há são décadas de gestão desastrosa, de uma canalha que, mais Bloco, menos Bloco, Central, transformou o Erário Público numa espécie de cabides para os amigos, com custos crescentes, produtividade ruinosa, e que agora, num enorme espetáculo mediático, nauseante, pouco imaginativo, e insultuoso para as pessoas, que como eu, e os meus leitores, ainda pensam, num espetáculo, dizia eu, de “patriotas”, que estão a tentar salvar, a todo o custo, a gravidez de risco da Bancarrota que eles próprios emprenharam.
    Podem tentar o que quiserem, porque já lhes tirei a fotigrafia: a melhor coisa que o criminoso pode fazer é vir, depois de consumado o ato, apoiar a mão no ombro da vítima, e vir-lhe propor ajuda e carinho. Eu quero que o carinho dos Silva Lopes, dos Ernânis Lopes, dos Catrogas, dos Cadilhes, do Mira Amaral, do Medina Carreira, e de todos os outros, cujos nomes vocês aqui vão pôr, SE f***, porque eles não fazem parte da solução, antes foram as formiguinhas contribuintes, pela sua gestão desastrosa, para que o Estado chegasse ao ponto a que chegou, e não há salvação, pela imagem, que me impeça, mal irrompem pelos telejornais, de apontar o dedo, e dizer, imediatamente, “olha, mais um culpado pelo presente estado desta m****!…”
    O PS, como comecei por dizer, safa-se sempre, porque entrou naquele olho do ciclone onde as brisas estão todas paradas: o Aníbal já não pode dissolver as Cortes; a Europa lincha-nos, se não dermos um sinal de que estamos realmente arruinados, e o descrédito político tornou-se, pela perversidade, uma barreira — sol e sombra — de proteção da tourada. Digamos que, em vez de separação de siameses, a máquina Gobbels do de Vilar de Maçada conseguiu criar um hipergémeo, inoperável, que berra, como um bezerro, e que temos de aturar todas as noites, com vontade de disparar contra a televisão: um “Orçamento”, que aposta em exportações, quando, nos últimos anos só conseguimos exportar lixo, do calibre do Ferro Rodrigues, do Durão Barroso, da Carrilha e do Constâncio, é um delírio e uma aberração.
    Fácil era que isto conduzisse a um vandalismo, e rolassem, mas mesmo em tom literal de sangue, algumas cabeças pela rua, embora creia que, neste momento indómito e fatal, nos restem ainda algumas armas de legalidade, para abandalhar a coisa totalmente.
    O PSD, cuja avidez de Poder é insaciável, sabe que este seria o momento mais complicado de intervir em cena, já que herdaria um nado morto, com faturas acumuladas e falidas. Beneficiando da situação, o Vigarista de Vilar de Maçada, e a sua Corja, que realmente já não querem governar, e se podem dar ao luxo de esticar a corda, ao ponto de isto se tornar um vomitório, tornaram-nos o Presente num Inferno, e anunciam o Futuro como um infernos dos infernos, talvez com Dona Adelaide a governar, com um Orçamento Jeová, e metas de execução económica e orçamental resumidas numa só linha, muito ao gosto das Testemunhas: “o Fim do Mundo vem aí”, e logo acrescentar, muito orgulhosa, e beijando a fotografia do filho, dizendo, ” e foi ELE que o trouxe”.
    Nos bastidores, e é preciso que isto seja dito, há uma lesma, geneticamente ligada a uma bomba de gasolina, que acha que o Palácio de Belém é um asilo, e que é lá que deve acabar os seus distúrbios neurológicos, ao lado da sua Maria, descambada e de pernas em forma de Arco da Rua Augusta, com o pescoço das chitas de costureira a separar-se cada vez mais do pescoço, tal a falha de Santo André, na Califórnia, e um horrível cheiro a ranço, nos grandes lábios.
    “De Senectude”, de Séneca, mas em versão de santaria do Norte, com as ronhas do Reyno dos Algarves.
    O Sr. Aníbal, culpado mor desta choldra, o gajo que vendeu a Agricultura, desmantelou a Metalurgia, transformou a Indústria em guichés rápidos de importação do que os outros produziam, canalizou os Fundos para as mãos de gente reles, como Dias Loureiro, BPNs e porcarias afins, deu cabo das vias férreas, produziu estradas da morte, multiplicou clientelas, ensinou como o Estado se podia transformar num monstro e epigrafe apátrida do latrocínio, esse senhor, na sua miserável decadência física e mental, quer agora apresentar-se como um dom sebastião de teatro de revista, e gerir “silêncios”, que é o modo mais sofisticado que encontrou, para manter a boca livre de perdigotos, agora que já não está na moda morfar fatias de bolo rei para os jornalistas.
    Dizia eu que há o mau, e o mau do mau. Sempre que me sento, e penso no Zé da “Independente” e no Saloio de Boliqueime, penso sempre que Aníbal é um fracasso de uma era passada, um Dantas do tempo de Salazar, enquanto Sócrates é um palhaço do meu tempo. Invertam, os termos, se bem vos aprouver, mas acabarão por me dar razão.
    A leitura moral deste desabafo é simples: a arma da Democracia é o protesto do voto. O protesto mais próximo do voto, é neste instante, impedir o inevitável: que o desequilibrado neurológico de Boliqueime volte a entrar em Belém, o que me parece quase impossível, excetuado o Português, que nunca teria imaginação para tanto, lhe dar um duche de votos em branco. Hipótese ainda mais perversa, é a que ouço as minhas amigas tias dizerem à boca cheia: vão votar no Chico, do PCP, só para provocar estragos. Se acordar para aí virado, quem sabe se não farei o mesmo, para mandar à m**** o Aníbal, o Bêbedo, e o soarista das Enfermeiras…
    Quanto ao PSD, restava-lhe, se não estivesse enterrado nisto até ao pescoço, e a tentar escorar um Governo morto, que, se cair, lhe cai em cima, fazer uma coisa que ficava bem, e era Oposição civilizada: deixar para os incompetentes que fizeram este Orçamento o ónus total da sua aprovação. Era simples: quando se passasse à votação, levantavam-se em peso, e abandonavam a sala, como fazia o Alegre, sempre que a coisa podia prejudicar-lhe a vaidade, deixando os restantes lacraus entregues a si mesmo.
    Não custa sonhar. Sonhei, ao longo destas linhas. Amanhã, a realidade trar me á, de novo, ao pesadelo.
    http://comunidade.sol.pt/blogs/arrebenta/archive/2010/10/26/O-Cabr_E300_o-de-Boliqueime.aspx

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  20. Eleitor's avatar
    Eleitor permalink
    30 Outubro, 2010 09:34

    A mais que provável reeleição de Cavaco é um bom sinal da nossa triste sina.
    Chegarmos ao ponto em que o Sr. Silva é o melhor que se pode arranjar para PR é o melhor indicador da miserável falta de qualidade da nossa classe política (e apêndices, vulgo comentadores).
    Vaidoso, presumido, o homem não tem ideias, não tem rasgo, não mobiliza. Tudo o que faz é papaguear conceitos económicos (dívida, déficit…) sem nada de original.
    Um primeiro mandato miserável (ele vinha para salvar a Pátria, lembram-se?), umas intervenções públicas que nos fazem corar de vergonha e, agora, no anúncio da recandidatura, um discurso patético, arrogante, balofo.
    De Cavaco só há a esperar mais do mesmo. Haja vergonha e deixem de promover o homem (não vale a pena dar a cara por ele).
    Cá por mim, voto em branco para não ficar cúmplice da desgraça.

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  21. Trinta e três's avatar
    30 Outubro, 2010 09:39

    Estes comentadores que usam abusivamente a primeira pessoa do plural, ou não sabem onde vivem, ou têm o sermão encomendado. Só “sabemos” viver à custa de crédito? Mas está a falar de quem? Dos governantes que temos tido (e onde o JMF parece encontrar uma súbita consciência de uma situação que nunca souberam enfrentar)? Dos grandes grupos económicos (que estimularam e viveram desse crédito, mas que o JMF parece incluir nesse tal “bloco” que, agora, vai tomar as tais medidas necessárias)? Ou do cidadão comum que mais não tem sido do que um joguete dos dois anteriores, empurrado para alternativas suicidas (por exemplo, a especulação imobiliária, lembra-se?) e, agora, condenado a pagar o desvario? Importa ter algum cuidado na conjugação dos verbos.

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  22. A. R's avatar
    A. R permalink
    30 Outubro, 2010 12:09

    É uma pobreza sistémica este alegre Alegre. A bordo de um BMW série 7 oficial este “presidente solidário e justo” ainda não teve uma palavra de ânimo para milhões de portugueses que vão ter a sua qualidade de vida severamente degradada.

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  23. A C da Silveira's avatar
    A C da Silveira permalink
    30 Outubro, 2010 14:39

    O Presidente da Republica não presta, o 1º ministro não presta, (este por acaso não presta mesmo), o lider da oposição não presta, os ministros não prestam, os presidentes da Camara não prestam. Ninguem vale nada. Mas são os que temos, e perfeitos só se forem feitos nas Caldas, ou então os que estão nos nichos das Igrejas, mas esses normalmente são de pau e não dizem nada, só fazem milagres.
    Mas esta gente não tem espelhos lá em casa? Não gostam do país que somos, do povo que somos, dos politicos que temos? Importem outros de Espanha ou melhor ainda, da Suecia.
    Este acordar doloroso para a dura realidade tinha que acontecer mais cedo ou mais tarde, e quando os que de há anos para cá diziam que isto havia de acontecer eram enxovalhados na praça publica.
    Agora é aguentar e estudar mais, trabalhar mais, não acreditar nos que vendem banha da cobra, e tentar recuperar um país com 850 anos. Mas vai custar mais do que ir à India no sec XV.

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  24. karocha's avatar
    karocha permalink
    30 Outubro, 2010 15:28

    Bom post

    http://infamias-karocha.blogspot.com/

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