O fim do namoro e a geração Facebook.
Mau governo? O meu?
Acabou o “namoro” entre PS e PSD. Um “namoro” que, apesar de não ter dado casamento, deixou dois orçamentos. A vida tem frequentemente elementos de surpresa, mas é surpreendente a surpresa, mesmo para aqueles que pensam que já nada os surpreenderá.
Pressionado pela quase caótica situação financeira e pelas instâncias europeias, o governo avançou com mais um pacote de austeridade. Antes, o Presidente de República tinha feito um discurso que foi, por muitos, entendido como sendo fortemente crítico para a actual situação. Pouco depois, é o presidente do PSD que acaba com o “namoro”, alegando incumprimento de um anterior acordo.
Para a mente menos avisada, o fim do “namoro” poderia fazer crer que o governo teria caído numa cilada, através de uma estratégia em tenaz envolvendo actores nacionais e internacionais (não, desta vez não são os “mercados” nem os “especuladores”). De acordo com uma outra visão, teria sido o governo a aceitar um “trade-off”, recebendo indicações por parte das instâncias europeias de que não será necessária a vinda do FMI, mas em troca aceitando apresentar um conjunto de medidas que o colocam em condições de ter que disputar novas eleições no corrente ano. Numa terceira perspectiva, seria o próprio governo a querer desencadear uma crise política.
Muito embora a capacidade de resistência do actual governo seja já lendária, a sua sobrevivência apresenta-se, no presente momento, como muito pouco provável. Seria caso para dizer: “sabe-se que o governo vai cair, não se sabe como nem quando”.
Vem entretanto a “geração à rasca” animar a situação política, através de uma série impressionante de manifestações que, ao contrário de outros países, não resultou em violência generalizada. Com o poder para juntar dezenas de milhares de pessoas na ponta dos dedos com um teclado de computador, a geração que liderou as manifestações talvez seja mais bem caracterizada como “Geração Facebook” – “à rasca”, na verdade, estão todas as gerações.
A “Geração Facebook”, já produziu “estragos” no norte de África. Em Portugal, o mote está dado para novas iniciativas, que escapam ao controlo dos partidos políticos. Muitas pessoas querem mudança, o que não é surpreendente uma vez que o actual sistema constitucional permite que os eleitos por cerca de 36,5% dos votantes governem. Partindo de um nível relativamente baixo, o desgaste causado pela governação pode produzir níveis de apoio popular ainda mais baixos. O governo vai mudar, mas a “Geração Facebook” vai continuar por cá – os partidos políticos terão que se habituar a esta nova realidade.
José Pedro Lopes Nunes
P.S. Faço minhas as palavras “Já Basta” – quanto mais cedo se der a mudança, melhor.

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