Do delírio e da falta de vergonha*
Se bem percebo o país desatou a rir porque Paulo Futre anunciou que o futuro do Sporting passa por um jogador chinês. Vi o vídeo em questão e não percebo o que causou tal galhofa. Em primeiro lugar porque aos olhos de quem está de fora da mística e de tudo o mais que caracteriza os adeptos do futebol, as declarações de Paulo Futre em nada destoam daquilo que todos os dias outros dirigentes, candidatos a tal e a massa associativa (adoro esta expressão!) dizem a propósito dos mais variados assuntos. Por estranho que pareça, pelo menos aos ignorantes em matérias de esférico, como é o meu caso, os mais comedidos e razoáveis diante dos microfones parecem ser os jogadores.
Em segundo lugar também me causou perplexidade que não se entendesse a relevância do “tal jogador fantástico” chinês. Afinal não é de modo algum inédita a contratação de determinados jogadores por causa da sua nacionalidade ou pela especial ligação que mantêm a determinados regimes, sobretudo aqueles cujas contas públicas não são escrutinadas para não dar má imagem dos seus políticos. Ou será que Al-Saadi Kadafhi, filho do ditador líbio, envergou a camisola do Perugia, do Udinese e do Sampdoria por causa dos seus dotes enquanto jogador? Se os chineses estiverem dispostos a encher aviões de adeptos para verem o “tal jogador fantástico” chinês de que fala Paulo Futre não me parece que fosse mau negócio contratar o dito chinês que certamente não faria pior figura que Al-Saadi Kadafhi no campeonato italiano.
Mas o que mais me surpreende na reacção galhofeira à intervenção de Paulo Futre é o facto de se ter considerado delirante a antevisão de Futre de centenas de chineses a desembarcarem semanalmente na Portela donde rumariam a Alvalade, enquanto o Sporting cobraria comissões às companhias de aviação, aos hotéis, aos restaurantes, aos museus… frequentados pelos ditos chineses. Vão desculpar-me mas estão a rir-se de quê? Já se esqueceram das figuras patéticas observadas neste país aquando da visita a Portugal do presidente chinês em Novembro do ano passado? Os jornais de referência encheram-se então de títulos que em nada divergem dos arrebatamentos de Paulo Futre com o departamento chinês do Sporting: “Homem mais poderoso do mundo em Lisboa para comprar dívida”; Hu Jintao está em Portugal para comprar a dívida”; “Presidente chinês garante: “O futuro é promissor“…E agora que Lula veio a Portugal os títulos gloriosos voltaram a sair da gaveta, só que onde em Novembro passado se lia China lê-se agora Brasil.
Confesso que sinto uma vergonha profunda durante aquelas horas em que só se fala do presidente do país mais poderoso do mundo, do governante da nação mais rica do planeta ou do líder do país mais irmão que vão resolver a nossa crise. Peço aos céus que ninguém naquelas comitivas veja a televisão portuguesa, ouça os noticiários das nossas rádios ou passe os olhos pela nossa imprensa pois de tudo aquilo emana um misto de sabujice, própria de quem está desesperado, e de chico-espertismo característico de quem viveu acima das suas possibilidades e agora espera sacar uns trocos a uns dirigentes que na verdade considera uns novos-ricos.
Poucas horas depois deste deprimente exercício, o presidente do país mais poderoso do mundo, o governante da nação mais rica do planeta e o líder do país mais irmão, partem com um ar que me parece ligeiramente escarninho e declarando que sim, que vão tomar em consideração o nosso caso. Estes visitantes não resolvem os nossos problemas mas poupam-nos o exercício de nos confrontarmos com os nossos erros e sobretudo fazem-nos companhia nas horas do medo. Por causa desse pavor ao momento em que nos veremos ao espelho, mal eles partem pegamos na fanfarra da GNR e nas borlas e capelos dos doutoramentos honoris causa até que outro presidente do país mais poderoso do mundo, governante da nação mais rica do planeta ou líder do país mais irmão aterre na Portela e o circo possa recomeçar.
Ao pé destes arrebatamentos com os salvadores da nossa ruína, arrebatamentos estes que foram precedidos e induzidos pelos arrebatamentos em torno dos modelos da riqueza – uns dias era finlandês, outros “escandinavo renovado” e outros ainda do MIT – as antevisões de Paulo Futre parecem-me um exemplo de equilíbrio e sensatez.
O triste sintoma do estado de alienação a que chegámos é que o país desata a rir perante a descrição dos chineses salvando o Sporting e já não reage perante o espectáculo do presidente do país mais poderoso do mundo, do governante da nação mais rica do planeta e do líder do país mais irmão que, agora sim, desta vez é que vai ser resolverão o problema da nossa dívida.
*PÚBLICO

Eu não devo nada a ninguém. Sou apenas uma vítima da rapina do Estado. Já só tenho cotão nos bolsos.
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Helena Matos, conselhinho: estás a escrever melhor, mas e capacidade de ‘síntese’ ?
Não seria possível dixer isso tudo um pedacinho mais curto ??
Just my damn two cents.
Parabéns, seja como fôr.
🙂
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Ah!, mas aqui é que é:
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O Português e em particular a elite Portuguesa quer-se sempre pendurar em alguém.
Para começar alguém que pague as contas, e que assim lhes permita dizer “há mais vida para além do défice” e votar no Bloco de Esquerda. Fingir que a economia não existe.
Depois como álibi. Se correr mal a culpa é dos outros. em quem nos penduramos.
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Como os Portugueses têm medo dos números, não sabem fazer contas e não querem aprender a fazê-las, as características do políticos que os Governam são parecidas.
E quem não quer saber fazer contas é facilmente enganado por outros como ele.
Basta ter jeito com as palavras ou fingir convicção.
Assim só depois do país estar a cair eles descobrem. É o analfabetismo funcional do Português.
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Acho que o motivo de galhofa será mais pela forma do pelo conteúdo.
“Sócio estou concentradissimo!” 🙂
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A propósito da ameaça de bancarrota:
– O conselheiro de Estado e professor de Economia, Vítor Bento: «A conclusão adicional a que eu tenho vindo a chegar, não necessariamente com grande satisfação, é que outra actuação não teria sido possível, no quadro democrático. Qualquer narrativa diferente teria sido rejeitada eleitoralmente, como aliás foi»
DITO DE OUTRA FORMA: O país está à mercê da bandalheira: “vamos curtir… e quem vier a seguir que pague…”
MAIS: a bandalheira parece não conhecer limites – A SUBMISSÃO MORAL DAS MULHERES PERANTE OS ISLÂMICOS!
– De facto: criticam a repressão dos Direitos das mulheres… mas depois avançam em direcção ao cúmulo da bandalheira: «vamos aproveitar a boa ‘produção demográfica’ daqueles gajos que reprimem os direitos mulheres (leia-se os Islâmicos) para baixar os custos de renovação demográfica [nota: fica caríssimo pagar os custos de renovação demográfica: incentivos monetários à natalidade, despesas com a fertilidade dos casais, despesas com a gravidez das mulheres, despesas em Saúde e Educação até à idade adulta, etc…] e resolver assim o problema demográfico que existe na Europa».
—»»» Concluindo e resumindo: Antes que seja tarde demais, há que mobilizar aquela minoria de europeus que possui disponibilidade emocional para abraçar um projecto de Luta pela Sobrevivência… e… SEPARATISMO-50-50!
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Helena, as ideias geniais costumam ter este tipo de recepção. É verdade que não foi muito bem apresentada, mas o facto é que ideias como o google, o facebook ou o tripadvisor teriam este tipo de recepção.
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Helena, querida Helena: não seja chata.
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Galhofa à parte, o Paulo Futre estava certíssimo, o Sporting percebeu o potencial do negócio e já contratou o internacional chinês. Quem rirá por último seremos nós sportinguistas.
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Creia-me seu indefectível,
CCC
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Lionheart,
não será piadinha de 1º de abril?
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Esqueci-me de enviar Saudações Leoninas à Helena Matos, porque ela defendeu melhor o Sporting que alguns “sportinguistas”…
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campos de minas,
é noticia em toda a imprensa desportiva que o Hao Junmin (fixem este nome) vai para o Sporting. Se fosse a mentira de 1 de Abril só deveria estar na capa de um jornal.
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Lionheart,
obrigado,ainda não tinha lido as notícias desportivas de hoje.
Saudações leoninas!
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Sorry «lagartagem».
Tenham bons chinoxes.
Nem sequer gosto de futebol, mas gosto dos resumos de três minutos.
Menino do Colégio Militar, portanto Benfica, claro… Sempre.
http://www.youtube.com/watch?v=kuL2ny6aSlQ&feature=related
(Até o TóZé que veio do Porto do PopFive para um «grúpio» de aki é de nós….)
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Atenção, o caso do chinês só serviu para disfarçar o destrambelhada
actuação do P. Futre que só tem um rival de peso no que respeita
a gesticulação frenética, naquele que estão a pensar . . .
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uma vergonha a pedinchice dos jornalistas tugas junto do Lula e Dilma …
até parece que têm obrigação de pagar a vidinha boa de tuga reporter na casinha dos pais …
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ele é concertos de verão, mundiais da bola … futuras ryders cup … trabalhar é que não
a malta vive é de ebentos e super bock
vão t .n .c .
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Não, não era bem esse: o Adolfo usava um bigode pequenino.
Mas também DIZIA que defendia a sua Pátria (do FMI ?) e
era SOCIALISTA e NACIONALISTA . . .
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Houve um cabrão dum jornalista britânico que na brincadeira alvitrou a anexação de Portugal pelo Brasil.
Até não acho má ideia. Antes casarmos com o Brasil do que estarmos nessa pôrra da Europa, uma união de pelintras , merceeiros e velhadas!
Mas tenho uma outra teoria sobre esta proposta.
Esse «bife» cabrão certamente estava a fazer um ensaio para o seu próprio país- que como se sabe está mais falido do que o Lehman Brothers !- e que até dava muito jeito ser anexado às suas antigas colónias, tais como a Indía, Singapura ou mesmo Hong-Kong.
Quando avisto um «bife», normalmente escarro em direcção a ele…
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James
Já o Artur Jorge dizia que o Benfica é um circo.
Esse vídeo tem mais a ver com uma qualquer seita religiosa,
do que com futebol.
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Como lhe disse piscoiso os meus desportos são volley e ténis e rugby.
«Frutebol» é um jogo aborrecido e para ‘meninas’.
Ser do Benfica é outra estória…
🙂
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Brilhante post! Muito bom.
Resume de forma soberba o pior defeito do nosso povo: a incapacidade de assumir responsabilidades. Os outros que paguem, os outros que decidam, os outros que façam, porque no fim de tudo, quando algo correr mal, a culpa será dos outros e não nossa.
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