Preparação vs. Irrealismo *

As movimentações típicas de campanha eleitoral, apesar de oficialmente ainda nela não termos entrado, sucedem-se. Estranhamente, ou talvez não, por vezes, tudo se passa como se não se passasse nada! Quer dizer, vemos sucederem-se as disputas intra-partidárias menores (por exemplo, de egos feridos por causa das sempre famigeradas e disputadas “listas” de candidatos), assim como proclamações políticas que parecem ignorar a realidade: doravante, a acção política deverá ser, necessariamente, diferente e adequada à situação de “protectorado financeiro” (e também político) em que, materialmente, o Estado português e, em especial, a dupla José Sócrates/Teixeira dos Santos, transformaram Portugal.

Ora, … ( durante a última semana ), assistimos a intervenções de dois políticos – um “comissário” do governo (Basílio Horta) e um “senador” da política portuguesa (Freitas do Amaral) – que merecem alguma análise, perspectivadas, precisamente, na óptica da campanha.

Freitas do Amaral foi brando, no reconhecimento da situação (des)governativa que, em parte e em tempos, avalizou: Sócrates vive num mundo irrealista; Teixeira dos Santos, incompreensivelmente, foi aparando esse irrealismo, nomeadamente, ao não impor o pedido de ajuda financeira externa, quando os juros da dívida soberana atingiram os 7% (há quanto tempo isso já foi!). Freitas do Amaral – que, em tempos, foi um dos pilares da credibilidade do 1º governo de Sócrates – rasgou, assim, um dos guiões de campanha do actual Primeiro-Ministro: afinal, todos os nossos males, não resultam do facto de o PEC IV ter sido “chumbado” no Parlamento (ao contrário do que Sócrates e o seu núcleo duro repetem como uma espécie de “karma” desculpabilizante e “slogan” de campanha). Na óptica de Freitas do Amaral, muita coisa deveria ter sido feita antes, muito antes e, “irrealisticamente”, não foi. Por outro lado, de Basílio – que se esqueceu de manter a aparência institucional do cargo que ocupa, assumindo, já, a veste de (pelo menos) candidato à Assembleia da República pelo PS – ouviu-se uma coisa estranha: entende Basílio que Passos Coelho tem falta de preparação para governar. Não sabemos quais são os critérios de avaliação seguidos por Basílio Horta. No entanto, depois de ouvida a entrevista de Freitas do Amaral e, sobretudo, vendo o estado a que a alta preparação do actual Primeiro-Ministro nos trouxe, apetece dizer que venham lá, e rapidamente, os impreparados (sejam eles quem forem)! Na realidade, uma coisa que Basílio e o actual núcleo duro de Sócrates parecem querer fazer-nos esquecer é a necessidade urgente de mudança. E esta dificilmente sucederá com as mesmas políticas, o mesmo guião “irrealista” e os mesmos actores principais.

 * Grande Porto, 21.04.2011.