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Jornalismo gourmet, tipo degustação.

26 Junho, 2011

O EXPRESSO publicou o seu Estatuto Editorial. Nos pontos 7 e 8 lê-se o seguinte:

7. O Expresso sabe, também, que em casos muito excepcionais, há notícias que mereciam ser publicadas em lugar de destaque, mas que não devem ser referidas, não por auto-censura ou censura interna, mas porque a sua divulgação seria eventualmente nociva ao interesse nacional. O jornal reserva-se, como é óbvio, o direito de definir, caso a caso, a aplicação deste critério.
8. O Expresso sabe, igualmente, que a publicação insistente de determinados assuntos – do crime e do sexo às baixezas da vida política e económica – poderia aumentar a venda de exemplares, mas recusa-se a alimentar qualquer tipo de sensacionalismo que ponha em perigo o jornalismo de qualidade que sempre pretendeu fazer. Respeita, acima de tudo, os leitores e está consciente de que eles aceitam e desculpam os erros que o Expresso comete, mas que não lhe perdoariam se, deliberadamente, por acção ou por omissão, os enganasse ou abusasse da sua boa fé.

Sobre o ponto 7 ele representa uma clara defesa da auto-censura. Só não percebo pq escrevem que não o fazem “por auto-censura ou censura interna mas porque a sua divulgação seria eventualmente nociva ao interesse nacional“.  Trata-se de uma opção clara pela auto-censura e como habitualmente esta é legitimada em razões de interesse nacional. Toda a auto-censura é legitimada na defesa de un interesse superior. Não há nada de mal com a auto-censura desde que seja assumida, clara e excepcional: se um país está em guerra e tem liberdade de imprensa determinadas notícias são embargadas até à conclusão das operações.   Em 2011, no caso de Portugal percebe-se que se um jornalista sabe que vai ter lugar uma operação para detecção de traficantes que não a anuncie previamente. Outra coisa completamente diferente é fazer uma opção editorial pela propaganda do regime identificando-o com o interesse nacional. Tenho o maior respeito pelo critério do interesse nacional (ou interesse particular, por exemplo no caso de um rapto) mas por isso mesmo ele deve ser invocado poucas vezes como argumento para não dar uma notícia. Deve ser algo de muito excepcional.  No mais é do interesse de todos e da nação que os jornais relatem os factos. Esse sim é o verdadeiro interesse nacional. Se o EXPRESSO passar a ponderar o interesse nacional e não o interesse das notícias  acabará a não publicar sequer a previsão do estado do mar.

Quanto ao ponto 8 deve ter sido decalcado de um jornal da República Popular da China. Assim ficamos a saber que o crime existe mas não deve ser noticiado simplesmente por isso. Dá mau ar do país, não é?

Mas o que de todo não entendo é a referência  às “baixezas da vida política e económica” que o EXPRESSO tb não quer referir muito. O que são as “baixezas da vida política e económica” ? O BPN? O Face Oculta? O Casa Pia?  Por fim o Estatuto Editorial também acha que assuntos como o sexo tb não devem ser mto destacados. Mas essa é a conclusão inevitável a que chegaram após terem apresentado como grande novidade e ousadia (!) artigos como este   .  Po este caminho o EXPRESSO acabará a confundir-se com o suplemento Casas, Imobiliário etc.. etc

18 comentários leave one →
  1. Arlindo da Costa's avatar
    Arlindo da Costa permalink
    26 Junho, 2011 21:10

    Há muito tempo que esse «Expresso» devia chamar-se «Espesso», atendendo aos mil suplementos de publicidade, desde casas, empregos, industria farmaceutica, férias, etc, que publica.
    Aquilo é um jornal de publicidade tipo «Ocasião» e ainda cobram aos eventuais leitores!
    Quanto a «notícias» não passam de mexeriqueirices de politicos e para politicos.
    UM JORNAL QUE É UMA VERGONHA!
    Sempre achei utilidade no «Expresso» quando quero pintar as minhas garajens, despensas e alpendres!

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  2. Fincapé's avatar
    Fincapé permalink
    26 Junho, 2011 21:10

    O Expresso para mim já tinha publicado este Estatuto Editorial há muito tempo, mesmo não o tendo publicado. Quer dizer, esta prática já a detectei há tanto tempo como aquele que já passou desde que o comprei a última vez. Compro sempre a Visão, apesar de por vezes me criar algum enfado, porque tem lógicas diferentes dos jornais, designadamente do Expresso. Infelizmente, não fossem alguns jornais “menos contidos” e pensaríamos viver no Botão ou coisa assim.

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  3. PSC's avatar
    PSC permalink
    26 Junho, 2011 21:22

    Que Giro! O Expresso comprou uma caixa de lápis Azuis! Da Viarco, espero, para defesa do “Interesse Nacional”!

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  4. trill's avatar
    trill permalink
    26 Junho, 2011 22:02

    Mas o expresso sempre foi do politicamente correcto, nem q esse alegado politicamente correcto implicasse o encobrimento de barbaridades sob a capa do interesse nacional. Mas quem é que ainda se dá ao trabalho de ler o expresso (nem sequer falo em comprar-lo que ele estará amanhã aos maços, q por vezes ficam totalmente por abrir já que não interessa a ninguém, nas faculdades de lisboa)?

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  5. José's avatar
    José permalink
    26 Junho, 2011 22:28

    Os critérios do Exame Prévio eram exactamente os mesmos.

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  6. carlos's avatar
    carlos permalink
    26 Junho, 2011 22:58

    Já percebi, não é desta que vai a secretária de estado. Mas olhe que mesmo assim vale a pena ter cuidado com o que diz da “gamela de pressão” de muita gente…

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  7. Eleutério Viegas's avatar
    Eleutério Viegas permalink
    26 Junho, 2011 22:58

    Agora percebemos por que razão aguentámos o bandalho sokas mais de 6 anos, a bancarrotar isto. Os jornaleiros (estes e os outros) acham que sabem o que é o interesse nacional. Vê-se que sabem…
    Há anos que passei a ler jornais e revistas como quem lê um conto (foleirote) e a ver telejornais como quem vê uma novela (bastante má, por sinal).

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  8. Euro2cent's avatar
    Euro2cent permalink
    26 Junho, 2011 23:01

    Trivialidades. As “baixezas” deve ser para se desculparem de, ao contrário do JN e CM, quando se pega no jornal não pingar sangue das histórias de faca de alguidar lá contidas.

    Há uns patuscos na rede que têm uma tabela de preços para a compra do jornal/jornalistas. Todas as publicações deviam ser obrigadas a publicar a que praticam. O povo até ficavam espantado como a coisa é barata. Por uns bifes e umas palmadinhas nas costas …

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  9. fado alexandrino's avatar
    27 Junho, 2011 00:10

    Um jornal que continua a autorizar que um panfletário ressabiado armado em econimista como é Daniel Oliveira tenha lá uma coluna não merece qualquer crédito.
    A única coisa interessante são as palavras cruzadas que tento sempre fazer sem chegar a ler as verticais.

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  10. João Pires da Cruz's avatar
    27 Junho, 2011 00:59

    Helena,
    Pode sempre arranjar um jornal seu onde pode dar as notícias todas que entender. Os pontos 7 e 8 que transcreve são passíveis de toda a interpretação, aquela que cabe aos seus trabalhadores a quem deve ser dada alguma credibilidade, atendendo ao facto de serem os mais vendidos durante décadas, ou a maldosa que é feita por si. Poderia ter olhado para os artigos em causa e ter identificado inúmeros casos em que certamente o teria aplicado. Este post parece-me claramente mais atentatório do rigor que aquilo que os pontos em causa.

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  11. Piscoiso's avatar
    27 Junho, 2011 07:55

    Eu também não compro o Expresso.
    Acho demasiado papel para o preço.
    Muita palha, como a maioria dos posts de helenafmatos,
    que continuam alimento de alguns comentadores.

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  12. Piscoiso's avatar
    27 Junho, 2011 08:00

    O “exame prévio” do Expresso ou de qualquer publicação privada, é uma opção legítima.
    Se existe é porque tem mercado.
    E quem não gosta ponha na borda do prato.
    Como eu faço.

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  13. Fredo's avatar
    Fredo permalink
    27 Junho, 2011 10:18

    Gosto especialmente do sugestivo título: prova-se a notícia, degusta-se, e decidimos se é digna de entrar no cardápio.

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  14. afédoshomens's avatar
    afédoshomens permalink
    27 Junho, 2011 10:28

    eu,tal como o expresso,segundo o seu estatuto editorial, quando converso com uma mulher pública, abuso da sua boa-fé.

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  15. eirinhas's avatar
    eirinhas permalink
    27 Junho, 2011 11:35

    Fui leitor do expresso desde os primeiros números até à saída de António José Saraiva.A sic foi o meu canal preferido.Tenho imenso respeito e consideração por Pinto Balsemão pelo seu desempenho na constituição da democracia,mas acho que ele se deixou abater,não será abater mas perto disso, perante aqueles a quem paga.

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  16. A. C. da Silveira's avatar
    A. C. da Silveira permalink
    27 Junho, 2011 12:25

    O “interesse nacional” é por na 1ª pagina que “o FMI já não vem” 15 dias antes dele aterrar na Portela. Ou “descobrir” divergencias num governo que acabou de tomar posse como aconteceu no ultimo sabado. Ricardo Costa é um xicoesperto com uma agenda politica declaradamente ao serviço do PS, e quando Balsemão quiser correr com ele provavelmente já será tarde de mais. Mesmo no tempo de Augusto de Carvalho o Expresso manteve o seu estatuto de jornal de referencia em Portugal. Agora é um pasquim, e como já aqui referi varias vezes, Ricardo Costa transformou-o no Avante do PS.

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  17. ccz's avatar
    27 Junho, 2011 12:54

    O Expresso nunca publicaria este tipo de reflexão http://www.independent.ie/business/personal-finance/is-your-money-safe-in-euros-if-the-greeks-default-2806225.html
    .
    A argumentação deve ser a mesma que foi e é usada para pôr um livro no Index

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