Saltar para o conteúdo

Angústia*/**

24 Novembro, 2012
by

* ….. Ou “O que seria o mundo sem a construção europeia?” (usando e abusando do título do Insurgente):

Desde 1951, a Europa foi trilhando um caminho político ousado e inovador. O Tratado de Paris (CECA), instituindo a primeira comunidade setorial de integração, conseguiu, a custo, ultrapassar a histórica clivagem entre a Alemanha e a França, sendo certo que, nos idos anos do pós-guerra e do início da reconstrução europeia, os responsáveis políticos daqueles Estados “fundadores”, tudo fizeram para que a coisa não resultasse. De Gaulle e Adenauer, a propósito da Alta Autoridade para o Ruhr e do controlo da indústria pesada alemã, quase que inviabilizaram a assinatura do Tratado que marca o início da construção política mais ousada e improvável que, em tempos de paz, a Europa (e o mundo?) conheceu. Uma construção tão improvável quanto surpreendentemente bem-sucedida. A sua força, em grande medida, reside nisso mesmo, na capacidade de transformar aquilo que parecia quase impossível, em algo de natural e quotidiano.

Alguns críticos do processo de integração chamam a isso voluntarismo ou “engenharia política” (em sentido pejorativo); no entanto, toda a política é feita de voluntarismo, todas as instituições políticas mais não são do que o resultado de uma vontade, individual ou coletiva, que se sobrepôs à inércia do que existia. Haverá algo de mais engenhoso e voluntarista do que o próprio Estado?! De todo o modo, a nossa Europa, agora institucionalizada numa União, enfrenta um desafio que poderá, definitivamente, marcar o seu futuro e clarificar a sua força. E, mais importante do que isso, condicionar dramaticamente as nossas vidas. Que desafio é esse? O da crise financeira e das dívidas soberanas? É algo para além disso, embora isso seja a origem do desafio. O que está em causa é perceber se os problemas económicos conseguem ser tão maus ou piores inimigos, para os povos, do que a guerra propriamente dita. É curioso que tendo a construção europeia resultado das feridas de guerra e da destruição por ela provocada, não consiga, agora, vencer esta espécie de guerra “pós-guerra”, entrando num impasse perante a crise económico-financeira. Sejamos claros: ninguém acredita que, por exemplo, Portugal consiga superar o buraco em que se meteu sem uma outra política europeia que avance decididamente para um federalismo assumido. Claro que isso será caro para alguns Estados-membros, mas, seguramente, será muito mais barato para todos! Muito mais barato do que uma desintegração que poderá ser, eventual e novamente, o prenúncio de estados de guerra latentes, na Europa. A nossa alternativa é ou “outra (mais) Europa já”, ou o regresso a um estado de vida e de pobreza pré-1939!

** Semanário Grande Porto, 23.11.12.

8 comentários leave one →
  1. Monti's avatar
    Monti permalink
    24 Novembro, 2012 10:20

    «perceber se os problemas económicos conseguem ser tão maus ou piores inimigos, para os povos, do que a guerra propriamente dita»
    Talvez a “economia” acabe por ser a continuação da “guerra” conduzida por outros meios.
    Como a política ou a democracia.

    Gostar

  2. JCA's avatar
    JCA permalink
    24 Novembro, 2012 15:54

    .
    A coisa ’tá preta tá”,
    .
    Day of reckoning as taxpayer haircut on Greece looms

    Germany, Holland, and the creditor states of northern Europe have not lost a single cent on eurozone rescue packages, so far.

    .
    “Greece needs €100bn of debt forgiveness to get back on its feet, according to Barclays Capital. A lot of this is coming Germany’s way. The creditor states can mask the damage for a while – siphoning off “frontloaded profits” on the ECB’s holding off Greek bonds, and so on – but the overall sums are too large to cover up altogether.
    Der Spiegel says the looming cost for Germany is over €17bn, enough to leave a big hole in the country’s 2014 budget. A line item would have to be written into the finance bill
    .
    Chancellor Angela Merkel would have to explain to critics on Left and Right in the Bundestag why her past assurances had come to nought, and why anybody should believe fresh assurances that Portugal is a safer bet. German taxpayers would at last discern – as some already suspect – that their elites have led them into a monetary Stalingrad
    .
    The fond hope of EU leaders and commissars is that the North-South chasm in competitiveness will be closed by “internal devaluations” in Club Med states before their democracies blow up
    .
    Perhaps the policy will “work” in a clinical sense but advocates draw too much comfort from Ireland’s success. Ireland never had an exchange rate problem. It is highly competitive, with a fat trade surplus
    .
    We know from the IMF’s work on “fiscal multipliers” that austerity has gone beyond the therapeutic dose in all the victim countries. Output loss and damage to the tax base has renedered the policy largely self-defeating. The IMF has raised its 2013 public debt forecast for Portugal over the last year from 115pc to 124pc of GDP, for Spain from 73pc to 97pc, and for Italy 120pc to 128pc.
    .
    North European leaders will now have to live with the consequences of their scorched-earth errors, with destructive effects cascading through the rest of the decade. Haircuts in Greece are just the amuse bouche. “
    .
    Ler Mais em, nem os Sindicatos escapam …
    .
    http://www.telegraph.co.uk/finance/comment/ambroseevans_pritchard/9686251/Merkels-day-of-reckoning-as-taxpayer-haircut-on-Greece-looms.html
    .

    Gostar

  3. JJ Pereira's avatar
    JJ Pereira permalink
    24 Novembro, 2012 15:57

    Senhores, a “europa” nessa época estava em cacos.
    O Mercado Comum aparece com aquiescência americana, dinheiro americano e, muito mais importante , sob a protecção militar americana. A ameaça do império russo era uma realidade e, em dois dos países fundadores, o cavalo de Troia representado pelos partidos comunistas francês e italiano levava a cabo um trabalho de sapa e destruição das duas nações.
    Desaparecida (?) a ameaça do urso, com os E”U”A falidos e desacreditados, é claro que ficção “europa” tem os dias contados. Reentra a História da Europa , a de sempre – a dos países europeus, passe a redundância.
    Suíços e Ingleses sempre o souberam…

    Gostar

  4. JCA's avatar
    JCA permalink
    24 Novembro, 2012 16:12

    .
    Conforme o lado da moeda em que os comentadores se situem, uns são contra outros a favor, mas a coisa é assim entre ‘austeridades,crises,empobrecimentos,falencias,arrasasCª Lda”, e pela nossa Comunicação social ZERO sobre o tema, nem à ‘favores nem contras’, estes abordam o que chamam de MILITARIZAÇÃO DA EUROPA, redigido à maneira deles, cá falta redigirem por igual ou à meneira de outros.
    .
    ‘Direct assault on sovereignty’? EU resolution forces members to beef up security
    http://rt.com/news/eu-parliament-military-resolution-380/
    .
    Então afinal tanta treta e afinal onde mora a Liberdade de Informação ? A Liberadade dos Jornalistas para informarem ? Uma nova união nacional com lápis lilás ‘lili caneças’ em vez de azul ? A transparència duns dum lado, outros do outro, e aqueloutros do nem dum lado nem do outro ? Os tugas são gado para o matadouro ou afinal produziram a chamada geração atual melhor que nunca ?
    .
    Simplesmente ironia porque quando todos até nos becos mais rascas por esse mundo fora lhes são dados este(s) Conhecimento(s),
    .
    em Portugal ZERO DE INFORMAÇÂO PELOS DITOS GRANDES MEIOS DE COMUNICAÇÂO SOCIAL nem nas autoestradas nem nas grandes avenidas das maiores cidades. Desconheço a razão porque, nem quereria pensar que seria ignorância dos jornalistas, sequer admito que seria má fé ou chico espertismo …. creio que sem duvida estarão acima destes básicos emocionais. Alguma distração, admissivel tantas as toneladas de informção por esse mundo fora.
    .
    Pois
    .

    .

    Gostar

  5. MIGUEL's avatar
    MIGUEL permalink
    24 Novembro, 2012 21:21

    QUER DIZER:
    1º ANTES DE FUGIREM TODOS TRABALHARAM PARA O PAÍS ESTAR NA SITUAÇAO ACTUAL DE DEPENDENCIA
    2º VÊM OS SEGUINTES GRITAR “MAIS EUROPA” POR JÁ NAO HAVER QUALQUER OUTRA SOLUÇAO
    3º AGORA AMEAÇAM QUE SE NAO SOMOS FEDERADOS HAVERÁ GUERRA.

    VAI HAVER GUERRA, VAI. COM SANGUE “VERMELHO”

    Gostar

  6. lucklucky's avatar
    lucklucky permalink
    24 Novembro, 2012 21:48

    Assustador.E o autor ainda quer pior, formar uma Jugoslávia à escala Europeia…
    Resumindo o pensamento do autor, uma data de gente sempre pronta para a violar o vizinho deve casar porque dentro do casamento não há violação…

    Gostar

  7. JDGF's avatar
    JDGF permalink
    24 Novembro, 2012 22:58

    Acabe-se com o eixo Paris-Berlim e com contrapoderes sediados em Londres, Frankfurt e Bruxelas.
    Podemos começar por eleger o presidente da Comissão Europeia e tentar criar um círculo europeu para conferir representatividade real (europeia) ao Parlamento de Estrasburgo. Caso contrário, não conseguiremos fazer nada. Ontem foram as eleições francesas, amanhã serão as alemães, depois de amanhã as inglesas, etc…e continuaremos ‘pendurados’ nas políticas domésticas.

    Gostar

  8. J. Raposo's avatar
    J. Raposo permalink
    24 Novembro, 2012 23:22

    Peço licença, com humildade e bons modos, para referir um facto que , indistinto de início, se vem tornando mais nítido em cada dia que passa : já não existe eixo Paris-Berlim.
    Poderão , ainda, existir as aparências da “coisa” – mas não a “coisa” em si…
    Quanto a Estrasburgo, qualquer pessoa de mediano bom-senso concordará que se trata de um bordel excessivamente dispendioso.

    Gostar

Indigne-se aqui.