A desconfiança ensina-se de pequenino
«O Ministério da Educação e Ciência (MEC) esclareceu (…) que a declaração que os alunos do 4.º ano terão de assinar nos exames, garantindo que não têm consigo telemóveis nem qualquer outro equipamento de comunicação, não terá qualquer valor legal, sendo apenas uma medida de salvaguarda do aluno.»(*).De acordo com a mesma notícia existe um Regulamento de Provas e Exames que já prevê sancionamento nessas situações.
Assim, tal declaração, «sem valor legal» segundo o próprio ME (é só para chatear e filha predilecta da burocracia…) insere-se no esforço educacional do Estado sobre o cidadão: existe uma lei que deve ser cumprida, mas como se desconfia que pode ser violada, exige-se uma declaração aos miúdos de que se vai cumprir a lei. Desde pequeninos tem de se habituar que o Estado não confia neles e que dá pouco valor às suas leis, confiando mais nas suas disposições administrativas e papelinhos assinados. É um ensinamento para a vida e faz parte da formatação de todo o cidadão. Ao logo da vida estes miúdos irão encarar como normal que se peça em triplicado informações que a adm. pública tem, ou que a qualquer momento e a qualquer pretexto se exija um nº do cidadão, ou tantas outras situações onde a adm. pub exerça o seu poder discricionário «sem valor legal» em qualquer aspecto da vida dos cidadãos. É também para isso que existe um Ministério da Educação e Ciência./p>
Um dia, quando um dos petizes chegar a ministro, antes de tomar posse, terá de assinar uma declaração, «sem valor legal» mas sob compromisso de honra que de que não roubará o erário público, não vá estar «esquecido» do que diz o código penal….

Este Ministério vai um… mistério impagável!…
Ao menos faz rir, ainda que por motivos duvidosos…
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É porque hoje em dia a ignorancia da lei já vale como defesa. “Ah, coisa e tal, estava distraído quando disseram que não podia ter telélé, porque é que me estão a perseguir injustamente, eu não sabia, wah, wah, chamem a TV que me estão a oprimir!”
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Assim com o papel assinado é mais dificil os “jornalistas” arranjarem motivo de indignação. A não ser acerca do papel. Bom trabalho.
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Concordo total e integralmente. Já deixei por aí abaixo vários comentários. Afinal, Crato com esta “cratinice” mostrou ter uma costela da pedagogia romântica que criticava. Lamentável.
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Neste triste lugar os principais especuladores estão isentos!
http://psicanalises.blogspot.pt/2013/05/neste-triste-lugar-os-principais.html
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não sei porquê mas aqui discute-se sempre ao lado do fundamental… o papel assinado pelas criancinhas, cóitadinhas, ok, mas está longe de ser “o problema”, se é que é um problema. Poder-se-ia fazer outra leitura: ao assinar um papel sem valor legal, e por isso sem qq função, tem por objectivo único a súbtil educação para a assunção da responsabilidade formal. Eu não acredito nisto que escrevi – mas pode ter esta leitura tão legítima como as que ridicularizam a “coisa” – mas é só para demonstrar que há mais leituras da “coisa”. Os problemas da educação são graves, estruturais e são outros:
http://psicanalises.blogspot.pt/2013/05/a-caminho-do-caos.html
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é , convém habitua-los de pequeninos a escrevinhar papéis pró estado , depois de grandes já não estranham. eu estranhei bastante e ainda não estou conformada 🙂
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“nem qualquer outro equipamento de comunicação, não terá qualquer valor legal, sendo apenas uma medida de salvaguarda do aluno”
mas de facto a linguagem “técnica” do MEC é hilariante. Só faltava mesmo ser em “inglês técnico”…
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Só espero que o documento a assinar seja suficientemente pormenorizado onde se especifique a marca e o modelo do telemóvel que não tem consigo.
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aliás neste blog aprende-se bués, bués mesmo… Por exemplo: para dar informação sobre a Síria alguém, um “comentador”, coloca um link para a agência de informação iraniana, que, como todos sabemos aliás, é rigorosamente isenta na questão da Síria…
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para manter a hilariedade deste post (conforme com a habitual hilariedade deste blog) aqui fica o mail que acabei de receber. Como não estou interessado, já me habituei a ser um “teso”, sintam-se livres para contactar e fazer o previsível negócio fantástico.
“Hello
I am Samuel Kofi Atta Mills 24years of age, i’m the son of the late President of Ghana Professor John Evans Atta as i will like to discussed a mutual business transaction that would benefit the both of us as this is 100% risk free.
Kindly reply strictly to my personnel Email: ( koffisamuel140@yahoo.com.hk) As above
Thanks”
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—Sr. presidente! Nos primordios da humanidade, a boa fé dispensava os juramentos: hoje em dia, para tudo se faz mister jurar, porque a boa fé desappareceu velut umbra da face da terra. Se bem me recordo, os casos de juramentos mais antigos lêem-se nas sagradas escripturas. Abrahão jurou ao rei de Sodoma e ao rei Abimelech; Elieser a Abrahão; e Jacob a Labão…
O presidente, como o riso andasse já contagioso na sala e galerias, observou:
—O sr. deputado está fóra das prescripções do regimento. Peço licença para o convidar a sentar-se do lado que lhe convier.
—Eu concluo em duas palavras, tornou Calisto, conformando-me com o regimento, e mais ainda com o jurisconsulto Struvius, o qual no seu jurisprudencia civilis syntagma, diz que não deve exigir-se o juramento quando póde temer-se o perjurio. Preceito de mui remontada moralidade; sr. presidente! Preceito, cujo despreso, é a causa efficiente das apostasias que deshonram, dos sacrilegios que condemnam a alma, e estampam na testa dos precitos lemma de opprobrio indelevel. Disse.
– Camilo Castelo Branco, in A Queda d’um Anjo
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Penso não ser caso único, mas na Alemanha, a todos que se econtrem em situação de “serviço pùbilico”, mesmo provisório, é exigido um compromisso de honra perante a hierárquia que respeita as leis. Pela opinião dominante, trata-se de um país atrasado onde ainda se dá importância à palavra do indivíduo…
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1 o aluno não pode dizer que não sabia da lei, o que é possível no 4o ano.
2 é comum em vários Estados de Direito Democráticos ter de se fazer declarações escritas que não são verificadas imediatamente. Se se verificar que são falsas o declarante tem imediatamente uma penalidade forte. (ex.: declaração de entrada nos EUA).
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Não vejo mal na coisa…
O objectivo é igual ao que se concretiza nas salas de cinema quando, no ecrã, se solicita que se desliguem os telemóveis. É um procedimento de “lembrança” para o desligar dos equipamentos. Bastaria que os vigilantes fizessem o aviso, poderão dizer alguns. Mas sabemos bem que, havendo o procedimento pré-estabelecido, só assim, se evitam esquecimentos e se garante o objectivo. Resumindo, não é matéria relevante…
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Excelente post.
Aliás, se o Gabriel Silva pensar bem, verá que todo este exame do 4º ano se insere na mesma lógica. Não tem qualquer utilidade, nos dias de hoje, fazer um exame do 4º ano, dado que ninguém termina aí os seus estudos nem o 4º ano dá direito a qualquer diploma. Este exame é só uma forma de o nosso tão rico Estado gastar dinheiro para algo que poderia ser muito mais facilmente alcançado de outras formas.
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O melhor seria colocar nas crianças pulseiras electrónicas , já que são considerados potenciais delinquentes. Faltou para seguir à risca o salazarismo indicar como se devem apresentar vestidos no exames os meninos e as meninas. Mas nisto como em tudo o original é sempre melhor que a copia.
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Avisava-se antecipadamente que os meninos não podiam levar telemoveis. Se os levassem eram retirados à entrada da sala e devolvidos no fim do exame. Simples.
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Mas para serem ‘novo e prafrentex’ inventam-se outras coisas para ser ‘diferente’ pôr os putos a assinar juramentos …….. o que de facto não garante nem assegura que à surrelfia levem os telemoveis escondidos para o exame. É que é mesmo um desafio de partir a moca a gozar para os putos e aos adolescentes proprio da idade.
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Assim sugere em realismo de Pratica em vez de Teoricos e Intelectuais de pacotilha.
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A talhe de foice, foi por causa dos telemoveis que os exames não foram feitos nas escolas que frequentam ou foi para umas excursões de autopullman para irem para o exame pela fresquinha da manhã pagas pelos Impostos ?
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Afinal é mentira que haja realmente Crise e Austeridade. Só não há dinheiro para o que quem nos reprenta quere revolta-se o Povo na rua.
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Um show.
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Crianças do 4.º ano com telemóveis? Estou mesmo a ficar velhote.
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O articulista em poucas palavras disse tudo. O Estado formata indivíduos para navegarem num mar de desconfiança porque ele próprio não confia em si.
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Mas nota-se que a declaração (quando chegar ao governo) é sem valor legal. Veja se o caso do Sócrates! E o do Portas (ainda nos lembramos dos submarinos)! E do Cavaco (93 foi um ano mesmo mau)! Já para nem falar do Mário Soares, do Guterres e do Zé Manel (nome que eu gosto de dar ao Durão Barroso, em homenagem aos tempos em que ele roubava material de escritório para o MRPP).
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Protestos tão imbecis destes pais! Os meninos não podem fazer exames na escola ao lado! No meu tempo a 4ª classe era feita na escola da comarca.Fiz 8 kms de camioneta até à Golegã. O pior ou melhor, foi quando a professora que era das beiras pronunciava “Nasceu” Dizia ela “Naceu em tal data. Perguntei e repeti; Professora é Naceu ou Nasceu? E claro tive erro. Hoje tem graça passados umas boas dezenas de anos.
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Cada um aprofunda os problemas como pode. O que interessa é que estejamos todos interessados no bem comum. Há opiniões divergentes, porque ninguém é igual, mas o que nós passámos na infância, numa época completamente diferente não serve de medida para os dias de hoje. É bom que troquemos ideias, porque no fim todos nós aprendemos mais algumas coisa. Eu tenho 30 e tal anos de professor e 70 de aluno e nunca soube, nem sei, o suficiente e vou aprendendo a cada momento.
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Sabe os que das *novas oportunidades * lhe assacam : é burro e atrasadinho . . .
Eu com 40 anos de profissão, após uns tantos de formação, também
sei pouquíssimo. Razão pela qual, ao aos rasar os 80, não ainda não desisti de aprender
um niquinho de cada vez, cada dia . . .
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Desde pequeninos tem de se habituar que o Estado não confia neles e que dá pouco valor às suas leis, confiando mais nas suas disposições administrativas e papelinhos assinados. É um ensinamento para a vida e faz parte da formatação de todo o cidadão
Delicioso.
Mas parece que não é caso único. A coisa já roça o ridículo em muitos locais. Há dias fui apresentar uma queixa porque me levaram o telemóvel do carro que distraidamente deixei aberto. Necessitava de o fazer para obter uma declaração. Correcto. Fui a uma esquadra da PSP em Queluz para dar conta dos factos. No final deram-me três papéis para assinar: o auto de denúncia, a “informação ao lesado” e um auto de declarações.
Do auto de denúnca não obtive cópia pois embora o processo seja geralmente público, o Ministério Público pode requerer segredo de justiça. OK. O auto de declarações para quê? Este dizia única e exclusivamente que confirmava o que estava no auto que tinha acabado de assinar. A informação ao lesado não é mais que a notificação que tomamos conhecimento de um conjunto de artigos.
Interroguei-me e interroguei o agente que recebeu a queixa da necessidade de tanto papel. Ele respondeu ironicamente que o auto de declarações serve para o MP arquivar o processo sem abrir inquérito e o segundo (informação ao lesado) desconhecia. Tivemos no final da elaboração da denúncia um agradável diálogo onde após algumas pesquisas minhas, enquanto ele ultimava a coisa, cheguei a um acórdão do Supremo que refere a necessidade dos lesados serem notificados daqueles artigos.
No final da queixa vinha uma pergunta curiosa: se eu prescindia de ser notificado do eventual despacho de arquivamento.
Antes de sair o agente olhou para mim e disse: “ainda não viu uma queixa por violência doméstica”, voltando de imediato a olhar para o computador, com aquele ar “isto que não saia daqui”. Dada a politização do crime nem quero imaginar.
Em conversa com um vizinho que esteve na Espanha recentemente, onde apresentou uma queixa por lhe terem levado uma máquina fotográfica no hotel, chegámos a esta questão das queixas e às diferenças entre Espanha e Portugal. Ele mostrou-me uma cópia da dita queixa que apresentou em Espanha (uma folha) tendo o original ficado lá. Nada mais.
O que existe na atmosfera ao passar Badajoz que justifique a necessidade de tantos papéis? Não sei. A necessidade da informação ao lesado saiu do cerebelo de uns juízes do supremo. A necessidade do auto declarações um mero instrumento administrativo para fintar imposições legais e atalhar caminho. Mas não sei ao certo. São mistérios pátrios.
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Não me indigno neste sitio, nem é para indignação.
O ME cometeu dois erros neste exame, quanto a mim:
1º Como entidade pública só tem que impor regras e estas a cumprir.Os alunos não podem estar num exame utilizando calculadores e telemóveis ligados
2º Segundo consta a prova teve a duração de 2 horas e picos. É pesado para este grau de aprendizagem. Uma hora para cada grupo de aprendizagem e intervalado era suficiente
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