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A direita keynesianinha

1 Junho, 2013

Segundo Henrique Raposo “A SRU é um tipo de sociedade que articula um pequeno investimento público com um camião de investimento privado” e o “investimento na reconstrução da cidade é fundamental” para “o futuro da construção civil passa pela reconstrução e não pela construção”, para “o combate ao desemprego” e para a “disponibilização de casas para arrendamento”.

Este texto de Henrique Raposo consegue reunir quase todos os equívocos das teses socialistas sobre investimento público. O investimento não se faz para atrair investimento, faz-se para ganhar dinheiro. A tese de que 5 milhões de investimento público geraram 90 milhões de investimento privado é irrelevante. A SRU dá prejuízo, isto é, o investidor perde dinheiro. Não é investimento, é despesa. O investimento também não se faz para combater o desemprego. Investimento é mesmo para ganhar dinheiro. O desemprego nem sequer é um problema de falta de investimento. É um sintoma de que o mercado de trabalho não ajusta, provavelmente porque se investiu muito dinheiro em apostas com efeito multiplicador. Também não se investe para disponibilizar casas para arrendamento. Investe-se, volto a repetir, para ganhar dinheiro. Se não dá dinheiro, não é investimento.

35 comentários leave one →
  1. imperador's avatar
    imperador permalink
    1 Junho, 2013 18:49

    Gostei do post de JM ,mas penso que as universidades explicam isso, dizem que somos uma geração muito sabedora .OK

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  2. PMF's avatar
    1 Junho, 2013 18:50

    É claro. …

    Acresce ao exposto no post que, de resto, o esquema ds SRU’s, entre nós, sempre mereceu enormes dúvidas em termos jurídicos. A constitucionalidade das suas prorrogativas é muito duvidosa; independentemente disso, são poderes exorbitantes e excessivamente violadores de princípios basilares (propriedade privada, autodeterminação, etc, etc.)

    O balanço da obra da Sru, no Porto, é francamente desanimador.

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  3. Fincapé's avatar
    Fincapé permalink
    1 Junho, 2013 18:57

    “A SRU dá prejuízo, isto é, o investidor perde dinheiro. Não é investimento, é despesa. ”
    ——–
    Então, se eu construir uma fábrica e me socorrer de um empréstimo, propondo um determinando investimento, se tiver prejuízo e falir posso ser preso porque, afinal, não fiz investimento mas despesa?
    E se tiver lucro no primeiro ano e prejuízo no segundo, quer dizer que foi um investimento para o primeiro ano e despesa para o segundo?
    ——–
    Estes economistas são mesmo complicados. Assim, compreendo melhor a complicação em que está o país. 😉

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    • Carlos's avatar
      Carlos permalink
      2 Junho, 2013 15:44

      “Em economia, investimento significa a aplicação de capital em meios de produção, visando o aumento da capacidade produtiva”. A SRU não aumenta a capacidade produtiva do investidor, nem pretende aumentar, é, à priori, algo que fará o investidor perder dinheiro. Ora, isso não é um investimento, é uma despesa.

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      • Fincapé's avatar
        Fincapé permalink
        2 Junho, 2013 15:52

        Percebo. É como o meu almoço. Foi uma despesa. 😉

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  4. MJRB's avatar
    1 Junho, 2013 19:35

    PPCoelho garantiu hoje que “não colocará professores efectivos na mobilidade”. Certamente esta decisão surgiu depois de longas negociações com a esposa…

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    • licas's avatar
      licas permalink
      1 Junho, 2013 22:15

      É esta (MJRB) a actuação típica de um *Pinto da Costa*:
      ____Quando me dirigia para aqui julguei estar a ouvir qualquer coisa
      mas afinal ainda havia luz do sol . . ._____
      Vejam o *nível* do tipo.
      Até de *lampião* se serve para se exibir perante a imbecilidade que,
      vendo-o dos seus, o adora, aplaude e incita . . .
      .____
      Não gostaria nada que um *moiro* lhe arremessasse um tijolo certeiro
      na careca. Mas lá que era capaz de *acalmar* o fulano, isso era capaz. . .
      (e não sou Benfiquista, juro).

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      • MJRB's avatar
        1 Junho, 2013 22:30

        Sou contra violência aparvalhada, desnecessária.

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      • Duarte de Aviz's avatar
        Duarte de Aviz permalink
        2 Junho, 2013 02:31

        O negocio do sr Pinto da Costa é o futebol e nessa área ele é imbatível. Se não se interessa por assuntos da bola ou não entende as hipérboles, nao ligue. Vai dormir melhor.

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      • Portela Menos 1's avatar
        Portela Menos 1 permalink
        2 Junho, 2013 22:04

        o negocio de PdaC é fruta e nessa área tem sido um empreendedor 🙂

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  5. Zecas Lopes's avatar
    Zecas Lopes permalink
    1 Junho, 2013 19:36

    Depois da crónica do Melão Raposo sobre FC Porto e Benfica, deixei de ler a figura ad eternum. E até simpatizava com o moço mas claramente está afetado pelo síndrome melão tipo J.

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    • MJRB's avatar
      1 Junho, 2013 20:12

      “Levado” por Zecas Lopes, li agora via site do Expresso (jornal que deixei de comprar desde 2009) o texto de HRaposo.
      Eu, Benfiquista, reconheço-lhe um mérito : fez publicar uma opinião que agrada aos indefectáveis do LFVieira e que certamente provoca riso aos portistas. Ou seja, agradou aos perdedores masoquistas (vidé renovação com JJesus, Vieira à falta de estratégia recontrata o sócio…) e tranquiliza os vencedores…
      É desta gente, destes cronistas, destes comentadores que Vieira gosta. Reconforta-o, dá-lhe “ganas” para vencer tudo e todos…só que infelizmente o actual SLBenfica é como aqueles que não conseguem “dar duas seguidas”, fica-se contentinho por de vez em quando vencer um campeonato…
      (Pobre SLBenfica dirigido por esta gentinha…).
      ———————————
      “Realmente”, um PMinistro, um PRepública, deputados, autarcas, por vezes recebem, confraternizam, jantam ou almoçam com canalhas de estirpe superior…desde que presidentes de clubes-top…

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      • MJRB's avatar
        1 Junho, 2013 20:19

        Errata, segundo parágrafo : “indefectíveis”

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  6. JFP's avatar
    JFP permalink
    1 Junho, 2013 19:49

    “investimento não se faz para atrair investimento, faz-se para ganhar dinheiro. A tese de que 5 milhões de investimento público geraram 90 milhões de investimento privado é irrelevante. A SRU dá prejuízo, isto é, o investidor perde dinheiro. Não é investimento, é despesa. O investimento também não se faz para combater o desemprego.”

    Dito desta maneira, deve ser difícil dizer tanta asneira em tão poucas palavras, mas o que me dá vontade de rir é o ar doutoral permanentemente exibido. Para ficar melhor, talvez devesse ter acrescentado:
    “A tese de que 5 milhões de investimento público geraram 90 milhões de investimento privado é irrelevante”, independentemente da natureza e dos efeitos desse investimento privado.

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  7. XisPto's avatar
    XisPto permalink
    1 Junho, 2013 19:51

    As SRU poderiam dar lucro. Isso não interessa. O objecto da sua actividade não deve ser exercido pelo Estado porque não existe qualquer razão para não ser exercida pelos privados. Acresce que o Estado interventor, regulamentados, regulador é o responsável pela criação da situação que supostamente as SRU resolvem. O Estado que faz os proprietários privados suportarem o apoio social aos inquilinos com dificuldades económicas com o argumento de que não tem dinheiro propõe-se investir os recursos que diz não ter numa associação mafiosa com privados amigos. Ao pé disto as PPR rodoviárias são uma história de meninos de coro.

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  8. tric's avatar
    tric permalink
    1 Junho, 2013 19:51

    e quando é que Portugal sai do Euro? o Euro, foi um péssimo investimento…só deu prejuizo…

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  9. Portela Menos 1's avatar
    Portela Menos 1 permalink
    1 Junho, 2013 20:06

    dass, até o mais direitista cronista do Expresso leva porrada dos Blasfemios 🙂

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    • licas's avatar
      licas permalink
      1 Junho, 2013 22:37

      De onde se prova que aqui os assuntos não são tratados à *5 Dias*
      onde se pergunta primeiro na *Comissão de Censura* : este é dos nossos?
      – se for, publique-se, sentencia o pelotão de execução, senão, não.

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      • Portela Menos 1's avatar
        Portela Menos 1 permalink
        1 Junho, 2013 23:53

        mas o Raposo tentou comentar no Blasfémias e foi censurado?
        de onde se prova que não percebeste nada do meu comentário!

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  10. Me's avatar
    1 Junho, 2013 20:55

    bem , tendo em conta por um lado os fogos devolutos com arrenda-se na janela e por outro a malta que anda a sair aos magotes de Portugal , eu diria que o futuro da construção civil passa é pela demolição ::)

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  11. Afonso M's avatar
    Afonso M permalink
    1 Junho, 2013 21:00

    E os impostos futuros gerados pelo investimento privado e a actividade económica que se conseguir com a renovação daquela área? Bem sei que estes factores não estão quantificados, mas ignorá-os não me parece sério.

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  12. Dédé's avatar
    Dédé permalink
    1 Junho, 2013 22:08

    O MRPP também acreditava que o futuro estava na Reconstrução.

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  13. licas's avatar
    licas permalink
    1 Junho, 2013 22:51

    Não! Não use a ironia para achincalhar um dos *sócios* do actual Bloco . . .
    AGORA , que o Mário Soares quer uma Frente Unida de toda a Esquerda. . .
    (está a ser mauzinho …)

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  14. Trinta e três's avatar
    Trinta e três permalink
    2 Junho, 2013 02:17

    Excelente post para se perceber porque é que as teorias defendidas pelo João Miranda não vão a lado algum.

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  15. tric's avatar
  16. Tiago Azevedo Fernandes's avatar
    2 Junho, 2013 03:47

    Se é tão pouco dinheiro, porque é que a CMP não entra com ele e tira o Estado da SRU? O orçamento anual da CMP são 178 milhões, para comparação com o que está em causa. Rui Rio quer é barulho…
    Sobre isto:
    http://porto.taf.net/dp/node/8882
    http://porto.taf.net/dp/node/8919

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  17. Cfe's avatar
    Cfe permalink
    2 Junho, 2013 05:25

    Ó João Miranda,

    Esta nervoso pq disseram que o RR seria bom primeiro ministro?

    Chama-lhe de investimento ou de subsidio, porque é indiferente: mas um gasto de menos de 10% conseguir alavancar os resultados que esse programa (ou a palavra que o queira) conseguiu deveria era ser copiado no resto da administração pública.

    Porque não transformam a dita sociedade em fundação? Fundação Investida era um bom nome.

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  18. JCA's avatar
    JCA permalink
    2 Junho, 2013 06:50

    .
    à margem, coisas sobre a Educação
    .
    =The College Industrial Complex
    http://www.thecommonsenseshow.com/2013/06/01/the-college-industrial-complex/
    .

    =The Missing Dimension of the Education Debate
    http://www.wakingtimes.com/2013/05/29/the-missing-dimension-of-the-education-debate/
    .

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  19. YHWH's avatar
    YHWH permalink
    2 Junho, 2013 08:12

    Duas ou três coisas que parecem escapar a JM.

    A Política, a Economia, e outros instrumentos afins e necessários para a gestão das sociedades de massas existem para melhorar a vida das pessoas constituintes dessas sociedades de massas. É essa a justificação maior, reflectida e sustentada pela Ética, para a existência e evolução de tais sistemas integrantes.

    Não compreender isso é querer agarrar-se a um passado de triste memória, onde os arautos e «conservadores de então» defendiam voluntária e piedosamente a escravatura, segundo eles, «preocupados com o mais alto interesse dos escravos: a existência…». Esta gente boa temia, pasme-mo-nos, a extinção dessa «espécie tão útil e bela»… Vai daí, defendiam a escravatura como solução social a conservar.

    A visão de JM sobre a sociedade oscila frequentemente entre a vacuidade e as consequências de um experimentalismo de casta, sem a mínima noção do conceito de pessoa pelo meio de tais desventuras.

    Um dia, caso ainda suporte ler-se, pode ser que consiga reflectir e aperceber-se das enormidades que toma como «normalidades e benesses».

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  20. Tiro ao Alvo's avatar
    Tiro ao Alvo permalink
    2 Junho, 2013 08:12

    Não há dúvida que é necessário reconstruir/recuperar os centros das cidades antigas, investindo muito mais na recuperação do que na construção nova, de raiz. Se os SRU cumprem com eficácia a função de dinamizar esses investimentos, que devem ser privados, contabilize-se esses prejuízos como despesa pública, que é despesa boa; se não conseguem atingir aqueles objectivos, feche-se-lhes as portas.
    O que se não deve fazer é canalizar sempre esses dinheiros públicos todos para Lisboa, abandonando a Capital do Norte à sua sorte (triste), como tem acontecido.
    O resto são tretas.
    Por que isto é como diz o povo: ou há moralidade, ou comem todos…

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  21. JCA's avatar
    JCA permalink
    2 Junho, 2013 08:54

    .
    (complº 06.50H)
    .
    Por ter a ver bem como o tema, a fonte nasce aqui, em controversia:
    .
    :
    =Watch: Former Teacher Speaks Out, “Everything I Loved About Teaching Is Extinct”
    .
    Parents aren’t the only ones fed up with the education system in America.
    .
    Teachers often get a bad rap for the failure of education system and its inferiority to the pedagogic successes of countries like China.
    .
    The emphasis in education has shifted from fostering academic and personal growth in both students and teachers, to demanding uniformity and conformity.
    .
    Raising students’ test scores on standardized tests is now the only goal, and in order to achieve it the creativity, the flexibility, and spontaneity that create authentic learning environments have been eliminated
    .
    Curriculum is mandated. Minutes spent teaching subjects are audited. Schedules are dictated by administrators. The classroom teacher is no longer trusted or in control of what, when, or how she teaches.
    .
    Even everybody’s favorite – the chickens hatching in kindergarten – has been prohibited. Why? so that the district can spend that money instead on computerized testing programs and training teachers to raise those teachers’ test scores.
    .
    Unless you are a ‘yes’ man, you will soon find out your only choice is to become one or leave.
    .
    Real teachers, the ones who care about their students, the ones who teach kids to think critically and not just recite things by rote, are being targeted. Why?
    Because our public indoctrination centers, also known as schools, don’t want children to think.
    .
    They want children to learn specified “facts” in order to pass standardized tests, thus creating perfect little worker bees. They want to produce adults who will not question authority or the status quo, but merely assimilate what they are told as truth, and act accordingly.
    .
    Because of this, the school system is losing those teachers who could make a real difference in the future of our country.
    .
    http://www.shtfplan.com/headline-news/watch-former-teacher-speaks-out-everything-i-loved-about-teaching-is-extinct_05312013
    .

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  22. Ricciardi's avatar
    Ricciardi permalink
    2 Junho, 2013 09:04

    «O investimento não se faz para atrair investimento, faz-se para ganhar dinheiro.» jm
    .
    No ultimo relatório sobre competitividade do país, descemos 2 lugares. Os pontos fortes mais importantes de atractividade do país são: infraestruturas, nivel de formação.
    .
    Rb

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  23. JCA's avatar
    JCA permalink
    2 Junho, 2013 09:17

    .
    (cont)
    .
    Para demonstrar a ‘razão académica’ e a ‘confirmação cientfica’ do que inevitavelmente é, ‘eternamente’ a esvoaçar inteletualmente enclausurado dentro da mesma garrafa arrolhada,
    .
    num aparentemente diferente mas estandardizado no mais do mesmo fabricando a crença que é novo que é o que mas que não é por por gerar a presente Crise que supostamente seria resolvida pela Austeridade e Empobrecimento à força,
    .
    mas que não é crise simplesmente imaginação e criatividade mortas, em prejuizo de Direitas / Centros / Esquerdas estandardizadas em Situação / Oposição com forte potencial destruidor da Democracia estandardizada sem energia para se renovar potenciador de novos ’14 Juillet’ ou ditaduras que as aniquilarão com ‘engenharias’ para demonstrações à martelada para ‘razão académica’ e a ‘confirmação cientfica’ a seguir exempificada:
    .
    Do The Math
    .

    .

    .

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  24. YHWH's avatar
    YHWH permalink
    2 Junho, 2013 10:07

    Eis uma cartilha bem conhecida e praticada pelos «conservadores» do Blasfémias:

    «MECANISMOS DE MANIPULAÇÃO QUE FUNCIONAM

    1. Escolher designações habilidosas para realidades negativas.

    Passarei pela rama esta muito significativa manipulação, porque já falei dela várias vezes. A regra propagandística é que quem manda nas palavras, manda nas cabeças. Por isso, o confronto fez-se pelo doubletalk. O exemplo típico é passar a falar de “poupanças” em vez de “cortes”, e o mais ofensivo da decência é chamar “Plano de Requalificação da Administração Pública” a um plano de despedimentos, puro e simples, sem disfarces. O comunicado do Conselho de Estado reproduz também este tipo de linguagem orwelliana.

    2. Ocultar o que corre mal no presente com anúncios futuros do que vai correr bem.

    Um exemplo típico é a última declaração do ministro das Finanças, numa altura em que se conhecem mais uma vez maus resultados da execução orçamental. Bastou ele acenar com medidas de incentivo fiscal ao investimento, em abstracto positivas, no concreto, pouco eficazes, para servirem de mecanismo de ocultação das dificuldades de execução orçamental. E como o “gatilho” (o nosso ministro pensa em inglês) dessas medidas é apresentada com a coreografia verbal da novidade e a encenação do ministro “inimigo” ao lado, estão garantidos alguns editoriais e comentários positivos. Tivemos já, há umas semanas, algo de semelhante, com o plano de “fomento industrial”, aliás um remake de vários outros anúncios entretanto esquecidos.

    O problema é que o Governo já percebeu que tem que utilizar uma linguagem de “viragem para o crescimento”, mas as medidas mais significativas em curso e com efeitos imediatos são cortes no rendimento das pessoas e famílias. Não deveria o real ser tido em conta, face ao virtual? Deveria se não fosse a cenoura da novidade.

    3. Escolher metas do futuro manipulando o seu significado para obter resultados propagandísticos no presente.

    O melhor exemplo é a história do “pós-troika” para que colaboraram recentemente Portas e o Presidente da República. Portas fez um tardio e pouco convincente arroubo nacionalista contra “eles”, os homens da troika, justificando a sua aceitação de medidas de austeridade gravosas com a necessidade de os ver pelas costas em 2014. O Presidente fez pior: usou o “pós-troika” para minimizar o caos governativo do presente em nome de uma inevitabilidade da mesma política para o futuro. Pretendeu alargar a base de sustentação do seu discurso no 25 de Abril, consciente, mesmo que não o diga, de que ele lhe tolheu a margem de manobra. Mas o Conselho de Estado teve os efeitos contrários ao que pretendia. O que ambos, Portas, o Presidente, somados a Gaspar-Passos o actual tandem governativo, pretendem é obter dois resultados inerentemente contraditórios: festejar a saída da troika como uma grande vitória governativa e depois garantir que tudo continua na mesma sem a troika.

    4. Concentrar a atenção nas medidas que vão cair e fazer passar, por distracção, outras bem mais gravosas.

    Um exemplo típico foi a intervenção de Paulo Portas sobre o “cisma grisalho”. Portas concentrou-se naquilo a que chamou “TSU dos reformados” – designação que ele próprio criou com a habilidade de autor de soundbytes para, com a embasbaquice normal da comunicação social, facilitar a concentração de atenção num nome -, deixando deliberadamente na obscuridade todo um outro conjunto de medidas contra os reformados e pensionistas, muito mais gravosos do que aquele que recusava. O resto é o habitual: toda a gente passou a falar apenas das peripécias da “TSU dos reformados”, e esqueceu as outras.

    5. Deixar fluídos todos os anúncios de medidas, para criar habituação e poder recuar numas que geraram mais controvérsia e avançar noutras que ficaram distraídas.

    Já fiz uma vez esta pergunta e repito-a: alguém sabe, do pacote dos 4 mil milhões, o que é que está decidido, o que é que está “aberto”, o que é uma “hipótese de trabalho”, o que é para discutir na concertação social, o que foi anunciado e deixado cair, que medidas são efectivamente para valer? Não se sabe, nem o Governo sabe. Sabe as que deseja, mas hesita em função das pressões da opinião pública, do medo do Tribunal Constitucional, do receio dos efeitos na UGT, nas suas clientelas.
    Por isso temos navegação tão à vista que o navio parece estar encalhado. Não está, porque, nos interstícios, as medidas que são mais fáceis do ponto de vista administrativo, dependem de despachos, e não precisam ir à Assembleia ou ao Presidente, vão sendo tomadas. São todas do mesmo tipo: retiram direitos, salários, horários, condições de trabalho.

    6. Fazer fugas de informação de medidas draconianas e violentas de austeridade, para depois vir-se gabar de que as evitou.

    Um exemplo típico são as conferências de imprensa em que se valoriza determinadas medidas dizendo que elas permitem evitar outras muito piores, de que se fizeram fugas deliberadas. Joga-se com o medo, e com as expectativas negativas, para manipular as pessoas de que afinal, perdendo muito, sempre estão a ganhar alguma coisa. A comunicação social participa no jogo.

    7. Manipular o efeito de novidade nos media para dar a entender que o Governo mudou.

    O melhor exemplo é a utilização do novo ministro das relações públicas e marketing do Governo – no passado chamar-se-ia ministro da Propaganda -, Poiares Maduro, cujas intervenções se caracterizam até agora pela repetição vezes sem conta da palavra “consenso” e depois, nas questões cruciais, a repetir o mais estafado discurso governamental. Veja-se o que disse, contrariando todo o mais elementar bom senso e as evidências públicas, sobre não haverem divergências no Governo entre Portas e Passos, ou entre a ala do “crescimento” e a ala do “rigor orçamental”. Ou, numa manipulação da ignorância mediática, de que eventos como as duas declarações sucessivas de Passos e Portas são “normais” em governos de coligação. O único caso, vagamente comparável, é o do par Cameron-Clegg, mas este tipo de eventos não são normais em nenhuma circunstância. O que seria normal é que a seguir a uma declaração com a que Portas fez, ou este pedisse a demissão ou fosse demitido. Esqueci-me de dizer que eles no intervalo da propaganda, são todos “institucionalistas”.

    8. Acentuar as expectativas negativas nas próximas eleições autárquicas, para obter ganhos de causa se os resultados não forem tão maus como isso.

    As eleições autárquicas reflectem a situação política nacional, mas são das eleições mais afectadas pelo contexto local, ou pelas personalidades escolhidas. O PSD terá sem dúvida maus resultados eleitorais pela reacção contra o Governo, contra Passos e Gaspar e o ex-ministro Relvas. Terá também péssimos resultados por apresentar maus candidatos às eleições em muitos concelhos, em particular os mais importantes. Nesses duplicará os factores negativos da reacção contra o Governo, com candidatos envolvidos em polémicas desnecessárias ou escolhidos apenas pelas conveniências do aparelho. Mas também é verdade que em muitos sítios, em que o voto é mais exigente, o PS apresenta também candidatos muito maus, vindos como os do PSD dos equilíbrios aparelhísticos e do pagamento de favores internos ao grupo de Seguro.

    Por isso, não é líquido que não haja um efeito de minimização dos estragos que permita transformar resultados medíocres em resultados razoáveis, logo, no actual contexto, numa “vitória”, jogando com expectativas muito negativas. A comunicação social, com a habitual servidão aos lugares-comuns, ajuda ao baixar tanto as expectativas que qualquer resultado que não seja uma catástrofe nuclear possa ser visto como bom.

    Há muito mais, mas fica para outra vez.» (in Abrupto)

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