Custos de oportunidade em instabilidade cambial aumentam
Caro Joaquim, não faço ideia se o governo vai acabar com a declaração conjunta de IRS. Parece-me paradoxal que o Estado reconheça a união de pessoas (chamando-lhe, entre outras, “casamento”, para desgosto meu) enquanto, ao mesmo tempo, contempla retirar-lhe uma função pragmática como a fiscal.
Não vejo qualquer motivo para a existência de casamento no código civil excepto, à falta de melhor termo, se use este para discriminar situações em que o Estado reconhece o direito de partilha de obrigações fiscais, concordando que pessoas vivem em economia comum. Porém, as hipóteses não se esgotam aqui: porque não há-de uma determinada religião consagrar casamento em que, opcionalmente, não seja facultado o “casamento” contemplado no código civil? A inclusão do casamento no código civil é uma opção do legislador e ultrapassa a questão económica: é uma usurpação laica de algo que transcende – até porque lhe antecede – o Estado.
Na minha opinião, a melhor forma de resolver a questão seria retirando do código civil a noção de casamento. Pessoas que assumam viver em comunhão económica poderiam solicitar acesso a uma espécie de domicílio único fiscal. Isto aplicar-se-ia independentemente das pessoas serem casadas (de acordo com a religião que professam) ou irmãos solteiros. Custa-me, sinceramente, que o Estado decida que pessoas que vivem sob o mesmo tecto com economia comum sejam prejudicados fiscalmente por não assumirem dormir juntos.
Quanto à questão inicial, de produtos subirem de preço, escolhi o exemplo dos livros da Amazon precisamente com intenção de demonstrar que o preço não é o valor nominal de algo e sim uma medida do lastro necessário para superar o custo de oportunidade do consumidor. Isto porque a lei da oferta e da procura que rege o funcionamento da Amazon não é afectada com uma perturbação residual de alguns compradores portugueses. Portanto, o preço do livro mantém-se fixo sendo, porém, “mais caro” para o português no novo-escudo que no euro. Isto acontece para além da questão cambial: com nova moeda desvalorizada dificultando todas as importações, o custo de oportunidade associado à compra do iPad ou do livro também aumenta. Por outro lado, a instabilidade monetária coloca sempre o problema da compra adiada: se o consumidor decide mesmo comprar o livro (superando o custo de oportunidade de não o fazer hoje), é confrontado com a hipótese de a desvalorização cambial lhe ser mais favorável no futuro.
Num mercado globalizado o preço não é tão somente a intersecção da oferta com a procura, é também a distância que separa economias globais das políticas ruinosas de países incapazes de enfrentarem a falácia socialista.
ADENDA: O euro funciona, para países como Portugal, como padrão ouro. Não ser ouro e sim a produtividade alemã é irrelevante para o caso: os portugueses não gostam do euro exactamente por este não ser fiat o suficiente.

Desta feita vou mais longe (e mais corro o risco de me espalhar):
– Ceteris Paribus: dá jeito para aprender Samuelson e dá para espatifar um raciocínio – é suposto, para analisar o comportamento de uma variável, pressupor as demais constantes, isso, em rigor, não foi feito, misturam-se variáveis de ambiente.
– Efeito de Esmagamento de Preços – pressupõe elasticidade total da oferta, diria impossível, num dado limiar a empresa fecha porque deixa de assegurar sequer os custos variáveis, o que produz efeito contrário e até mesmo carestia. Não será difícil pressupor que mesmo que a desvalorização de moeda não passasse os 30%, dificilmente as empresas têm margens brutas que lhes permitam acompanhar tamanha queda no preço.
– Esquece-mo-nos todos aqui do efeito da má moeda, inicialmente ninguém quereria cambiar e teríamos uma crise de liquidez, não falando da pré saída e açambarcamento, etc, etc,
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O senso comum explica isso: se eu tiver conhecimento que saímos do euro na próxima sexta-feira, só para consumo próprio, encho a despensa de “latas de atum”. Esse senso comum está mais que patente nas pessoas de idade que frequentam hipermercados, que compram mais azeite em promoção que o que tencionam gastar no resto da vida.
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Latas de atum, não diria, mas detergente da roupa de uma marca consagrada, é que prazo de validade é ilimitado e em a relação ao novo escudo, será uma melhor moeda. Vou começar a calcular o meu salário em forma de “detergentario”
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Em Chipre foi mais simples. Acabou-se o papel que existia nos bancos da ilha em menos duma semana. Foi preciso um avião de Frankfurt carregado com 5 mil milhões de euros.
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Há 3 anos, ainda sobre uma eventual saída do euro, os economistas falavam de uma ‘desvalorização’ de 30%.
Hoje, p. exemplo, o factor trabalho já desvalorizou quanto?
Pode dar-se o caso de já termos saído sem alguém tenha apercebido….
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Se lhe responder “não o suficiente” no sector público vai ficar chateado?
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JDGF
Ferreira do Amaral, o grande guru da coisa, propõe a “saída controlada”, um estilo de gravidez por obra e Graça-do-Espírito-Santo. Mas… – há sempre um “mas” – agora nem era oportuno.
No espírito “perdido por um, perdido por mil”, recusamos a TSU, preferindo perder instantaneamente mais de 30% de poder de compra… do que houver para comprar.
“Não há saco” p’rá conversa, que venha o escudo, já
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Mesmo no sector privado. Ha ainda poucos dias alguns diziam que os salarios portugueses deveriam desvalorizar ainda em média 3 a 5%. Nem é assim tão significativo. Mas também não faço ideia. Não acredito que alguém consiga calcular qual seria a desvalorização média necessaria e como se distribuiria pela economia.
No fim de contas, o que importa é que o mercado de trabalho seja suficientemente flexivel para os ajustamentos necessarios poderem continuar a acontecer. Agora e … sempre ! Para baixo como para cima, sem interferencias governamentais.
Se porventura saissemos do Euro, então, ai sim, a desvalorização dos salarios reais seria bem maior. Porque a inflacção seria elevada e nenhum outro factor real de competitividade seria procurado. Uma economia que não seria pressionada (pela logica do Euro) para fazer os ajustamentos reais necessarios seria então ainda menos eficiente pelo que no final se verificaria um empobrecimento ainda maior dos trabalhadores portugueses.
Se porventura, dentro do Euro, com o programa de ajustamento em curso, os salarios já tivessem desvalorizado o necessário (humm…. duvido, em certos sectores e empresas talvez até já possam subir, noutros ainda estarão acima do suportavel pelas empresas), então … esse resultado teria sido conseguido mesmo sem desvalorização monetaria (saida do Euro) e a saida do Euro deixaria ainda mais de fazer sentido porque apenas traria inconvenientes e nenhuma vantagem.
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Pela conversa de muitos, a produção seria ao estilo milagre: que se produza. Esquecem-se que as batatas para haver produção de jeito, a semente é importada; que o peixe português do passado, era pescado nas costas da Guiné e Angola.
O desemprego reduziria para um emprego de fome. Refiro-me mesmo a fome e não à perda de poder de compra que tanto aflige as pessoas com consciência social. De esquerda portanto, porque as de direita divertir-se-iam p’ra xuxu com a situação
E quando nos interrogamos pelas baixa produção da agricultura, podemos comparar com a rentabilidade holandesa: 70% dos engenheiros agrónomos são agricultores; cá, a mesma percentagem é funcionário no Ministério da Agricultura… é o preço do Estado forte.
Mas a única forma de acabar com conversa da treta e raciocínios de atrasado mental, é a vinda do escudo… um défice zero instantânea seria o mote para a primeira lição dos bons alunos que somos
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“Isto porque a lei da oferta e da procura que rege o funcionamento da Amazon não é afectada com uma perturbação residual de alguns compradores portugueses.” É por pensar assim que se perdem clientes e perde-se mercado. E por esta linha de pensamento, “que se lixem….”, que este governo insiste em aplicar, que se vai
desagregando a confiança no estado, no governo, na empresa.
Para cair em contradição logo a seguir e sai-se com uma palavra de ordem: Nem a Palin diria melhor,
“Num mercado globalizado o preço não é tão somente a intersecção da oferta com a procura, é também a distância que separa economias globais das políticas ruinosas de países incapazes de enfrentarem a falácia socialista.”
O governo está por tudo. Ainda haveremos de ter uma “pool tax”. Parece que não faz diferença apresentar a declaração conjunta ou individual se não houver reembolso, ou as deduções serem tão limitadas.
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É indiferente a forma como “se pensa”. A realidade não se compadece de fantasias.
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Fantasia/realidade são produtos muito “nossos” e individuais, não concorda?
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Há, decerto, pessoas que acreditam que a Terra é plana. É uma convicção individual. A realidade não se compadece de convicções.
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E no entanto viveu-se, cresceu-se e evoluiu-se na convicção de que a terra era plana, que era o centro do universo….
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É verdade. E depois, contra todas as evidências, insistiu-se com a ideia, matando até quem pensava diferente. Parecia a Venezuela.
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Um amigo meu casou pela Igreja (católica) em Espanha porque, segundo ele, lá se pode casar na Igreja sem registo civil.
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É dos poucos que casou por amor, não foi por interesse!😃
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A conversa sobre a saída de Portugal do euro é por ser Carnaval, não é? Porque se for a sério, eu deixo aqui uma perguntinha: alguém ainda se lembra como é que se vivia em Portugal há 50-60 anos? Pois é uma coisa parecida que nos esperaria.
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Considerando que tivemos aí uns iluminados que disseram que estávamos actualmente pior que há 60 anos (adivinhem quem foram os idiotas) essa ideia é perigosa. Facto é que a capacidade de sofrimento de há 60 anos já não existe e morreríamos todos de depressão (ou fome, ou frio, ou amargura por acreditarmos em idiotas)
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Não vivi esses tempos, mas ainda recordo os de há 35-40 anos, já muito “gritados”. Mesmo aí a capacidade de resistência era incomparável com as dos “tenrinhos” actuais… Coitadinhos, sempre embalados pelos parvinhos da cu-municação.
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Esses iluminados nunca estiveram na fila do leite em Lisboa, com 10 anos de idade!
Levávamos um litrinho para 5 pessoas e já gozas. ‘Queres mais?, volta amanhã para a fila’.
Os camaradas da comunicação social não andavam por lá, deviam estar nos saneamentos do DN!
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Interessante ver que naqueles que contestam a austeridade ha dois tipos de argumentos, entre outros naturalmente, que são mais ou menos utilizados consoante a faixa etaria a que pertencem.
Os mais novos tendem a insistir no facto dos portugueses não poderem viver com menos do que aquilo que teem actualmente, que consideram ser ja um minimo dos minimos. Naturalmente que não conheceram (ou eram crianças) os tempos, que não são assim tão recuados como isso, em que os portugueses viviam com muitissimo menos.
Os mais velhos, em grande parte ja reformados, e que por isso viram nos ultimos tempos as suas pensões cortadas, dificilmente podem utilizar este argumento aqui em cima. Por isso tendem mais a falar nos direitos adquiridos em resultado dos anos de trabalho e contributos para a reforma.
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Eu apenas falei num cenário mais que provável; a saída do país do euro seria o caminho para a pobreza generalizada e irreversivel durante muitas décadas.
Defender a saída do euro apenas porque não se quer gastar aquilo que se tem, ou seja, contas publicas rigorosamente controladas, parece-me a melhor maneira de continuar a inquinar uma discussão que nos devia interessar, e muito, a todos nós, e que começou mal quando quiseram convencer os portugueses de que o PAEF, é um programa de empobrecimento. Viver com dinheiro emprestado não é ser rico. E deixar de viver com dinheiro emprestado não é empobrecer, é apenas viver com o que se ganha.
Já aqui escrevi várias vezes, e repito hoje: Portugal (estado+empresas+familias), tinha em meados de 2011 uma divida global superior a 650 mil milhões de euros, cerca de quatro vezes o PIB; alguém pode sériamente afirmar que éramos ricos, e que havia futuro para este país?
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E por falar em câmbios: tentem comprar “reais” na banca lusa.
Diz que não há.
Conseguem esgadanhar-se alguns nalgumas casas de câmbio e e e…
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“Num mercado globalizado o preço não é tão somente a intersecção da oferta com a procura, é também a distância que separa economias globais das políticas ruinosas de países incapazes de enfrentarem a falácia socialista.”
– Realmente, os “mercados” são mais complicados do que parecem à primeira vista. A regulação deveria acompanhar essa complicação. 😉
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