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Doutorados em PPP

13 Junho, 2014
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Apareceram aos magotes desde que se começou a (tentar) cortar na despesa pública. Baixar os encargos com as PPP foi a alternativa milagrosa apontada por muitos – incluindo o PS que as (re)negociou – que evitaria todo e qualquer outro corte. O tema presta-se a demagogia barata facilmente vendável, desde logo por ter como principais interessados as construtoras como concessionários e os bancos como financiadores. Apontar estas instituições como capazes das maiores vilanias e cujo objectivo único é locupletarem-se com lucros fabulosos, constitui argumentário com óptima receptividade junto do cidadão comum, pouco preocupado com a sua fundamentação e sempre disponível para aceitar um “culpado rico” a quem a crise possa ser imputada. A inumeracia reinante, que não compara os valores relativos do défice a anular e de cada tipo de despesa, só ajuda a “pintar” um quadro super maquiavélico.

No fundo, ainda ninguém interiorizou que as PPP não são uma despesa, mas apenas e tão só uma forma de financiamento da dita. Não passam de mera “carpintaria financeira” muito do agrado dos governos, pois permitem-lhes desorçamentar montantes vultuosos de despesa, apresentarem “obra palpável” do agrado dos eleitores, que jamais irão questionar a necessidade da auto-estrada, do novo hospital ou da moderna e artística estação de metro, atirarando o respectivo pagamento para as calendas, muito provavelmente a cargo de quem vier a seguir. Não tendo a despesa que ser registada aquando da sua execução, existe desde logo um incentivo adicional a empolá-la com extravagâncias de encher o olho (vejam-se os granitos reluzentes e mármores utilizados à fartazana pela Parque Escolar), muito adequadas à compra de votos.  Estamos pois a falar de dívida a suportar por rendas futuras que integram naturalmente o pagamento da nova estrutura, da margem do concessionário e dos juros a entregar à banca nacional e internacional que se dispôs a tudo alavancar, confortada pela garantia do Estado.

Em suma, estamos perante “investimentos” financiados integralmente por dívida interna e sobretudo externa. Em tese, até se poderia aceitar se o seu retorno, directo e indirecto, permitisse custear o serviço da dívida. Não acredito que, dentre as dezenas de PPP já executadas, haja alguma que reúna tão virtuosos requisitos. Ou seja, o problema não está no modelo de financiamento, mas nos investimentos que não geram retorno, entendido este como efeito multiplicador do PIB.

Mas não têm as construtoras e a Banca toda uma estrutura de lobbying montada para incentivar os poderes públicos à despesa? Certamente que sim, o mundo está cheio de rent seekers. Só que os governos não foram eleitos para lhes defender os interesses. 

16 comentários leave one →
  1. Sem Norte's avatar
    Sem Norte permalink
    13 Junho, 2014 20:20

    Enquanto se falar comunicação social das PPPs, dos BPNs, Submarinos, etc, não se fala das verdadeiras causas do déficit, que são os salários da função pública e as pensões da CGA.

    Inteligentes são os que conseguem desviar as atenções.

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  2. M. Miranda's avatar
    M. Miranda permalink
    13 Junho, 2014 20:35

    As PPP’s são uma das componentes da despesa com responsabilidade significativa na nossa dívida. Portanto, não se trata de uma manobra de diversão para desviar as atenções da verdadeira causa da nossa situação. E parece-me justo que enquanto esta questão e outras que envolvem a organização do estado (fundações, institutos, agências, comissões para tudo e para nada) não forem devidamente resolvidas, não deveriam ser os cidadãos, principalmente os que menos podem, suportar os encargos

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  3. joaquim's avatar
    joaquim permalink
    13 Junho, 2014 20:46

    São as PPPs,(87) são os BPNs (1), são os submarinos, são os salários dos funcionários públicos , são os aposentados ,são os 1500 institutos públicos com os 4500 gestores, são 639 fundações ,são 343 empresas publicas municipais falidas, Enfim fora o que não sei

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  4. M. Miranda's avatar
    M. Miranda permalink
    13 Junho, 2014 20:46

    E já agora, o caso do BPN não é dispiciendo porque custa aos contribuintes milhares de milhões de euros! Quanto aos submarinos que também é um problema mas de outra natureza porque é fruto da porcaria dos políticos que nos governam e que nos governaram. Outros “submarinos” nos surgirão no futuro

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  5. Carocha's avatar
    Carocha permalink
    13 Junho, 2014 22:05

    Sem comentários.!já estou farto de embrulhadas.!

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  6. JDGF's avatar
    JDGF permalink
    13 Junho, 2014 22:23

    É isso. As PPP, os swaps bem como o deferimento da introdução da ‘taxa Tobin’ e ainda as isenções de IMI e IMT para os fundos imobiliários devem ser considerados peanuts. Nota: Os próximos posts podem surgir por esta ordem.
    O que não é admissível é a existência de uma administração pública…

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    • Z's avatar
      13 Junho, 2014 22:31

      Concordo!
      Escola pública, SNS, justiça, segurança pública, autarquias, etc…. um luxo!
      Autoestradas umas ao lado das outras, isso sim!
      Taxas de rentabilidade de 20% ?! Qual é o problema?
      Estes esquerdalhas são uns pulhas!!!

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    • Duarte de Aviz's avatar
      Duarte de Aviz permalink
      13 Junho, 2014 22:53

      O melhor é meter as PPP, os swaps, o deferimento da introdução da ‘taxa Tobin’ e as isenções de IMI e IMT tudo na máquina de lavar loiça e ver o cozinhado que sai. É capaz de ser melhor que os cous-cous à lá Italienne, Eu também acho que todos os impostos que eu pago são maus, Todos os que forem pagos pelos outros são intrincecamente bons.

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      • JDGF's avatar
        JDGF permalink
        13 Junho, 2014 23:03

        Meter ‘isso’ tudo na máquina de lavar loiça?
        Não parece pertinente. Não há nada para lavar. É só tomar nota da despesa e pagar o financiamento. No escuro é bem mais recatado…

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  7. jp's avatar
    14 Junho, 2014 00:27

    Z,o governo socrates,construiu 8 autoestradas todas no interior esquecido de portugal e que tem andado a pagar com os seus impostos as autoestradas do litoral.esta gente tem direito a lutar pela vida.se é preciso chegar mais rapido aos hospitais centrais só pode ser por autoestrada.uma vida salva não tem preço.se estivessemos à espera do dinheiro na mão para as construir hoje só tinhamos a1 porto/lisboa.o que custa ver é um governo ir buscar um individuo para secretario de estado que negociou 8 ppp,mas pelo privado, e hoje no governo,faz de conta que renogoceia as ppp,ao tirar do contrato a responsabilidade do concessionario,fazer a manutenção . e ter uma ministra das finanças perita em swaps. vamos ver quanto o estado vai pagar pela reparaçoes se as fizer? vê quanto valem as ppp no orçamento anual,mas não esqueças que ao fim de 30 anos saõ do estado.o governo se quizesse menos custos punha as portagens mais baratas,para andar mais gente a circular e dessa forma fortalecia a economia.o roubo do bpn e bpp representa muito mais no orçamento do que as pp construidas.esta narrativa já não dá votos.

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    • anónimo's avatar
      anónimo permalink
      14 Junho, 2014 14:00

      Aliás, a Constituição deveria ter um artigo a estipular quantos metros de autoestrada cada cidadão tem direito. É essa lacuna que causou este problema todo.Porque depois vem um governo da direita a faz batota, viabilizando apenas as autoestradas com sustentabilidade económica mostrando total insensibilidade social para as pessoas.
      Urge a discriminação positiva do interior, Para cada metro para o cidadão do litoral, o cidadão de Valhelhas – onde o enº assinava projectos – deve ter metro e meio de autoestrada.
      Se estas coisas estivessem na Constituição já não se assistiria ao escandalo actual de deixar de construir, por exemplo, a autoestrada de Beja.
      Ou de não se avançar com os aeroportos em cada capital de distrito.
      O betão deve estar ao serviço das pessoas. Cada pessoa tem o direito a uma permilagem do betão nacional.
      Por exemplo, se o cigano que vive do rendimento mínimo, não precisa agora dos seus metros de autoestrada, porque anda de carroça, pode vir a comprar um carrito e tem direito a usar os seus metros de autoestrada a qualquer momento. Está na Constituição. É o Principio da Igualdade. E o Principio da Protecção das Expectativas na Locomoção. Pergunta ao Joaquim.

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  8. cfe's avatar
    cfe permalink
    14 Junho, 2014 04:06

    As ppps não prestam. Se não existisse esse meio de financiamento não teriam como esconder o uso do dinheiro público quase todo para custeio da maquina.

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  9. Almeida's avatar
    Almeida permalink
    14 Junho, 2014 11:47

    O que me parece que “está por provar” é que todas essas obras “são do agrado dos eleitores”, mesmo reconhecendo a excessiva dependência da nossa mão de obra de atividades relacionadas com a construção civil. Não confundamos as reações contra o encerramento de unidades de saúde em zonas altamente envelhecidas e vulneráveis, com a trapalhada das auto-estradas. Recorde-se a reacção das populações ao antigo IP5, logo considerado uma “estrada da morte” e que acabou por dar na A25. Recorde-se também a reacção contra a desistência da opção ferroviária, limitando as populações à rodoviária. Não, nada disso teve que ver com a “receptividade junto do cidadão comum”.

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  10. manel z's avatar
    manel z permalink
    14 Junho, 2014 14:23

    As PPP são a mesma coisa que ir comer ao restaurante. A alternativa é fazer o almoço em casa, mas o Estado é mau cozinheiro. Se as PPP acabassem, a despesa não desaparecia, porque o serviço seria prestado à mesma. O ponto é a eficiência: o Estado assume-se como menos eficiente a prestar certos serviços e passa essa responsabilidade a uma entidade privada. Em termos conceptuais, qual é o grande problema?

    O argumento quanto muito poderá ser em termos particulares: se os contratos estão bem feitos ou não, se o Estado paga mais a subcontratar do que pagaria se prestasse o serviço directamente, etc. Ou seja, é uma questão de particularidade de cada contrato, não é uma questão de princípio. Por princípio, as PPP não são piores que a prestação directa.

    O que se deveria defender aqui é que o Estado não se deveria envolver na prestação de certos serviços, independentemente de serem prestados em PPP ou directamente pelo Estado.

    No entanto, aceitando a condição de vivermos numa social-democracia, prefiro que certos serviços sejam administrados por empresas privadas com reputação, experiência e qualidade, do que administrados por jotas, boys ou sindicalistas. Não?

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  11. tony's avatar
    tony permalink
    14 Junho, 2014 16:19

    Onde e que andaram este tempo todo tiveram medo de defender as PPS vejo que deve estar para haver novidades

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  12. vasco Silveira's avatar
    vasco Silveira permalink
    16 Junho, 2014 11:34

    Julgo que o problema não é apenas nosso: o sistema de contabilidade (?) pública regista apenas as saídas e entradas de dinheiro. Nem a mercearia da esquina tem uma contabilidade tão rudimentar; qualquer empresa que utilize um sistema de financiamento semelhante às PPPs terá que registar em balanço , e provisionar em demonstração de resultados, os custos futuros da mesma, pela que são sempre detectáveis.
    Não penso no entanto que tal transparência seja do agrado da classe política, em qualquer parte do mundo.

    cumprimentos

    Vasco Silveira

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