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Disparates sobre comércio internacional

12 Fevereiro, 2025

A propósito das tarifas aduaneiras e das questões relacionadas com o comércio internacional, tem sido impressionante o chorrilho de disparates que tem sido apresentado no espaço público por supostos especialistas e analistas hipoteticamente qualificados nestas áreas. De forma muito simples e breve, vale a pena referir algumas das falácias mais curiosas e tolas que se têm produzido.

Desde logo convém ter noção de que a «Europa» não exporta, nem importa nada. Não são os países enquanto entidades abstractas que têm preferências, gostos ou que tomam decisões sobre os produtos a comprar e vender. Só indivíduos, empresas e entidades concretas são agentes económicos.

Relacionado com isto, e por definição, para que uma importação ou exportação aconteça tal resulta da vontade de ambas partes. Se alguém comprar maçãs, é porque prefere ter o fruto a comer notas de euro à sobremesa. Não é um jogo de soma nula. Ambas as partes ganham. Não há justificação ética nem moral para que o Estado se intrometa em relações voluntárias.

Outra ideia estapafúrdia é de que o défice da balança comercial gera dívida. Ai sim?! O Pingo Doce quando encomenda robalo da Grécia não paga a encomenda? Ou o leitor/ouvinte quando vai ao supermercado, exige que o Lidl lhe compre alguma coisa em troca para ficar com uma balança comercial equilibrada?

Alguns dizem que as tarifas proteccionistas acabarão por conduzir a preços mais baixos, tornando a concorrência estrangeira mais cara, criando incentivos a que se regresse a comprar a empresas nacionais. Ora, se a actividade das empresas nacionais fosse rentável com preços iguais ao de comércio livre, já o estariam a fazer. Além disso com a procura adicional por bens nacionais, os preços locais tendem a subir e acabam por ficar ao nível do preço-base mais a tarifa, ou seja, acabam todos a pagar mais.

As tarifas são impostos adicionais que se cobram aos agentes económicos dos países que as impõem. Por isso a chamada «retaliação comercial» é estúpida e só piora as coisas. É absolutamente irracional!

Havendo ou não ameaças de imposição de tarifas pelos EUA, a melhor opção da União Europeia seria sempre abolir as tarifas que a própria UE já tem. A liberalização unilateral é sempre benéfica para quem a faz. Mas os burocratas não eleitos e os nossos ignorantes políticos parecem optar pelo contrário, prejudicando ainda mais os europeus e os portugueses em particular.

A minha crónica-vídeo de hoje, aqui:

4 comentários leave one →
  1. balio's avatar
    balio permalink
    13 Fevereiro, 2025 14:20

    O Telmo é contra as taxas alfandegárias. Também é contra as sanções comerciais? Por exemplo, os impedimentos e proibições contra os negócios entre (cidadãos ou empresas) europeus e russos.

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    • passante's avatar
      passante permalink
      14 Fevereiro, 2025 21:10

      Diz ali em cima que “Não há justificação ética nem moral para que o Estado se intrometa em relações voluntárias.”

      Portanto incluirá drogas, armas, jogo, sado-masoquismo e, talvez, já me estou a esticar, as coisas proibidas pelo regulamento CE 350/2022.

      Essa última parte já não tenho a certeza, ainda não vi nenhum liberal a virar-lhe o dente … é assim a modos que inconstitucional, mas pronto, perdoa-se o mal que faz pelo bem que sabe, ou outro alto princípio do género, tipo os jornais acharem todos bem.

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  2. freakonaleash's avatar
    freakonaleash permalink
    14 Fevereiro, 2025 12:30

    Simplificar as coisas desta forma rude e infantil à la ala beta da IL dá-me vontade de citar o grandioso Vegeta quando se preparar para golpear o SonGohan: “…meu rico menino!”.

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  3. sergiolordelo's avatar
    sergiolordelo permalink
    19 Fevereiro, 2025 08:29

    Numa certa conversa de tasca, que poderia ter tido futebol como tema, mas que dessa vez versou sobre economia, um amigo meu dizia que “um País não pode ser competitivo, se não tiver um forte mercado interno”!

    Anuí, mas depois questionei como tal seria possível se há quem não tenha recursos endógenos suficientes para proporcional tal mercado.

    Obtive como resposta que Países como o Japão, eram vistos como uma fábrica à dimensão macroeconómica: vivia numa constante importação (inputs), na mesma proporção que saía produto final para o mercado interno e exportação!

    Agora questiono: se os produtos à saída forem majorados em taxas aduaneiras, não faz perder mercado para países não taxados?

    Eu estou em Angola e lido acedo muitas vezes à pauta aduaneira, que impõe direitos de importação pesados sobre produtos cá produzidos e, o que é certo, é que os Mapas comparativos identificam sempre o produto Nacional como o mais barato para aquisição!

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