O grande debate de hoje à noite
Hoje é o dia do grande debate entre Luis Montenegro e Pedro Nuno Santos.
Seguirei a contenda com a atenção que dedico aos pregões das varinas e acompanharei a discussão com o mesmo entusiasmo que me suscita o sprint de uma lesma. A problemática foi magistralmente sintetizada nos anos 80 por uma banda de rock portuense no refrão de uma canção que dizia: “Quem vê TV, sofre mais que no WC”.
O debate é, no entanto, tido pelos analistas como decisivo, provavelmente por não decidir absolutamente nada e visto pelos especialistas como uma oportunidade de esclarecimento dos eleitores que estão mais do que esclarecidos quanto à semelhança entre os dois protagonistas.
Até agora não assisti a nenhum dos debates políticos que passaram nas televisões, assim como não vi nenhum dos comentários aos debates, nem segui nenhum dos debates sobre os comentários aos debates. Estou em modo como que de «apagão» bem antes de segunda-feira por forma a manter a salubridade intelectual.
Admito, no entanto, que o programa de logo à noite venha até a ter um nível de audiências razoável, demonstrando talvez que a minha atitude perante a campanha eleitoral em curso seja atípica e, quiçá, desleixada em relação à participação cívica esperada de um cidadão informado.
Todavia, a questão radica numa atitude cultural e de consciência mais funda. Não dou para o peditório daqueles que criam expectativas de que os políticos possam, queiram ou saibam melhorar as nossas vidas, corrigir problemas sociais ou lidar com crises de variada origem.
Embora possam atender no imediato aos interesses específicos de um determinado grupo ou uma realidade específica, é irrealista pensar que as decisões dos políticos, não têm uma contrapartida nefasta noutras áreas e até agravarão os problemas já existentes noutros domínios. As políticas da classe dirigente são implementadas à custa de valores fundamentais como a liberdade, a expensas de um nível aceitável de fiscalidade ou em prejuízo do crescimento económico.
Quero com isto dizer que não precisamos do Estado para nada? Não. Mas convém ter presente que Democracia e Liberdade são conceitos diferentes e que quanto mais delegarmos aos políticos a responsabilidade de orientar e regular as nossas vidas, ou quanto maiores forem as nossas expectativas em serem os decisores públicos a tomar decisões sobre o nosso futuro colectivo, mais se alarga o campo de conflito, o espaço para erro e a infantilização das pessoas.
Um adulto trata da sua vida com liberdade e responsabilidade. Mas é mais fácil ser criança e ver TV.
A minha crónica-vídeo de hoje, aqui:
