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O dono da obra*

28 Agosto, 2008

O que têm em comum as freiras clarissas de Besançon, os transeuntes da avenida dos Aliados e os comerciantes do mercado 2 de Maio da cidade de Viseu? Um conflito com arquitectos. Mais precisamente com grandes arquitectos ou com aqueles que, após a sua morte, dizem defender a sua obra. As freiras clarissas pretendem construir um convento nas proximidades da capela de Ronchamp, uma das obras mais conhecidas de Corbusier. Mas para muitos dos admiradores de Corbusier tal construção representa um atentado à obra do mestre. As freiras encomendaram o projecto do convento a outro grande arquitecto, Renzo-Piano. Este literalmente propõe-se enterrar o convento e as clarissas num declive para evitar não tanto que a sua presença perturbe Deus mas sobretudo que não atraia sobre si a ira dos admiradores de Corbusier. Mesmo assim tanta humildade não parece ser suficiente e discute-se se a colina de Ronchamp é terra sagrada, arquitectonicamente falando claro. Já na cidade do Porto temos Siza Vieira declarando-se triste por ter sido pressionado pela autarquia  a colocar bancos na avenida dos Aliados. Em Viseu, no mercado 2 de Janeiro gela-se no Inverno, derrete-se no Verão e espera-se que o autor da obra aceda a alterá-la de modo a torná-la utilizável.  A lista dos conflitos é grande e dela também fazem parte muitos bairros sociais onde, longe das exigências do mercado, algumas equipas de arquitectos deram largas a uma concepção dos seus concidadãos próxima dos bonequinhos que lhes animam as maquettes: figuras virtuais cujos interesses, gostos e necessidades não contam para nada.  

 

Receando ser chamado ignorante e percebendo a boa imprensa que vem sempre associada ao convite a um grande nome da arquitectura, o poder encomenda com pompa e circunstância muitos destes projectos subestimando que a sua intocabilidade leva a situações bizarras como aquela que ocorre na insuportável gare do Oriente que Calatrava concebeu certamente a pensar no Dubai e não em Lisboa. E contudo se toda a parafrenália legal que criámos para supostamente defender as obras e os direitos dos seus autores já existisse no passado não só hoje não viveria ninguém em cidades como Atenas ou Roma como nem se percebe bem quando teriam ficado paradas no tempo estas cidades pois aquela profusão de cúpulas, palácios, ruínas romanas e prosaicos prédios de habitação jamais passaria no nosso crivo actual.

*PÚBLICO

110 comentários leave one →
  1. Filipe permalink
    28 Agosto, 2008 10:22

    Aqui está um assunto muito interessante. E que pelos vistos não afecta só os portugueses. Um dos modos de se ultrapassar isso é deixar ser dono da obra quem realmente o é, o seu proprietário. Outro é começando a pôr em tribunal esses nomes sonantes que acham que estão a fazer um grande favor à sociedade ignorante com as suas criações geniais.

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  2. permalink
    28 Agosto, 2008 10:26

    Caramba, até faz doer os olhos tentar ler o texto.
    Pode modificar a fonte, por favor?

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  3. 28 Agosto, 2008 10:29

    Neste assunto, parece-me ser necessário distinguir duas coisas: o acto de criação (do arquitecto) não tendo em conta quem e como vai ser usado o objecto; a utilização do arquitecto apenas na concepção de edifícios isolados, em vez de o usar no desenho da cidade. O primeiro caso, é um erro do autor (Estação do Oriente). O segundo, é um erro dos decisores políticos.

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  4. 28 Agosto, 2008 10:37

    A requalificação da av. dos aliados é uma vergonha… num diaa de calor parece que se está a atravessar o deserto do sahara e não uma das que ja foi das mais aprazíveis da cidade… corra-se com o rio, que não faz falta, quando fala ou entra mosca ou sai asneira e quando faz… não há mosca, mas a asneira é garantida… e que leve o siza junto, que o Porto agradece.

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  5. Luís Lavoura permalink
    28 Agosto, 2008 10:39

    Na Gare do Oriente um dos grandes problemas é o sol, por a gare não estar, lamentavelmente, toda coberta. Pelo que, aquilo não foi concebido, certamente, a pensar no Dubai.

    Aliás, o próprio Caltrava explicou que aquela gare foi concebida para não ser utilizada. Na linguagem dele, no futuro as pessoas não esperarão por combóios, correrão para os apanhar. Ou seja, não permanecerão na gare. Ou seja, Calatrava concebeu uma gare que serve para ser vista, não para ser frequentada por passageiros.

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  6. helenafmatos permalink
    28 Agosto, 2008 10:42

    Luís Lavoura não deixando o seu post de ter fundamento a verdade é que de Inverno também não é mais fácil

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  7. 28 Agosto, 2008 10:54

    Os “grandes arquitectos” frequentemente fazem escultura e não arquitectura. E depois dá o que dá.

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  8. orabolas permalink
    28 Agosto, 2008 11:00

    Segundo li algures: “arquitecto é um tipo que não é suficientemente homem para ser engenheiro civil nem suficientemente maricas para ser decorador”…

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  9. 28 Agosto, 2008 11:12

    Essa Gare do Oriente é uma valente aberração, funcionalmente falado. O próprio arquitecto admitiu a existência de erros (interrogo-me porque terá usado o plural, quando aqui é, na totalidade, um colossal erro) mas nem isso foi impeditivo à sua contratação para novo trabalho em Lisboa.

    Mas que se desengane quem se prepare para bradar as labirínticas burocracias portuguesas. Numa recente conversa com um amigo que estudara na Universidade Técnica de Munique fiquei a saber dum caso parecido a estes. A universidade pretendia expandir as suas instalações mas para isso seria necessário mudar de local uma peça que o arquitecto havia classificado como arte. Por isso, essa mudança carecia de consentimento do arquitecto, o qual, obviamente, foi recusado! A solução encontrada pela pela universidade consistiu em demolir a ala onde essa peça se encontrava, construindo uma nova ala, já alargada para satisfazer a necessidade de espaço.

    No meu ponto de vista, é ridículo ser negada a posse total a quem tenha encomendado e pago uma obra. Não deveria o pagamento servir de compensação ao cessar dos direitos do autor sobre a sua obra, depois de concluída como projectado?

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  10. Anónimo permalink
    28 Agosto, 2008 11:17

    Este literalmente propõe-se enterrar o convento e as clarissas num declive para evitar não tanto que a sua presença perturbe Deus

    Na realidade nao propoe mais do que as clarissas ja aceitam? Ser enterradas em vida…?

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  11. 28 Agosto, 2008 11:20

    Sendo o dono da obra a decidir sobre a dita, vamos acabar nos prédios que Sócrates projectou.

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  12. 28 Agosto, 2008 11:21

    Burro é o povo que teima em não perceber as élites e os artistas…

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  13. Goodfeeling permalink
    28 Agosto, 2008 11:25

    Se os arquitectos fossem obrigados, mas obrigado mesmo, a utilizarem durante 10 anos as obras que produzem, acho que certamente conseguiriam consiliar o belo com o útil e funcional. Estas palavras certamente que não consta dos dicionários deles.

    O siza não queria escadas rolantes no grandella eos extintores eram brancos, porque tinham que existir -um sacrilégio. primadonas que estes me sairam.

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  14. 28 Agosto, 2008 11:25

    O caso mais flagrante de arrogância arquitectónica e de mentalidade pacóvia duma autarquia é o edificio transparente no Porto. Mas ainda bem que não foi implodido porque é um monumento à estupidez.

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  15. 28 Agosto, 2008 11:26

    «Sendo o dono da obra a decidir sobre a dita, vamos acabar nos prédios que Sócrates projectou.»

    Piscoiso, duas notas:
    1. os ditos projectos de Sócrates nasceram e existem como foram projectados. O problema reside nos projectos propriamente ditos;

    2. se o autor da obra pretende manter direitos sobre ela, porque é que aceita ser pago?

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  16. Goodfeeling permalink
    28 Agosto, 2008 11:33

    Desconhecendo o assunto e não querendo descupabilizar o Sócrates, mas os edificios do Sócrates, não terão sido projectados por arquitectos e terá sido dele a responsabilidade do projecto de estruturas (cálculode betão e do ferro, térmica, acústica e outras coisas?) um Engenheiro não tem normalmente a responsabilidade na forma, tem responsabilidade em tornar aquelas coisas, seguras,sólidas e minimamente funcionais (dentro do desenho de arquitectura.

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  17. Carlos III permalink
    28 Agosto, 2008 11:33

    A Arquitectura também é engenharia social. Mas, como em tudo, tem do bom, do mau e do péssimo.

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  18. Goodfeeling permalink
    28 Agosto, 2008 11:35

    “Bairro da Malagueira Malagueira was first projected to build in a region in Tunisia. They end up building the neighbourhood both in Tunisia and here in Evora. Architect Alvaro Siza Vieira.”

    Mais uma antevisão do autarca em relação ao futuro climático que se antecipa.
    Mas como é Siza, tá tudo bem…

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  19. 28 Agosto, 2008 11:40

    Em todo o caso, há duas situações distintas:
    1. o autor da obra autorizar ou negar alterações à obra já concluída e
    2. o proprietário ser autorizado a modificar livremente a sua obra.

    Não ser obrigatório que o autor da obra autorize as respectivas alterações não implica o ponto 2. Existe uma infinidade de regras municipais e de PDM para o impedir. Note-se que estou a falar de obras *já* concluídas e em conformidade com o que havia sido projectado.

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  20. Goodfeeling permalink
    28 Agosto, 2008 11:43

    E aposto que os bancos que o Siza escolheu para colocar na Avenida, custaram uma pipa de massa, são incómodos, partem-se facilmente e não resistem ao tempo. Mas lá serão uma “obra de arte”.

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  21. Goodfeeling permalink
    28 Agosto, 2008 11:46

    Como bons exemplos da nova arquitectura temos os edificios da Av. da Liberdade e da Av. da Républica. As principais avenidas da capital estão ou não estão bonitas? Tudo com a qualidade dos arquitectos que temos.

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  22. 28 Agosto, 2008 11:54

    “certamente conseguiriam consiliar o belo com o útil e funcional. Estas palavras certamente que não consta dos dicionários deles.

    “Consiliar” de facto não deve estar no dicionário. 😉
    Mas de resto concordo. 🙂

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  23. 28 Agosto, 2008 12:10

    Devo ser herético, mas gosto da Gare da Oriente.
    Ao cruzar aquele espaço, parece que nem estou em Lisboa.
    Já o Edifício Transparente, com a forma de um paralelipipedo, ainda o admitia encaixado entre prédios. Mas num espaço aberto, frente à praia, falta ali qualquer coisa, a que chamo imaginação.

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  24. Mentat permalink
    28 Agosto, 2008 12:13

    “…se o autor da obra pretende manter direitos sobre ela, porque é que aceita ser pago?…”

    O autor da obra não pretende manter direitos sobra a obra, é a lei que lhos garante.
    Como engenheiro civil, não pertenço propriamente a nenhum clube de fãs de arquitectos, mas há que reconhecer que se alguém contrata um arquitecto de renome para valorizar a sua propriedade, há que respeitar a obra pelo menos durante alguns anos.
    Se qualquer cantor pimba tem direitos de autor sobre uma canção, não vejo porque se negaria esse direito a um arquitecto.
    Além disso o arquitecto só tem direitos de autor se quando for contratado o cliente não o obrigar contratualmente a prescindir deles.
    Nada o impede que o façam.
    Só não o fazem porque são uns “nabos”.
    .

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  25. Aldina permalink
    28 Agosto, 2008 12:15

    As Clarissas deviam ser expulsas desses conventos e serem obrigadas a trabalhar. São umas parasitas, tal como os ciganos.

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  26. Goodfeeling permalink
    28 Agosto, 2008 12:15

    TAF – lapsus dedal.. hehehe 🙂

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  27. Goodfeeling permalink
    28 Agosto, 2008 12:17

    Picoiso

    Uma coisa é gostar, (a gare do oriente fica sempre bem em qualquer fotografia) outra coisa é ser confortável, útil, e funcional.Aliás, como um edificio público deveria ser.

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  28. Mentat permalink
    28 Agosto, 2008 12:23

    “Devo ser herético, mas gosto da Gare da Oriente.”

    Eu também gosto, mas eu sou suspeito, porque tive uma pequena participação na sua execução.
    Vergonhoso e criminoso é terem espetado com um centro comercial e duas torres na sua frente, impedindo que a obra seja vista do Tejo.
    Todo o pessoal reclama com os problemas da gare ferroviária, esquecendo-se que ali também funciona um estação de metropolitano, uma gare rodoviária e era para ter um mono carril (ou teleférico) de ligação ao aeroporto.
    Para além de ter centenas de lugares de estacionamento.
    Além de ter ficado mais barata do que o previsto (apesar de isso não ser Vox Populi).
    Todas as óbvias deficiências da gare ferroviária eram perfeitamente resolúveis sem desvirtuar muito a obra.
    Agora não é chamando outra vez o Calatrava para fazer isso.
    .

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  29. 28 Agosto, 2008 12:23

    A Gare do Oriente é uma bela obra de arquitectura.
    O interior, aquela soturnidade (luz, cor, cimento, altura), indispõe.
    E o exterior, no Inverno, é insuportável.

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  30. Goodfeeling permalink
    28 Agosto, 2008 12:26

    “Agora não é chamando outra vez o Calatrava para fazer isso.”

    Foi sim senhor. O calatrava irá ser responsável pelo o alargamento da Gare do Oriente para esta albergar as linhas dedicadas ao TGV.

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  31. Mentat permalink
    28 Agosto, 2008 12:30

    “O interior, aquela soturnidade (luz, cor, cimento, altura), indispõe.”

    O betão era para ser branco e não cinzento.
    Mas deu jeito a alguém fazer assim.
    .

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  32. 28 Agosto, 2008 12:30

    Goodfeeling,

    Sim senhor : Calatrava já esteve recentemente na Gare duas vezes, para a sua adaptação ao TGV.

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  33. 28 Agosto, 2008 12:32

    Mentat,

    …pouparam dinheiro na tinta ou no cimento branco, ou nos azulejos para a revestir….

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  34. Mentat permalink
    28 Agosto, 2008 12:33

    “Foi sim senhor. O calatrava irá ser responsável pelo o alargamento da Gare do Oriente para esta albergar as linhas dedicadas ao TGV.”

    Isso é diferente e parece-me bem.
    Outra coisa é remodelar as gares de modo a melhorar o conforto.
    Isso devia ser outro arquitecto qualquer.
    Já se percebeu em todo o mundo que o calatrava para isso não serve.
    .

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  35. Mentat permalink
    28 Agosto, 2008 12:36

    “…pouparam dinheiro na tinta ou no cimento branco, ou nos azulejos para a revestir….”

    Isso é uma história muito complicada…
    Mas não estava previsto revestir a estrutura.
    Estava previsto que o próprio betão fosse branco à semelhança da gare de Lyon por exemplo.
    .

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  36. Goodfeeling permalink
    28 Agosto, 2008 12:37

    Mentat.

    Esqueceu-se que os outros usos da gare, não são afectados pelo tempo. É uma gare multimodal, e ainda bem. vai ter TGV e ligação ao aeroporto por metro. Ainda bem. Estar à espera do comboio ao frio, à chuva ou ao sol, ainda mal.

    Centro comercial com duas torres, estava previsto desde o início da Expo 98. Edificio da vodafone com fachada cega para a Av D. João II , não.

    Densidade construtiva da zona da Expo elevadissima, transportes colectivos de zona residenciais para a zona de concentração de transportes, nulos ou quase nulos. Rede viária centrada numa artéria. Rotundas “arquitéctonicas” ou seja sem justificação técnica, para além de ficarem bonitas na fotografia. Densidade de edificios de autor. Marina.
    e outros inúmeros problemas de concepção.

    E a gare não deixa de ser desconfortável.

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  37. 28 Agosto, 2008 12:38

    Quanto à Avenida dos Aliados, está muito mais “cristalina”, “aberta”, após a intervenção dó Álvaro Siza. Gosto, excepto do desnecessário porque vulgar espaço para a água.
    (O que eu disse….vão crucificar-me !).

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  38. Goodfeeling permalink
    28 Agosto, 2008 12:41

    O betão tem revestimento. Verniz incolor. O estádio do SLB também é assim. Modernices de arquitectos.

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  39. 28 Agosto, 2008 12:42

    Mentat,

    Também o exterior do meu Estádio da Luz deveria ter sido outro e claro…. E já agora, as quatro águias previstas nunca pousaram nos pilares…

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  40. Goodfeeling permalink
    28 Agosto, 2008 12:51

    http://cidadesurpreendente.blogspot.com/2006/06/aliados-memria-presente_21.html

    Avenida dos aliados, antes e depois de Siza. mais desafogada, mas mais cinzenta… e sem vida.

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  41. Mentat permalink
    28 Agosto, 2008 12:54

    “Centro comercial com duas torres, estava previsto desde o início da Expo 98.”

    Eu sei disso.
    Por isso é que é criminoso e vergonhoso ter espatifado aquele dinheiro todo numa obra monumental, quando já se sabia que se ia frustrar a sua principal maior valia que era ser vista do Tejo.

    Quando foi do Centro Cultural de Belém foi um “ai Jesus” que tapam os Jerónimos, quando este está ao lado e não em frente, e aqui toda a gente ficou caladinha.

    Porque é que será?
    .

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  42. Mentat permalink
    28 Agosto, 2008 12:55

    “E a gare não deixa de ser desconfortável.”

    E alguém desmentiu isso?
    .

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  43. Goodfeeling permalink
    28 Agosto, 2008 12:59

    http://avenida-dos-aliados-porto.blogspot.com/
    http://cidadesurpreendente.blogspot.com/2006/06/aliados-memria-presente_21.html

    aliados antes e depois de siza.

    Gosto desta parte:
    “Pois bem. Segundo o JN de hoje (julgo que a notícia está reduzida online sendo a edição em papel bem mais explícita), um estudo encomendado a uma firma de consultadoria britânica para ver se conseguem “animar” os Aliados, chegou à conclusão brilhante (devem ter lido o blogue que os “contestários”criaram na altura e outros documentos de idêntica proveniência…) de que é necessário criar zonas de sombra na Avenida e recantos de repouso bem como (e já que não existe agora solo teria que ser em floreiras…) canteiros floridos. Mas, claro, sob supervisão do “arquitecto”.
    Talvez, podemos nós imaginar, ele não ache agora “rodriguinhos” as tais floreiras e queira contribuir para “recuperar” os “aliados acabadinhos de recuperar”!

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  44. Goodfeeling permalink
    28 Agosto, 2008 13:01

    http://avenida-dos-aliados-porto.blogspot.com/
    http://cidadesurpreendente.blogspot.com/2006/06/aliados-memria-presente_21.html

    Aliados antes e depois de siza.

    Gosto desta parte:

    Pois bem. Segundo o JN de hoje (julgo que a notícia está reduzida online sendo a edição em papel bem mais explícita), um estudo encomendado a uma firma de consultadoria britânica para ver se conseguem “animar” os Aliados, chegou à conclusão brilhante (devem ter lido o blogue que os “contestários”criaram na altura e outros documentos de idêntica proveniência…) de que é necessário criar zonas de sombra na Avenida e recantos de repouso bem como (e já que não existe agora solo teria que ser em floreiras…) canteiros floridos. Mas, claro, sob supervisão do “arquitecto”.
    Talvez, podemos nós imaginar, ele não ache agora “rodriguinhos” as tais floreiras e queira contribuir para “recuperar” os “aliados acabadinhos de recuperar”!

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  45. Goodfeeling permalink
    28 Agosto, 2008 13:02

    verhttp://avenida-dos-aliados-porto.blogspot.com/
    verhttp://cidadesurpreendente.blogspot.com/2006/06/aliados-memria-presente_21.html

    Aliados antes e depois de siza.

    Gosto desta parte:

    Pois bem. Segundo o JN de hoje (julgo que a notícia está reduzida online sendo a edição em papel bem mais explícita), um estudo encomendado a uma firma de consultadoria britânica para ver se conseguem “animar” os Aliados, chegou à conclusão brilhante (devem ter lido o blogue que os “contestários”criaram na altura e outros documentos de idêntica proveniência…) de que é necessário criar zonas de sombra na Avenida e recantos de repouso bem como (e já que não existe agora solo teria que ser em floreiras…) canteiros floridos. Mas, claro, sob supervisão do “arquitecto”.
    Talvez, podemos nós imaginar, ele não ache agora “rodriguinhos” as tais floreiras e queira contribuir para “recuperar” os “aliados acabadinhos de recuperar”!

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  46. Goodfeeling permalink
    28 Agosto, 2008 13:03

    avenida-dos-aliados-porto.blogspot.com/
    cidadesurpreendente.blogspot.com/2006/06/aliados-memria-presente_21.html

    Aliados antes e depois de siza.

    Gosto desta parte:

    Pois bem. Segundo o JN de hoje (julgo que a notícia está reduzida online sendo a edição em papel bem mais explícita), um estudo encomendado a uma firma de consultadoria britânica para ver se conseguem “animar” os Aliados, chegou à conclusão brilhante (devem ter lido o blogue que os “contestários”criaram na altura e outros documentos de idêntica proveniência…) de que é necessário criar zonas de sombra na Avenida e recantos de repouso bem como (e já que não existe agora solo teria que ser em floreiras…) canteiros floridos. Mas, claro, sob supervisão do “arquitecto”.
    Talvez, podemos nós imaginar, ele não ache agora “rodriguinhos” as tais floreiras e queira contribuir para “recuperar” os “aliados acabadinhos de recuperar”!

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  47. Goodfeeling permalink
    28 Agosto, 2008 13:03

    os links têm somente http:\\ antes.

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  48. 28 Agosto, 2008 13:25

    Mentat,

    Sempre apoiei a construção do CCB naquele local.
    Não perturba o Mosteiro dos Jerónimos, mesmo que se faça o trajecto fluvial Sul-Norte.
    E valorizam-se, um ao outro !

    O CCB custou 33 ou 34 milhões de contos. Foi um “escândalo”. Alguma da mesma populaça (uns quantos comentadores e políticos do PS de então incluídos), que se indignou pelo custo, é a mesma que aprovou três(3!) desnecessários estádios para o Euro’2004.

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  49. 28 Agosto, 2008 13:47

    Ao entrar-se nos Jerónimos, por exemplo, é tudo menos confortável. No entanto, ao ser utilizado para diversas e específicas cerimónias, são adicionalmente instaladas estruturas utilitárias, (o conforto é uma delas), sem ofuscar a monumentalidade da obra.
    Aquilo até podia dar uma boa estação de metropolitano.

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  50. Goodfeeling permalink
    28 Agosto, 2008 13:51

    CCB, sim.
    Arquitectura do CCB, não.
    CCBerardo, não.
    Campos de futebol. não.
    Estádios desportivos, sim.
    Arranha-céus, sim
    Arranha-céus junto ao rio, não
    Arquitectura integrada, ou de recuperação, sim
    Arquitectura de autor, em sitio proprio.
    Arquitectura de prima-donas vendida a autarcas imbecis, não.
    Urbanismo com pés e cabeça sim. (bairro do arco do cegoe e similares)
    Urbanismo mal planeado, desregulado ou mal faseado, não. (Telheiras, Alta de Lisboa, Expo).
    Projectos arquitectónicos com preocupações no uso, comodidade, função e manutenção, sim.
    Projectos de arquitectura, só porque fica bonito e se destaca do resto, não.

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  51. 28 Agosto, 2008 14:32

    «Se qualquer cantor pimba tem direitos de autor sobre uma canção, não vejo porque se negaria esse direito a um arquitecto.»

    O cantor pimba recebe direitos de autor por *reprodução* da sua obra. Isso não é comparável à arquitectura.

    Recusar que o dono duma obra não a possa modificar é comparável a ter-se comprado um automóvel e só poder mudar de pneus com autorização do fabricante.

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  52. Mentat permalink
    28 Agosto, 2008 14:51

    “Recusar que o dono duma obra não a possa modificar é comparável a ter-se comprado um automóvel e só poder mudar de pneus com autorização do fabricante.”

    Leia bem o que eu disse SFF.
    E no caso do exemplo dado se mudar os pneus para uma marca ou tipo não recomendado pelo fabricante também se sujeita a perder garantias.
    .

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  53. 28 Agosto, 2008 14:52

    A propósito dos Aliados, aqui fica a proposta do Arq.º Pulido Valente, que permitiria “reabilitar” a Avenida sem grandes complicações.

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  54. Mentat permalink
    28 Agosto, 2008 14:54

    “O cantor pimba recebe direitos de autor por *reprodução* da sua obra.”

    E não só.
    Também tem o direito de não ser plageado e a impedir que façam alterações à sua obra.
    .

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  55. 28 Agosto, 2008 15:13

    Mentant, como saberá há inúmeras condicionantes aos ímpetos de alterações que os proprietários tenham. O meu ponto reside no facto de quem pagou um bem dele dispor na plenitude, sem a bênção do autor.

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  56. 28 Agosto, 2008 17:02

    Só um saloio que não sabe o que é património cultural pode achar que o gosto de umas freiras é mais importante do que a protecção da Igreja de Ronchamps.

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  57. helenafmatos permalink
    28 Agosto, 2008 17:06

    Post 57 – se não fosse o gosto das freiras e dos padres não exitia Ronchamps pois foram eles que convidaram o Corbusier para fazer a capela.

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  58. 28 Agosto, 2008 17:07

    Em relação a isto, creio que a alternativa seria bastante pior, ou seja, hoje o arquitecto é responsável e deve ser consultado sempre que a sua obra for intervencionada. De uma forma geral isto tem bons resultados, chegando-se a soluções de compromisso entre as partes. A partir do momento em que tal seja desnecessário, lá voltam as marquises em alumínio, os anexos e avançados e etc, degradando não só a propriedade do proprietário (passo o pleonasmo) como a propriedade do arquitecto que vê a sua obra desvirtuada.

    Vou dar um exemplo concreto, o condomínio onde vivo foi desenhado por um arquitecto de renome da nossa praça. Por razões várias, as janelas não tinham estores levando a algum desconforto por parte dos moradores. Depois de a dificuldade ser apresentada ao arquitecto, este mostrou-se interessado e foi o primeiro a contribuir com uma solução que cumprindo a sua função é, também, esteticamente agradável. Conseguiu-se um entendimento e obter-se o melhor dos dois mundos.

    Resumindo, prefiro que a legislação me obrigue a consultar o arquitecto do que permita que cada um faça o que entenda resultando num espaço urbano desorganizado e degradado.

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  59. 28 Agosto, 2008 17:17

    MJRB Diz:
    “Quanto à Avenida dos Aliados, está muito mais “cristalina”, “aberta”, após a intervenção dó Álvaro Siza.”
    Gostos não se discutem, mas para mim a av. deixou de ser um lugar interessante e é um mono de betão… é incómoda no sentido prático da coisa, é feia e cinzenta… não gosto, aliás e genericmente não gosto do que o siza faz… e acho que a Av. dos Aliados me dá razão…

    Quanto ao CCB só serve como monumento inaugural da moda tuga da derrapagem orçamental… dos 4 milhões de contos previstos inicialmente, ultrapassou os 20 de custo final… enfim, é a “boa e rigorosa gestão” do sr. silva e apaniguados que alguns acham que foi meritória… ainda por cima aquele bunker é feio…

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  60. 28 Agosto, 2008 17:52

    Aliados tipo “Largo da Feira”:
    http://www.porto.taf.net/dp/node/2645
    http://www.porto.taf.net/dp/node/3930
    http://www.porto.taf.net/dp/node/4183
    Como agora acham aquilo vazio demais, colocam lá qq coisa… Que os arquitectos não gostam, como é evidente. Nem eles nem ninguém de bom senso. É o resultado da “arquitectura de autor”…

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  61. 28 Agosto, 2008 17:54

    Miss Helena Matos,

    Tal como se não fosse o especial pedido e insistência do pároco local, Marco de Canavezes não teria a excelente igreja desenhada por Álvaro Siza….

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  62. 28 Agosto, 2008 18:09

    CãodeGuarda,

    Aceito e obviamente compreendo a sua opinião sobre a Avenida dos Aliados. Provavelmente Vc. reside no Porto ou vai muitas mais vezes à cidade do que eu, logo, a percepção, pela relação com o local é diferente.
    Mas gosto.

    O CCB é um espaço magnífico, muito bem desenhado e harmonizado com a área envolvente (Jerónimos incluídos), e exemplar como polos expositivos, museológicos e não só.
    Custou, de facto muito mais do que o previsto, inicialmente 14 ou 15 e não 4 milhões.
    Lisboa precisava dum espaço daqueles. A Gulbenkian estava “esgotada” no que respeita a espaços e agendas.
    O CCB foi feito no momento certo. Tal como Serralves, a obra necessária no momento adequado.
    Muito o país (sobretudo a criação de públicos, dos mais novos aos mais idosos) tem usufruído com conferências, espectáculos, concertos, exposições.

    Por mim, não quero um povo bestializado só com futebol, touradas e música pimba. Apesar de tudo, temos condições para sermos muito melhores do que alguns povos europeus. E o Conhecimento pela Cultura é fundamental. Caro, mas fundamental para diversificadas evoluções…que uma vez adquiridas, não se tornaram “caras”…

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  63. Manuel Moreira da Silva permalink
    28 Agosto, 2008 18:43

    (coment. 18) Nunca tinha ouvido que as casas da Malagueira tinham sido desenhadas para a Tunísia (nem sabia que o Siza tinha alguma vez trabalhado para a Tunísia). Essa informação devia ser reconfirmada…

    Não que seja inédito (no Siza e em muitos outros arquitectos) ADAPTAR projectos já existentes a novos contextos – foi o que aconteceu com o novo pavilhão multiusos de Gondomar (do Siza) que tem bastante a ver com as soluções que ele já tinha desenhado para Vigo (não construído) cruzadas com outras ensaiadas em Barcelona. É uma característica de pessoas inteligentes elaborar sobre os sucessos e fracassos prévios (A ausência generalizada dela é uma das razões pelas quais o nosso país comete tantos erros – obras públicas, políticas, etc).

    A Avenida dos Aliados, de que gosto bastante no seu estado actual, terá piorado em alguns pontos e noutros terá melhorado bastante (estes últimos são para mim em maior número). Não se deve esquecer que para além da obra à superfície, foi colocada uma infra-estrutura pesada no subsolo, o que tem implicações quanto ao que se pode fazer por cima. Os passeios junto aos edifícios alargaram bastante, o desenho é unitário e consequente com os espaços (iluminação, materiais, etc. coerente, ao contrário do que existia) e o espaço está preparado para receber os cidadãos da cidade nos dias importantes (FCP, S. João, Cortejo, Feriados, Concertos, etc.) sem ser destruído (o que era comum antes desta renovação). Um espaço como este devia ser comparado com a Praça do Comércio em Lisboa (nunca ouvi ninguém reclamar por canteiros lá). Os bancos de que se falaram (tal como as árvores que foram trocadas de quem ainda ninguém falou) são, para mim, uma vergonha. Numa avenida com aquela pendente são desconfortáveis, estão descontextualizados e impedem a fluidez da circulação pedonal (salta aos olhos). Um dos valores que os bons arquitectos mais prezam (os tais de que alguns dos comentadores parecem desdenhar) é a coerência global da obra. Como em quase todas as actividades humanas, a coerência nem sempre permite acrescentar tudo o que gostaríamos. A arquitectura não é diferente. É uma questão de prioridades. Quem achar que a coerência deve estar abaixo da função, deve aproveitar a oportunidade para visitar um qualquer subúrbio, onde os serviços municipais não têm qualquer dificuldade em encaixar todos os utensílios da vida urbana moderna numa cacofonia visualmente brilhante.

    Quanto aos direitos de autor associados às obras de arquitectura (o assunto do post inicial) não posso concordar com a maior parte dos comentadores (e com a autora), como quem teve a paciência de ler até aqui já deve ter percebido. A protecção dos direitos de autor aplica-se a uma obra de arquitectura como a um software, a um livro ou a uma canção. Dispor de uma obra de arquitectura como alguns comentadores (e a autora do post) pretendem não garantiria a coerência interna (da obra) e externa (urbana) que os arquitectos procuram. É para isso que estudam e aprendem (a formação em arquitectura é das mais longas em Portugal) e se esta formação específica existe é porque lhe é atribuída uma competência específica que quem não a frequenta possuirá em menor grau (ou não a possuirá de todo). A protecção da obra (e do território) obrigam a esses mecanismos de controlo (que muitas vezes são descurados) para se conseguir um mínimo de ordem. A sua ausência (ou a sua não aplicação) têm resultados comprovadamente maus.

    Este comentário aplica-se especialmente no caso da Capela de Ronchamp (um dos espaços mais bonitos que já visitei). As maiores criações do espírito humano (para mim Ronchamp é uma delas) devem ser defendidas (com equilíbrio) e o autor do novo projecto não é garantia de nada (pessoalmente, acho-o bastante desadequado para construir naquele contexto). A França parece concordar porque parece estar em vias de classificar a obra de Le Corbusier.

    Para concluir, se é verdade que, a existirem muitas das regras que hoje temos, muitas das construções antigas não teriam sido possíveis (seriam impossíveis as casas sem casa de banho, ou as cozinhas sem água corrente), também é verdade que muitas delas não estariam hoje em pé não fosse por elas. Pela minha parte agradeço muitas das regras, especialmente a protecção dos direitos de autor dos projectos de arquitectura, que, quando começar a ser aplicada, espero assegurar uma melhoria da paisagem urbana (o que não quer dizer que tudo é perfeito, porque nada é perfeito, mas é preciso abordar os problemas com moderação, o que não é comum por cá).

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  64. Manuel Moreira da Silva permalink
    28 Agosto, 2008 18:53

    Os barracos que a Câmara lá permite enfiar (comentário 61) são reveladores de duas coisas. A primeira é que este executivo não merece a cidade que governa, porque nem no espaço com maior carga simbólica da cidade conseguem garantir um mínimo de qualidade. A segunda é que estes barracos apenas são necessários porque se escolheu (consciente ou inconscientemente) deixar degradar o piso térreo e o espaço público do centro das cidades (os factores que concorreram para esse resultado são diversos – lei das rendas, falta de manutenção do espaço público, legislação específica de reabilitação desadequada, licenciamento de dezenas de grandes superfícies comerciais, o financiamento das autarquias, a corrupção, etc.). A renovação de uma área da cidade não se faz por decreto, demora tempo (décadas), mas está a acontecer, e a nova Avenida dos Aliados contribuiu para isso.

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  65. 28 Agosto, 2008 18:59

    Helena Matos (Post 58),
    sim Ronchamps é das freiras, como os budas de Bamyan foram dos Taliban. Se lhes deu na gana demoli-los, como deu, não fizeram mais do que exercer os seus direitos, não é?

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  66. 28 Agosto, 2008 19:23

    “estes barracos apenas são necessários porque se escolheu (consciente ou inconscientemente) deixar degradar o piso térreo e o espaço público do centro das cidades”

    … e porque os autores do projecto mantiveram a teimosia de não acolher a proposta de Pulido Valente que resolvia o problema sem destruir a coerência do espaço.

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  67. Pêndulo permalink
    28 Agosto, 2008 19:57

    Sobre Siza, avisando que não sou entendido de arquitectura.
    Acho a Casa de Chá da Boa Nova sublime.
    A Igreja de Freixo em Marco de Canavezes. Projectada já na maturidade de Siza-porque não se lembrou que a zona está cheia de velhotes que não conseguiam subir a escadaria ? Vá lá que transigiu em desenhar posteriormente uma rampa.

    A Biblioteca da Universidade de Aveiro:
    Contou-me quem assistiu:
    Diz-me essa pessoa que o edifício amplia o barulho e transposta-o entre andares.
    A historieta a que assistiu.
    Há uns funcionários que estão sentados atrás de um balcão. É ali o seu posto de trabalho. Siza desenhou uns belos candeeiros para esses postos de trabalho, só que…o raio dos candeeiros projectam a luz direita aos olhos dos funcionários, causando grande incómodo. Estes, no desenrasque português, colaram-lhes uns cartões de forma a fazerem pala e taparem a incómoda luz dos olhos e dirigi-la para onde é necessária e todos ficaram felizes.
    O problema foi quando Siza lá foi e viu aquilo. Escândalo, crime de lesa-majestade e chamado do Director ou algo parecido, e lá tiraram os cartões.
    Uma prima-donna.

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  68. Manuel Moreira da Silva permalink
    28 Agosto, 2008 20:00

    Tiago, não concordo com a sua observação, porque, por uma questão de coerência com o tipo de espaço da Avenida dos Aliados o desenho assimétrico que o arq. Pulido Valente propõe seria muito mais difícil (senão impossível…) de integrar, obrigando a tensões (estéticas e funcionais) de difícil resolução. Esse tipo de opções (destruir a simetria) em trechos urbanos com desenho neoclássico raramente é brilhante.

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  69. Manuel Moreira da Silva permalink
    28 Agosto, 2008 20:07

    A maior parte das mentes brilhantes da história da humanidade tem falhas (e as divertidas histórias que as acompanham). É o que os torna humanos. O Siza é uma delas e é humano. A Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto esteve mais de 10 anos à espera que ele (autor do projecto) escolhesse o sítio para se colocarem as máquinas automáticas de venda de comida e bebida (e o modelo e a cor). Como esta há muitas outras. Podem ser vistas como casmurrice ou como uma invulgar exigência, pouco comum nos tempo que correm.

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  70. Manuel Moreira da Silva permalink
    28 Agosto, 2008 20:09

    Só para esclarecer:

    Piso térreo = Rés do Chão (o piso da rua).

    Para que se entenda melhor.

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  71. 28 Agosto, 2008 21:01

    “desenho assimétrico”

    Não seria necessariamente desenho assimétrico, pois podia perfeitamente tratar-se apenas de uso assimétrico, ou seja, circulação automóvel privada por um lado, e pedonal + transportes públicos por outro. Visualmente podia manter-se a simetria, mesmo que se escolhesse eliminar o desnível entre “rua” e “passeio”. OU seja, numa solução mesmo “minimalista” era manter tudo exactamente como está, mas mudar apenas o local por onde passam os veículos privados. Fácil e barato. 🙂 Isso permitiria uma circulação pedonal ininterrupta desde a Praça D. João I até ao centro dos Aliados, viabilizando esplanadas na placa central.

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  72. 28 Agosto, 2008 21:04

    Sobre a Casa de Chá, de que eu também gosto muito, ela não é só do Siza:
    http://porto.taf.net/dp/node/3430

    Está tudo explicado. 😉

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  73. 28 Agosto, 2008 22:51

    Cara Helena Matos, peço desculpa pela intrusão. Quero apenas deixar o recado aos colegas que lêem este blog, que começou hoje uma petição para fazer frente ao projecto governamental SIEV (obrigatoriedade dos chips de matrícula).
    O SIEV coloca em risco as nossas liberdades individuais dos portugueses, para além de ser um mecanismo de taxação dissimulada.
    Podem contribuir para parar este processo, assinando a ‘Petição Contra a Colocação Obrigatória de Chips de Vigilância nas Matrículas dos Veículos Automóveis’. A petição visa não apenas parar o processo, como também funcionar como instrumento de consciencialização pública alargada.

    A petição está em http://www.ipetitions.com/petition/siev/

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  74. Manuel Moreira da Silva permalink
    29 Agosto, 2008 00:10

    Usar as faixas do modo que o Tiago propõe implicaria problemas de compatibilização – se há automóveis a subir e a descer na faixa Poente e transportes públicos a subir e a descer na faixa Nascente, a compatibilização nos topos Norte e Sul seria complexa.
    E os Aliados são o local de representação da cidade (dias especiais), que com esta intervenção ganhou espaço para um melhor usufruto quotidiano – aumento importante dos passeios, principalmente na zona da Praça da Liberdade (que na versão anterior parecia uma rotunda no fim de uma auto-estrada com uma praça de Táxis no meio – tinha umas 4/5 faixas mais estacionamento dos dois lados) – e um desenho unitário, o que resultou, na minha opinião, num enorme aumento de qualidade estética (o valor maior no caso da “montra” da cidade). Depois perdeu aqueles canteiros raquíticos e os urinóis que por lá havia (certamente para pena de alguns aficionados que terão que se deslocar aos muitos que ainda existem no Passeio Alegre ou na Baixa), uma falta imensa que deixa a cidade mais pobre…

    A história da Casa de Chá da Boa Nova que eu ouvi contava que teria sido um concurso feito pela cidade de Matosinhos, vencido pelo atelier do Fernando Távora (e em que colaboraram vários arquitectos sob a orientação dele) e que este teria deixado o atelier por uns meses para fazer uma viagem, entregando o projecto ao colaborador Álvaro Siza. Quando regressou, o projecto já estaria concluído e, reconhecendo não ter tido grande importância na versão final, terá tido a dignidade de atribuir a autoria ao colaborador (acto que voltaria a fazer várias vezes até ao fim da sua vida – Palácio do Freixo, etc.).

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  75. 29 Agosto, 2008 01:17

    Nunca como hoje, e em nenhum lugar como cá, o interesse dos arquitectos colide com o uso dos edifícios por eles projectados. Porquê? Por uma razão simples que qualquer blasfemo aprendiz de liberal devia saber: obras a sério em Portugal só o Estado ou o Santuário de Fátima as pode encomendar. Dito assim aposto que até o bom do caazito concordará… Perante um encomendador particular o arquitecto, por muito genial que se ache, agacha-se. Quando trata com o Estado, exige uma pipa de massa, respeito escrupuloso por todas as invencionices que engendrou e no fim uma estátua. Os exemplos da Av. dos Aliados, do apeadeiro do Oriente, da ponte Europa, entre muitos outros, são eloquentes. O que Siza fez na Avenida é simplesmente absurdo. De uma avenida com carros não se faz uma plaza mayor. Para mais quando faltam espanhóis de copo na mão.

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  76. mariana permalink
    29 Agosto, 2008 01:18

    manuel silva:

    retirar as casas de banho públicas da cidade foi dos maiores erros que se cometeu. que o diga eu, que vivo no marquês e tenho que suportar o cheiro a mijo de cada vez que atravesso o jardim. é estupido achar que são os cafés (cujas casas de banho são para uso dos clientes, não uso comunitário) quem tem que suprir essa falha.

    quanto aos canteiros, concordo em parte. acho que um longo tapete verde a cobrir a avenida refrescava o espaço e dava azo para que o espaço fosse realmente utilizado pelos seus donos (no caso, toda a gente que, dos seus impostos, pagou para ter uma avenida agradável e bonita). o problema da arquitectura para espaços públicos é que não se pensa com a mesma lógica que se usa para a arquitectura privada. supõe-se que são os utilizadores que se têm que moldar ao espaço, e não o contrário. claro que as pessoas são teimosas e acabam sempre por levar a melhor… ou já se esqueceram da calamidade da cordoaria, que agora está para ser maquilhada?

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  77. 29 Agosto, 2008 01:25

    Os conceptistas do raio que os parta deviam era estudar Gaudí e aprender com ele: nas suas casotas não há uma puta de uma curva que não tenha utilidade… e beleza.

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  78. Manuel Moreira da Silva permalink
    29 Agosto, 2008 01:43

    Aquela casa de banho pública em particular, no centro geográfico da Avenida mais representativa do Porto, em jeito de bunker, não me parece uma opção avisada. Os utentes do jardim do Marquês, se não se conseguem conter de modo a usarem as dos cafés ou as do metro deviam ponderar usar fraldas. Nojo mete-me passar no fundo do Largo do Ouro e ver um pequeno regato de mijo a escorrer do urinol que está no meio do passeio para a estrada. Talvez o Souto Moura partilhe da minha opinião, já que o escritório dele é lá à beira.

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  79. Pêndulo permalink
    29 Agosto, 2008 07:36

    Manuel Moreira da Silva Diz:
    29 Agosto, 2008 às 1:43 am
    Os utentes do jardim do Marquês, se não se conseguem conter de modo a usarem as dos cafés ou as do metro deviam ponderar usar fraldas.

    Qual a taxa de IVA que um café deve aplicar pelo serviço de mictório? É compatível com a legislação fornecer serviços de alimentação e de micção no mesmo espaço?

    Mais a sério: por que raio tem o dono de café de o pôr a funcionar como casa de banho pública?

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  80. José Manuel permalink
    29 Agosto, 2008 07:40

    O pior da Avenida dos Aliados é aquela barracada que quase em regime de permanencia a Câmara lá monta, ou permite montar.

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  81. nuno granja permalink
    29 Agosto, 2008 11:23

    Por um lado acho que os arquitectos são essenciais e o resultado da não inclusão de arquitectos na grande maioria dos projectos está bem à vista nas aberrações que se vão construindo das quais as casas do “Eng” Pinto de Sousa são o exemplo perfeito… Por outro Sizas,Tavoras, Calatravas, Soutos Mouras e outras primas donas tiram-ma do sério, ao fazerem birras e preferirem que as pessoas sofram diariamente com os erros dos seus projectos.

    Há outros arquitectos portugueses com capacidades de fazer “obra” sem infernizarem a vida de quem a utiliza
    Seria optimo deixarmos de nos preocupar com “marcas”, sim porque essas primas donas começam a ser pouco mais do que marcas que vendem, e pensarmos na função do que se projecta

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  82. 29 Agosto, 2008 16:34

    Manuel Moreira da Silva, completamente de acordo com o comentário #64.

    Alguém aceita que o editor do Saramago altere uns capítulos metendo-lhes cenas de sexo para apimentar a história? Alguém aceita que se meta uma “batida” numa sinfonia para dar mais “vibe” à coisa? Alguém alteraria a “Mona Lisa” para lhe retocar o sorriso (por não ser esclarecedor)?
    Então porque é que toda a gente acha que perante uma obra de arquitectura ainda têm que lhe meter uns canteirinhos, candeirinhos ou banquinhos? Aquilo é património intelectual de alguém que foi contratado para aquele serviço. Os projectos são validados e aprovados, e no fim é que vêm dizer coisas? Se não gostam, não aprovem, não comprem, etc.

    Cumps

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  83. Manuel Moreira da Silva permalink
    29 Agosto, 2008 17:45

    Agradecia ao Nuno Granja que desenvolvesse o seu conceito de Prima Donna. Para mim é o que mais faz falta por ao mundo – pessoas brilhantes na sua área de actividade e que têm dificuldade em aceitar que quem com eles trabalha se reja por um standard (ético, profissional, etc.) baixo. É quem não tem paciência para o amadorismo que grassa no país.

    É o que qualquer profissional com carácter deve ser quando vê que a sua obra (arquitectónica ou outra) está a ser destruída pela ignorância alheia.

    “essas primas donas começam a ser pouco mais do que marcas que vendem”

    Não é grande surpresa que pense assim (parece ser a opinião generalizada). É por isso que eles, neste momento, quase não têm obras cá em Portugal e lá fora não lhes falta trabalho – O Siza em Espanha: em Madrid está a renovar a Avenida mais importante e a reconstruir um palácio, em Toledo a fazer um dos maiores hospitais de Espanha, em Barcelona acabou um mega-pavilhão desportivo, em Panticosa dois hotéis, em Ceuta um centro cultural, em Granada um edifício de escritórios, em Valência a reitoria e a biblioteca da Universidade e em Maiorca acabou agora uma casa (para juntar ao museu e à faculdade que tem em Santiago de Compostela, à reitoria da Universidade de Alicante, ao Centro Meteorológico de Barcelona que fez nos últimos anos).

    Mas terá certamente toda a razão e eu é que não percebo. Seremos um país demasiado bom para essas Prima Donnas e os coitados só arranjam trabalho nos países do terceiro-mundo em que os direitos de autor não existem e os “bons” arquitectos fazem obra sem infernizarem a vida de ninguém.

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  84. Minhoto permalink
    29 Agosto, 2008 17:50

    Ó Mentat se puseram betão normal em substituição do branco é normal que tenham poupado dinheiro, só as dores de cabeça que dá a descofragem, só se vê betão branco na obras públicas (ainda não vi numa privada mas de certo que há, tirando obviamente o novo santuário) por alguma razão.
    O Calatrava sempre é bom em estruturas? O curso de arquitectura em Espanha é um pouco estranho pois em 6 anos misturam engenharia civil com arquitectura, nem é carne, nem é peixe.
    A Gare do Oriente é bela, desconfortável mas bela.
    Quase todos os arquitectos são prima donas, uns mais mediáticos que outros contudo são precisos pois a formação em engenharia cria do ponto de vista arquitectónico blocos soviéticos.
    O problema com os arquitectos e com as autarquias é falta de formação intelectual, são bandos de
    deslumbrados e ofuscados com eles próprios.

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  85. Manuel Moreira da Silva permalink
    29 Agosto, 2008 18:02

    Podia acrescentar que para além do centro de Madrid, também vai renovar o centro de Milão e fazer um Museu para o Leonardo da Vinci (personagem menor da cultura italiana…). Parece que por lá também está com ideias de virar uma estátua de um cavalo. Tudo isto depois do aparente fiasco que foi a renovação dos Aliados. Eles é que ainda não sabem o que vão perder (vai ficar tudo sizento).

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  86. helenafmatos permalink
    29 Agosto, 2008 21:39

    Eu não sou obrigada a ler um autor que não quero e no caso da literatura nem se pode dizer que o Estado os sustente.

    Os autoritarismos dos arquitectos fazem sentir-se sobretudo nas obras públicas – logo pagas por todos nós – e em espaços que eu não posso deixar de frequentar. Eu não posso inventar outra escada para colocar no edifício da CML sendo certo que a escada, sem corrimão, é um convite ao trambolhão. Na gare do Oriente ou gelo ou esturro mas não posso vir-me embora

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  87. Manuel Moreira da Silva permalink
    30 Agosto, 2008 00:12

    Não consigo perceber exactamente o que é que propõe.

    Há muitas obras públicas que têm processos de consulta pública (e muitas obras privadas também, quando o legislador entende que os seus efeitos merecem esse tipo de iniciativas). É verdade que a participação nas discussões nem sempre existe (por preguiça de quem tem algo a dizer, por ausência de publicidade que por vezes interessa aos intervenientes (como é típico nos loteamentos), etc.) e mesmo quando existe, muitas vezes não é atendida (por casmurrice, por ser incoerente com o projecto, etc.). Mas tem havido melhorias e há muito mais mecanismos de garantia dos direitos dos cidadãos (comparar as várias versões do DL 380/99) e o processo tem-se tornado mais transparente. É pouco e pode melhorar imenso. Há uns meses, aquando da consulta pública do programa Simplex para este ano, fartei-me de enviar sugestões para integrar no portal SNIT (www.territorioportugal.pt), entre outras coisas, marcações das operações urbanísticas que estavam em consulta pública (loteamentos, vendas em hasta pública, etc.) para que quem quisesse saber o que viria a acontecer na sua vizinhança, ir a um mapa e ver (e se o entendesse, contribuir com a sua opinião) – o que diminuiria a probabilidade de se constituírem direitos adquiridos abusivos (como o que se discute neste momento em Lisboa) – algo próximo disto foi implantado num portal (www.gaiurb.pt) pelo executivo de Vila Nova de Gaia, numa gestão urbana muito transparente(e que merecia ser copiada por todas as câmaras municipais). A minha sugestão não foi atendida (recebi uma resposta genérica do tipo “agradecemos mas fica para a próxima”) mas pode ser que alguém que o tenha lido se lembre de o por em prática (também escrevi para a DGOTDU, para a empresa que desenvolveu o software do portal, para o Ministro e Secretário de Estado responsáveis, para a Ordem dos Arquitectos e para os centros de estudos universitários desta área científica – recebi algumas respostas simpáticas e tenho conseguido apresentar as minhas ideias para melhorar o sistema). Mais gente se dedique a perceber como se estrutura a máquina do Estado, melhor se poderá fazê-la funcionar. Pequenos passos…

    É evidente que a arquitectura (para a qual continuo a defender o mesmo tipo de defesa dos direitos de autor que qualquer outra actividade criativa) tem mais impacto na vida quotidiana, mas não se pode integrar tudo o que todos querem (teoria dos jogos, equilíbrio de Nash…). Não me parece que o Siza seja tão pouco razoável como a maior parte dos comentadores parecem escrever – do que conheço dos processos que desenvolveu tem sempre a preocupação de integrar o maior número de opiniões possível e a internacionalização da sua obra deu-se precisamente por ser visto como um especialista no diálogo com clientes e utentes (foi convidado para fazer um edifício de apartamentos para emigrantes turcos em Berlim, agora conhecido como Bonjour Tristesse (o nome resume uma divertida história de luta política e social), no seguimento dos bairros da Malagueira, em Évora e do SAAL, no Porto. Um destes últimos, o Bairro da Bouça, cuja construção foi interrompida a meio, em 1978, por motivos políticos , foi concluído há 2 anos depois de quase três décadas de pressão dos moradores (ainda, na sua maior parte, os originais) sobre a Câmara, com a ajuda do arquitecto (tenho lá escritório e aconselho a visita).

    As sugestões que entender dar para a melhoria das obras serão mais facilmente integradas (se foram possíveis e convenientes) antes de a obra estar construída. Após a conclusão, é muito mais caro e difícil (por vezes impossível) acomodar alterações que por vezes fazem muita falta (e é preciso perceber que o projecto é um acto de previsão e, como tal, é propenso a falhas).

    Entendi o seu post como uma defesa do direito do “dono de obra” de dispor dela como entendesse (já que foi ele que a pagou e é ele quem a usa) mas o equilíbrio que se entende adequado na nossa sociedade (entendimento que é mais ou menos comum em todos os países semelhantes a Portugal) implica que, precisamente por a arquitectura ser uma actividade fundamental na conformação da paisagem (e tendo necessariamente, mesmo nas obras privadas, uma componente pública), deve(ria) ser exercida por profissionais com competências específicas (os arquitectos, que têm uma das formações superiores mais longas, aqui como na maior parte dos países semelhantes) e regulada de modo a compatibilizar os vários interesses em competição. Infelizmente, na minha opinião e ao contrário do que acontece na maioria dos países da Europa (e já aconteceu em Portugal), os arquitectos têm ainda muito pouca intervenção em muitos dos elementos que mais transformam a paisagem – como exemplo poderia dar a maior parte das infra-estruturas (estradas, auto-estradas, pontes, viadutos, etc.) que lá fora não se fazem senão sob a coordenação de um arquitecto e que por cá se consente que continuem a destruir a paisagem, como aconteceu recentemente com a A24 na zona do Douro (e em quase todas as outras que se têm feito). O que mais estranho é que apesar disto (e de uma parte substancial, talvez ainda maioritária, dos projectos de arquitectura ser assinada por não arquitectos) a opinião pública parece acreditar que os arquitectos é que são os maus-da-fita.

    Não sei qual é exactamente o problema da escada da CML (nunca lá entrei – sou utente da CMPorto) mas acredito que possa ser resolvido se enviar uma carta ao vereador responsável ou se se propuser angariar fundos para que lá se instale o corrimão prático e bem-desenhado (dentro das minhas possibilidades pode contar comigo). A gare da Alta Velocidade da Atocha, em Madrid (que para mim é uma versão bonita da tipologia da gare do Oriente – sala hipóstila), tinha um problema de correntes de ar no Inverno (e lá gela-se mesmo) e conseguiu-se minorar o problema, com a intervenção do projectista original, com uma fachada de vidro – http://farm2.static.flickr.com/1182/542972801_1d0b8556a0.jpg?v=0 – (a gare ficou muito mais feia e escura, mas… não se pode agradar a todos) – mas também se deverá ter em conta que, tal como uma central de autocarros ou um parque de estacionamento, uma estação de comboios tem que ser fortemente ventilada.

    Aproveito para lhe agradecer ter escrito, ainda que não directamente, sobre arquitectura. É um dos temas fundamentais da vida em sociedade que deveria ser discutido diariamente (não só pelos “especialistas”), mas que apesar de estar na moda, não consegue sair das notas de rodapé das páginas da cultura ou dos artigos ocasionais dos suplementos de fim de semana. É, erradamente, tratada como um problema distante e a grande maioria dos utentes quotidianos (todos nós) sofrem com isso sem se aperceberem (talvez por a qualidade média da arquitectura portuguesa ser tão baixa).

    Aproveito também para lhe recomendar (e a todos quantos queiram ler) um belíssimo texto que o Gonçalo M Tavares escreveu sobre arquitectura, oportunamente republicado por uma pequena grande editora que está a dar os primeiros passos (http://www.dafne.com.pt/pdf_upload/opusculo_14.pdf)

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  88. Manuel Moreira da Silva permalink
    30 Agosto, 2008 00:32

    Caso não o tenha ainda feito, aconselho também a leitura da entrevista do Siza ao Diário de Notícias (http://dn.sapo.pt/2008/08/24/entrevista/politicos_escolhem_quem_ganha_concur.html). Ele parece concordar com a maior parte das suas ideias (como já tinha referido no comentário anterior) e não me parece ter um comportamento típico de um rent seeker parasita de obras públicas.

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  89. 30 Agosto, 2008 04:08

    A propósito do Bairro da Bouça, no Porto, do Siza, eu conheço quem lá more desde o início e sei bem das dificuldades que tiveram para que fossem aceites modificações simples, mas essenciais para uma utilização normal de uma habitação, que não tinham sido previstas pelo arquitecto. E que acabaram por ser feitas pelos habitantes à maneira deles… Claro que mais recentemente também quiseram que o Bairro fosse acabado pelo Siza, afinal as casas só por serem do Siza ficaram muitíssimo valorizadas pelo mercado. É para quem quer. 😉

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  90. Manuel Moreira da Silva permalink
    30 Agosto, 2008 04:48

    Foram introduzidas algumas modificações globais ao projecto original como as marquises de vidro nas lavandarias, a casa de banho dividida em dois (exigências dos regulamentos) e o estacionamento automóvel, por exemplo (negociadas, como deve ser, entre projectistas e clientes), enquanto outras alterações, consideradas negativas (para a imagem, unidade ou qualidade da construção), como os azulejos, as caixilharias de PVC ou de alumínio foram removidas ou substituídas. Não sei exactamente a que alterações se refere o Tiago mas há vários apartamentos no conjunto que têm modificações pontuais para os adaptar aos proprietários (cozinhas, paredes, etc.), mas não é prática comum, pela natureza do empreendimento (habitação a custos controlados) e pela compreensível vontade de unidade do conjunto da parte do projectista. Eu compreendo as atitudes do Siza como as de alguém com uma enorme exigência de qualidade, desde a implantação à posição dos caixotes do lixo. É a maneira de atingir a coerência que ele deseja nas suas obras (e não, não é uma pulsão totalitarista que olha para as pessoas como bonecos em maquetes… é exactamente o contrário disso – a partir da esquizofrenia da vida contemporânea e de toda a tralha técnica e tecnológica que ela exige, tenta criar espaços qualificados e adequados à vida, o que, na minha opinião, ele é provavelmente o melhor do mundo a fazer, neste momento).

    A vontade dos moradores em ver o Siza terminar o projecto manteve-se desde que acabou o SAAL até à conclusão (é o que me contam os moradores responsáveis pelo processo). O valor económico acrescentado a que se associa o nome dele é muito mais recente que a vontade deles.

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  91. 30 Agosto, 2008 06:02

    O problema do Siza é que vive num mundo ideal que não existe! E pensa as suas obras para esse mundo, esquecendo que depois, na realidade, o uso que as pessoas dão ao espaço não é compatível com os “princípios de pureza” que ele gostaria. E as coisas correm mal… Um bom arquitecto tem que projectar os espaços para que as pessoas se sintam bem neles (mesmo que precisem de algum tempo de habituação). Não é esse o caso com a generalidade das obras do Siza. Ele quer impor a sua obra mesmo que tenha de ser contra a vontade dos utilizadores.

    Mesmo os “casos de sucesso” como Serralves são “de sucesso” apesar de não estarem completamente adaptados à função prevista, o que obriga os seus utilizadores a descobrirem soluções para corrigir as falhas do arquitecto. Por exemplo, dizem-me que em Serralves a utilização como museu é complexa!

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  92. 30 Agosto, 2008 06:13

    Quando a espaços públicos, o caso mais evidente deverá ser o dos Aliados (e provavelmente também o de Viseu, mas esse não conheço bem). As coisas, obviamente, não correram como o arquitecto pensava e o resultado real, tal como está agora e com o uso que efectivamente lhe é dado, é mau. Será só um problema do povo que é estúpido? Ou do governo local, que é inculto? Ou será que foi o arquitecto que não percebeu para quem estava a projectar? E que não soube desenhar espaços que resistam a “vandalismos”? Que pensou em soluções que só funcionam se as pessoas agirem de acordo com o que ele acha ser mais adequado? Isso é ser arquitecto?

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  93. nuno granja permalink
    30 Agosto, 2008 12:02

    Concordo a 100‰ com o post da “helenafmatos”

    uma obra de arquitectura não é um livro, mas sim um lugar onde temos de passar ou viver, já um livro que lê quem quer, há quem não leia, há quem leia saramago, lobo antunes, Margarida Rebelo Pinto

    manuel moreira…

    Primeiro repare que afirmei considerar o papel dos arquitectos importantissimo, mas passo-me quando o Siza, Calatrava e afins, acham que as opções dos seus projectos são inquestionaveis, independentemente de fazerem a vida de quem tem de por lá passar um inferno
    Fazem calinadas que ficam muito bem enquadradas nas fotos dos livros de arquitectura, mas quem as utiliza perde qualidade de vida.
    Recentemente estive em Valência e pude visitar o Museu Príncipe Filipe, por fora muito bonito mas por dentro um caos e com uma necessidade absurda no consumo de energia para o ar condicionado.
    Parece que a Casa da Musica no Porto enferma de uma série de erros a nivel de acessibilidades a cidadãos portadores de deficiência e backstage.

    Para mim “prima-dona” é o Souto Moura ao não autorizar mexidas no terminal de camionagem da Casa da Musica enquanto no inverno as pessoas esperam de pé ao frio ou ao vento e existem mais casos para lá da estação do oriente.
    Poderá entender que a palavra prima-dona não será a mais correcta, mas que as pessos são massacradas diariamente pelas as opções do projecto de Souto Moura e este demosntra uma insencibilidade atroz é um facto.

    Profissionalente trabalho na gestão de branding e ai tenho a certeza do termo usado, Siza e companhia tem todos os “tiques” de uma marca.

    Outro facto que tenho como certo, é o de existirem excelentes arquitectos portugueses que podem muito bem substituir estas marcas vivas, quiça com soluções mais amigas do utilizador

    nuno

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  94. Manuel Moreira da Silva permalink
    30 Agosto, 2008 20:11

    O Siza vive neste mundo (não é extraterrestre ou esquizofrénico) e pensa os projectos a partir dele – já tive oportunidade de acompanhar bastantes projectos dele e todas as opções são cuidadosamente pesadas e firmemente enraizadas na realidade). Claro que, como qualquer arquitecto (ou como qualquer profissional decente), sempre que tem oportunidade de transformar uma realidade, procura melhorá-la.
    Não me parece correcto falar de “princípios de pureza” (mesmo entre aspas) porque se há obra em que existe concorrência de usos e elementos é a do Siza (ao contrário de outros arquitectos com abordagens desse tipo, como um John Pawson, p.e. – mas mesmo nesses é preciso ter cuidado na análise, porque a realidade não é tão simples como parece) – a obra dele é eclética e impura. São precisamente esses os aspectos que mais admiração atraem na obra do Siza – a capacidade que ele tem de transformar problemas complexos em espaços qualificados (por isso é que ele foi chamado para fazer apartamentos para as comunidades turcas em Berlim e para emigrantes árabes em Haia, por exemplo). Eu, pela minha parte, sinto-me muito bem na maior parte dos espaços que o Siza ajudou a criar (também consigo apontar defeitos em muitos deles, mas o que mais me importa é o balanço final) e, talvez pela minha formação, sei que em qualquer projecto de arquitectura (do puxador à cidade) há concorrência de interesses, muitas vezes contraditórios e têm que ser feitas opções (muitas vezes do tipo soma zero). Não sendo possível agradar a todos em tudo ao mesmo tempo, procura-se o máximo denominador comum entre todos os problemas envolvidos (programa, contexto, cliente, utentes, orçamento, técnica, etc.).
    O caso de Serralves é um bom exemplo para se desenvolver isto – a fase de projecto decorreu entre 1991 e 1997 e foram ensaiadas várias soluções tipológicas diferentes para vários programas e orçamentos diferentes (mudam os clientes-políticos, muda tudo). Vale a pena ir ver o catálogo da exposição da obra museológica do Siza que houve em Serralves para ver como se transformou o projecto ao longo desse tempo. A tipologia utilizada para o espaço museológico é tema de discussão acesa no mundo inteiro e não é possível fazer a distinção entre a boa e a má solução (cada um tem as suas preferências e há correntes de opinião) – se alguém se interessar por isso a tese de Doutoramento do arq. Carlos Guimarães está publicada e foi exclusivamente sobre a aplicação desse tema em Portugal. No caso de Serralves o Siza já escreveu vários textos sobre as opções que tomou e deu exemplos dos modelos que seguiu – um dos que citou foi o Musée Picasso de Antibes (que se arranjar tempo vou visitar daqui a dois meses, graças à maravilhosa ryanair que voa para Marselha a partir do Porto). Simplificando, o Siza entendeu que um espaço museológico não se deve anular, dando o máximo destaque à obra de arte (quase sem contexto), mas sim estruturar um espaço com carácter que interaja com as peças, criando novas leituras. Esta opção torna mais difícil a preparação das exposições, ao mesmo tempo que as torna muito mais ricas (vale a pena ir ver os catálogos do Cabrita Reis e da Cristina Iglésias, p.e., para ver os resultados).
    Repito que gosto bastante da nova configuração da Avenida dos Aliados – Acho os pavimentos bonitos (um compromisso adequado entre o conforto e a dignidade que o espaço exige), os passeios têm dimensão adequada, as vias estão bem dimensionadas, a circulação melhorou, retirou-se o que estava a mais (estacionamento desordenado de transportes públicos, urinóis, canteirinhos, etc.), deu-se o devido destaque às esculturas que estavam escondidas no meio do jardim (A belíssima Menina Nua do Henrique Moreira, entre outras), limpou-se o eixo central da Avenida de modo a dar o devido destaque ao edifício da CMP, deu-se unidade ao mobiliário urbano e à vegetação (o que já não se mantém graças aos inquilinos da CMP, que forçaram a mudança de ambos) e, para mim o mais importante, resolveu-se a tensão que existia entre Avenida e Praça, estruturando um espaço muito mais qualificado. Não me importa minimamente defender o Siza das críticas que lhe fazem, o que quero é transmitir a minha opinião sobre um espaço que, para mim, foi muito bem desenhado. Terá certamente imensas falhas. Já percebi que há quem sinta falta dos urinóis (as necessidades da natureza não escolhem lugar), quem queira mais bancos para se sentar, mais verde para se refrescar, quem não goste daquela fonte ou quem preferisse um repuxo (o presidente da CMP), quem queira a via automóvel em alcatrão, paragens de autocarro e os acessos ao metro mais acima ou mais abaixo, parques de estacionamento, mais/menos iluminação, árvores maiores ou mais pequenas, ligação pedonal entre a praça D. João I e a placa central, ciclovias, skateparks, esplanadas e barracos pelo meio (isto parece que pelo menos os actuais inquilinos da CMP querem), câmaras de videovigilância, condutas para a ligação à TVCabo, geradores eólicos e muito mais. A solução que lá está é um compromisso (como quase tudo na vida) que resultou da ponderação dos dados do problema (o máximo denominador comum de que já falei) filtrada por uma equipa da qual o Siza foi uma peça (importante, mas não exclusiva) – haveria certamente imensas ideias que ele gostaria de concretizar mas que, passadas por esse filtro acabaram por ser abandonadas. Eu também gostava de muita coisa (entre outras, gostava de morar na Avenida dos Aliados), mas sei que não cabe tudo, mantendo um mínimo de ordem e respeitando os pressupostos, por isso é que gosto tanto da actual versão dos Aliados.
    Eu (com dificuldade) tento evitar generalizações (tive umas aulas de antropologia que me despertaram para os problemas disso) mas arriscaria responder ao Tiago que há povo muito estúpido e governantes muito ignorantes (e a média nacional de ambos justifica bem o subtítulo deste blog) e que esses factores concorrem (na minha opinião mais do que muitos outros) para a miséria que é o território português (acho que aqui posso generalizar sem errar). Haverá certamente imenso povo inteligente e governantes cultos (não são a regra e infelizmente parece que enquanto os primeiros aumentam, os segundos…). Tivesse todo o território português os problemas das obras do Siza, do Souto Moura, do Távora (poderia juntar o Byrne, o Carrilho da Graça, o José Paulo dos Santos, os ARX, os Promontório, a Filipa Guerreiro e o Tiago Correia, a Inês Lobo, o Taínha, o Manuel Vicente, o Graça Dias, o Francisco Barata, o Adalberto Dias, os Aires Mateus, a Paula Santos, o Nuno Brandão Costa e, porque não, as minhas obras primas – entre muitos outros) viveríamos todos muito melhor. O que me espanta é a violência com que se critica cada aspecto das obras do Siza e quase não haja quem se preocupe com a falta de qualidade da maior parte do nosso território – não me recordo de críticas à A24 e ao impacto visual que teve sobre o Douro e não se discute a inserção da maior parte das infra-estruturas na paisagem (aeroporto, barragens, TGV, auto-estradas, etc.), muitas das quais não têm qualquer contribuição da arquitectura e resultam no que todos podem começar a reparar (uma dica que eu daria para que se preste mais atenção – talude e aterro).

    Uma obra de arquitectura não é um livro (tive que parar para me recompor :)) e como tal tem especificidades próprias. Os direitos de autor não são absolutos (como quase todos os outros) e têm pontos de equilíbrio variáveis, consoante a evolução do entendimento da “sociedade” – se lhe parece que está tão mal, sugiro que se junte a alguns amigos, estudem os diplomas legais, comparem com a experiência estrangeira e proponham modificações (façam recolha de assinaturas e uma projecto de lei de iniciativa legislativa dos cidadãos, por exemplo), algo que já é possível há algum tempo e que já foi feito, por exemplo, pela Ordem dos Arquitectos – caso tenha apoio suficiente, conseguirá que a sua proposta seja aplicada. Implica trabalho, e custos, a si ou a qualquer outro que o entenda fazer (o Estado também gasta dinheiro nisso). Também pode escrever aos deputados responsáveis pelas comissões que tutelam essa área, ao Provedor de Justiça ou aos Jornais – nem sempre respondem mas não custa muito tentar (já recebi várias respostas, noutros problemas), mas não pode esperar que gritar para o ar uma vez, ou escrever um comentário num blogue e depois mudar de assunto resolvam alguma coisa. Pequenos passos… e resiliência.

    Quanto aos tiques de marca ou dos comportamentos de Prima Donna do Siza e do Souto Moura (custa-me juntar o Calatrava a estes dois) no sentido lhes dá, entendo-os porque qualquer um deles é o chefe de uma PME que, queiram ou não, tem que pagar salários ao fim do mês a umas dezenas de colaboradores. A evolução do mercado (em especial o mercado português que é muito mau pagador em tudo, e na arquitectura por vezes paga anos depois do que devia) conduziu-os a procurar soluções para manter a viabilidade das suas empresas e essa foi uma delas. Desenham peças de mobiliário e decoração, esculturas, desenhos, modelos de caixilharia, fazem livros, azulejos, sanitas, serviços de chá, etc. Promovem-se como marcas para valorizarem o seu rendimento (são Starchitects). Isso tem implicações nas obras que fazem? Seguramente. Mas não me parece que seja da maneira que diz (infernizar a vida dos que usam para sair bem na fotografia) porque se assim fosse já só teriam trabalho a fazer cenários para o cinema ou para propaganda da Coreia do Norte. O aparecimento dos Starchitects (potenciado pelo pós-modernismo, aqui como noutras profissões) permitiu melhorar as condições de trabalho dos arquitectos, expandiu a sua área de trabalho e abriu os olhos de muita gente (ainda muito pouca…) à necessidade de cuidar do território (em todos os aspectos e em todos os momentos), o que fez com que alguns arquitectos (geralmente os de fraca qualidade) procurassem dar uns ares de imagem-moderna-tecnológica/minimalista-que-destaca-o-meu-brilhantismo-e-que-repito-ad-nauseam-em-todo-o-lado-onde-me-deixam-construir. A falta de cultura arquitectónica (pode-se substituir por quase qualquer outra categoria) da maior parte das pessoas (numa palavra, a bovinidade) permite que muitas vezes isso passe por boa obra (ouvem-se comentários primários do tipo “à Siza” por ter as paredes pintadas de branco) quando apenas contribui para a degradação do território. Nunca vi o Siza fazer disso, embora tenha tiques (ele prefere a palavra invariantes) que nem sempre resultam perfeitos. Só que nele (e na maior parte dos bons arquitectos), em vez de serem cópias acéfalas de imagens e estilos são, na maior parte das vezes, soluções cuidadosamente evoluídas ao longo de várias décadas para resolver problemas complexos de arquitectura com séculos de existência (o encaixe da caixilharia na parede, o remate do edifício no solo e no céu, a condução da água da cobertura para o terreno, as relações urbanas, a definição dos espaços, como se entra, etc.) – tudo coisas que se tiver curiosidade em ler, poderá já encontrar no Tratado de Arquitetura do Vitrúvio (escrito há 2000 anos e onde para além de teorizar sobre a edificação se aprende a construir catapultas).
    Quanto às deficiências de uso da Casa da Música ou do Terminal multimodal da Avenida de França (como da Gare do Oriente, do mercado de Viseu ou de Serralves), repito que não se deve partir do princípio que apenas contam as necessidade funcionais, pois há edifícios onde a imagem é importante e nem sempre se pode compatibilizar tudo o que gostaríamos. Se depois disto continuar a achar que esses espaços são tão inóspitos e não tem alternativas de uso, pode mais uma vez organizar-se com quem partilhe da sua opinião e escrever ao arquitecto ou à Metro do Porto para ver se não se arranja uma solução.

    À Helena Matos pediria que aproveitasse a sua profissão e tentasse entrevistar o Siza, o que lhe daria uma oportunidade para trocar ideias e ver o que ele pensa dos problemas que coloca neste post.

    Acabo com outra sugestão, de dois arquitectos do Porto que foram a Lisboa e viram um problema (ou uma oportunidade) e fizeram uma proposta à CML – http://www.pensenicho.blogspot.com/ – Pequenos passos…

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  95. 30 Agosto, 2008 23:28

    Caro MMS, li com atenção o texto anterior. Mas o meu ponto, no caso concreto dos Aliados que poderia ser extrapolado para outros, é: o resultado final real, com o uso que agora tem (barraquinhas, etc.) é mau (na minha modesta opinião). Significa isto que o conjunto arquitecto+câmara+povo não foi capaz de se entender. E, do ponto de vista do arquitecto, significa consequentemente que o arquitecto, sabendo a autarquia e o povo que tem, não conseguiu obter uma solução que funcionasse bem. Falhou a sua tarefa de arquitecto.

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  96. 31 Agosto, 2008 01:44

    Caro Tiago,
    No seu Post 94, fala no caso de Viseu como exemplo de espaço público da autoria de Siza Vieira.
    O que posso dizer-lhe é que, em Portugal, quando queremos demarcar a nossa propriedade (privada), construímos muros e vedações. Quando criamos espaço público, é um erro tremendo faze-lo de forma evidente. Julgo que fala da reabilitação do antigo Mercado Municipal, entre a Rua Formosa e a Rua do Comércio, onde foram reabilitadas, e bem, algumas lojas comerciais e pouco mais. Ora, tratando-se de um espaço público, é muito pouco. Falhou a captação de público para o “viver”, falhou na “não existência” de equipamentos, falhou na escolha da caríssima vegetação que não sobreviveu ao clima da cidade e falhou principalmente no “virar costas” aos possíveis utilizadores.
    Na primeira semana de abertura do antigo mercado impressionou-me, sobretudo, a quantidade de pessoas que apreciava o espaço como se de uma obra de arte se tratasse, mas à distância… porque não tinham o à vontade de entrar…
    Hoje o dito mercado tem “vida” nocturna, principalmente no Verão, pela existência de pequenos bares na parte superior e, como acontece com a Avenida dos Aliados, surgem umas barracas para acolher a Feira do Artesanato, em Agosto.
    Tudo isto se revela muito pouco para tanto investimento e para um dos arquitectos mais conhecidos no país.
    Um abraço,
    Ana Gil

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  97. 31 Agosto, 2008 02:13

    Cara Ana: sim, é isso. Mas, como escrevi, nesse caso a minha impressão é “em segunda mão”, ou seja, de vários comentários que ouvi/li sobre o assunto. Já quanto aos Aliados estou mais à vontade para comentar. 🙂

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  98. Manuel Moreira da Silva permalink
    31 Agosto, 2008 02:21

    Contraponho à sua modesta opinião a minha própria modesta opinião. Para mim, o resultado foi francamente bom (por tudo o que já disse e por ver efeitos reais na vida da Avenida). Colocar barracos no separador central é algo que não lembra ao diabo (tenho que me conter para não retirar a negativa desta frase) e que se fosse removido (e bem esquecido) não faria falta nenhuma (há mais que espaço para cafés e esplanadas na Avenida e o eixo central deve estar vazio).

    Nas obras públicas em Portugal, a tradição de diálogo ainda é miserável, mas o Siza até é dos mais exigentes e atentos para que isso ocorra (se calhar é por isso que depois lhe troveja sempre em cima).
    Farto-me de ver obras públicas com impactos semelhantes ou maiores que aquela maquilhagem que fizeram aos Aliados que passam quase sem discussão (às vezes sem discussão mesmo) como o redesenho de um terço da Avenida da Boavista, o alcatroamento e remoção do eléctrico da Avenida Montevideu ou a asneira que fizeram na Rua de Ceuta (a curva na esquina da Leitura é digna de registo). Quase todo o Metro do Porto e arredores foi feito sem que a discussão pública se notasse (as próximas fases que aí vêm também não se discutem) e há umas semanas foi escolhido o Pedro Balonas para programar a renovação de grande parte da marginal fluvial do Porto (a Nascente da Alfândega) e, noutro concurso, para refazer a Praça de Lisboa (Clérigos). Ao mesmo tempo a CMP diz que vai “reabilitar” a Cordoaria (aproveitam para fazer luta política primária do tipo “os erros do Porto 2001”), vai destruir o Bairro do Aleixo (e realojar as 1300 pessoas que lá moram), enquanto continuam a reabilitar todos os outros (Lagarteiro, etc.), vai transformar (destruir?) os mercados de frescos da cidade, reabilitar todo o morro da Sé e a Rua Miguel Bombarda, apoiar a construção de um oceanário e definir a versão final final final da Avenida Nun’Álvares (um calvário que já dura desde o início do Estado Novo, batendo por muito o recorde do Alqueva). Ao mesmo tempo trocam a patacos o património da cidade – os mercados de que já falei, o Palácio do Freixo (uma vergonha), o pav. Rosa Mota, o Ferreira Borges, os terrenos do Aleixo, entre tantos outros e aproveitam para destruir algumas instituições da cidade como a FDZHP, o CRUARB ou a Culturporto. Tudo isso enquanto tentam empurrar com a barriga os processos judiciais do Parque da Cidade e do Plano de Pormenor das Antas para que as indemnizações não tenham que entrar nas contas da Câmara durante o consulado destes inquilinos (quem vier atrás que feche a porta, se o cobrador do fraque não a levar também). Já imagino a pose de estadista que vão fazer quando já estiverem num qualquer ministério ou conselho de administração e começarem a aparecer as notícias sobre isto (mais ou menos o mesmo que o eng. Nuno Cardoso fez quando foi o problema dos terrenos nas traseiras da Casa da Música). Alguém discute isto com resultados? (com a honrosa excepção do seu blog (e de alguns outros) para o qual me honra contribuir, mas que tem resultados necessariamente limitados e não abrange a lista toda).
    Isto é o que me lembro só no Porto… pelo país todo é o mesmo (ainda no outro dia o Mário Crespo entrevistava a Leonor Coutinho sobre uma negociata num loteamento em Lisboa).

    Por tudo isto, se considerasse que a Avenida dos Aliados estava mal desenhada, antes de dizer que o Siza tinha falhado na sua tarefa de arquitecto, pensaria se não teria sido a CMP a falhar como cliente e os cidadãos do Porto como utentes da cidade. Mas, como já disse, gosto bastante da Avenida dos Aliados.

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  99. Manuel Moreira da Silva permalink
    31 Agosto, 2008 04:47

    Agora, se ainda houver alguém com paciência para ler os meus comentários, posso enumerar alguns defeitos que vejo na Avenida dos Aliados:

    Prévio a todos os outros incomoda-me que a escolha dos projectistas não tenha sido feita por concurso – apesar de se saber a fantochada que são alguns concursos, o facto deste ter ficado, na minha opinião, muito bem entregue não serve de garantia de nada e prefiro que se monte um processo que garanta uma boa qualidade média do que um outro que destrua o país e depois lhe ponha umas cerejas (se os concursos estão mal feitos, arranje-se os concursos, não se acabe com eles).

    Não me parece necessária aquela “ilha” estranha que existe no limite Praça/Avenida a separar as duas inversões de sentido e a ter que existir, parece-me mal desenhada. Acho que a existir, a inversão de sentido ficaria melhor se estivesse colocada acima da reentrância do edificado de modo a enfatizar a unidade do espaço da Praça da Liberdade em contraste com a Avenida (o que os projectistas tentam fazer com as árvores). Este é o ponto de maior tensão da Avenida e nenhuma das soluções que consigo imaginar me satisfaz (mas acho a minha alternativa melhor do que a que está feita!).

    Existe uma ligeira curva-contracurva (nota-se muito bem a subir de carro) entre as Ruas do Dr. Magalhães Lemos e a de Rodrigues Sampaio que, apesar de não ter importância objectiva nenhuma, a mim enerva-me imenso (especialmente por não a conseguir justificar).

    Há poucos bancos nos passeios da zona da Praça da Liberdade, mas percebo que se queira incentivar a que os vários cafés se desenvolvam para o exterior, suprindo essa falha.

    A lógica das passadeiras no cruzamento com a Rua do Dr. Magalhães Lemos teve mais em conta o tráfego automóvel que o pedonal, o que me incomoda imenso quando estaciono na garagem do Comércio do Porto e vou comprar bilhetes ao Rivoli (eu sei que há estacionamento mais perto mas aquele parque é qualquer coisa), mas compreendo que não se quis empatar o trânsito.

    No topo Norte da Avenida o remate da rampa de acesso à CMP entra um bocado sobre a via nota-se especialmente quando se desce) e sempre que lá passo penso que da próxima tenho que estar muito atento para não espatifar o carro (não sei se aquilo estava assim antes, mas agora reparo bastante mais).

    Acho desnecessária a estação do Metro que obrigou à renovação da Avenida (não imagino que haja algum motivo que tenha obrigado à sua construção – terá sido uma má opção de planeamento que será alheia aos projectistas da arquitectura), talvez se se tivesse pensado melhor nisto se tivesse evitado toda esta discussão e a Avenida ainda estaria como antes, com os canteirinhos e o urinol.

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  100. Manuel Moreira da Silva permalink
    31 Agosto, 2008 06:22

    Quem quiser digerir a congestão de comentários que tem sido este post (especialmente os meus que não consigo manter curtos) pode passar um bom bocado a ver a adaptação a filme do livro da Ayn Rand, The Fountainhead (ou ler o livro, que ainda é melhor). Conta a história de tipos como o Siza ou o Jorn Utzon, para além de oferecer novas perspectivas de entendimento do mundo.

    Pode-se ver um trailer aqui – http://www.youtube.com/watch?v=swOxKu80JpU&feature=related

    Aconselho quem queira ver o filme ou ler o livro que não veja mais nenhum excerto sob pena de estragar o prazer da descoberta. A sugestão partiu de um comentário do Miguel Madeira, do Vento Sueste.

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  101. nuno granja permalink
    31 Agosto, 2008 11:25

    Tiago Azevedo Fernandes Diz:
    30 Agosto, 2008 às 11:28 pm
    Caro MMS, li com atenção o texto anterior. Mas o meu ponto, no caso concreto dos Aliados que poderia ser extrapolado para outros, é: o resultado final real, com o uso que agora tem (barraquinhas, etc.) é mau (na minha modesta opinião). Significa isto que o conjunto arquitecto+câmara+povo não foi capaz de se entender. E, do ponto de vista do arquitecto, significa consequentemente que o arquitecto, sabendo a autarquia e o povo que tem, não conseguiu obter uma solução que funcionasse bem. Falhou a sua tarefa de arquitecto.

    nem mais!

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  102. Manuel Moreira da Silva permalink
    31 Agosto, 2008 18:20

    O que me parece é que, removidas as barracas, os problemas da Avenida são de pormenor (já referi os que vejo e poder-se-ão acrescentar muitos outros, consoante a sensibilidade e o “programa” de cada utente).

    As barracas são o único ponto que me merece muita discussão, pelo que permite inferir. Um executivo municipal que autoriza aquele circo no espaço mais digno da cidade (não é uma situação de um par de dias para um concerto, é por temporadas) revela cultura suficiente para a posição que ocupa? Só posso responder que não.

    Todas as cidades têm espaços de representação do colectivo, que não devem ser tratados como os corredores do Norteshopping para vender automóveis ou cafés (o que não quer dizer que não se possam lá fazer iniciativas desse género, mas nunca com carácter de permanência e destruindo a lógica da avenida, como acontece com os barracos e os bancos que lá puseram).

    Nunca vi (e espero nunca ver) esta degradação em espaços do género como a Praça do Comércio de Lisboa, a Plaza Mayor de Madrid ou a Place Vendôme de Paris. Arquitectura é, também, comunicação e quando se colocam excrescências destas (os bancos e os barracos) sem atentar à coerência, inicia-se a degradação do espaço. É o mesmo que se se começar a juntar letras a palavras, ao fim de pouco tempo ninguém se entende. E o que foi feito não tem nada a ver com a humanização do espaço ou a acção da vida da cidade sobre ele, é apenas e só uma enorme asneira perpetrada por ignorantes.

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  103. Goodfeeling permalink
    1 Setembro, 2008 15:19

    “Nunca vi (e espero nunca ver) esta degradação em espaços do género como a Praça do Comércio de Lisboa, a Plaza Mayor de Madrid ou a Place Vendôme de Paris. Arquitectura é, também, comunicação e quando se colocam excrescências destas (os bancos e os barracos) sem atentar à coerência, inicia-se a degradação do espaço. É o mesmo que se se começar a juntar letras a palavras, ao fim de pouco tempo ninguém se entende. E o que foi feito não tem nada a ver com a humanização do espaço ou a acção da vida da cidade sobre ele, é apenas e só uma enorme asneira perpetrada por ignorantes.”

    Foi uma arquitectura de fotografia, que não contemplou a integração do uso futuro. ou seja um mau projecto. Um bom projecto teria contemplado e antecipado o uso que iria ser dado à Avenida. ito foi um mau projecto. Claro que a emenda é sempre pior do que o soneto. Mas um arquitecto conciente sabe disso e prevê o uso que vão dar á sua obra.Ignorante foi o Siza em não prever de raiz o uso pretendido pelo cliente/utentes da praça.

    Comparação entre artes:
    Pintura,escultura gosta ou não se gosta, vê-se, não se usa.
    Música, gosta-se ou não, ouve-se e cada maestro ou músico faz uma intrepretação desta (não é imutável).
    Arquitectura, gosta-se ou não, vê-se e usa-se (pelo vistos quem usa não a pode mudar ou tem extremas dificuldades).

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  104. Goodfeeling permalink
    1 Setembro, 2008 15:23

    “O Siza vive neste mundo (não é extraterrestre ou esquizofrénico) e pensa os projectos a partir dele – já tive oportunidade de acompanhar bastantes projectos dele e todas as opções são cuidadosamente pesadas e firmemente enraizadas na realidade). Claro que, como qualquer arquitecto (ou como qualquer profissional decente), sempre que tem oportunidade de transformar uma realidade, procura melhorá-la.”

    melhorar a realidade: mais segurança com extintores brancos, escadas sem guarda, etc..
    melhor produtividade e conforto: escadas ingremes, luz incómoda, etc…

    Dispenso tais melhorias da realidade.

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  105. Manuel Moreira da Silva permalink
    1 Setembro, 2008 19:14

    Começa-me a parecer que a discussão atingiu o “ponto caramelo”, não havendo a partir daqui grande interesse (pelo menos da minha parte) em continuar. Apesar disso, (talvez por ser admirador da obra do Siza, ou por ser admirador da cidade do Porto, ou porque tenho tempo livre) arrisco continuar.

    “Foi uma arquitectura de fotografia, que não contemplou a integração do uso futuro. ou seja um mau projecto. Um bom projecto teria contemplado e antecipado o uso que iria ser dado à Avenida. ito foi um mau projecto. Claro que a emenda é sempre pior do que o soneto. Mas um arquitecto conciente sabe disso e prevê o uso que vão dar á sua obra.Ignorante foi o Siza em não prever de raiz o uso pretendido pelo cliente/utentes da praça.”

    Não estou a ver exactamente o que faz falta… pelo que já escrevi nos comentários aí para trás, não pode ser um café no meio da avenida, porque é impeditivo da lógica do conjunto (que é muito, mas muito mais importante que a necessidade de ter um café no meio da avenida) e não me ocorre nada que não seja de pormenor para que se afirme que os Aliados são um mau projecto (e não imagino que seja contra o facto daquilo ser bonito e merecer ser fotografado). Devo também dizer que de todas as vezes que passei pelos Aliados desde que lá se acrescentaram aqueles bancos, quase sempre os vi vazios (e andei a reparar – vício profissional), o que me faz pensar se seriam assim tão essenciais os ditos bancos.

    Também lhe devo dizer que concordo plenamente com a conclusão do primeiro comentário – a arquitectura é a mais importante das artes (aproveito a sua sugestão de a incluir nas artes sem grande discussão) pela importância que tem para o quotidiano, mas repito mais uma vez o que já disse anteriormente – surpreende-me a violência com que se critica o Siza pelo arranjinho quase irrelevante que fez nos Aliados quando por todo o lado se cometem as maiores barbaridades – aqui no Porto já enumerei umas quantas da iniciativa da Câmara (num comentário anterior) e poderia juntar muitas outras por ela aprovadas:

    . O edifício que está a ser construído junto à ponte do Freixo, claramente maior do que deveria ser naquela zona, mesmo no remate do Parque Oriental (convenientemente não concretizado para que tudo passe sob o radar da opinião pública) e todos os outros que se lhe vão seguir (os mega-edifícios da EDP já devem ter sido vendidos – fiz um post sobre eles no porto.taf.net) naquela conveniente mancha de alta densidade de construção rodeada de zonas verdes e de baixa densidade. (ver no google maps com as coordenadas: 41.145547, -8.579669)

    . Os novos molhes do Douro (projecto que aprecio bastante do lado do Porto) mas que avançaram com muita discussão irrelevante e sem aproveitar para discutir aspectos essencias como a desgraça que é a envolvente do Forte encalhado que é o de S. João da Foz com aquele absurdo que é o Clube de Ténis (que parece uma versão má da Farmácia Vitália dos Aliados) ou o aspecto de favela que tem aquele trecho de marginal entre o fim da Avenida do Brasil e o início do Passeio Alegre (aquilo é tão mau que ninguém sabe como se chama aquela rua, funciona como um hiato na cidade). (ver no google maps com as coordenadas: 41.148434, -8.673741)

    . O circo que se monta junto ao edifício transparente com um aspecto terceiro-mundista comparável às barracas dos Aliados.

    . O alcatroamento de uma parte substantiva do Parque da Cidade para se construir a pista do Red Bull, que se saiba, sem se sujeitar à devida autorização processual, em desrespeito com os índices de impermeabilização do solo e, suprema ironia, contra a grande bandeira de campanha do actual Presidente da Câmara (aparece nas fotos Bird’s eye do http://www.maps.live.com e num post do porto.taf.net) – dispenso as reacções condicionadas, não sou contra o red bull, aprecio imenso o espectáculo, mas havia pistas alternativas (Maia, Espinho) e a lei deve ser igual para todos.

    . As barbaridades que se preparam (algumas já construídas) para a zona da Viela de Grijó (a Sul do cruzamento da Avenida da Boavista com a VCI) sem que se discuta a salvaguarda/recuperação de um fantástico vale com um pequeno riacho e um forte (ver no google maps com as coordenadas: 41.155384, -8.652723) que julgo ser do tempo das Invasões Francesas (se ligarem a opção MAIS_FOTOGRAFIAS no google earth dá para ver uma foto do riacho).

    . A torre (hesito em chamar-lhe torre porque é tão larga quanto alta, mas para o contexto do Porto é uma torre) que está a ser construída, também no cruzamento da Avenida da Boavista com a VCI. Parece que arranjaram uns metros quadrados do edifício ao lado (ao qual parece terem cortado o cabelo, de tão atarracado que ficou) para juntar aqui ao lado. (ver no google maps com as coordenadas: 41.160063, -8.647817).

    Poderia continuar, mas acho que basta para por em perspectiva os “falhanços do Siza” ao não antecipar a “necessidade” de ter um café no meio do eixo dos Aliados, ao pintar os extintores de branco (as luzes de emergência, as placas a dizer extintor, o rótulo e a forma do dito não chegam para perceber o que aquilo é… ainda o confundem com uma obra de arte) ou ao fazer uma escada íngreme e sem corrimão.

    Acabo repetindo o que já escrevi num comentário anterior: não dá para se ter tudo ao mesmo tempo em todo o lado e agradar a toda a gente. Cada um tem o seu programa e, na minha opinião, o Siza fez um óptimo trabalho de compatibilização de interesses. E o arquitecto trabalha com o programa que lhe dão, não é ele que o inventa do zero, por isso quando fala do estudo que a Câmara encomendou a uma consultora imobiliária (sublinho a actividade económica), parece-me que nunca lhe ocorreu perguntar-se por que é que não foi encomendado antes de todas as obras que já se fizeram (Aliados, Ceuta, Carlos Alberto, …).

    Cumprimentos

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  106. 1 Setembro, 2008 19:25

    «Arquitectura, estrelato, “modernismos” e democracia»
    in
    http://avenida-dos-aliados-porto.blogspot.com/2006/05/arquitectura-estrelato-modernismos-e.html

    «”ARQUITECTOS ESTRELLADOS
    [Subtítulos posibles:
    Arquitectos y políticos unidos en busca de la repercusión mediática.
    La arquitectura se está convirtiendo en un desfile de caprichosas vedettes
    Poner el talento creativo al servicio del ego o de la sociedad
    Cuando el talento se convierte en arrogancia y la sociedad no se beneficia.]

    El fenómeno del arquitecto estrella sigue imparable rozando el ridículo sideral. Políticos y arquitectos conjuran sus respectivos egos, enormes, para dejar huella en la sociedad que los elige y sustenta. Embaucadores o arrogantes, pensando en quedar petrificados para la gloria futura, o creyendo que con la varita mágica de una firma, resolverán un acuciante problema urbanístico.
    (…)
    Participación no entra en el vocabulario de muchos arquitectos vedette. Quien los solicita debe rendirse a su obra incondicionalmente. Les estorba la opinión pública, los vecinos, los servicios técnicos y los demás arquitectos, -Nouvel no quiere otra torre al lado de la suya de Agbar-. Si no se acepta su criatura, se enfadan y se van. En la polémica de la remodelación del Paseo del Prado, Álvaro Siza ha sido tajante: “no pienso cambiar el concepto”, a lo sumo, a regañadientes, admitirá algunos retoques menores, él no puede haberse equivocado.
    (…)
    Todos los arquitectos del star system tienen un talento extraordinario, no hay duda de ello, y sí algo de envidia en mi crítica, pero la cuestión es cómo lo utilizan. Si mejoran nuestras ciudades, o sólo hinchan su ego y su cartera a cuenta de los espectadores, que no usuarios. Creo que si no cumplen los encargos que reciben ya no son arquitectos, entonces debemos considerarlos artistas. Y en el mundo del arte, ya se sabe, todo vale, quien quiera una escultura que apoquine.»

    in http://avenida-dos-aliados-porto.blogspot.com/2006/05/ler-arquitectos-estrelas.html

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  107. Manuel Moreira da Silva permalink
    2 Setembro, 2008 00:37

    Voltamos ao mesmo, nada a acrescentar de relevante, mas aqui vai mais palha:

    A demagogia desse artigo (é do mais primário politicamente correcto e generalista-abusivo que há) só me leva a sugerir ao autor que mande amputar os braços acima dos cotovelos para ver se lhe passam as dores (e se quiser continuar a escrever pode sempre ditar).

    Sobre o autor, Juli Capella, apraz-me dizer que tem algumas peças de design (muito) pouco interessantes, como o caixote do lixo que desenhou para um dos muitos shopping que desenhou, no caso em Murcia, onde esse texto estaria bem depositado, mas na arquitectura não lhe reconheço quaisquer qualidades relevantes (O que só por si me faria não ler o texto, mas já que aqui está…). Quando vivi em Barcelona tive oportunidade de ver alguns dos seus trabalhos (normalmente porque estavam ao lado de obras importantes da cidade) e se tivesse que escolher uma característica, diria que são arquitectura comercial (no péssimo sentido da palavra). As dores que demonstra em relação ao Jean Nouvel terão alguma coisa a ver com o facto de ele ter desenhado um bom edifício para Barcelona, mesmo ao lado de um mau do Juli Capella? Não posso deixar de pensar que sim (não considero que o edifício do Jean Nouvel seja brilhante, mas brilha ao lado do do Juli Capella). Outra das suas “obras-primas” é o Hotel OMM, que esteve muito na moda para os fashionistas de Barcelona, mas que já deve ter passado (já não vou a Barcelona há três anos, mas os fashionistas já devem ter armado a barraca noutro sítio). O futuro próximo do Hotel deve ser uma remodelação (ou upgrade, que é mais trendy) para o adaptar à moda do momento, já que é um edifício desse tipo (como os outros que lhe conheço) – usa, deita-fora, usa, deita-fora. Posso acrescentar a isto o facto de ter sido desenhado sem qualquer respeito pela continuidade urbana do típico quarteirão do Eixample em que se situa para além de, na minha opinião pessoal, ser muito fraco (e está junto à Avenida mais importante da cidade, o Passeig de Grácia, que tem alguns dos edifícios mais bonitos de Barcelona mas, como se comentou sobre este post no bolg farmáciacentral, há que reconhecer o direito ao mau gosto).

    Não sei se ele tem algum problema pessoal com o Siza ou se só aproveitou a boleia no barco da Baronesa (outra personagem digna de estudo) para ganhar um pouco de notoriedade à custa da polémica primária que foi criada sobre o projecto de Madrid. Sobre o projecto não sei tanto como sobre os Aliados mas sei o suficiente para afirmar que, apesar de se cortarem algumas árvores (as doentes segundo ouvi) e outras se transplantarem, muitas serão plantadas de novo, e o balanço final não é a razia de que se fala e não sei mesmo se o balanço vegetal não será positivo (é de notar também que se omitem cuidadosamente algumas informações para validar os argumentos). Também não se cuida referir as inúmeras melhorias, como o facto de o projecto reduzir muito o perfil de tráfego da Avenida, tornando os passeios muito mais largos e facilitando a transversalidade, por exemplo, com um resultado final que privilegia muito mais o peão que o automóvel, à imagem do que acontece nos Aliados (o que foi invocado pelo juri espanhol como um dos aspectos que deu a vitória ao Siza). Talvez o problema seja que a via automóvel passará mais próxima do Museu Thyssen do que do Museu do Prado (apesar de o actual passeio ridículo à porta do Thyssen ser muito alargado). Mas mais uma vez, infelizmente por falta de cultura (geral e arquitectónica) e de exigência e método nas opiniões, os berros de um par de tresloucados ajudados por um par de políticos que estavam a combater pelos despojos (a sucessão do líder) de um partido que tinha acabado de levar um capote (um pouco o que aconteceu cá com o PSD), aproveitado por alguns oportunistas (que há em todas as profissões) chegou cá como se fosse um grave problema de arquitectura e algumas pessoas que eu considero bastante inteligentes, talvez pela pressão de terem que escrever artigos de opinião, desataram também a bater no Siza (cai sempre bem e ele está-se nas tintas por isso não responde – é como diz o provérbio: vozes de burro…) e é o que se sabe.

    Podemos continuar um bocadinho sobre o que o Juli Capella apelida de “arquitectos estrellados” (eu falei num comentário anterior – um pouco depois do meio do comentário nº96 – de starchitects que me parece uma palavra muito mais interessante). Escrevi que o aparecimento destes arquitectos estrelados “fez com que alguns arquitectos (geralmente os de fraca qualidade) procurassem dar uns ares de imagem-moderna-tecnológica/minimalista-que-destaca-o-meu-brilhantismo-e-que-repito-ad-nauseam-em-todo-o-lado-onde-me-deixam-construir” (aperceberam-se do fenómeno e tentaram copiar os efeitos e feitios e não as causas da qualidade – pode-se ler sobre isto fazendo uma pesquisa na Wikipédia sobre Cargo Cult).

    Face a isso apenas retiraria o texto do caixote do lixo do shopping se o quisesse aplicar directamente ao Juli Capella (uma suprema ironia, que se escreva uma porcaria destas e ela acabe por ser autobiográfica), no caso dele, mais na vertente minimalista que na tecnológica.
    Também escrevi acima que não tenho dúvidas que os tais arquitectos estrelados existam (e entre eles haverá alguns que, dependendo dos critérios, lá não merecem estar, mas é assim o mundo) mas que os resultados desta ascensão foi uma melhoria generalizada das condições de exercício da profissão e um início ainda muito discreto de exigência de qualidade na gestão e desenho do teritório (mas como escrevi no post anterior, pelo menos em Portugal, quase que passa despercebido) a par da possibilidade de alguns escritórios de pequena e média dimensão se manterem, desenhando e vendendo tudo desde carteiras a botões de punho (o que acontece muito graças aos caloteiros privados e públicos que não pagam o que contrataram, ou que pagam muito depois dos prazos).
    Haverá também alguns bons arquitectos, com menos escrúpulos ou em momentos de menos escrúpulos, que se aproveitam dessa condição para baixarem na exigência e exagerarem nos tiques de estilo, produzindo obras de menor qualidade que, por vezes, na opinião pública, passam como brilhantes. Posso dar como exemplos obras destes dois arquitectos, que visitei e que colocaria nesta categoria: grande parte da ampliação do Museu Rainha Sofia, do referido Jean Nouvel, embora em alguns momentos tenha rasgos de puro génio (como a praça coberta ou a biblioteca) ou o show-room da Revigrés do Siza, apesar de ter uma sala de exposição muito bonita. Apesar disso, mesmo com o cérebro em ponto-morto, qualquer destas obras enfia o Juli Capella (e provavelmente enfia-me a mim e à maior parte dos arquitectos) no bolso de trás, pela qualidade que ainda assim consegue apresentar (não basta querer…). Se o Siza fosse assim tão mau, alguém acha que seria considerado um génio em todo o lado que o conhecem, já há várias décadas?
    Para finalizar, chamo a atenção que esta categoria dos arquitectos estrelados não é nova (apesar da demagogia ultrapassar atingir sempre novas fronteiras), contando com pelo menos 4600 (quatro mil e seiscentos) anos de existência, desde que Imhotep desenhou a pirâmide de Djoser em Saqqara. Imhotep (que alguns conhecerão como o vilão do filme “a Múmia”) foi deificado em resultado do seu trabalho, por se acreditar que o arquitecto é o único capaz de afastar os deuses da terra e do céu, impedindo-os de introduzir o caos no mundo – é exactamente isto que os bons arquitectos, como o Siza, fazem.

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  108. Manuel Moreira da Silva permalink
    2 Setembro, 2008 01:25

    Outro link da wikipédia que aconselharia para se perceber os fenómenos associados à opinião:

    http://en.wikipedia.org/wiki/Confirmation_bias

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