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Flic-flac à retaguarda

2 Março, 2010

É da natureza da actividade política que se tenha de fazer alguns compromissos e nem sempre se possa defender até ao fim o que se entende pessoalmente como melhor ou naquilo em que se acredita. Faz parte da política.

Mas, ainda que assim seja, não deixa de ser  incompreensível que se afirme um dia que  «eu estou à direita do PSD» e, passado uns meses, de forma repentina, afinal se posicione à sua esquerda, afirmando coisas tão à margem do corrente discurso do seu próprio partido como: «De maneira nenhuma defendo a privatização da RTP ou da Lusa», (manutenção do controle político sobre os media e delapidação de recursos dos contribuintes) ou  «Nós temos de produzir [produtos agrícolas] mesmo que isso seja caro, que não seja tão rentável quanto gostaríamos» (o que evidentemente apenas poderia ocorrer pela limitação das regras de mercado e pela transferência de recursos dos contribuintes).

Quem as profere não é ingénuo, tem boa formação, pelo que o enunciar de tais posições políticas visa alcançar popularidade junto do eleitorado de circunstância, ou seja, os militantes do psd.  Pressuponho que tal posicionamento terá correspondência junto do mesmo, e não terá sido simples laracha de campanha pois Paulo Rangel é pessoa bem preparada e profissional no que faz.

O que torna a situação ainda mais grave, na medida que tal significará que efectivamente parte importante dos seus militantes (e por correspondência, do eleitorado), concordará, senão mesmo exigirá, a defesa de tais posições políticas. Legítimas, sem dúvida. Mas, convenhamos, é um muito triste sinal da situação e futuro do país, preso ainda a um socialismo entranhado de que não parece não haver maneira de nos vermos livres.

44 comentários leave one →
  1. Antonio Lemos Soares permalink
    2 Março, 2010 11:38

    Muitos amigos costumam confrontar-me com as dificuldades de perceber a instabilidade crónica do Partido Social-Democrata.

    Respondo sempre da mesma maneira.

    O PSD é mesmo assim, quer se queira quer não, desde o dia 6 de Maio de 1974 ou até antes.

    Digo até antes porque, anteriormente ao dia da sua fundação oficial, coexistiam já em Portugal, de norte a sul, várias associações proto-políticas Social-Democratas como a SEDES; as quais, mais tarde, vieram a integrar directamente o Partido Social-Democrata ou a integrar muitos dos seus associados no PSD.

    Recordo caso paradigmático dos Açores. Havia 3 associações independentes deste tipo (que terão sido criadas logo a seguir ao 25/04/74, ou até antes): uma no grupo oriental; outra no grupo central e a última no grupo ocidental. Ninguém as convidou para integrar o PSD; foram elas, de «motu proprio», que comunicaram a sua disponibilidade de adesão.

    No «Verão Quente de 75», enquanto os Partidos democráticos resistiam como podiam, ao avanço revolucionário do PCP e grupos satélites e se apoiavam, naturalmente, no carisma dos seus líderes históricos. O PSD tinha Sá-Carneiro convalescente em Londres. O que fez para sobreviver? «Inventou», contra a opinião maioritária das bases muito mais à Direita, um homem da Esquerda tradicional como Emídio Guerreiro (não era filiado sequer no Partido, tinha lutado na guerra civil espanhola do lado «rojo» e, imagine-se, corria que tinha conhecido o próprio Lenin!) para o liderar.

    Em 1985 quando parecia inevitável uma nova vitória socialista, teve o PSD a coragem, quando a governação estava assegurada no «Bloco Central» com o PS, de avançar em solitário para eleições e, contra todas previsões, obter uma vitória retumbante dois anos depois e governar muito bem Portugal .

    Como afirmou Francisco Sá-Carneiro: – «O PSD é o Partido mais Português de Portugal». Assim me parece, sem dúvida. Nos seus defeitos que são imensos, mas também, nas suas inúmeras qualidades que, a meu ver, em muito superam os primeiros.

    O segredo do PSD é que se fez de baixo para cima. Foi a sociedade que inventou o Partido e não o inverso. É isso que o torna tão complexo, imprevísivel e simultaneamente…, livre como nenhum outro.

    Se existe um candidato à liderança do Partido Social-Democrata que passou, como diz, mesmo através de um «flic-flac» político, a defender posições de tipo Social-Democrata, apenas poderei concordar com ele.

    Pior me parece é que existam outros candidatos à liderança do PSD, que insistam em tornar o Partido uma agremiação política Liberal «tout court». Isso não será um «flic-flac»; será antes uma «queda facial» sem colchão. O PSD não é, nem nunca foi, um Partido Liberal.

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  2. 2 Março, 2010 11:39

    Muito triste, de facto. É o que há e assim não vamos lá. Por isto é que o sócas se eterniza no pedestal.

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  3. Jorge Paulo permalink
    2 Março, 2010 11:50

    Pelo menos diz o que pensa. Não diz o que outros lhe mandam dizer como a PPC. Já estou a ver é muita gente a querer menorizar a proxima direcção do PSD, como teem feito com as ultimas. Para depois poderem dizer que não há oposição. Acho que este país merece mesmo o Sócrates mais quatro anos, para ele acabar com o resto. As comparações com a Grecia são cada vez mais pertinentes. Basta olhar com atenção para os ultimos indicadores.

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  4. Pi-Erre permalink
    2 Março, 2010 11:54

    O socialismo é uma doença de longa duração.
    Não tem cura.

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  5. Pi-Erre permalink
    2 Março, 2010 12:00

    “O PSD não é, nem nunca foi, um Partido Liberal.”

    Pois não, isso é verdade. Mas também há muita gente que não sabe o que é o liberalismo.

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  6. Franco permalink
    2 Março, 2010 12:11

    #1.
    Muito bem respondido. Parabéns.

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  7. anonimo permalink
    2 Março, 2010 12:12

    “…e não terá sido simples laracha de campanha pois Paulo Rangel é pessoa bem preparada e profissional no que faz…”

    o busílis está aí, não é laracha é conversa da treta de um irresponsável que se acha campeão porque uma vez teve a terminação na lotaria da fenprof.

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  8. Franco permalink
    2 Março, 2010 12:17

    E o que me dizem os blasfemos ao acto de bufo do jornal i, um tal Paulo Pinto Mascarenhas, que resolveu pidescamente identificar o autor anónimo de um blog, seja lá esse blog o que for???

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  9. anonimo permalink
    2 Março, 2010 12:24

    #8 – é a liberdade de imprensa que os opusitórios defendem. tudo normal, porque sabem que gente decente não responde da mesma maneira.

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  10. Observador da decadência permalink
    2 Março, 2010 12:24

    Socialismo entranhado? como? o país está preso é à ignorância. E, em terra de cegos quem tem olho é rei. O aproveitamento dessa ignorância por parte dos políticos e dos “jornalistas” é demasiado evidente, com objectivos de proveitos próprios. Não existe qualquer interesse em debater soluções ou apontar caminhos que contribuam a sério para um desenvolvimento imparável do nosso país. Digo imparável porque no estádio em que nos encontramos só é possivel andar para a frente. Para trás é aparentemente impossível. A não ser que os graus de decadência se acentuem de tal forma, que evoluiríamos para o conflito generalizado com tropa e polícia nas ruas.
    Mas, ainda estamos longe dessa miséria e portanto, há que aproveitar os milhares de portugueses competentes, sérios e com vontade de trabalhar para o desenvolvimento do país e muito pouco interessados na telenovela contínua transmitida por políticos e “jornalistas” quase 24 horas por dia.
    Não sei bem como se conseguirá que esses portugueses assumam finalmente posições de responsabilidade com poder de decisão sobre os destinos de Portugal, mas é aparentemente a única possibilidade.

    Fernando Nobre à Presidência 🙂

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  11. anonimo permalink
    2 Março, 2010 12:28

    “Fernando Nobre à Presidência”

    só se for das salsichas de rio maior

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  12. castanheira permalink
    2 Março, 2010 12:28

    Quem foram os partidos politicos que conduziram portugal ao pãntano em que estamos ?
    Resposta : PS e PS(D)
    São estes 2 partidos as duas faces da mesma moeda .São duas correntes ou gangs rivais da mesma “Mafia”.
    Os seus principios são os mesmos ou seja o socialismo.
    O empobrecimento lento dos portugueses é o futuro com este tipo de gente.
    A educação bateu no fundo ;a justiça bateu no fundo ;a segurança vai a caminho de bater no fundo(com a prosegur a prestar serviços de segurança ás forças policiais);a economia baterá no fundo quando aterrarem na portela os economistas da EU e do FMI.
    Este é o retrato do país socialista que somos e dos seus dois principais partidos que em nada se distinguem.

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  13. anonimo permalink
    2 Março, 2010 12:33

    “Quem foram os partidos politicos que conduziram portugal ao pãntano em que estamos ?
    Resposta : PS e PS(D)”

    resposta viciada de quem quer passar pelos pingoas da chuva, o cds nunca foi governo, o pcp nunca influenciou políticas e o be nunca não existe, mas aparece na televisão a debitar quanto pior melhor.

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  14. Observador da decadência permalink
    2 Março, 2010 12:39

    #13
    não me parece uma resposta assim tão viciada. É verdade. Mas também é verdade que os outros partidos se acomodaram, e hoje sofrem de vívios semelhantes. Mas a responsabilidade da governação desde 1977/78, tem sido dos PS’s, é inquestionável, 32 anos…

    Fernando Nobre à Presidência!

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  15. Observador da decadência permalink
    2 Março, 2010 12:40

    #13
    Já sem falar na Presidência da República que sofre do mesmo problema

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  16. anonimo permalink
    2 Março, 2010 12:44

    #14 – o país tem sido governado por portugueses em quem os portugueses votaram mal ou bem. afinal somos todos portugueses e queixamos-nos disso quando estamos desocupados.

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  17. castanheira permalink
    2 Março, 2010 12:46

    #13
    Tem razão.
    Os outros partidos parlamentares são coniventes pois pactuaram com o saque feito aos portugueses em todos estes anos.

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  18. Observador da decadência permalink
    2 Março, 2010 12:52

    Eu já não me queixo há uns anitos. Participo quando posso, e preocupo-me sobretudo em melhor-me a mim próprio e assim poder estar em melhores condições de dar bons exemplos e fazer bem áqueles que estão dentro do meu raio de acção. Há muito mais tempo que deixei de pensar que podia mudar o Mundo, eu e mais meia dúzia. Acredite que com esta atitude, observo as coisas a mudar à minha volta. Para lá disso, tenho que aceitar que não somos todos iguais, cada um age de acordo com a educação e conhecimento que tem.

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  19. anonimo permalink
    2 Março, 2010 12:54

    #17 – ora nem mais. castanheira à presidência da co-incineração do psd.

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  20. 2 Março, 2010 12:54

    o que evidentemente apenas poderia ocorrer pela limitação das regras de mercado e pela transferência de recursos dos contribuintes

    Ui, Jesus, isso é que não pode ser! Incumprir agora os Dogmas sacrossantos do liberalismo?Entender que existem interesses nacionais acima do jogo da economia? Pensar que as necessidades do país em matéria de de autonomia estratégica, da qual a própria independência nacional é naturalmente subsidiária, devem antepor-se ao jogo selvático da oferta e da procura? Por Deus!, que pecado, que crime, que blasfémia, em bom rigor!
    A alocação de verbas pagas pelos contribuintes não é má em essência. O esforço demagógico do liberalismo, consistindo em balir o seu «nós é que pagamos isto!» sempre que houve falar em despesas, seria ridículo se não fosse desonesto. Há circunstâncias em que o Estado deve fazer despesa, sobretudo se o que estiver em causa for a independência do próprio país, a sua autonomia em relação ao resto do mundo, a sua vida livre no plano internacional. E para isso é necessário que o país produza, até um certo ponto; e se essa produção não é feita pelos privados, mais interessados na jogatana irreprodutiva da finança e das obras públicas, deve o Estado fazê-lo. Só discorda disto quem for objectivo lacaio do capital estrangeiro e das forças centrípetas da nossa soberania, e tiver em pouca conta a independência de Portugal: o que seria estranhíssimo em pessoas de Direita…

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  21. castanheira permalink
    2 Março, 2010 13:03

    #20 “e se essa produção não é feita pelos privados, mais interessados na jogatana irreprodutiva da finança e das obras públicas, deve o Estado fazê-lo”

    Desde quando o estado consegue produzir algo sem que os “boys” roubem pelo menos metade?
    O JV é um utópico , certamente!

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  22. 2 Março, 2010 13:06

    a) defender que há uma esfera (de soberania/de interesse estratégico/whatever) onde o estado pode e deve actuar, e deve manter presença, não tem nada a ver com estar-se mais à esquerda ou mais à direita.
    b) a mitologia (pseudo)’liberal’ de que tudo se resolve privatizando isto, aquilo e aqueloutro é muito bonita na teoria. na prática esquece dois factos incontornáveis – substituir monopólios públicos por privados, não resolve rigorosamente nenhum problema de fundo e apenas garante um encaixe inicial e pontual. E sim, em PT os reguladores não são nem independentes do poder político muito menos levados a sério,
    c) pior, há uma ideia ferreamente enraizada de que é impossível os haveres públicos serem bem geridos, por oposição aos privados. Logo, em vez de se discutir o modelo corrente de gestão do sector público, e da coisa pública, salta-se logo para a privatização a torto e a direito… (mesmo quando demasiadas vezes essa privatização mais não é do que uma desorçamentação – dados que os privados só subsistem à pala e à sombra do estado)
    d) Quanto à agricultura (e pescas). Facto iniludível – Portugal tem a maior ZEE da UE (e continuará a ter até a Islândia ser assimilada, se o for). Segundo facto iniludível – Portugal tem um problema grave de assimetria no que diz respeito à ocupação do território (litoral vs interior). Que um ‘betinho’, que já foi secretário de estado do Guterres, como o Nogueira Leite, ande a gozar, no twitter e no blog dele, ainda vá que não vá – agora de si – esperava um pouco mais de sobriedade. O que está em causa, é – como foi omitido – a coesão territorial, e esse é um factor chave. Plantar eucaliptos só para as celuloses ou apostar que a salvação do interior está apenas no turismo, serve como solução – é minimalista, e no mínimo desonesto. Quanto às relações custo-benefício… bom, se vamos por aí que tal vender o interior a terceiros ? (aliás em bom rigor o país todo…)

    O Rangel está longe de ser um candidato perfeito, está longe de acertar em todas, etc, e tal, mas vcs só lhe malharem das vezes em que ele acerta na mouche, e foge ao absoluto lugar comum, também é demais…

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  23. 2 Março, 2010 13:07

    Embora eu concorde com esta posição, («Nós temos de produzir [produtos agrícolas] mesmo que isso seja caro, que não seja tão rentável quanto gostaríamos»), – apenas por razões opção de modelo em Economia e não outras – não consigo compreender nem aceitar esta outra, («De maneira nenhuma defendo a privatização da RTP ou da Lusa»), – curiosamente, por coerência com a mesma opção que me fazem aceitar a posição anterior.

    (Tenho as mais sérias reservas quanto a vários pressupostos da Nova Economia e acredito que o problema da produção está muito longe de estar resolvido, assusta-me a confusão actual na utilização da palavra “bem”, and so on)

    Mas a coerência está fora de moda, ao que parece.

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  24. 2 Março, 2010 13:24

    Correcção ao texto do meu comentário anterior, #23:

    apenas por razões de opção de modelo em Economia e não outras

    por em coerência com as mesmas opção razões que me fazem aceitar a posição anterior

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  25. Doe, J permalink
    2 Março, 2010 13:46

    Subsidiar por subsidiar, e já que tem de ser, antes as batatas que a RTP, ou as couves em vez dos clubes de futebol. Mas se calhar sou só eu…

    E já agora, visto que Portugal não é concorrencial em praticamente nada de transaccionável e que tenha algum valor acrescentado, o que propõe? Incentivar a produção para exportação de despachos, Leis e Decretos-Lei visto ser essa a verdadeira grande produção nacional?

    Eu até quero acreditar que conseguimos viver sem “serviços públicos de tv/radio e etcs” ou sem clubes de futebol que ocupem as conversas de café de 2ª a 4ª mas será que conseguiremos viver sem comer?

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  26. 2 Março, 2010 13:54

    Pelos vistos, a campanha socretino-coelhista contra Paulo Rangel continua em força.
    Vão ter todos uma grande surpresa no sapatinho, salvo seja.

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  27. Joaquim Amado Lopes permalink
    2 Março, 2010 14:09

    Gabriel,
    «De maneira nenhuma defendo a privatização da RTP ou da Lusa» só seria um flic-flac se antes Paulo Rangel tivesse defendido o contrário. Foi isso que aconteceu? Pelas suas palavras parece que não.

    Ser “de direita” não implica necessariamente partilhar de todas as opiniões associadas a esse espectro político. E, além disso, os mesmos princípios ideológicos podem, pela valorização diferente dos mesmos factores, levar a conclusões diferentes.

    Haverá de certeza contradições a apontar a Paulo Rangel. Esta não é uma delas.

    «Nós temos de produzir [produtos agrícolas] mesmo que isso seja caro, que não seja tão rentável quanto gostaríamos»
    A independência energética e a alimentar são dois aspectos fundamentais da independência económica e mesmo política.

    Num mundo em que a produção alimentar se torna cada vez mais difícil em cada vez mais zonas, um país que seja totalmente dependente do exterior para se alimentar corre um risco estratégico enorme. É que podemos viver facilmente sem trocar de carro nem comprar mais roupa mas não podemos viver sem comida.

    Da mesma forma que existe uma reserva estratégica de combustíveis, também deve existir uma reserva estratégica de alimentos. E esta tem que ser pelo menos parcialmente na forma de produção própria.

    Custa mais produzir do que importar? Com muitos produtos e aos preços actuais, sim.
    Mas quanto vale o risco de não os produzir internamente?

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  28. José Barros permalink
    2 Março, 2010 14:21

    Já tenho criticado Rangel – nomeadamente, quanto à expressão “economia social de mercado” que me parece absolutamente despropositada – mas não percebo este post.

    Talvez o Gabriel Silva me possa esclarecer: onde é que a direita do PSD defende em Portugal a privatização da RTP? Que eu saiba nunca tal foi bandeira do CDS, que, aliás, já esteve no governo de Durão Barroso, no qual o Morais Sarmento tentou avançar com a ideia e foi trucidado por toda a gente. Ou seja, a privatização desejável da RTP será uma bandeira de uma minoria liberal. Sendo que Rangel não é liberal, mas isso já é sabido. Quanto à da “lavoura”, é o mesmo discurso de Portas e o que se pretende com isso é cativar um eleitorado tradicionalmente de direita, mas que evidentemente quer subsídios como o resto do país. Rangel tem ideias diferentes das minhas, liberais: mas onde está o flic-flac, a suposta contradição que não se descortina? Não está em lado nenhum, pelo que a crítica não faz sentido. Faria, pelo contrário, sentido criticar Passos Coelho por dizer que o TGV era estratégico, quando se tratava de criticar Ferreira Leite e dizer agora que o vai suspender porque o país não precisa de mais elefantes brancos. Isso sim, o paradigma de flic-flac.

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  29. 2 Março, 2010 14:45

    Estas coisas às vezes passam de flic-flac-à-rectaguarda para mortal-encarpado-com-saída-de-maca…

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  30. 2 Março, 2010 15:01

    #21

    Desde quando o estado consegue produzir algo sem que os “boys” roubem pelo menos metade?

    Em primeiro lugar, em como muito bem refere A. Meireles em #22, isso seria matéria para discussão do modo de gestão do Estado, e não legitimante da privatização. Não há na gestão pública qualquer característica que a torne ontologicamente incapaz de ser rentável, e se houver desafio-o a apresentá-la.
    Por outro lado, mesmo com os ditos «boys» a roubar metade, ao menos haverá essa produção e essa sustentação económica da soberania nacional. O modelo liberal que propõe, dada a tendencial apetência das nossas empresas privadas para as obras públicas e a finança – justificada quer com os incentivos ao consumo, quer om as obras de regime, quer com a necessidade de conciliar baixa qualificação da mão-de-obra com a exponenciação da rentabilidade -, redundaria inexoravelmente na nossa dependência total em relação ao estrangeiro em matéria alimentar. E isso, senhor liberal, seria do mais oneroso possível para a nossa balança comercial, forçando o país a um endividamento que o contribuinte, ou consumidor, teriam directa ou indirectamente de custear. Portanto, Rangel tem razão quer numa óptica ideológica, quer se apreciarmos as últimas consequências económicas de se continuar a caminhar na rota presente da liberalização. Indeed, less is less.

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  31. mir permalink
    2 Março, 2010 15:14

    #16 “o país tem sido governado por portugueses em quem os portugueses votaram mal ou bem. afinal somos todos portugueses e queixamos-nos disso quando estamos desocupados.”

    Precisamente! Desde há uns 350 anos que os economistas e gente com visão chama a este país um “reino cadaveroso”, referindo-se ao Estado e às crónicas élites alapadas ao mesmo (sendo estas originárias do povo, ainda que não sendo a mesma coisa).

    Ninguém interessado em discutir a hipótese de reforma do país, por exemplo substituindo o respectivo Estado por algo mais viável e consistente em termos de desenvolvimento social e económico para a Nação no quadro da UE no médio longo-prazo?

    Tomara à maior parte da população portuguesa viver como vivem, digamos, os Catalães e suspirar como eles, tristemente, pela independência do malvado centralismo Castelhano… Ou então, falar de patriotismo estatal lusitano com a a população que vive num raio de 50-80 Km da fronteira (no Algarve e outras zonas da “raia”) quando se trata de comprar os víveres, gasolina ou até mesmo procurar emprego; ou ainda às centenas de milhar de emigrantes quando estes decidem que não há outra hipótese senão partir…

    Quando se observa a realidade portuguesa actual com base na premissa do patriotismo, fala-se de quê: do Estado? Da Nação? Do Estado-Nação? Da Nação que sustenta o Estado? Do Estado que defende a Nação?…etc

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  32. Pi-Erre permalink
    2 Março, 2010 15:17

    “Fernando Nobre à Presidência!”

    Só se for da República das Berlengas.

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  33. henrique pereira dos santos permalink
    2 Março, 2010 15:27

    Caro Gabriel Silva,
    Eu sei que é uma questão mais ou menos marginal no seu post, mas para não me alongar aqui sugiro que dê uma leitura neste post:
    http://ambio.blogspot.com/2006/04/ideias-trgicas-para-o-mundo-rural.html
    porque talvez seja útil distinguir o que deve ser distinguido na intervenção do Estado na agricultura (por alguma razão Schumpeter considerava que o papel empresarial no sector agrícola nos Estados Unidos de meados do século XX era em grande parte exercido, e bem, pelo Departamento de Agricultura estatal).
    henrique pereira dos santos

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  34. Anónimo permalink
    2 Março, 2010 16:45

    “Num mundo em que a produção alimentar se torna cada vez mais difícil em cada vez mais zonas, um país que seja totalmente dependente do exterior para se alimentar corre um risco estratégico enorme.”

    Produção alimentar cada vez mais difícil!? Você só pode estar a gozar ou então come tudo o que os socialistas dos jornais lhe plantam á frente. A produção alimentar nunca foi tão fácil e com a chegada de África ao mercado agricola ainda vai ser mais fácil e barato, isto se houver mercado livre e África tiver paz consistente para haver investimento. Veja as terras abandonadas em Portugal que agora não produzem. Há trinta anos morreriamos de fome se não produzissem coisa alguma. Agora não produzem porque há terras em todo o mundo que dão muito mais rendimento devido ao desenvolvimento agricola. O pior é que com a nossa auto induzida pobreza devido a um Estado Socialista com demasiado poder para tirar dinheiro à economia talvez tenhamos de ser forçados a trabalhar em terras pouco produtivas.

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  35. Pi-Erre permalink
    2 Março, 2010 20:00

    “34 henrique pereira dos santos

    “…Schumpeter considerava que o papel empresarial no sector agrícola nos Estados Unidos de meados do século XX era em grande parte exercido, e bem, pelo Departamento de Agricultura estatal”

    Schumpeter disse mesmo isso? Aonde, aonde???

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  36. henrique pereira dos santos permalink
    2 Março, 2010 21:47

    Caro Pi-erre não vale a pena ficar nervoso:
    “In this case then it was the Departement of Agriculture that acted as an entrepreneur”. Se quiser procure o resto que encontra com certeza na net “Economic Theory and entrepeneurial history”, página 71.
    henrique pereira dos santos

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  37. Doe, J permalink
    2 Março, 2010 22:30

    “«Nós temos de produzir [produtos agrícolas] mesmo que isso seja caro, que não seja tão rentável quanto gostaríamos» (o que evidentemente apenas poderia ocorrer pela limitação das regras de mercado e pela transferência de recursos
    dos contribuintes).”

    Agricultura subsidiada? Quórror! Onde é que já se viu uma coisa dessas? Regras de mercado!

    Mas, qual mercado? O dos subsídios? 😉

    Who benefits mainly from agricultural budget?

    If we look at the expenditure for agriculture in the 2008 EU budget, around € 42 billion was spent on market measures and direct support to the farmers.

    Out of the € 42 billion, € 37 billion was spent on direct payments to the farmers. In other words, 88% of the agricultural budget was earmarked support to people and companies who are farming or maintaining agricultural land in the European Union.

    Around € 4 billion was spent on intervention in agricultural markets. Fruit and vegetables and the wine sector were the main recipients but the EU food programme to the most deprived people also benefited with almost € 345 million. € 395 million was used for animal disease eradication and other activities related to feed and food safety.

    As for rural development, € 95.2 billion has been made available for the period 2007-2013. Farmers, municipalities and other actors in rural areas can get EU support for their rural development projects.

    http://ec.europa.eu/agriculture/funding/faq/index_en.htm

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  38. Joaquim Amado Lopes permalink
    2 Março, 2010 23:03

    35. Anónimo:
    “A produção alimentar nunca foi tão fácil e com a chegada de África ao mercado agricola ainda vai ser mais fácil e barato, isto se houver mercado livre e África tiver paz consistente para haver investimento.”
    Tem toda a razão. Erro meu. Afinal, a desertificação é um mito, as reservas de água potável crescem todos os anos, a quantidade e diversidade de peixes nunca foi maior, a população mundial está a decrescer e a consumir cada vez menos e a energia necessária para a produção, transformação, conservação e transporte da comida nunca foi tão barata e abundante, com tendência a longo prazo para ser ainda mais barata e abundante. E não nos esqueçamos de África, que caminha a passos largos para uma “paz consistente” e que, tornando-se o “celeiro do Mundo”, será generosa para com todos os que tanto a ajudaram durante séculos.

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  39. Anónimo permalink
    2 Março, 2010 23:23

    .
    O essencial é que não há alternativa para Portugal se transformar num TECIDO ECONOMICO LUCRATIVO e COMPETITIVO para sobreviver e resolver o País:
    .
    ou forte baixa de salários
    .
    ou forte baixa de impostos
    .
    ou mais empréstimos estrangeiros
    .
    O resto serão as normais consequências politicas e sociais que resultam do RUMO essencial escolhido. E cada um tem de facto consequências vitais e resultados opostos de FUTURO COLECTIVO.
    .
    Continuam a ser impotentes as retóricas, discussões e analises sobre o tema CRISE e EMPOBRECIMENTO NACIONAL qresultam num ‘para nada sair do mesmo sitio’ embora todos sintam que isto já não é vida nem futuro para ninguém: de ricos a pobres, de Grandes Empresas a Micro-Empresas, de anciãos a crianças.
    .
    Quem dá o pontapé de saída neste torneio que já começou há vários anos ?
    .
    Não percam mais tempo: proactividade e real-politic. Estadistas. O resto continuam a ser histórias da carochina. É o DESAFIO DE PORTUGAL.
    O resto

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  40. 3 Março, 2010 00:43

    Caro Joaquim Amado Lopes,

    O malthusianismo continua bem vivo. Felizmente para todos nós que tem sido possível refutá-lo sucessivamente sem que, pelo menos até aos dias de hoje, tenhamos tido que nos exterminar em escalas na ordem dos milhares de milhões.

    Caro Henrique Pereira dos Santos e Caro Pi-Erre,

    “Entrepreneurial”, em sentido schumpeteriano, remete para aquele (indivíduo ou organismo) que inova ou que promove a inovação e não propriamente para uma qualquer empresarialização do Estado. O trecho que cita (*) refere-se aos méritos que Schumpeter assinala, «again and again» nos Estados Unidos (pelo menos até à época da publicacção do ensaio em causa), no papel que agências governamentais podem desempenhar na promoção da inovação e até no ensino das técnicas necessárias à aplicação de uma dada inovação.

    (*) – Tenho que confessar a minha dificuldade em situá-lo numa qualquer página 71 pois o ensaio onde está contido o excerto citado terá à volta de 20 páginas (em função das diferentes edições). Deixo aqui uma referência directa ao texto em causa inserido numa colectânea de ensaios sobre a inovação e o empreendorismo. A passagem referida, nesta edição, encontra-se na página 260.

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  41. henrique pereira dos santos permalink
    3 Março, 2010 06:20

    Caro Eduardo F.
    Tem razão. A Página 71 refere-se à colectânea original em que foi publicado. Procurei na net um link directo e não o encontrei, de maneira que usei um artigo que tinha um fac símile do original.
    Eu não falei em empresarialização do Estado. Apenas fiz notar que a agricultura, enquanto sector produtivo, tem especificidades que vale a pena perceber. E para dar exemplo dessas especificidades citei esse texto de um insuspeito liberal.
    Os subsídios à produção agrícola são imorais nos países desenvolvidos porque condenam à miséria os produtores do terceiro mundo, mas o pagamento dos serviços ambientais prestados pelo sector, em determinadas circunstâncias, fazem todo o sentido. Por exemplo, para a gestão do fogo em Portugal é muito mais inteligente subsidiar rebanhos de cabras e ovelhas que enterrar recursos num sistema de combate a fogos sobre-dimensionado e ineficiente.
    henrique pereira dos santos

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  42. Joaquim Amado Lopes permalink
    3 Março, 2010 13:55

    41. Eduardo F.
    Optimistas, realistas e pessimistas têm duas coisas em comum: todos se auto-classificam de “realistas” e todos classificam os outros de “errados”.

    Para avaliar o grau do seu “realismo”, há alguma coisa do que escrevi (com ironia) que o Eduardo considere desfasado da realidade? P.e., a desertificação é ou não um mito? E o resto?

    E exactamente quais são os nossos sucessos (à escala global) que o deixam (aparentemente) tão satisfeito? Os cerca de mil milhões de pessoas que passam fome? O avanço do extremismo islâmico na Europa e de todos por todo o lado? Os acordos para controlo do aumento da poluição que não passarem de declarações de intenções?

    Não estou a dizer que “o fim do mundo” é inevitável e que não há nada que se possa fazer para arrepiar caminho. Mas, no meu “malthusianismo” irracional, parece-me mais do que evidente que a ideia de que um país como Portugal (ou qualquer país) pode perfeitamente abdicar de produzir comida porque outros a produzirão para nós (a que preço?) é “meter a cabeça na areia”.

    A propósito de uma discussão sobre precisamente esta matéria (já há muitos anos), um “malthusiano” desabafou qualquer coisa como “pois chegará um dia em que comerão dinheiro, beberão dinheiro, respirarão dinheiro e cag**** dinheiro”.
    Claro que isto não se aplica a Portugal. Pela simples razão de que, para comer, beber, respirar ou cag** dinheiro é preciso tê-lo.

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  43. Amonino permalink
    4 Março, 2010 09:46

    #40
    .
    e há o mix ‘chico-esperto’ da elite tuga que só tem dado m.r.a: baixa de salários, mais divida externa, não reduz impostos que resulta sempre em menos poder de compra do mercado interno, mais dividas para pagar os celebres ‘apoios e subsidios’ e subsidios de desemprego, mais encerramentos de empresas, meis desemprego, mais empobrecimento geral do país, menos capacidade de exportar, menos competitividade,
    .
    a ‘esperança de milgares de fatima’ para alavancar algum crescimento alapados no sidecar da mota da Europa. Mas a recessão vai-se aprofundar em 2011 e 2012, e a saír da Crise mundial lá para 2017/2020….
    .
    Portanto outro ‘tiro na àgua’ como foi a ingenuidade da maioria socialista apoiada pelos Partidos à Direita e com beneplacito dos à Esquerda que desfez o tecido Economico Português e a capacidade do País depois resisitir à Crise a troco das ‘medidas corajosas’ de apertar o cinto para pôr o deficit nos 3% erm troca de fantasias de ‘amanhãs que cantariam’.. Viu-se.
    .
    Em vez de apoios e subsidios às Empresas que irão mais uma vez para o esgoto, não há alternativa séria e realista a não ser FAZER DE PORTUGAL UM TECIDO ECONOMICO LUCRATIVO E COMPETITIVO a partir duma forte baixa de Impostos geral.
    .
    O resto são a habitual malandragem e manhos~ice responsavel pela situação pró-violencia em que já estão os Cidadãos, Familias e Empresas. Este OE e apendices surgem com fortes probabilidades de serem o gatilho e o fulminante.
    .

    .

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