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Em que é que se investe durante uma recessão?

29 Junho, 2010

O leitor LMR faz a seguinte pergunta neste post: “investimento para quê, se o consumo cai a pique?”

Algumas possíveis respostas:

1. O investimento não se faz a pensar no consumo actual. O investimento faz-se a pensar no consumo durante o tempo de vida do investimento. E isso é consumo futuro. Se os consumidores estão a abdicar do consumo agora é porque tencionam comprar mais no futuro.

2. O investimento não se faz só para vender mais. Pode-se fazer para tornar a produção mais eficiente e barata.

3. O consumo não está a cair a pique em todas as actividades. Há actividades em que o consumo tem tendência para aumentar (por exemplo, tudo o que tenha a ver com envelhecimento da população). É para o investimento nessas áreas que a poupança tenderá a ser dirigida. A economia é heterogénea. Raciocínios com agregados não permitem ver os detalhes.

4. Antes de fazerem qualquer investimento novo e antes de voltarem aos níveis de consumo anteriores muitos agentes têm que investir na sua própria reestruturação financeira. Agentes com défice de poupança acumulado ao longo de anos têm agora que poupar para pagar dívidas.

5. A economia está a ser reestruturada ao nível mundial. Índia, Chinal e Brasil crescem 7% a 10% ao ano. O consumo por lá está a aumentar imenso. É por isso normal que determinados investimentos não se façam aqui. O que não impede um cidadão português de direccionar a sua poupança para esses mercados (comprando acções de empresas locais, exportando produtos ou prestando serviços a esses países) e de ganhar muito dinheiro com isso.

19 comentários leave one →
  1. Lima permalink
    29 Junho, 2010 11:00

    “Se os consumidores estão a abdicar do consumo agora é porque tencionam comprar mais no futuro.”

    Ou não! A geração dos nossos pais (até 74) e avós não pensava assim. Porquê?

    “Agentes com défice de poupança acumulado ao longo de anos têm agora que poupar para pagar dívidas.”

    Ou continuar a endividarem-se até ao abismo ou até pedirem ajuda a um organismo de apoio que os ajude com dinheiro dos contribuintes, que andaram anos a fazer aquilo que eles não fizeram.

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  2. LMR permalink
    29 Junho, 2010 11:12

    Outras respostas possíveis:
    1- Não. Os consumidores abdicam do consumo porque estão ansiosos com as perspectivas imediatas. Ou porque os seus rendimentos já diminuíram, ou porque algumas despesas inevitáveis aumentaram. Ninguém deixa de comprar hoje um pastel de nata para daqui a um mês comer dois num só dia.
    2- Essa será sempre a postura minoritária. E mesmo esse tipo de investimento dificilmente será assumido quando as expectativas sobre o consumo são as piores. Reacção natural de um empresário será aproveitar o capital disponível (se algum) para constituir um fundo de maneio para emergências.
    3- Quem agregou tudo no mesmo saco, sem cuidar de heterogeneidades, foi o JM, no post original. De qualquer forma, não acredito que as despesas relacionadas com a terceira idade, como um todo, estejam a crescer hoje em Portugal. E à medida que mais fatias das prestações sociais são corroídas, menos dinheiro vai haver nesse mercado. E qual é a sugestão subjacente? Que o investimento seja redireccionado das áreas de actividade tradicionais a cada empresário para outras de que nada conhecem, só porque uma oportunidade se oferece? Esse processo iria demorar anos e anos, causando pelo caminho caos e desemprego em massa. Haverá lugar para quantos lares de terceira idade ou para quantos fabricantes de fraldas para incontinentes, só para me ater ao exemplo fornecido?
    4- Portanto, empresas com menos vendas, dado operarem em mercados em que o consumo se retrai, vão poder amortizar passivos e dívidas. Claro.
    5- Pensei que estavamos a falar da nossa economia e do seu futuro, não de conselhos para quem quer fazer investimentos exóticos nos BRIC. Afiança o JM que “não há crescimento económico sem investimento”; mas desse investimento que agora refere só poderá resultar crescimento nessas paragens longínquas, não no “país onde Galamba é deputado”.

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  3. Anónimo permalink
    29 Junho, 2010 11:42

    Segundo dados do Eurostat recentemente publicados, Socrates é o recordista europeu da subida de impostos sobre o trabalho; diz tambem que a redução do deficie entre 2005 e 2008, foi essencialmente feita com a subida de impostos, aumento da receita portanto, e não com o controle e redução da despesa como o 1º ministro, o ministro das finanças e os socialistas e aliados na comunicação social andam a propalar.
    Portanto quando Socrates anda a dizer que sabe como se reduzem os defices, já sabemos o que nos espera, não só para este ano, mas para os anos mais proximos.
    Mas se a solução para reduzir o defice que o governo tem é subir os impostos e não tocar na despesa como está a acontecer, não precisamos de ministros, até o porteiro do ministerio das finanças pode aplicar a receita; e sempre se poupava algum dinheiro nos salarios quer dos ministros, quer do exercito de boys e acessores que povoam os ministerios e secretarias de estado.

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  4. JoaoMiranda permalink*
    29 Junho, 2010 11:44

    Caro LMR,

    Os motivos imediatos da poupança são irrelevantes. O facto de as pessoas pouparem implica por si só que terão mais dinheiro para gastar no futuro e que, portanto, a conjectura de que gastarão mais no futuro é certa. Para a discussão é isso que interessa. Não é por as pessoas não estarem a gastar agora que o investimento não compensa. antes pelo contrário. Poupança implica que no futuro haverá mais recursos disponíveis para o consumo.

    Qualquer progresso económico deve-se à acção de uma minoria de empresários que descobre as oportunidades. Para a discussão é irrelevante se são uma minoria. Basta uma minoria que seja capaz de dirigir o investimento para as actividades certas para que a poupança gere investimento e progresso económico.

    A reestruturação de uma economia demora anos. Não é o facto de demorar anos que torna a poupança menos necessária. Pelo contrário. O facto de demorar anos torna a poupança mais necessária.

    Sobre as empresas em mercados em que a não há procura, empresas sem vendas não vão, por causa disso, ter mais margem para amortizar dívidas. Vão é ser obrigadas a a fazê-lo porque essa é a alternativa mais racional. Quem dimensionou empréstimos para uma procura maior que a verificada será forçado a reduzir o endividamento ou então vai arrastar-se durante anos sem qualquer rentabilidade (a receita é comida pelos juros).

    Sobre a questão dos BRIC, ela serve para se perceber que a poupança nacional é vantajosa mesmo quando o consumo nacional não aumenta. Isto porque os nacionais podem dirigir a sua poupança para investimentos em actividades nos mercados em crescimento. Uma parte da economia portuguesa já se baseia nos mercados emergentes, quer através das exportações, quer através do investimento. Uma grande parte das receitas das empresas do PSI20 é conseguida fora do país, o que reforça a economia portuguesa, via emprego, remuneração de accionistas, exportações, serviços financeiros, investigação e desenvolvimento etc

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  5. Outside permalink
    29 Junho, 2010 11:46

    Duas observações:

    Isto: “Se os consumidores estão a abdicar do consumo agora é porque tencionam comprar mais no futuro.” e o exposto no ponto 4 (possibilidade de investimento) demonstam a realidade paralela, a dois tempos, que se vive neste paìs.
    A crise não é para todos, a crise é sim uma oportunidade para alguns como JM aqui demonstra. Pensei que se JM pudesse estar deste lado da barricada (dos que abdicam do consumo porque os custos dispararam) porêm fica claro que é dos que deu rendimento à Prada inaugurada neste mês.

    Boa fortuna.

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  6. 29 Junho, 2010 12:19

    O porquê de mais investimento em recessão mantém-se também para implementar alterações de processos para baixar custos unitários.

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  7. 29 Junho, 2010 12:40

    Joãozinho,
    Nem tudo o que luz é ouro, perdão, nem tudo o que vem nos manuais é verdade.

    LNR,
    Já sabe que o Krugmann prevê agora a 3ª depressão?

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  8. 29 Junho, 2010 13:22

    O consumo não cai a pique.

    Uma queda de 1% no PIB é uma queda de 1%, não é uma queda a pique. A ideia que nas recessões cai tudo a pique é manifestamente exagerada.

    A principal razão da queda do investimento privado, mais que o receio do futuro, é a quebra dos lucros.

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  9. Anónimo permalink
    29 Junho, 2010 13:57

    Não se percebe como um know it all desta craveira não é um grande empresario – como em vez de puxar o país para a frente, como o outro, escreve neste pasquim.

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  10. razia permalink
    29 Junho, 2010 13:58

    Estou a ver o ministro Vieira da Silva, tão aclamado no blasfémias por gozar/criticar com o “protecionismo” turístico de Cavaco Silva quando este aconselhou os Portugueses a passarem as férias em Portugal, a dobrar completamente a espinha e a anunciar uma campanha para promover o turismo interno no valor de 3 milhões de €uros. Não têm vergonha nenhuma na cara. Canalha.

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  11. lucklucky permalink
    29 Junho, 2010 15:02

    “Já sabe que o Krugmann prevê agora a 3ª depressão?”

    Pobre Krugman só agora é que descobriu pois ajudou a torná-la pior.

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  12. LMR permalink
    29 Junho, 2010 15:32

    Estimado JM,

    1- Se “Os motivos imediatos da poupança são irrelevantes”, porque é que escreveu “Se os consumidores estão a abdicar do consumo agora é porque tencionam comprar mais no futuro”? Pois é; a coerência é coisa complicada.
    2- Nada disso. A poupança pode ter excelentes motivos de consumo postergado. Mas num contexto de erosão fiscal e de aumento de juros bancários, o mais certo é esses euros não chegarem ao prometido futuro de bonança.
    3- Esse conceito de “minoria” é em si irrelevante. De nada interessa à economia nacional se mil empresários que dão emprego a um total três mil pessoas enveredam por um dado caminho.
    4- Resta ver quantas empresas apertadas pela queda da procura é que vão poder aguentar esses “anos” sem irem desta para melhor.
    5- Pois; essas “empresas sem vendas” têm uma outra hipótese pela frente: fechar enquanto ainda se consegue salvar algo para o bolso dos sócios. E lá vem mais despesa para o erário público, com subsídios de desemprego, litígios judiciais, etc.
    6- Não misture investimentos em bolsa, que é o que discutíamos antes, com exportações. E isso do PSI-20 é discutível: há por ali empresas com nula internacionalização. E onde é que essas operações geram assim tanto emprego por cá? E sectores muito representativos nessa fatia, como a distribuição e a banca, são mesmo geradores de “investigação e desenvolvimento”? Por fim, não estou a ver onde é que essa remuneração de accionistas pode compensar a nossa economia pela exportação de tanto dinheiro.
    7- Repare que eu não sou inimigo da internacionalização; a empresa de que sou sócio tem escritórios em vários países. Contesto sim a sua noção de que tal equivale a ter recursos “redireccionados do consumo para o investimento”. O meu investimento no estrangeiro tranquiliza-me e é uma boa almofada para a empresa; mas não vejo forma de estar a contribuir grandemente para a nossa economia; o património em construção está lá fora e é meu e dos meus sócios; não de Portugal. Em última análise, podemos até todos ir viver para lá, enquanto o país vai pelo cano abaixo.

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  13. anònimo permalink
    29 Junho, 2010 15:44

    e ainda há gajos com pachorra para desmontar a bacoquice do miranda. oh amigo! não prefere um empregozito nos palitos artesanais?

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  14. Anónimo permalink
    29 Junho, 2010 18:38

    há, no raciocínio, tão logico, do JM, algo de revelador da sua mentalidade neo-liberal, apenas interessado nos investimentos de capital e transações de mercado.

    no post, bem fala de consumo. consumidores e poupanças. depois no comentário 4 ainda fala de pessoas que consomem quando diz: “O facto de as pessoas pouparem implica por si só que terão mais dinheiro para gastar no futuro e que, portanto, a conjectura de que gastarão mais no futuro é certa. Para a discussão é isso que interessa. Não é por as pessoas não estarem a gastar agora que o investimento não compensa. antes pelo contrário. Poupança implica que no futuro haverá mais recursos disponíveis para o consumo.”

    mas não se lembra de nos falar de quem trabalha… é que é quem trabalha e tem salário, que cubra um pouco mais do que as necessidades básicas, e, que, só, nesta condição, poderá consumir o que por cá e não só se produz e produzirá, ou poupar para investir ou consumir no futuro – só que, cada vez mais, uma grande parte do que se produz actualmente, tirando o imobiliário, é coisa que se desactualiza rapidamente, não tão rapidamente como os bens alimentares, mas que têm quase a rápida rotação dos artigos sujeitos a modas, como tudo o que é high-tech – portanto, o que esquece, é que sem emprego, não há consumo nem poupanças…

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  15. 29 Junho, 2010 18:44

    acabei de fazer um comentário que foi aceite, mas que parece ter sido engolido e não apqrece…

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  16. 29 Junho, 2010 18:55

    já apareceu o comentário é o nº 14, deve ter passado pelo passador da moderação.

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  17. Anónimo permalink
    29 Junho, 2010 21:50

    A verdade, por mais que doa, e custe a aceitar, é esta: desde o Marquês de Pombal, que não temos quem nos governe!

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  18. e-ko permalink
    29 Junho, 2010 23:33

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