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Libertar a saúde e a educação, despolitizar a sociedade

23 Julho, 2010

Grande parte da população educada e culta do país trabalha nos sectores da educação e da saúde. A esmagadora maioria da população é utente, por necessidade ou falta de alternativa, desses sectores. Estes sectores são actualmente dominados pela política. Tudo, desde a macro-decisão de construir um hospital à micro-decisão de sancionar um aluno está dependente da hierarquia que tem o primeiro-ministro no topo.

Tudo nestes sectores, desde promoções, introdução de novos conceitos e novas ideias, abertura de novos estabelecimento, criação de cursos ou novas unidades de tratamento, está condicionado à política. Tem sucesso quem se consegue mexer na política. O mesmo se passa do lado do consumidor. Tudo o que o consumidor de saúde possa desejar, um novo tratamento, um novo curso, uma nova forma de prestar o serviço, está condicionado à política. Num mercado um consumidor pode conseguir o que quer escolhendo ou ameaçando escolher, ou mesmo tendo o poder de escolher. Num sistema público, o consumidor só consegue o que quer se for capaz de fazer política. Tem que formar alianças, reivindicar, fazer pressão, apaparicar quem tem poder. O mesmo se passa com as pessoas que trabalham nestes sectores. O mérito, a capacidade de fornecer um serviço a um nicho, a capacidade de gerar ideias inovadoras, tudo isso interessa muito pouco comparado com a capacidade de pensar e agir politicamente.

Não devemos ficar surpreendidos por os portugueses serem socialistas. Os portugueses adaptaram-se a uma sociedade socialista e politizada em que o que conta é o poder. Os portugueses estão habituados a relações hierárquicas. Relações verticais com os superiores e os inferiores em vez de relações horizontais com os seus pares.

Quando se analisam as reformas na saúde e na educação, como o João Luís Pinto faz aqui e aqui, é mais importante considerar qual o efeito na despolitização e na libertação da sociedade do que na carga fiscal. Até porque a carga fiscal total depende muito mais da relação de forças entre o Estado e a Sociedade, da capacidade do Estado em cobrar e da sociedade de escapar à cobrança do que do facto de a cobrança ser feita por impostos ou por pagamento directo de serviços. A carga fiscal total tenderá sempre para um valor de equilibrio que reflecte a relação de forças entre Estado e sociedade, independentemente da forma como a cobrança é feita.

Regras constitucionais como o “tendenciamente gratuito” e a obrigação do Estado de manter uma rede pública de saúde servem para manter coesa a coligação de interesses que sustenta o socialismo. Estas regras politizam a sociedade, criam incentivos ao status quo, dificultam a vida aos dissidentes que poderiam existir dentro do próprio sistema público. A esquerda percebe isto muito bem. Eles são contra qualquer alteração destas regras, mesmo que se continue a garantir as necessidades dos mais desfavorecidos doutra forma, porque sabem que elas dificultam a liberdade de escolha e o opting out. O maior inimigo do socialismo em Portugal é o opting out. Com opting out o sistema público desfaz-se.

A eliminação das regras constitucionais que suportam o actual sistema público abre um conjunto de possibilidade que poderão desestabilizá-lo: concorrência entre instituições públicas e entre estas e as privadas, spin off de instituições públicas, salários diferenciados no sector público, mais atenção às necessidades dos clientes e menos atenção aos desejos da hierarquia. Se o dinheiro começa a entrar por baixo em vez de entrar por cima, quem manda são os de baixo e não os de cima. Estas possibilidades favorecem a mobilidade de profissionais e de clientes entre o público e o privado (e vice-versa), favorecendo o fluxo de ideias e de práticas inovadoras entre os dois sectores. Despolitizam um número significativo de instituições públicas e libertam as pessoas do jugo da servidão hierárquica. Mais pessoas livres, menos abrantes. Mais importante, reduzem o apoio político ao financiamento do sistema público através dos impostos. Se uma grande parte da população tiver que pagar aquilo que agora é gratuito, passa-se mais facilmente para o lado daqueles que defendem a redução de impostos.

47 comentários leave one →
  1. 23 Julho, 2010 08:28

    Excelente!

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  2. 23 Julho, 2010 09:09

    Parabéns, João. Excelente texto.

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  3. Pedro Lomba permalink
    23 Julho, 2010 09:36

    Excelente texto.

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  4. 23 Julho, 2010 09:41

    No fundo, é mais ou menos o que o DO escreve aqui (ainda que com um diferente juizo de valor)

    http://arrastao.org/sem-categoria/19843/

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  5. Asdrubal permalink
    23 Julho, 2010 10:13

    Eu entendo que quem aufere vencimentos muito acima da média queira soluções para a saúde e educação privadas, o que andamos aqui a fazer se não olharmos por nós?

    É por isso, por eu andar a olhar para aquilo que é meu que sou a favor do ensino e da saúde publica, pois não ganho acima da média, antes pelo contrário, os meus parcos 375 euros de ordenado não me permitem pagar saúde e educação, a minha educação, porque filhos não tenho, eu estudo após o trabalho com o intuito de auferir um ordenado igual ao vosso de forma a poder ir ao encontro das vossas ideias.

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  6. Arnaldo Madureira permalink
    23 Julho, 2010 10:39

    Não faz mal. A esmagadora maioria da população não se identifica com estas ideias.

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  7. 23 Julho, 2010 10:51

    Muito bem, João.

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  8. 23 Julho, 2010 11:19

    O começo não é auspicioso: «Grande parte da população educada e culta do país trabalha nos sectores da educação e da saúde». Trata-se claramente de um erro de paralaxe de quem está dentro de um desses sectores.
    O mais estranho é mesmo ver como alguém que há anos escreve num blogue político sonha demonizar e menosprezar a Política. Começando logo pelo título da posta, que nos desafia a «despolitizar a sociedade».
    Nem vale a pena explicar as origens da palavra ou esclarecer que “Política” não é apenas o Passos Coelho em exercícios de sofística com Sócrates; em última análise, o exercício colectivo da político é o que faz de nós cidadãos, não meros habitantes de um dado pedaço de terreno.
    Mas JM imagina que poder debater, reivindicar, modificar a vida, tudo isso é sinónimo de coisa má, a expurgar bem depressa.
    No entanto, basta recorrer a um exemplo que o próprio JM usou, a Suécia (esse bastião do comunismo), para o desmentir flagrantemente!
    Para o JM, viveríamos felizes sem qualquer tipo de Estado. Se este se dissolver e deixar de ser responsável seja lá pelo que for, acaba-se a Política e reina apenas o Mercado; acaba-se esse bicho manhoso – sempre com a mania que quer e pode fazer Política – o Cidadão, e prolifera o senhor absoluto da Mirandéria: o Consumidor.

    http://viasfacto.blogspot.com/2010/07/para-acabar-de-vez-com-politica.html#more

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  9. filipeabrantes permalink
    23 Julho, 2010 12:07

    concordo

    bem como o fim dos benefícios fiscais ajudou a alertar parte da classe média contra o saque fiscal

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  10. João Neto permalink
    23 Julho, 2010 12:16

    Na mouche.

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  11. Sérgio permalink
    23 Julho, 2010 12:43

    Filipeabrantes,

    Se é roubado em portugal e está aí tão mal porque não usa da flexibilidade que recomenda para os outros e se põe a andar daí para fora?

    Essa conversa é de chorão de barriga cheia… Actos, meu caro. Vote com os pés. Flexibilize-se!

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  12. socialista sem escroto permalink
    23 Julho, 2010 12:46

    Ok mas perante este texto o João ia fora..ele e uma carrada de colegas universitários…os tais de Abrantes…

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  13. JASPC permalink
    23 Julho, 2010 12:48

    “Tudo o que o consumidor de saúde possa desejar …”
    Eh pá, hoje apetece-me ser tratado ao cancro do pulmão.

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  14. DesconfiandoSempre permalink
    23 Julho, 2010 12:58

    “Não devemos ficar surpreendidos por os portugueses serem socialistas. Os portugueses adaptaram-se a uma sociedade socialista e politizada em que o que conta é o poder. Os portugueses estão habituados a relações hierárquicas. Relações verticais com os superiores e os inferiores em vez de relações horizontais com os seus pares.”

    João, a isto chamo eu conversa da treta.
    Deduzo que fala em nome de uma minoria.

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  15. socialista sem escroto permalink
    23 Julho, 2010 13:05

    E MAIS EU NÃO QUERO PAGAR AOS QUE TÊM CANCRO DO PULMÃO E FUMAM 7 MAÇOS DE TABACO POR DIA OU BEBEM 5 LITROS DE VODKA E TÊM CIRROSE..ELES QUE PAGUEM OS CURATIVOS…

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  16. DesconfiandoSempre permalink
    23 Julho, 2010 13:10

    “Regras constitucionais como o “tendenciamente gratuito” e a obrigação do Estado de manter uma rede pública de saúde servem para manter coesa a coligação de interesses que sustenta o socialismo. Estas regras politizam a sociedade, criam incentivos ao status quo, dificultam a vida aos dissidentes que poderiam existir dentro do próprio sistema público. A esquerda percebe isto muito bem. Eles são contra qualquer alteração destas regras, mesmo que se continue a garantir as necessidades dos mais desfavorecidos doutra forma, porque sabem que elas dificultam a liberdade de escolha e o opting out. O maior inimigo do socialismo em Portugal é o opting out. Com opting out o sistema público desfaz-se.”

    João, o povo – os não favorecidos neoliberais – reconhece que o polvo ao querer engolir o “tendencialmente gratuíto” (saúde), a “justa causa” (emprego), e a … (educação), e a… está a defender acerrimamente os seus interesses. Que a luta deste movimento “dissidente” é por uma boa causa, quiçá altruíta.

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  17. socialista sem escroto permalink
    23 Julho, 2010 13:25

    Amanhã é dos loucos de hoje, diz Pessoa. E dos loucos de amanhã? Se é depois de amanhã, os tipos com juízo nunca mais têm uma oportunidade. E serão loucos sem amanhã nenhum

    Ferreira , Vergílio

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  18. 23 Julho, 2010 13:35

    http://www.educacaosa.blogspot.com/2010/07/pobres-portugueses.html

    Pobres Portugueses

    Alguém acha, sinceramente, que é a Constituição que está na origem da crise em que vivemos permanentemente…

    Eu não acredito que seja a Constituição a origem da nossa crise permanente. Ajuda, mas não é a fonte da desgraça.
    A origem do mal que mantém o país em “crise permanente” reside nos próprios portugueses. Somos nós, portugueses, os culpados de termos um presente sem crescimento, com baixíssimos salários, com congelamentos ano após ano, com cortes nas reformas, enfim, um futuro sem esperança para nós e, sobretudo, para os nosso filhos e netos.
    É a nossa pobreza de espírito, a nossa falta de nervo e de sangue nas veias que geram a nossa desgraça, o crescimento quase nulo e o empobrecimento do país.
    É a nossa permanente resignação, a aceitação, sem tugir nem mugir, das maiores ofensas, da mentira do permanente roubo ao Estado (ainda não percebemos todos que o estado somos nós) que faz de nós um país pobre e um povo atrasado.
    Em que país desenvolvido do mundo, a população aceitaria ter a dirigi-lo um mentiroso compulsivo?
    Em que país do mundo desenvolvido, o povo acha normal os políticos mentirem e roubarem?
    Como é possível, a dívida e o défice serem aceitáveis antes das eleições, passado um mês subirem para mais do dobro e o Ministro das Finanças continuar a ser o mesmo?
    Como é possível aceitar resignadamente conviver com políticos que prometem não aumentar impostos e, após as eleições, eles próprios aumentam impostos?
    Como se convive sem um levantamento popular com as escandalosas reformas dos políticos e dos boys das empresas públicas?
    Como se aceita que existam empresas públicas sabendo o povo que as mesmas só estão nas mãos do Estado porque há necessidade de distribuir tachos políticos?
    Como é que se pode aceitar que o Estado venda aos privados a maioria das acções da PT e depois queira continuar a mandar na PT.
    Enquanto NÓS e mais ninguém não afastarmos a má moeda, não nos indignarmos com a mentira, com a indecência (vejam que temos um representante do povo – meu, seu, nosso! – que furta gravadores e se mantém como representante do povo!) e a falta de respeito, não há Constituição que nos valha.
    Enquanto nós aceitarmos com normalidade e resignação a incompetência, a falta de escrúpulos e de princípios na gestão da coisa pública, merecemos viver mal o resto das nossas vidas. E açoitados todos os dias.
    Enquanto nós aceitarmos, resignados, que é nosso dever (solidariedade como dizem os bandidos) pagar os luxos – as férias, o cinema, a internet, os portáteis, os LCDs, os telemóveis, os automóveis, a MEO, a SportTV, a dose diária e o revólver – aos nossos compatriotas que perdem constantemente empregos ou cujo expediente é safar-se do trabalho e viver à custa do rendimento mínimo (famílias inteiras), merecemos ser pobres toda a vida. E flagelados todos os santos dias.
    Enquanto nós nos mantivermos, cobardemente, resignadamente, dispostos a aceitar este estado de coisas, hipotecando o nosso futuro e o futuro dos nossos filhos e dos nossos netos, não há Constituição que nos valha.

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  19. 23 Julho, 2010 14:02

    17 , suponho que sabe que 75% do preço do tabaco é imposto , logo , quem tem cancro de pulmão por causa do tabagismo , já pré paga os tratamentos. e o alcool tb paga 30%.
    e eu cá não quero pagar todas as doenças decorrentes da gula /obesidade e preguiça/ falta de exercicio fisico : diabetes , tensão alta e patati patata , já agora.
    porque vicios , que dão cabo da saúde e exigem tratamentos caros , há muitos , né?

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  20. Pedro Pestana Bastos permalink
    23 Julho, 2010 15:28

    Muito bem

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  21. Des permalink
    23 Julho, 2010 15:30

    Confesso a minha estranheza com as conclusões deste post. Parece-me que

    a) Os sectores da sociedade mais politizados são a comunicação social e construção civil, onde em, em teoria, não existe um problema insanável de concorrência entre instituições publicas e privadas.
    b) O sector da Educação estará razoavelmente politizado, mas por forças que nunca serão poder: Professores e Directores de Escola, independentemente de terem ou não razão, mostraram sonoras vezes a sua desconformidade do poder politico. Ora, como foi denunciado, e bem, neste blogue, dificilmente isto teria ocorrido se esta classe estivesse sujeita às incertezas dos trabalhadores de sectores concorrenciais. Num contexto onde as verbas estatais deixam de estar garantidas, e onde o poder central mantém um papel importante como financiador, parece-me mais credível um cenário em que as escolas mimetizem os procedimentos das empresas que têm no Estado um do seus principais clientes, por exemplo, nomear pessoas próximas de estruturas partidárias para cargos directivos.
    c) O corolário sublinhando a possibilidade de uma descida de impostos, parece-me excessivamente triunfalista, sobretudo para quem, em pelo menos dois posts, defendeu este modelo constitucional utilizando o exemplo da Suécia.

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  22. 23 Julho, 2010 15:53

    Se não estou em erro, os funcionários públicos em Portugal rondam os 700 mil(http://economia.publico.pt/Noticia/numero-de-funcionarios-publicos-diminuiu-quase-40-mil-em-dois-anos_1320284). Se não estou em erro, a população activa portuguesa, anda pelos 5 milhões. Será que a iniciativa privada ainda é mais incapaz do que parece?

    “Se uma grande parte da população tiver que pagar aquilo que agora é gratuito”. Nada é gratuito. Por isso mesmo se pagam impostos. Então o que se pretende? Reconhecer que há excessiva fuga ao fisco? Reconhecer que quem mais tem, não paga impostos suficientes? Admitir que o dinheiro dos impostos não está a ser investido no que mais necessário é para a população? Se é isso, não é preciso mudar a constituição para resolver o problema.

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  23. 23 Julho, 2010 16:16

    Acutilante, e expressivo.

    Parabéns.

    R.

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  24. 23 Julho, 2010 16:19

    Relatório da OCDE com dados de 2007
    Desemprego de jovens qualificados é mais alto em Portugal
    08.09.2009 – 09h02 Bárbara Wong, Natália Faria

    “(…) Privado pesa 13,5%
    Um dado curioso é que o ensino privado pesa mais em Portugal do que na média da OCDE em todos os graus de ensino. No primeiro ciclo do ensino básico, o privado representa 8,5 por cento (2,9 por cento na OCDE). No terceiro ciclo, o peso do privado baixa para os 5,5 por cento (3 por cento na OCDE), voltando a subir no secundário para os 13,5 por cento (5,3 por cento na OCDE). Só no México e no Japão, e nalguns graus de ensino nos Estados Unidos, é que o sector privado tem mais peso do que em Portugal. (…)
    http://www.ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1399604&idCanal=58

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  25. Vasco Rodovalho permalink
    23 Julho, 2010 16:31

    http://www.telegraph.co.uk/finance/comment/damianreece/7905669/Outsourcing-will-allow-the-state-to-deliver-more-for-less-at-long-last.html

    “Feliz o Bretão:
    Não elege Presidente,
    Nem tem Constituição.”

    (a citação não é do Fernando Pessoa, mas podia ser)

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  26. Vasco Rodovalho permalink
    23 Julho, 2010 16:36

    Socialista sem Escroto disse:”E MAIS EU NÃO QUERO PAGAR AOS QUE TÊM CANCRO DO PULMÃO E FUMAM 7 MAÇOS DE TABACO POR DIA OU BEBEM 5 LITROS DE VODKA E TÊM CIRROSE..ELES QUE PAGUEM OS CURATIVOS…”

    Calma, calma. Não se esqueça, Sr. Escroto, que o tabaco e o álcool são fortemente taxados. Dá para ter vários cancros de pulmão e várias cirroses.

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  27. José Barros permalink
    23 Julho, 2010 16:57

    O post sofre de um vício muito patente em vários posts de liberais: o da abstracção. Fala-se de um país ou de uma sociedade abstracta, ignorando-se que, como refere o JLP, nunca nos últimos vinte anos uma medida no sentido da lógica utilizador-pagador esteve na origem de uma descida de impostos. Nunca. Não há um único exemplo que o JM possa apresentar da introdução de taxas ou preços em determinados serviços prestados pelo Estado que tenha tido como contrapartida um desagravamento fiscal. Donde, cai por base, pela simples análise histórica recente, a ideia de que o pagamento dos serviços de saúde ou de educação levaria no futuro (que pode até nem ser próximo) a uma descida de impostos. Aliás, se toda a gente – inclusivé o JM – aponta o autismo da classe política portuguesa e a sua rendição a um socialismo mais ou menos disfarçado, por que razão é que um descontentamento de uma pequena parte da população (15%, ao que parece) teria qualquer tradução política? Se os portugueses com uma carga fiscal asfixiante se levantam em uníssono contra quaisquer propostas não socialistas, que “wishful thinking” é que permite aos defensores das propostas do anteprojecto de revisão constitucional do PSD permite estar optimistas quanto a uma descida de impostos que nem sequer é assumida como objectivo pelo actual direcção do partido? Enfim, este post parece-me mais poeira para os olhos do que outra coisa.

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  28. José Barros permalink
    23 Julho, 2010 16:59

    Aliás, a argumentação do JM continua contraditória nesta matéria: se o objectivo é que a constituição seja neutra, não se percebe por que diabo se há-de elogiar uma proposta de revisão constitucional que continua a regular a questão do financiamento de saúde na constituição quando a matéria deveria, numa perpectiva de neutralidade, ser regulada pela lei ordinária. O JM, pelo que tem escrito nos últimos dias, deveria ser o primeiro a criticar o anteprojecto do PSD quanto à saúde e educação…

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  29. 23 Julho, 2010 18:04

    Confesso alguma perplexidade perante o programa proposto. Os americanos sempre o tiveram e estavam descontentes com ele. Parece que a coisa funcionava muito mal.
    O texto suscita-me ainda outra impressão. Parece-me que quem defende este tipo de soluções fala, normalmente, de um lugar muito confortável, do lugar de quem pode pagar porque ganha bem e sai cedo, ou sai tarde, tanto faz, e ignora tudo o mundo daqueles que vivem com pouco, muito pouco, para quem a descapitalização dos sistemas públicos de saúde pela via dos tais opting out só pode significar ainda pior qualidade dos serviços prestados, ou mesmo ausência de serviços.
    Por outro lado, o texto fez-me recordar uma frase que Álvaro Cunhal usava muito e que se adequa neste contexto: parece-me que estão a querer deitar fora também o menino com a água suja do banho.
    Confunde-se as virtudes do estado social com os defeitos de quem o governa, ainda que seja de toda a justiça afirmar que, nos últimos 35 anos foram sempre os mesmos a governá-lo por cá, a governá-lo e a destrui-lo sistematicamente para agora, em 2010, chegar a este ponto.

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  30. JoaoMiranda permalink*
    23 Julho, 2010 19:20

    ««Donde, cai por base, pela simples análise histórica recente, a ideia de que o pagamento dos serviços de saúde ou de educação levaria no futuro (que pode até nem ser próximo) a uma descida de impostos.»»

    O post não diz que haverá descida de impostos. Não é isso que está em causa.

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  31. 23 Julho, 2010 19:33

    Ainda não percebi se o JM defende que quem tem mais dinheiro (deduzo de acordo com a sua declaração de rendimentos e património) deve pagar os serviços de Saúde e quem não tem rendimentos, a partir de determinado plafond, não paga.
    É isso?

    Em vez de ser universal e tendencialmente gratuito para todos, como actualmente …

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  32. 23 Julho, 2010 19:34

    Em vez de ser universal e tendencialmente gratuito para todos no SNS, como actualmente …

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  33. Vasco Rodovalho permalink
    23 Julho, 2010 19:41

    Paulo Anjos disse:”Confesso alguma perplexidade perante o programa proposto. Os americanos sempre o tiveram e estavam descontentes com ele. Parece que a coisa funcionava muito mal.”

    Pelo contrário: a maioria dos americanos afirmava-se satisfeita com o seu sistema de saúde e está contra a reforma da saúde de Obama. É preciso não esquecer que era uma minoria que não estava coberta.

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  34. 23 Julho, 2010 19:53

    Francamente não entendo a questão justamente nas duas áreas nobres de prestação de serviços aos outros: a Saúde e a Educação.

    Ninguém já aceita (felizmente!) que exista qualidade diferente de tratamento em função do vil metal, pelo que todos têm igualmente direito a ter os melhores cuidados de Saúde e de Educação.

    A outra questão diz respeito a se o privado é melhor ou pior do que o público. Na minha opinião, devem ser concorrentes (como o são) e complementares. Com uma ressalva: o que é público deve ser público; o que é privado deve ser privado.
    Há casos muito especiais (alguns aplicados com excelentes resultados) em que os dinheiros públicos devem continuar a suportar iniciativas privadas altamente meritórias (título de simples ex: algumas Escolas de Música particulares, pois trata-se de um ensino muito dispendioso e impossível de “per si” ser lucrativo; ou os contratos de associação com colégios onde não existe rede pública de Ensino).

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  35. 23 Julho, 2010 20:04

    A Saúde e a Educação são os sectores de Prestação de Serviço aos Outros. Não podem ser mercantilizadas.
    Em concorrência e complementaridade, o privado PODE sentir-se pressionado (como acontece) a servir esse objectivo mas não é esse o objectivo do privado. O objectivo é o lucro.

    Se assim não fosse, países com sistemas económicos e sociais muito mais evoluídos que o nosso e com tradições liberais (não é o caso português) teriam, decerto, já alterado os seus sistemas de Ensino e de Saúde. Aliás, o Reino Unido com tradições conservadoras-liberais tentou realizar algo incomum na Europa nestes dois sectores, e as consequências foram dramáticas. J á para não falar do sector da Saúde nos EUA; na questão do Ensino a questão nunca se colocou.

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  36. José Barros permalink
    23 Julho, 2010 22:09

    O post não diz que haverá descida de impostos. Não é isso que está em causa . JM

    Então se o JM o reconhece, qual a vantagem para o contribuinte, especialmente para aquele que paga mais impostos, de se retirar da constituição a tendencial gratuitidade da educação ou da saúde? E, sobretudo, que sentido faz, à luz inclusive dos bons posts (este é dos maus) que o JM tem publicado em defesa de uma constituição neutral que não constitua um programa de governo, que o modo de financiamento dos sistemas de saúde e de educação esteja fixado na constituição como está neste momento e como o PSD quer que continue a estar? Agradeço respostas a estas questões, porque, neste momento, e dada a mencionada contradição, não percebo que se defenda uma constituição neutral e se elogie as propostas do PSD em matérias como justa causa de despedimento e financiamento da saúde e da educação.

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  37. Vasco Rodovalho permalink
    23 Julho, 2010 22:51

    Eu acho que a maior parte das pessoas que defendem encarniçadamente o SNS tal como ele existe nunca ou raramente lá põem os pés. Desde enfermeiros sorumbáticos a médicos que mandam para casa doentes que chegam às urgências com doenças graves mas que eles não são capazes de diagnosticar (ou não estão para isso) há um pouco de tudo. Dir-me-ão que isso não é a regra. Pois talvez não seja. Mas é uma excepção demasiado frequente. A grande diferença entre o nosso SNS e o de outros países europeus é a desumanidade com que cá se é por vezes acolhido e tratado. Uma lástima. O que me custa a entender é por que ninguém fala nisto, em vez de se limitarem aos habituais votos piedosos em torno do Estado Social.

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  38. Arnaldo Madureira permalink
    23 Julho, 2010 22:59

    Porque não é disso que os inimigos do estado social e do sns falam. Nunca disseram que o problema era esse. Pelo contrário, são por princípio contra ambos. Mas o Passos Coelho não é.

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  39. 23 Julho, 2010 23:35

    Em relação à liberdade de escolha do utente e à sua incorrecta designação de cliente/consumidor informado de serviços deixo este excerto retirado do blogue http://saudesa.blogspot.com não acerca deste assunto em particular mas que pode muito bem aqui ser aplicado…

    “Esta situação desrespeita um dos princípios básicos da independência concorrencial entre a oferta e a procura, porque o médico actua nas duas posições – do lado da oferta, prestando o serviço, e do lado da procura enquanto agente do doente, o qual, por não dispor de conhecimento para a tomada de decisões, consumirá os serviços de acordo com o aconselhado pelo médico. Além disso, o efeito da oferta privada induzir a procura é reforçado pela existência de uma terceira parte envolvida, o Estado, que vai pagar a despesa, o que igualmente também não motiva o doente e o médico a moderarem o consumo.”

    Imaginemos então que a despesa seria bem maior…

    O sector da Saúde é Paternalista mas tem uma razão para que ele seja assim…

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  40. 23 Julho, 2010 23:37

    #40

    Vasco Rodovalho

    As estatísticas mostram que é precisamente o contrário: que os que mais o utilizam são os que tê melhor índice de satisfação…

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  41. 23 Julho, 2010 23:44

    se nacionalizassem os laboratórios de análises e exames é que era baril !!! acabava-se a divída de milhões aos tais laboratórios privados …. e suponho que tb podiam montar uma fábrica de genéricos. dava mais jeito que nacionalizar a galp e tal do freitas do amaral.
    suponho que era coerente , saúde pública deve ter tudo público , desde os hospitais às farmácias , e não haver mais esta parceria público/privada encapotada , né ? não fazem isso porquê ? o lobbie não deixa…? com tanto jovem licenciado desempregado até podiam montar um centro ou dois de pesquisa. dava mais jeito que as dezenas de institutos e empresas públicas que a gente nem sabe para que servem , à parte serem centros de empregos de boys.

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  42. JoaoMiranda permalink*
    24 Julho, 2010 00:44

    ««Então se o JM o reconhece, qual a vantagem para o contribuinte, especialmente para aquele que paga mais impostos, de se retirar da constituição a tendencial gratuitidade da educação ou da saúde?»»»

    Está explicado no post.

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  43. Arnaldo Madureira permalink
    24 Julho, 2010 01:38

    Vai pagar mais.

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  44. 24 Julho, 2010 14:27

    Santinho!
    julgas que somos todos ingénuos e tolos como tu?

    O Passos Coelho é o galgo que o Angelo correia, o Rui Machete e o Balsemão lançaram, por ventura ele não está num relação hierárquica ( e vadre retro santana, política…) com essse iluminati, que são accionistas em empresas do mundo da educação e da saúde?

    Querem o poder público a financiar os seus investimentos, mas isto não é política…é o privado ( do género BPN, que o PSD também conhece…)

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