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Ganhou na táctica. Perdeu na estratégia.

27 Maio, 2014

Não sei se António José Seguro lê jornais e muito menos se alguma vez passou os olhos pelo que escrevo. Mas caso tal aconteça talvez hoje se lembre do velho provérbio “Quem avisa seu amigo é” a propósito deste texto que escrevi em Julho de 2013: António José Seguro claramente desistiu de ser primeiro-ministro pois caso tivesse esse propósito entenderia o acordo com o PSD e o CDS como a melhor arma que levaria para São Bento: uma parte dos cortes teria sido feitos pelo governo de direita com o desgaste que tal comporta; o PS teria ganho o valor acrescentado do sentido de Estado e, não menos importante, PSD e CDS estariam obrigados a subscrever novos acordos propostos pelo PS. Mas não foi nada disso que aconteceu.

Entre garantir condições para ser primeiro-ministro em 2014 ou líder do PS em 2013, António José Seguro optou pela segunda hipótese.

Talvez tenha percebido que essa era a única escolha que lhe restava quando, na passada quinta-feira, uma parte significativa dos deputados do PS saiu antes do final da sessão na AR para ir assistir ao lançamento da candidatura de António Costa a presidente da autarquia lisboeta. Ou talvez tenha concluído que a sua liderança não sobreviveria a uma semana com críticas provenientes de Sócrates que, do secretariado paralelo que instalou num estúdio da RTP, lhe vai marcando o terreno, e ao fogo cerrado dos ditos críticos, notáveis e históricos, equivalente socialista, logo intelectualizada, dos barões do PSD. Se Seguro fez a melhor escolha para si mesmo não sei porque na prática apenas adiou o momento em que os ditos críticos e históricos lhe vão dizer que ele não é o homem certo para o momento certo, ou seja para o momento em que o PS tiver o poder como certo. O que já tenho como indiscutível é que António José Seguro confundiu comentadores com eleitores e a tolerância que lhe concede uma pequena e ruidosa minoria com os votos da maioria que tem de obter para chegar a São Bento. E curiosamente nem percebeu que aquilo que movia os ditos críticos e históricos contra este acordo não era tanto o que estava a ser negociado em si mesmo – e que qualquer líder do PS uma vez primeiro-ministro vai ter de implementar a não ser que queira fazer de Portugal uma república bolivariana – mas sim o facto do acordo permitir umas horas de triunfo a Cavaco Silva. Negar a Cavaco o momento triunfal em que Passos, Seguro e Portas assinariam o Acordo de Salvação Nacional foi o grande objectivo de Soares e Sócrates. O ódio dos socialistas do passado a Cavaco falou mais alto que o seu amor pelo PS do futuro. E Seguro não percebeu que ao rejeitar o acordo comprometia o seu futuro como primeiro-ministro e alienava o único aliado que teve até agora: Cavaco Silva.

2 comentários leave one →
  1. Alexandre Carvalho da Silveira permalink
    27 Maio, 2014 10:13

    Concordo em absoluto. Seguro e a sua troupe mais chegada, têm o mesmo problema do burro que só vê a cenoura pendurada do pau à frente dos olhos.

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  2. Bento 2014 permalink
    27 Maio, 2014 13:49

    Seguro opta sempre por nada porque o homem ainda por cima á esquerda é apenas mais um zero que não conta.

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